Pelo escuro escrita por Olavih


Capítulo 4
Expostos


Notas iniciais do capítulo

Hey pessoas, desculpem a demora. Semana de provas, aí já viu né? Mas e aí, sentiram falta do Nyah? Ou de mim? Porque eu senti mó falta de vocês kk. Enfim, obrigada pelas reviews suas gatas, então aqui está mais um capítulo para vocês. Espero que gostem;



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Capítulo 4 — Expostos

Ele ficou um tempo sem responder. Manteve seus olhos focados no brigadeiro e eu já iria desistir de ter a resposta. Até que ele falou.

—É só que... — e parou. Não parecia encontrar as palavras certas.

—É só que... ? Por favor, fala a verdade. — pedi. Ele suspirou.

—Sua presença aqui me faz lembrar o passado. Não do passado bom, mas da fase em que eu era humilhado e excluído. — ele falou e pude ver seu punho cerrado. Ficamos em silêncio um pouco. Eu deveria imaginar que Ethan assimilaria tudo. Na maioria das vezes, eu estava presente quando ele era humilhado. Para falar a verdade até mesmo eu estava desconfortável com essa situação. Não havia me acostumado com Ethan tão maduro, tão diferente. Toda vez que o olhava sempre me lembrava do aluno tímido que se sentava na primeira cadeira e nunca respondia uma pergunta, mas que sabia a resposta de todas. — Evangeline, eu...

—Não peça desculpas. Você está certo. Quem tem que pedir desculpas é eu. Eu estava presente quando te humilharam e muita vez eu mesma o fiz. Eu não sabia o quanto isso o prejudicava e a única coisa que posso dizer é que eu realmente sinto muito. Eu... — as palavras ficaram presas em minha garganta. Ethan continuava com a cabeça abaixada, escutando cada palavra em silêncio. Nenhum de nós falou por pelo menos dez minutos. Cada um estava mais focado em seus próprios pensamentos. — eu vou falar pra Kyra que vou morar em outro lugar. — Ethan arregalou os olhos. —é, vai ser mais fácil para nós. Querendo ou não eu me sinto culpada e...

—Não precisa Evangeline. Quer dizer, eu sou quem devo sair...

—De modo algum, eu cheguei depois...

—Mas você...

—Mas eu... — e outra vez, caímos no silêncio. Eu podia sentir a curiosidade dele pressionando minha garganta. Então, fiz o que faço de melhor: falei o que estava na minha cabeça. — eu não queria estar aqui. Quer dizer, eu amo Kyra, ela é como minha irmã, mas eu não quero. Desde que eu saí do colégio eu estava perdida. Não ia cursar faculdade nem se eu me tornasse a garota mais inteligente da noite pro dia, não com minhas notas. Foi quando eles me acharam.

“A agencia de modelos de Oklahoma sempre foi muito gentil comigo. Não sei como me acharam, mas acharam e acredito que essa foi a melhor coisa que já aconteceu comigo. Eu estava feliz finalmente, achei algo que eu realmente sou boa. Ficava sempre orgulhosa ao ver minhas fotos e todas as noites eram noites de glória. Foi quando conheci Patrick.”

Dei uma pausa dramática e olhei para o nada, um sorriso triste no rosto. Continuei.

—Patrick era incrível. Destemido, sempre alegre e incrivelmente bonito. Nós saímos por um mês antes dele me pedir em namoro, depois de um desfile. Ele também era modelo. No começo era um namoro normal. Víamo-nos sempre que podíamos e apesar das agências não aprovar nosso namoro, nós não desistimos um do outro. Orgulhávamos de ser o casal da moda. Mas os meses foram passando e embora o meu amor por ele só tenha aumentado, ele mudou. Parecia mais ríspido e nunca tinha tempo para mim. Descobri sua primeira traição algumas semanas depois. Eu achava que quando o perdoasse ele iria se regenerar e voltaria a ser o Patrick do começo, mas a cada vez que eu perdoava as coisas pioravam. — comecei a chorar lembrando-me de cada briga. — Ele sempre me trocava por alguma modelo mais famosa ou mais magra e esses eram os motivos dele. “Elas são tão melhores que você. Olha seu rosto o quão gordo é. Olha o seu corpo o quão feio é. Você é tão feia que eu tenho vergonha de você”.

“Eu comecei a não comer. Se ele me queria magra, eu iria ficar magra. Se ele me queria bonita, então eu vou ficar bonita. Minha obsessão era tão grande que eu passava os dias com apenas uma folha de alface, uma banana. Quando eu desmaiava ficava com mais raiva de mim mesma. Quando eu comia, comia compulsivamente, pois minha barriga clamava por comida. A culpa me tomava minutos depois e eu passei a vomitar toda comida que eu tinha. Um dia eu fiquei tão fraca que não consegui fazer uma sessão de fotos, pois achava as roupas pesadas. A agência me demitiu. Disse que eu tinha que ficar um tempo fora de tudo, que aquilo estava me fazendo mal. Durante muitos dias eu ficava em casa, apenas chorando e lendo revistas de moda. Ou dormindo. Naquele tempo eu dormia muito. Meu pai desesperou. Ele me levou em psicólogos e conversou diversas vezes comigo, mas nada adiantava.”

“durante o tempo em que eu fiquei depressiva, Patrick ligou. Ele disse que queria voltar comigo, que estava arrependido e dessa vez ele tinha realmente mudado. Eu acreditei. Sabe o que é pior? Eu acreditei. E voltei correndo como uma cachorrinha para ele. Resultado: duas semanas depois ele me trocou novamente por outra modelo. Nossa briga foi tão feia, que meu pai disse que era hora de eu sair daquele lugar. Sair daquela vida. E aqui nós estamos. Ele ligou para Kyra, que me acolheu de braços abertos. Só não sabia que aqui eu magoaria mais alguém.”.

Quando terminei Ethan olhava para mim do jeito que todos sempre olham. Com pena. No começo eu quis desprezar sua pena. Porém quando olhei em seus olhos eu vi sinceridade, algo que quase não via em outros olhares. Ele parecia realmente triste com minha situação, como se sentisse minha melancolia.

—Você não precisa se mudar, Evangeline. — ele falou com doçura.

—E você não precisa ficar com pena de mim. — falei.

—Não é pena. É solidariedade. Você precisa da casa. Eu preciso superar meus medos. Querendo ou não, ambos estamos “quebrados”. E se nós esquecêssemos tudo e começássemos do zero?

—Do zero?

—Do zero. — mordi o lábio. Ele estendeu a mão com um sorriso diferente. Era simpático e me deixava ver seus dentes brancos. Sorri também e apertei sua mão.

—Prazer, sou Eva.

—Prazer, sou Ethan. — ele riu.

***

Eu poderia ter acordado de qualquer outra forma. Uma forma que me deixasse tranquila, feliz o dia todo. Em vez disso, eu acordei oito horas da manhã para observar crianças passando tinta na minha cara!

—Não Patrick, está muito cedo. — resmunguei. — Patrick! — eu ri passando a mão no local. Quando percebi que estava úmido, frio, abri os olhos. Foi quando vi totalmente horrorizada, o líquido em minhas mãos. Olhei para o lado e havia três crianças que aparentavam ter seis, sete anos. Quando eu gritei, eles gritaram também. —EU VOU MATAR VOCÊS!

Saí apressada da cama, ignorando o fato do meu cabelo estar bagunçado e meu pijama ser das meninas super poderosas. As crianças correram e eu as segui na maior velocidade que consegui. Elas saíram gritando assustadas e eu estava enfurecida de mais. Quando cheguei à sala tive a visão do caos.

Havia pelo menos dez crianças, todas aparentando ter seis, sete anos. Duas estavam assistindo televisão enquanto outra olhava os DVDS de um modo que Kyra a mataria se visse. A casa toda estava suja, como se uma manada de elefantes tivesse sambado por lá; barulhos esquisitos saíam da cozinha. No meio da sala estava Ethan.

Ele estava amarrado a uma cadeira, fita adesiva tampava sua boca. Ele murmurava enquanto mais cinco crianças dançavam danças de índio ao seu redor. Eles brincavam dando tapas em seu pescoço e gritando em seu rosto. Quando me viu Ethan parecia aliviado e seus múrmuros aumentaram.

Corri até ele, esquecendo-me das outras crianças.

—Que droga Ethan, o que está acontecendo aqui? — perguntei já irritada. Ele murmurou como se me lembrasse de que não podia falar por causa da fita e eu a tirei rapidamente. Ethan gritou.

—Sabe o que eu mais aprecio em você Evangeline? Sua delicadeza. — seu tom era bravo. Dei de ombros. Ele levantou a cabeça e tentou conter um sorriso. — que pijama é esse?

—Não mude de assunto! — exclamei sentindo vergonha. — e esse bando de pirralhos aqui em casa?

—Culpa da Kyra. Algo sobre creche, programa, alagamento e babá.

—Nossa Ethan, eu estou impressionada com sua eficiência. Você está treinando para ser secretária eletrônica? — ironizei.

—Eu tava com sono poxa! Não tenho culpa. Agora pode me soltar? — avancei para soltá-lo, mas escutei um barulho na cozinha. Soltei Ethan rapidamente e corri para o cômodo.

Um pote cheio de biscoito estava no chão, quebrado. Os biscoitos estavam espalhados no chão. As crianças estavam paradas todas espantadas, olhando para o pote. E de repente elas começaram a atacar. Avançaram nos biscoitos pegando-os e comendo. Um que havia subido na cadeira, provavelmente para pegar o biscoito devorava três biscoitos por vez. Horrorizada eu simplesmente não sabia o que fazer.

Crianças sempre fora um assunto que me deixava sem saber o que fazer. Elas eram fofas até os três anos, mas a partir disso eu sempre queria bater nelas. Com Kyra era totalmente diferente. Ela tinha um tipo de doce que deixava qualquer criança calma e meiga com ela. Comigo era estranho. Parecia que as crianças se agitavam a minha frente. Eu sempre tinha a impressão de que elas iriam aprontar comigo.

Comecei a gritar com as crianças, e para minha felicidade elas obedeceram. Pararam de comer e olharam para mim como se finalmente me vissem.

—Vocês estão loucos? Isso é comida do chão, está cheio de lombrigas. Lombrigas dão doenças e vocês vão ser obrigados a engolirem remédios ruins ou irão... — fui interrompida por um garoto que simplesmente chegou perto e vomitou nos meus pés. — morrer! — completei incrédula.

Um minuto ou mais se passou. O silêncio reinava e a única coisa que eu conseguia ver era aquele líquido nojento nos meus pés. O menino parecia estar verde e realmente passando mal. Não me importei. Não sei de onde tirei forças, mas um minuto depois eu estava carregando o menino nos ombros levando-o escada acima e gritando que iria jogá-lo de lá.

—Saiam de perto crianças, ou o primeiro que se aproximar será o próximo. — gritei por cima do ombro. Cheguei até uma pequena sacada que tinha na escada, que dava visão para a sala. Ethan ainda estava amarrado à cadeira, convencendo um garoto a soltá-lo. Ele olhou-me desesperado quando viu o que eu estava prestes a fazer.

As crianças pararam a alguns metros de mim. Algumas pareciam divertidas, outras nem tanto. Inclinei o garoto e muitos prenderam a respiração.

—Não faça isso tia! — gritou um.

—Não, deixa ela fazer! Acabei de apostar o meu lanche de amanhã. — gritou outro.

—Calem a boca. Eu vou jogar esse moleque e ninguém vai me impedir. — o menino se agarrou a mim.

—Por favor, tia, eu não to legal. — ele pediu.

—Eu não ligo! Devia controlar a sua boca. Sua mãe nunca te ensinou a não vomitar nas pessoas?

—Evangeline espera, não pode jogar ele. — disse Ethan.

—E por que não? Ele vomitou em mim.

—Mesmo assim, pense no processo.

—Vale a pena. — gritei de volta. Estava me preparando para soltar a criança quando Kyra anunciou sua chegada com um cantarolado típico.

—Queridos, cheguei! —ela sorria quando entrou na sala, mas seu sorriso morreu assim que absorveu a cena.

Ninguém se mexeu. Kyra olhou primeiro para Ethan e a bagunça da sala e depois ela direcionou seu olhar para mim. E pela sua expressão, eu soube que um grito estava para vir.


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Notas finais do capítulo

E aí curtiram? O que acharam do motivo do Ethan? E o da Eva? E as crianças no final? Eu ri muito imaginando a cena kk. Enfim, comentem please. Beijos beijos e até nas reviews.