Felizes... para sempre? escrita por Enthralling Books


Capítulo 6
- Eu tentei. Sabe que eu tentei.


Notas iniciais do capítulo

Gente, que saudade!!! Meus dias ficaram cinzentos longe de vocês. Eu sou dramática, não acham?

Alguns avisos referentes ao último capítulo:

Eu fiz algumas pesquisas sobre causas de aborto no google, mas bem superficiais, então me desculpem se tiver algum erro.

Os livros da Kiera não falam sobre a causa dos abortos da Amberly e nem quantos foram. Eu estou supondo que os dela foram 3 e não pretendo ir tão longe no passado dela, então fiquem a vontade para imaginar se os abortos dela foram pela mesma causa dos da America ou não.

Uma última pergunta: A classificação da história está certa? Não tem conteúdo sexual, mas de vez em quando aparecem algumas insinuações (eles são casados, não dá pra evitar) e eu fico em dúvida se tenho que subir a classificação para 16.

Isso está virando um testamento de tão longo. Parei. Aí vai o próximo capítulo:



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– A ideia básica é integrar as castas em um projeto que geraria benefícios a todas.

– E como funcionaria?

– Teríamos que ter um local onde todos pudessem trabalhar para um bem conjunto. Os pedreiros e jardineiros da Sete podem construí-lo em conjunto com os arquitetos e engenheiros da Três. Os joalheiros e donos de loja da Quatro poderão vender seus produtos em volta de obras de escultores, pintores e músicos da Cinco. Com a participação de modelos e atletas da Dois, os criados, cozinheiros e motoristas da Seis também estarão envolvidos. Todos teriam a oportunidade de conseguir seu lugar ao sol. Celebridades poderiam entrar em contato com produtores musicais, comerciantes e artistas conseguiriam um maior mercado consumidor, costureiras e camponeses teriam oportunidades para mostrarem sua eficiência e talvez conseguissem melhores empregadores. É claro que teremos que garantir que as castas mais baixas não serão exploradas. Se conseguirmos, todos sairão ganhando de uma forma ou de outra.

– Acha que daria certo?

– Mas é claro. Tenho bastante esperança que sim. Se a população em geral aderir à ideia, então será um sucesso. Acho que ainda podemos conseguir diminuir o preconceito entre as castas como bônus.

– E quanto às despesas?

– Teríamos que arcar com os materiais de construção e com os salários dos Sete e dos Três. Poderíamos colocar um imposto de 10% nos lucros e destiná-lo ao auxílio dos Oito. Se ainda não podemos acabar com as castas, talvez possamos melhorar as condições de vida das pessoas em cada uma delas.

– E o dinheiro para a construção?

– Pensei em um evento beneficente no palácio. Convidaríamos nossos aliados de outros países e políticos de cada província. Chamaríamos algumas ex-selecionadas para se apresentarem. Eu mesma poderia tocar e cantar algumas canções. Fazemos recepções constantemente, que mal pode haver em mais uma? Já é certo de podermos contar com a presença de líderes provinciais e celebridades. Sem dúvida, qualquer pessoa que almeje prestígio social fará questão de comparecer. E pode ser uma excelente oportunidade para reforçar nossas alianças políticas.

– Parece que você já pensou em tudo.

– É claro que pensei. Você aprova?

– Seu pedido é uma ordem, majestade. Sou apenas seu humilde servo.

– Você é um idiota!

– Isso é jeito de falar com seu rei?

– Você não era meu humilde servo há alguns segundos atrás?

– Isso também.

Maxon me puxou para um beijo apaixonado. Mesmo agora, depois de seis anos de casamento, nós aproveitamos cada momento que temos para estarmos juntos. Infelizmente, não é tanto tempo assim. Afinal, Maxon tem uma agenda particular e eu tenho outra.

Nossa coroação aconteceu ano passado, apesar das tentativas de Clarkson para prorrogar ainda mais essa data. Quando Maxon conseguiu acabar com a ameaça rebelde e Clarkson perdeu setecentos homens em uma batalha contra a Nova Ásia, todos foram a favor da coroação do novo rei, com uma única e evidente exceção.

Antes, tínhamos o momento de trabalhar e o momento de cuidar do casamento separados por uma linha tênue. Agora, governamos Illéa como rei e rainha. É mais complicado alguém se lembrar do marido e mulher que somos quando pessoas morrem de fome além dos muros do palácio. O que nos resta é aproveitar as lacunas entre reuniões e as horas de folga em comum nas nossas agendas. O lado bom é que, quando estamos juntos, ficamos cada vez mais intensos para compensar a distância.

Algum tempo depois, fico novamente sozinha em meu escritório particular.

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Pego o álbum de fotos do meu casamento com Maxon e da nossa coroação. Presente dele, claro. Admirando aquelas fotos, penso em tudo o que já tive que enfrentar para estar aqui: A seleção, a elite, a escolha, o noivado, o casamento, as revoltas dos rebeldes, a descrença dos conselheiros, as ameaças do rei, os abortos consecutivos... Tudo isso formou a mulher que eu me tornei. Formou a rainha que eu me tornei.

Refleti sobre as escolhas que fiz, sobre os caminhos que tomei e pessoas que conheci... Só me falta uma coisa: um filho.

Maxon já me pediu filhos mais de uma vez. Ele se lembra da conversa que tivemos ao nos conhecermos em que eu disse que teria muitos filhos se pudesse. Mas ele não entende que eu realmente teria. Se pudesse.

Ouço batidas na porta e autorizo a entrada de quem quer que seja.

– Filha? Você está bem? – Amberly entra no meu escritório e me vê chorando.

– Estou bem. – Respondo, livrando meu rosto de qualquer vestígio de lágrimas.

– Não está, não. Você pode chorar, América. Nada te impede.

– Chorar não vai trazê-los de volta. – Eu digo e ela me abraça, depositando um beijo no alto da minha cabeça.

– Mas vai aliviar sua dor.

– Nem acredito que já faz seis anos desde a morte do meu primogênito. O tempo passou tão depressa.

Saímos do meu escritório em direção ao meu jardim, o “Jardim Interno da Rainha”.

– Ainda não contou para Maxon?

– Fica cada vez mais difícil, mãe. Ele fica me falando de como adoraria ter filhos e de como Illéa clama por um herdeiro. Não consigo contar que já perdi quatro dos herdeiros de Illéa apenas para vê-lo se corroer de frustração.

– Não perca as esperanças. Eu também sofri com alguns abortos e agora eu tenho Maxon, um homem forte e saudável. Não desista, filha. Sei que você vai conseguir.

– Não tenho tanta certeza. Mas é o que eu espero.

– Talvez não tenha que esperar mais, Ames. Por que não tenta outra vez?

– Eu não sei. Tudo o que aconteceu mexeu muito comigo. Se lembra de que depois da última vez, fiquei viajando por três semanas? Eu precisava me afastar do palácio para recuperar. Na verdade, nem sei se me recuperei ainda.

– Terá que conviver com isso para sempre, filha. Apenas se lembre de que não está sozinha.

– Lembrarei.

Chegamos ao jardim, e nos sentamos no banquinho. O jardim tinha muitas outras flores, mas fiz questão de deixar as quatro flores dos meus filhos em lugar de destaque. Todo ano eu plantava novas flores em torno das principais. Meu quarto filho foi representado por uma muda de perpétuas, que significam “Para sempre”. Três anos após a morte do meu primogênito, plantei jacintos – Tristeza profunda –, no ano seguinte, plantei gencianas – Dor –, ano passado, plantei gerânios vermelhos – Consolo – e hoje trouxe rosas roxas – Amor de mãe.

Amberly ficou me analisando enquanto eu plantava as rosas, mas eu estava concentrada na terra diante de mim e em minhas mãos sujas. Minhas mãos, que deveriam ter embalado bebês, não se pareciam com mãos de rainha cheias de terra como estavam.

Devo ter ficado muito tempo exposta ao sol, porque quando percebi estava tonta.

– América, você está bem? – Amberly perguntou aflita.

– Sim, sim. Apenas uma tontura repentina. Deve ser por causa do sol. – Respondo, tentando acalmá-la, mas ela logo se coloca ao meu lado me ajudando a levantar.

– Vamos, ficamos tempo demais aqui. – Dei um sorriso diminuto.

– Sim, e existem papeis para assinar, relatórios para analisar e sorrisos para dar. – Amberly sorriu também.

– Sim, tudo isso. Mas tem que lavar as mãos antes. Suas criadas ficarão histéricas se você sujar o vestido. – Rimos juntas. Depois de tantos anos de convivência aprendemos a rir dessas pequenas coisas. De certa forma, rir alivia as pressões do título.

– Pode ver com a Silvia como estão os preparativos para a chegada dos ingleses, enquanto vou à minha suíte?

– Sim, claro. Nos encontramos no Grande Salão?

– Estarei lá em alguns minutos.

Amberly se dirigiu ao Grande Salão enquanto eu subia as escadas para o terceiro andar. Desde que Maxon e eu nos tornamos reis tivemos que passar para outra suíte. Não quisemos a suíte dos reis, em parte porque não queríamos expulsar Clarkson e Amberly de lá, em parte porque eu convenci Maxon de que seria muito estranho ficar no quarto dos meus sogros. Ele riu muito de mim, mas concordou.

Acabamos ficando numa suíte que não era, nem de longe, tão grande ou tão bela quanto a que herdaríamos, mas nos acomodamos perfeitamente a ela. Se tornou nosso cantinho particular. Maxon não trouxe as fotos. Precisaria de muito tempo para isso, e não conseguiu dispor desse tempo ainda. Combinamos de criar nosso novo mural, juntos. A maior parte das fotos ainda eram as que Maxon tirou antes e durante a Seleção, mas agora já tinham algumas da minha família e muitas de nós dois depois do casamento.

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Lavei minhas mãos até sair toda a terra acumulada, principalmente nas minhas unhas. Quando tive certeza de que era o suficiente, fui me encontrar com Amberly e Silvia no Grande Salão.

– Vossa Majestade. – Silvia fez uma reverência profunda. Ela consegue ser tão dramática que eu ainda me surpreendo.

– Silvia, por favor. Não é necessário me reverenciar desta forma. Não quando estamos sozinhas.

– É claro, rainha América.

– E então, como estão as coisas? – Perguntei a ninguém em especial. Amberly me respondeu.

– Tudo conforme o planejado. Os criados já estão tão acostumados com os gostos de May e de Alexander que quase não precisam mais de nossas instruções. O que não fazem por conta própria, Silvia resolve.

– É o meu trabalho, senhora. – Começo a olhar a decoração e paro ao lado da mesa de doces que os criados começaram a montar. Quando May é a visitante, não podemos descuidar com os doces.

– E tem feito seu trabalho com perfeição, Silvia. – Provo uma trufa de chocolate. Ainda com a boca cheia, reviro os olhos de satisfação e minha mãe ri.

– Preciso urgentemente parabenizar o cozinheiro. Essa trufa está divina.

– Sua família confirmou presença, América. Devem chegar por volta das três. – Amberly comentou

– Adele também vem? – Perguntei.

– Não desta vez. – Respondeu.

– Que pena. Bem, se já está tudo resolvido, acho que vou ao meu escritório. Quero revisar alguns relatórios antes de ter que me arrumar.

– Claro, filha. Eu cuido de tudo por aqui. Afinal, o que seria de você sem mim? – Amberly brinca sorrindo.

– Provavelmente nada. – Sorrio também e vou em direção ao meu escritório.

Depois de algumas horas revisando números, fui até minha suíte. Minhas criadas prontamente me arrumaram e ficamos conversando até a hora da recepção. Maxon, como sempre, estava em reunião com os conselheiros e com Clarkson. Disse que, com sorte, conseguiria aparecer por lá uma hora e meia após o início. Como as recepções são responsabilidade da rainha, a presença do rei é uma honra para os convidados e seus atrasos não podem ser considerados uma ofensa.

– Ames?! – May me chamou. Alexander estava ao seu lado.

– Oi. Como vocês estão? – Perguntei enquanto abraçava os dois.

– Muito bem. E você?

– Também vou bem.

– E onde está seu Majestoso Marido? – Provocou.

– Em reunião com o pai todo poderoso. Vamos. Provei os doces e estão fantásticos.

Passamos a tarde conversando em família como há muito tempo não fazíamos. Meus pais costumam visitar May e eu só vou à Inglaterra no aniversário dela ou de Alexander. Mas quando ela vem à Illéa para visitas esporádicas, minha família costuma se reunir.

– América, eu preciso falar com você – May sussurrou – a sós.

– Só um minuto. – Sussurrei de volta e procurei uma desculpa para sair do meio da minha família sem chamar atenção. – Se me dão licença, vou mostrar meu jardim particular à minha irmã. Há tempos que eu tenho comentado sobre a sua beleza com ela, acho que já está na hora dela ver por si mesma.

– Sem dúvida. Voltaremos logo. – May afirmou e se levantou.

Caminhamos juntas até o meu jardim, mas o que quer que minha irmã tenha para falar, não será pelos corredores.

– Ames, o que faria se alguém quisesse vir conosco?

– Todo mundo já viu meu jardim, May. E não trocariam aquele banquete apenas para seguirem a gente.

– A propósito, quero seu cozinheiro para mim. Ele definitivamente se superou.

– Foi mal, mas isso não vai acontecer. Eu entro até em guerra pelo meu cozinheiro, se for preciso.

Começamos a rir. Não acho que quem passasse por nós naquele momento conseguiria ver duas rainhas. Há alguns anos eu abria mão de parte da minha comida para dar para meus irmãos mais novos. Agora, brincamos sobre cozinheiros e guerras.

Neste clima de descontração chegamos ao meu jardim e eu tive que resistir à melancolia que sempre costumava me atingir ali.

– Uau. Você não exagerou nem um pouco quanto à beleza deste lugar, Ames. É lindo!

– Sim. Estou pensando em colocar um chafariz ali no canto. O que acha?

– Ficaria perfeito. Eu posso desenhar um pra você se quiser. Te entrego o desenho quando for me visitar no meu aniversário.

– Eu vou adorar. Mas o que você queria me contar?

– Ah... Sobre isso... Ames, eu estou confusa.

– Confusa com o que?

– Às vezes, fico ansiosa, às vezes assustada. A maior parte do tempo, com medo.

– May, você está me deixando preocupada. O que está acontecendo?

– Não tenho certeza ainda. Queria falar com você sobre isso, por isso que eu vim. – May fez uma pausa - Acho que estou grávida.

Fiquei estática. Se May está grávida, acho que o último lugar que eu deveria tê-la trazido é o meu jardim. May, grávida? May está grávida. May está grávida!

– América, eu não tenho certeza. Ok? Eu precisava falar com você.

– May, você já foi ao médico?

– Esse é o problema. O médico do meu palácio na Inglaterra é um grandessíssimo tagarela. Se eu for até ele e estiver mesmo grávida, não vai dar tempo nem de eu voltar para o meu quarto sem que a imprensa mundial saiba da gravidez. Quero poder contar ao Alexander. Quero poder contar ao povo. E não posso confiar no meu médico para guardar segredo nem por dois segundos.

– Por que não contrata outro médico?

– Não posso. Philip não deixaria. Diz que é melhor um tagarela conhecido do que um mudo desconhecido.

– Felizmente, consegui contratar outro médico para o palácio. Você também não teria sorte aqui se tivesse que se consultar com o doutor Ashlar. Ele também tem a língua solta, mas só conta as coisas para Clarkson. Não sei se é melhor ou pior, mas não é agradável.

– Se Ashlar é informante de Clarkson, como conseguiu contratar outro médico?

– O homem já está velho. Convenci Maxon a arrumar-lhe um ajudante.

– Bem pensado.

– Vamos?

– O que? Agora?!

– Sim, por que não?

– Ames, eu disse que não iríamos demorar. Não posso correr o risco de alguém nos encontrar na Ala Hospitalar fazendo uma ultrassonografia.

– Tudo bem. Se quisermos mesmo que seja segredo me encontre na porta da suíte da princesa às... Que horas Alexander dorme?

– Geralmente, meia noite.

– Ok. Então me encontre 01h.

– E se eu esbarrar em algum guarda?

– Diga que perdeu o sono e que logo voltará para o quarto. Eles não vão pedir detalhes.

May suspirou. Ela ainda tinha perguntas, eu era capaz de ver isso nos olhos dela.

– Ames, porque não teve filhos ainda?

Minha vez de suspirar. Eu não podia contar a ela. Odeio esconder coisas da minha irmã, mas se ela está realmente grávida não posso estragar esse momento. Além disso, quanto menos pessoas souberem, melhor.

– Sei lá. Só não parecia ser a hora ainda.

– Espero que a hora chegue logo.

– Eu também.

Quando voltamos para o Grande Salão, Maxon e Clarkson estavam lá. May foi para o lado do esposo dela e eu fui para o lado do meu.

– Soube da novidade, amor? – Maxon sussurrou ao meu ouvido.

– Não. O que aconteceu?

– Astra disse que quer uma boneca.

– Desde quando isso é novidade?

– Desde que ela disse que quer uma de verdade. Perguntou quem vai ser o primeiro a dar uma para ela.

Sorri com a indireta. Talvez seja mesmo hora de tentar de novo.

– Garota esperta.

– Entraremos na competição? – Maxon perguntou aparentemente contente com a minha reação.

– Quem está competindo?

– Alexander adorou a ideia e James também, ao que me parece.

– James quer outro filho?

– Não sei ao certo, mas acho que sim. Você não respondeu a minha pergunta.

– Que pergunta?

– Não se faça de inocente, Sra. Schreave. Sabe muito bem do que eu estou falando.

– Adoro competições. – Disse ficando de costas para ele. Maxon puxou minha cintura e colocou o queixo no meu ombro, depositando beijos no meu pescoço.

– Eu também.

– Casal apaixonado, tem crianças aqui! – Alexander provocou e eu corei na hora. Foi o suficiente para todos explodirem em gargalhadas.

Quando a recepção acabou e fomos para nossa suíte, Maxon fez questão de que tentássemos mesmo entrar na competição. Mal sabia que Alexander já estava com a vantagem. Fiquei preocupada se conseguiria fazê-lo dormir antes de uma hora, mas felizmente, ainda era cedo quando começamos. Quando deu a hora, Maxon estava dormindo.

Vesti meu roupão, calcei minhas pantufas e fui em direção à minha antiga suíte. May estava numa situação parecida com a minha: De roupão, pantufas e levemente despenteada.

– A noite foi boa, May? – provoquei.

– Me responde você. – Replicou.

– Algo sobre uma competição para dar uma boneca à Astra?

– Algo assim.

– Tudo bem, vamos.

Entramos na suíte da princesa e nos dirigimos à passagem oculta, geralmente usada para me levar ao esconderijo da família real, mas que poderia levar a qualquer canto do palácio, desde que eu soubesse me orientar lá dentro. Talento que eu adquiri, devo admitir. No meio do caminho, tive que parar.

– América, tudo bem? O que aconteceu?

– Só uma tontura. Não deve ser nada. Me dê um minuto e já vamos.

– Tem certeza? Consegue mesmo continuar? Não tenho certeza de que eu consiga sair daqui para pedir ajuda se você desmaiar.

– Estou bem. É sério.

Retomamos nossa caminhada e, tempos depois, saímos num corredor próximo o suficiente da Ala Hospitalar para não sermos vistas. À tarde, pedi para Mary conferir se o doutor Ashlar não estaria de plantão. Ela ficou preocupada sobre o motivo de eu querer ir à Ala Hospitalar, mas inventei que precisava fazer alguns exames de rotina. Felizmente, hoje não é plantão dele.

– Majestades, em que posso ajuda-las?

– Doutor Connor, a rainha May precisa de um exame e eu espero poder contar com sua discrição a respeito desse assunto.

– Já dei motivos para desconfiança, senhora?

– Nenhum. E eu espero que continue assim. – Ele assentiu e se dirigiu à minha irmã.

– Não se preocupe, rainha May. Seu segredo estará seguro comigo. De que tipo de exame nós estamos falando?

– De uma ultrassonografia. Suspeito que eu possa estar grávida.

– É claro. Vou preparar tudo. As senhoras esperarão aqui?

– Sim. Por favor, não demore – Respondi.

– Sim, majestade. Com licença.

Segurei as mãos de May entre as minhas, tentando deixa-la mais confortável.

– Que cheiro é esse? – Perguntei.

– Que cheiro?

– Isso é café?

– Ah, deve ser. A xícara do doutor está em cima da mesa.

De repente, senti uma ânsia de vômito e corri para um pequeno banheiro que tinha ali, quase não conseguindo chegar a tempo. Um segundo depois, May estava ao meu lado.

– Tem certeza de que está bem, Ames?

– Deve ser só o nervosismo. Não é todo dia que eu acompanho minha irmãzinha para sua primeira ultrassonografia.

– Tem certeza? Ames, como está sua menstruação?

– Muito bem, obrigada. Você não está sugerindo que eu esteja...?

Minha pergunta fica solta no ar com a volta do médico.

– Doutor, eu acho que teremos que fazer duas ultrassonografias.

...

– Bem, vejamos, está vendo aquilo ali?

– Aquilo pulsando ali no meio?

– Sim. É um coração. Parabéns, majestade. A senhora está mesmo grávida. Eu daria quatro semanas.

Abracei minha irmã. Pelos céus, que ela não tenha as mesmas dificuldades que eu. May estava radiante. Assustada, mas radiante. Precisei esperar alguns minutos antes dela conseguir parar de chorar.

– Vamos, América. Sua vez.

Deitei na cama. Não sabia o que esperar, mas torcia para que May estivesse certa ao mesmo tempo em que receava perder outro filho.

– Majestade, a senhora não vai olhar para a tela?

– Só estou tomando coragem.

– Você precisa respirar, Ames.

Respirei profundamente e encarei a imagem em preto e branco.

– Eu daria cinco semanas, majestade. Parece que o príncipe ou a princesa da Inglaterra vai ganhar um primo.

– Ames!

May me abraçou. Eu só consegui ficar estática. Olhei para o doutor, que sorria compreensivo. Um filho? Simplesmente surreal demais.

– Nós vamos ser mães, América. Não está feliz?

Foi quando percebi que chorava. Comecei a rir entre as lágrimas e minha irmã não estava muito diferente.

– Sim. Sim, May, eu estou feliz. Estou muito feliz.

O doutor nos deu algumas orientações enquanto escrevia algo em um papel.

May agradeceu a ele e se virou para sair. Percebi algo em minha mão e vi que ele estava me entregando o pedaço de papel. Escondi.

Voltamos para nossas suítes pelo mesmo caminho que viemos. Quando chegamos, May me abraçou.

– Parece que Maxon está com a vantagem na competição.

– A não ser que Kenna esteja grávida, eu acho que sim.

– Bem, a diferença não é muito grande. Vamos ver quem nasce primeiro.

– May, por favor, precisa guardar segredo sobre isso. Não fale com ninguém até ouvir a notícia da imprensa.

– Se você quer, Ames. Eu peço o mesmo.

Abracei-a novamente e depois nos separamos.

Subi na cama com cuidado para não acordar Maxon. Abri o papel que tinha amassado e estreitei os olhos para tentar ler no escuro.

Evite se estressar, majestade. Talvez uma viagem faça bem!

Ao que me pareceram horas depois, dormi imersa em felicidade e preocupações.

Ao levantar pela manhã, Maxon ainda dormia. Tomei banho e me arrumei para o café. May e Alexander voltariam hoje para a Inglaterra e eu precisava me despedir.

– Bom dia, amor. Pulou da cama?

– Parece que sim. E você? Está muito sorridente, majestade.

– Acho que você tem culpa nisso, senhora Schreave. – Maxon me puxou para um beijo voraz.

– Maxon... Não podemos... Nos atrasar – Disse, enquanto tentava escapar de seus braços.

– Urgh! Quando foi que a mulher que chutou meus países baixos ficou tão certinha?

– Provavelmente na mesma época em que o príncipe que falava “há de ser” decidiu quebrar as regras. Agora vá se arrumar. Temos que nos despedir da minha família.

Depois do café da manhã e de muitos beijos, abraços e “Até breve”, um motorista levou May e Alexander para o aeroporto enquanto outros dois levaram meus pais e meus irmãos até a mansão deles.

De volta à vida normal, Maxon foi trabalhar em seu escritório e Clarkson foi fazer sei lá o que, sei lá onde. Meu sogro é tão comunicativo!

– Mãe, eu preciso conversar com você, mas não podemos ser incomodadas.

– Vamos ao meu escritório. Ninguém vai nos interromper lá.

Enquanto andávamos, ela tentou me fazer adiantar o assunto, o que eu recusei terminantemente. Quando finalmente chegamos – lembra quando eu disse que os corredores eram infinitos? Parece que foram ampliados – sentei numa poltrona, abracei meus joelhos e deixei toda a minha angústia transbordar em forma de lágrimas.

– Filha, o que está acontecendo?

– Eu estou grávida, mãe. Estou grávida de novo.

– Isso é maravilhoso, filha.

– Você não entende. O doutor deixou claro que eu não posso me estressar. Sugeriu que eu fizesse uma viagem. Para eu ter que fazer isso, mãe, é porque minha gravidez é de risco outra vez. Não vou suportar perder outro filho. – A essa altura eu chorava histericamente. Meu pior erro foi não perceber uma aproximação a minha esquerda.

– Eu tenho certeza de que você consegue, filha. Não desista ainda.

– Eu não consegui até agora, mãe. Eu tentei. Sabe que eu tentei. Cheguei a um ponto em que não acredito mais nessa possibilidade. Eu... Eu... Eu acho que sou estéril.

– Estéril?! – Gritou.

– Clarkson?! O que está fazendo aqui?!


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam???
Esse capítulo ficou maior que os outros para compensar o tempo de espera.

Eu simplesmente não consigo deixar a May longe da história por muito tempo. Fico escrevendo sobre a América e o Maxon e pensando em como ela deve estar no outro lado do Oceano.

Comentem... Acompanhem... Favoritem... Recomendem... Façam essa autora feliz!!! ;)

Até o próximo capítulo... Beijos.



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