...

— Mas não era do mais novo que você sempre gostou? — Minha mãe perguntou enquanto procurava ingredientes para o jantar no armário e na geladeira.

— Não é o que você tá pensando, mãe. Ele me fez o convite e eu aceitei, só isso, é só um jantar.

— Então é do outro mesmo que você ainda gosta? Digo ainda, porque você pode mudar de ideia hoje. — Ela soltou uma risadinha e eu só queria sair correndo da cozinha.

— Mãe...

— Tá, tá. Tudo bem você ir, você nunca sai, Sakura, precisa se divertir minha filha. Agora, eu sei que ele tem a idade do seu irmão, e mesmo que eu praticamente tenha o visto nascer, na verdade, por eu ter o visto nascer, é bom que você tome cuidado, tá? Qualquer coisa você pode me ligar e eu vou correndo. Cuidado com o horário, vocês têm aula amanhã. E nada de sair de moto por aí se ele for beber, me entendeu? — Ela começou me incentivando e terminou muito séria, o tanto que ela conseguia ser hoje em dia, já que desde que papai morrera suas atitudes se suavizaram bastante.

— Prometo não voltar tarde e qualquer coisa eu te ligo.

— Você está linda, divirta-se. — Ela se aproximou e depositou um beijo em minha cabeça.

— Obrigada, mãe. E por acaso a senhora sabe onde meu irmão se meteu?

— E você acha que ele se deu ao trabalho de me contar? Mas deixou um bilhete dizendo que iria sair com os amigos. — Ela suspirou.

— Entendi. Tchau mãe.

— Se cuida, filha.

...

— Então você veio mesmo. — Karin e eu esperávamos o restante do grupo se reunir na rua atrás da minha casa.

— Infelizmente eu não tinha nada melhor para fazer. — Ela riu.

— Karin eu... — Comecei, mas ela me interrompeu colocando o dedo indicador em meus lábios.

— Ah, Sasuke, eu sei, você gosta dela.

— O Naruto te contou?

— Não, nem precisou. Aliás, não é o motivo pra eu implicar tanto com ela, é sério, eu nem sabia de vocês dois quando nos estranhamos pela primeira vez. — Ela riu.

— Hm... Mas como? — Eu não sabia o que dizer, estava lentamente processando a informação.

— Como eu descobri? Você não tira os olhos dela a aula toda, todos os dias. Fica esperando-a te pedir uma caneta emprestada só pra ter uma desculpa para falar com ela. O dia que eu a mandei para diretoria? Eu achei que você fosse me odiar pra sempre depois do olhar que me lançou quando ela saiu da sala. — Ela riu. — Você fica inquieto na cadeira quando ela sai da sala, parecendo que quer segui-la. E o seu colar, reparei que usa um por baixo da camiseta, ela também usa um. Não é coincidência, é?

— Não é, e tem uma longa e velha história. — Fiquei envergonhado por imaginar que eu dava tão na telha assim, parecia quase um stalker pelas palavras da ruiva.

— Imaginei.

— Mesmo assim, não explica você estar aqui, quero dizer... — Mais uma vez me ocorreu não saber o que dizer, tinha medo de a magoar.

— Se eu gosto de você, por que iria querer ajudar aquela que pode me roubar isso? — Ela falou sério, mas logo um brilho cintilou em seus olhos e sua expressão se suavizou. — Primeiro, é mais por você do que por ela... Segundo, vocês dois são tão apaixonados um pelo outro que nem conseguem ver isso um no outro, parece que quanto mais se amam, mais se afastam, mas eu vejo claramente, então o que mais eu poderia fazer? — Eu não disse nada, então ela completou.

 — E se eu não tenho chances mesmo, pelo menos vai ser bom perturbar a princesinha mais um pouco. E claro, se tudo der errado, estarei aqui. — Ela piscou para mim e eu sorri de volta.

— Yo! Sasuke, Prima! — Naruto acenou se aproximando de nós junto com Hinata e Sagi.

— Boa noite, pessoal. — disse Hinata.

— Vamos indo? Já são quase oito e dez. — disse Sagi.

Respirei fundo, então era ali que começaria meu contra-ataque. Era maluquice? Era maluquice sem dúvida nenhuma, até porque a ideia era do cara mais maluco que eu conhecia e meu melhor amigo, mas por ela, tudo valia a pena.

— Vamos.

...

Eram sete e cinquenta e oito quando eu cheguei ao portão da casa dos Uchihas. Eu entrei e o fechei atrás de mim, parei diante da porta e fechei os olhos escaneando minha aparência mentalmente. Eu havia prendido duas mechas grossas de cabelo juntas para trás com uma presilha em forma de coração e deixado duas mechas bem fininhas soltas na frente. A maquiagem era uma sombra vermelha arroxeada espalmada bem leve, e fiz um delineado puxado em preto. Rímel transparente nos cílios, um blush rosa quase imperceptível e um gloss transparente nos lábios, tudo conforme as dicas da Ino. Como sugeriu TenTen, não usei sutiã com o vestido, então a visão das minhas costas estava livre. Optei por usar uma sandália preta de um salto baixinho, apenas para compor o vestido e pensando no conforto para os meus pés. Eu decidi não usar o meu colar com o pingente partido aquela noite, talvez eu não voltasse a usá-lo mais. Afastei esse último pensamento, abri os olhos e olhei para o meu relógio, eram oito horas, mas antes de eu tocar a campainha a porta se abriu e minha mão pairou no ar.

— Uau.

— O-Oi Itachi... — Ele me encarava surpreso, o que me deixou mais nervosa do que quando ele me lançava seus olhares sedutores.

— Você está perfeita.

— Obrigada. — Ele continuou me encarando e então eu pude notar que ele estava usando um avental de cozinha por cima de uma camiseta preta e uma calça cinza de moletom, não usava sapatos. Olhei por cima de seu ombro e perguntei — Eu posso entrar?

— É claro, desculpa, você está tão linda que por um momento eu me perdi em mim mesmo.

— Exagerado. — Eu corei.

— Mas por favor, entra. — Ele me guiou até a sala de estar, pediu para eu esperar um momento e pelo que eu podia me lembrar da disposição dos cômodos da residência, sumiu para dentro da sala de jantar que se conectava com a cozinha. Dois minutos se passaram e eu decidi ir atrás.

Chegando na sala de estar eu me dei conta do que estava acontecendo, não iriamos jantar fora, ele traria o jantar para casa. A mesa estava perfeitamente arrumada para dois. Havia flores nos vasos ao decorrer da extensão da mesa, lírios brancos misturados com rosas cor de rosa, combinavam muito com a toalha bege que cobria a mesa, também tinha velas, dois castiçais de prata, cada um com suporte para duas velas. Eu teria ficado petrificada olhando tudo aquilo se um barulho vindo da cozinha não tivesse me despertado. Andei devagar até o final da mesa e logo adiante a cozinha se abria, quando entrei, Itachi estava de costas para mim e cortava alguma coisa em uma tábua em cima do balcão da pia. Olhei em volta e vi panelas de algo já pronto no fogão, senti cheiro de fruto do mar no ar e o ambiente estava bem quente — o forno estava ligado. Ele não comprou o jantar, ele estava cozinhando para mim.

— Ah meus deuses. — Deixei escapar e ele se virou.

— Tentando me dar o troco? Agora você que quase me matou de verdade. — Ele balançou a faca em sua mão como se dissesse que o susto poderia ter causado um acidente.

— Ai, perdão, eu não quis... eu não... você está cozinhando pra mim.

— Estou cozinhando para nós. — Ele me corrigiu e voltou a cortar o que agora eu vi serem tomates.

— Foi por isso que faltou à aula?

— É, você me descobriu. Eu precisava comprar algumas coisas, arrumar outras, você sabe...

Enquanto ele falava retirei meu relógio do pulso e fui até a pia ficando do seu lado, coloquei um avental sobressalente que estava pendurado na parede ao lado, abri a torneira e comecei a lavar as mãos.

— O que está fazendo?

— Eu vou te ajudar. — Ele abriu a boca para o que eu imaginava, protestar, mas não o deixei falar — Nem adianta, o que está no forno?

— Uma moranga.

— Você tá preparando camarão na moranga?

— Algum problema?

— É meu prato favorito.

— Exatamente. — Ele sorriu vitorioso.

— Como...?

— Eu tenho meus meios. Tem certeza de que não quer voltar para a sala?

Peguei a faca da mão dele e com o quadril o empurrei para o lado, assumindo o corte dos tomates. Ele riu e se pôs a lavar as mãos no lugar onde eu estava antes.

— Tá bom, senhorita Haruno, já está quase tudo pronto, depois que terminar com os tomates juntaremos tudo dentro da moranga. — Ele apontou para a panela com o camarão e molho já quase preparados. — Enquanto isso eu vou terminar as batatas palhas.

— Tá fazendo batata palha caseira?

— Que? — Ele disse como se fazer batata palha em casa fosse a coisa mais normal do mundo. — Pode ficar com a salada depois de cortar os tomates?

— É claro, não é uma batata palha caseira, mas... — eu não consegui não rir e então ele ligou a torneia novamente e salpicou um pouco de água em mim. — Tá bom, tá bom, eu parei... MasterChef.

— Engraçadinha.

A campainha tocou pouco tempo depois e eu disse que poderia atender, mas no final nós dois fomos abrir a porta enquanto ríamos de uma história de fiasco culinário dele.

— Hã? — Foi só o que consegui dizer ao ver meu irmão, Naruto, Hinata, Karin e Sasuke parados na porta nos olhando tão confusos quanto nós.

— Ué, vocês não iam jantar? — disse meu irmão.

— Nós vamos, eu preparei o jantar e na verdade estávamos só concluindo os pratos. O que vocês vieram fazer aqui mesmo? — A voz de Itachi era leve, leve demais, com certeza estava contrariado e fazendo de tudo para se segurar.

— Ah, foi mal. — Sasuke falou com tanto deboche que me surpreendeu. — Como você não ia estar em casa maninho, a gente combinou umas partidas de videogame. Mas já que você preparou o jantar, por que não jantamos todos?

— Puts, seria ótimo, eu estou morrendo de fome. — Acrescentou Naruto.

Itachi apenas olhou para mim como se a decisão fosse minha.

— É claro, claro gente, acho até que seria comida demais só pra dois... “eu vou matar vocês”

— Ela tem razão, entrem, daqui a pouco vamos servir. — Itachi abriu um sorriso e eu sabia que alguém morreria depois, isso se eu deixasse alguém vivo para ele.

...

— Desculpa, Itachi, eu não sei o que tá rolando. — disse quando voltamos à cozinha.

— Não se desculpe, foi só uma coincidência, eu deveria ter avisado que jantaríamos aqui, mas esperava te surpreender... — Ele falou sério, com ar um pouco decepcionado.

— E surpreendeu, demais, quer dizer, olha tudo isso, MasterChef. — Ele riu. — Sinto muito pelo encontro.

— Nada disso. — Ele segurou a minha mão. — Se estivéssemos em um restaurante, estaríamos rodeados de pessoas, é o mesmo aqui. E é até melhor, são seus amigos e seu irmão, você vai até se sentir mais à vontade. Não acha agradável?

Confesso que eu não esperava aquela reação, ele estava indo além da gentileza. E ele tinha razão, não havia motivos para que a noite não continuasse sendo agradável, tirando o fato de que eu aos poucos me dava conta que Karin e Sasuke estariam no mesmo jantar. Mas se Sasuke não se importava, por que eu me importaria?

— Tem razão. — Eu apertei sua mão em sinal de concordância.

...

— Que droga de clima romântico é esse? — Perguntou Sagi enquanto espetava o dedo em uma das velas dos castiçais.

— Ih, Sasuke, seu irmão é páreo duro hein. — disse Karin.

— Jantar a luz de velas é mesmo bem difícil de competir. — Completou Naruto.

— E não é só isso, ele cozinhou. — Constatou Hinata.

— Obrigada gente, vocês me dão a maior força. — Eu tinha que admitir, não esperava que ele se esforçasse tanto assim.  No plano original, os seguiríamos até o restaurante e antes de pedirem, nos sentaríamos à mesa como um grande grupo e depois sugeriríamos um programa no karaokê pós jantar todos juntos, eles pensariam em nos dispensar, mas em público seria mais difícil, meu irmão não correria o risco de arrumar confusão na frente dela, e no fim, só mudou o local, mas tudo parecia muito mais romântico. “que ótimo”

Nos sentamos à mesa e esperamos, as risadas vindas da cozinha fizeram com que eu me levantasse duas vezes em sua direção e Naruto me puxasse de volta à cadeira.

— Será que dá pra relaxar?

— Não. — Sagi respondeu junto comigo, ele já tinha se levantado no mínimo três vezes e Karin o feito sentar-se.

— Vamos ter um jantar agradável, ok? Ela deve estar pensando que eu estou aqui como par do Sasuke, e é bom que pense, isso vai gerar uma raiva que irá distrai-la, mas o plano é vocês tomarem a atenção do Itachi, e você — Karin olhou para mim — se aproveitar para roubar a atenção dela. Nada mudou.

— Se eu conseguir.

— Mesmo se não conseguir, também é importante barrar a noite romântica dos dois, certo? Então no lugar de ficarem pensando em como arrancar um membro do Itachi, foquem em achar péssimos assuntos totalmente antirromânticos. — Karin nos comandou como soldados e todos assentimos.

— Demoramos muito? — disse Itachi entrando na sala com o prato mais bonito que eu já o vi fazer, em uma mão, e uma garrafa de vinho na outra. Foi a primeira vez que eu odiei que meu irmão tivesse tanto talento para a cozinha.

— N-Não, d-d-esculpa de novo a gente aparecer assim. — Hinata falou.

— Não faz mal, é sério. — Sakura disse enquanto entrava na sala com um refratário de arroz e outro com as benditas batatas palhas caseira daquele convencido.

— Precisam de ajuda? — Perguntei tentando soar despreocupado e prestativo.

— Pode trazer mais louças e copos? — pediu meu irmão enquanto servia vinho para Sagi e Karin.

— Claro. — Me levantei e fui para a cozinha.

...

— Bem, enquanto meu irmãozinho termina de preparar a mesa, eu vou subir pra jogar uma água no corpo e me trocar, você está tão linda que é um insulto eu ficar de moletom. — Itachi disse para mim enquanto tocava o meu queixo, depois pediu licença aos outros e saiu pela entrada para a sala de estar.

— Minha nossa, não é que ele sabe mesmo o que faz? — disse Naruto inspirando fundo o cheiro da comida.

— Parece que sim. — Eu disse e me sentei, ainda não estava certa de tamanha coincidência. — Sagi, você escreveu para a mamãe que sairia com amigos hoje.

— É sim, decidimos em cima da hora então nem coloquei que era com os meninos, mas realmente foi uma sorte encontrar vocês aqui, quer dizer, olha esse jantar. — Meu irmão estava sendo tão irônico que eu nem me dei ao trabalho de fuzilá-lo com os olhos.

 — Ainda é seu prato favorito? — Sasuke perguntou enquanto colocava pratos e talheres na frente de todos.

— Ainda é sim. — Me incomodava falar com ele depois do que acontecera, mas se ele ia agir naturalmente, por que eu não?

— Princesinha Jujuba, hoje você tá mais pro meu time né? Belo vestido. — Karin falou com todo cinismo e ironia que ela parecia fabricar especialmente para mim.

— Não é ótimo apimentar as coisas às vezes? Obrigada, Rainha Jalapeño. — Respondi satisfeita e com um enorme sorriso no rosto. Karin sorriu de volta nervosamente, claramente queria voar em cima de mim, mas Naruto levantou de sua cadeira e sussurrou alguma coisa em seu ouvido enquanto a abraçava, ela se limitou a me fuzilar com o olhar.

Ficamos conversando por cerca de dez minutos até que Itachi voltou a sala. Ele vestia uma calça social preta que brincava entre a medida certa e um pouco apertada. Sapatos pretos sociais. Uma camisa social azul escura de mangas longas, dobrada até o cotovelo, os dois primeiros botões de cima estavam abertos, ela era solta mais nem tanto, dava para ver como colava facilmente ao seu corpo enquanto se movia. Era a primeira vez que eu via seu cabelo longo e preto completamente solto, quando ele pediu desculpas pela demora, passou a mão pela testa e deslizou os dedos nas mechas jogando o cabelo para trás, por um instante eu até esqueci como é que se respirava.

— Você tá muito bem. — Eu disse quando ele se sentou de frente para mim do outro lado da mesa.

— Não tanto quanto você. — Ficamos nos encarando profundamente como se estivéssemos sozinhos, mas não durou muito já que meu irmão tossiu como se aquilo dependesse da vida dele — ou como se ela fosse acabar.

— Bem, podem se servir antes que esfrie totalmente, espero que gostem. — Itachi sorriu e começamos a preparar nossos pratos.

...

Durante os primeiros minutos do jantar todos estavam muito concentrados em seus pratos, o jantar realmente estava delicioso e o Uchiha mais velho observava atentamente enquanto comia cada expressão de deleite que passava pelo rosto da Haruno. Mas ele não era o único que estava atento, seu irmão também não tirava os olhos da menina de cabelo rosa. Conforme os pratos iam se limpando, todos foram para a sala de estar e as conversas tiveram início — Sakura e Itachi não conseguiram um lugar para sentarem juntos graças ao esforços para separá-los. Naruto comentou sobre suas novas aulas de inglês e pedia dicas para Itachi que era fluente no idioma — Sasuke e Sakura também eram, o que deixava o interesse em particular no Uchiha no mínimo estranho, mas este nem ligou. Karin fazia várias perguntas diferentes sobre carros, motos e seus motores, as quais Sagi fazia questão de incentivar e complementar. Hinata, mais reservada, se limitava a ouvir os comentários e concordar ou discordar quando lhe dirigiam a palavra. Sasuke e Sakura que estavam sentados paralelos um ao outro se limitavam a trocar alguns olhares, Sasuke tentava puxar algum assunto, porém ela se limitava a dar respostas curtas, então ficaram boa parte do tempo em um silêncio desconfortável, o que não passara despercebido por Itachi que prontamente começou a puxar assunto com a rosada e aos poucos arrancar muitas risadas dela e dos presentes na sala — exceto de seus “inimigos” declarados Sagi e Sasuke.

Em algum momento perto das dez horas, Sakura pediu licença e disse que precisava tomar um pouco de ar na varanda que dava para o jardim, antes que Itachi pudesse se oferecer para a acompanhar, todos começaram a falar ao mesmo tempo, Karin e Sagi aumentavam um pouco o tom de voz como se o vinho os tivesse alterado. Enquanto isso Hinata habilmente retirou uma pequena caderneta e uma caneta de sua bolsa e pediu ao moreno que escrevesse para ela as receitas da noite.

...

— Acho que isso é seu. — A visão do vestido aberto em suas costas quase não me permitiu falar, ela se virou surpresa e eu não pude deixar de achar que nunca a tinha visto tão linda, se é que era possível, ela tinha superado todas as minhas expectativas.

— Ah sim, eu devo ter esquecido na cozinha, obrigada... — Ela olhou para o relógio em minha mão e hesitou um pouco antes de pegá-lo de volta.

— Queria te dizer uma coisa. — Ela encolheu os ombros e sua expressão ficou um pouco tensa, eu devia ter a magoado bastante e me odiava por isso. — O que te disse ontem, não era verdade. — Falei por fim.

— Qual parte? A que você estava indo para a casa da Karin ou que não se importava comigo? Acho que a segunda, já que ela está aqui com você. — Seus olhos verdes brilharam em um lampejo de raiva.

— As duas coisas. Eu não estava indo para a casa dela, e eu me importo com você, demais. — Tentei soar o mais sincero possível, mas sua expressão não mudou.

— E por que eu deveria acreditar nisso? Você foi bem claro e convincente.

— Eu fui um babaca.

— É você foi sim.

— Sakura...

— Olha, Sasuke- A interrompi.

— Espera, me deixa falar. — Ela franziu a testa contrariada, mas não disse nada. — Na verdade — olhei para seu pescoço e vi que ela não o estava usando, um nó se formou na minha garganta, mas decidi seguir adiante — deixa eu te mostrar.

Dei um passo mais para perto dela e quando estava prestes a revelar o meu colar com o pingente partido ele apareceu.

— Tudo bem por aqui? — Itachi depositou uma mão em meu ombro. “timing perfeito, irmão”

— Sim, Sasuke veio devolver o meu relógio. — Sakura me olhava intrigada.

— Foi isso.

— Ah sim, que gentileza a dele. — Ele apertou um pouco mais a mão no meu ombro e me pergunto se ele queria deslocar o meu braço. — Eu vim apenas te dizer que está ficando tarde, vou te levar para casa. — Por fim ele me soltou.

— Não precisa, o pessoal também deve estar de saída e afinal o irmão dela está aqui. — Falei sem pensar.

— É verdade, você não precisa ir e depois ter que voltar sozinho. — Sakura concluiu e eu quase a abracei.

Foi quando ele passou por mim, se interpôs entre nós, agarrou ela pela cintura e disse: — Apenas me deixe terminar o nosso encontro.

Acho que ela assentiu porque logo os dois passaram de mãos dadas por mim, ela sequer me olhou, já meu irmão, fez questão de me lançar o seu melhor olhar de escarnio.

Assim que eles saíram, eu contei o que aconteceu na varanda para todos e Sagi praguejou por não ter visto eles indo embora. Naruto tentou me convencer que tinha sido o suficiente para cortar o clima. Pouco tempo depois eu estava sozinho em casa, largado no tatame do dojo nos fundos para não dar de cara com meu irmão voltando para casa. Me lembrei do que o Haruno mais velho me falara antes de ir embora.

...

— Não desiste ela. — Eu não estava esperando por algo tão direto, ele me olhava sério, quando viu minha expressão de surpresa, relaxou e sorriu. — Estou falando sério, procura ela. Mostra que se importa se você gosta dela como eu acredito que goste. O outro cara tá fazendo exatamente isso e se você não se mexer Uchiha, vai perdê-la.

— Eu... — Já tinha me decidido, eu não teria aceitado invadir o jantar se não fosse levar adiante, mas antes de eu o dizer, completou.

— Ela já passou muito tempo correndo atrás de você e nem vem me dizer que não sabe, que nunca notou. Uma hora tudo isso cansa e se tem alguém disposto a ir atrás dela, é claro que vai ser mais atrativo. Enfim, é só um toque, considere como um conselho de um irmão. — Me lembrou do que Naruto havia me dito.

— Obrigado. — Eu disse por fim e assenti com a cabeça para confirmar que tinha o levado a sério, eu gostava do jeito do Sagi, ele falava com segurança e dificilmente estava errado — a não ser quando se tratava de sua própria vida amorosa — era alegre e barulhento como o Naruto, e principalmente, me passava tudo o que eu sentia falta na minha relação com meu irmão mais velho.

...

Ao contrário da última vez, eu não deixaria aquilo me abalar tão fácil — eu tinha dado algo para ela pensar, eu a conhecia muito bem, sua teimosia e curiosidade não a deixaria em paz, eu planejei meus próximos passos sozinho, iria criar outro momento para lhe revelar tudo e pediria aos deuses dela para que me escolhesse. Me lembrei de quando ficamos sozinhos na varanda.

— Eu deveria mesmo ter a dito o quanto estava linda essa noite, mais do que todos os dias.