Silent Hill: Sombras do Passado escrita por EddieJJ


Capítulo 7
Desencontro


Notas iniciais do capítulo

"Melhor é serem dois do que um, (...) pois se caírem, um levantará o seu companheiro; mas ai do que estiver só, pois, caindo, não haverá outro que o levante." Eclesiastes 4.9-10 - Bíblia Sagrada



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Sebastian logo encostou sua cabeça na parede e tentou esquecer-se da dor insuportável na sua perna, a criatura havia feito um belo estrago com aqueles dentes.

– Está mesmo bem? – perguntou Emma, percebendo a expressão de dor do rapaz.

– Sim, não se preocupe comigo... – disse Sebastian com a mão sobre o ferimento.

– Tudo bem então. Vamos buscar ajuda logo.

– Uhum... – fechou os olhos, focando apenas em sua respiração.

– Tente descansar... vou ver se acho algo aqui para melhorar sua situação. – dirigindo-se à porta do quarto até o qual a janela os levara.

Emma não queria demonstrar, mas estava se sentindo extremamente culpada pelo acontecido, sempre fez de tudo pra se virar sozinha, para não precisar de ninguém, para não pagar de donzela em perigo e agora um alguém a havia salvado num momento de pânico e estava sentado ali, ferido, por sua causa. Ela tinha que ajudá-lo. Pegou a lanterna e ao sair do quarto ficou surpresa com o estado da casa: estava totalmente deteriorada, praticamente em ruínas, muitas paredes quebradas e vários pedaços do teto não existiam mais... Ela passou a mão na parede e percebeu que a mesma estava coberta com um pó preto, semelhante à cinzas, aliás, toda a casa estava coberta com esse pó. “Incêndio... deve ser por isso que está abandonada.” Pensou. Continuou atravessando o corredor no qual o tal quarto se encontrava e chegou até as escadas... destruídas... Se havia algo lá embaixo que pudesse ajudar Sebastian, bom, não poderia ser achado...

– Droga.

Continuou atravessando o corredor até o final, quando chegou a um pequeno salão, onde não havia nada de interessante a não serem vários livros jogados e algo que chamou a atenção de Emma: um enorme símbolo vermelho desenhado no chão cercado por velas.

– Mas que diabos... O que houve aqui?

Emma olhou em volta e com a ajuda da lanterna percebeu um livro posicionado em baixo do que sobrara de uma estante, que lhe chamou a atenção em especial, a capa dizia: “Diário de Dahlia Gillespie”, estava parcialmente destruído, mas nada que o tornasse ilegível. Ela pegou e folheou o livro, indo até as últimas páginas e as lendo, a fim de descobrir alguma coisa sobre a casa ou alguma explicação sobre aquela cena um tanto macabra.

“Finalmente está na hora, o maravilhoso dia em que nosso grande e misericordioso Deus irá nascer, é hoje. E minha filha, oh, pequena Alessa, quem diria que uma pecadora como eu seria a mãe daquela que daria a luz ao poderoso Samael, minha filha foi a escolhida, ela não sabe o privilégio que teve. Esta noite haverá o grande ritual, a Ordem e eu decidimos: queimaremos Alessa, submetendo-a assim à dor e ao sofrimento necessário para que o nosso Deus possa nascer e trazer à terra a paz e a alegria das quais ela tanto necessita. Oh, que dia maravilhoso, os preparativos estão quase prontos, o paraíso, oh que dia de gozo será para aqueles que foram fiéis.”

Emma olhou para o salão queimado e sentiu um arrepio, olhou novamente para o livro, virou a página e continuou a ler.

“Maldito seja, MALDITO! Ele atrapalhou tudo, não deveria ter resgatado Alessa das chamas, das chamas que trariam paz à esse mundo. Ele terá que pagar, não sabe o mal que fez a si mesmo e ao resto da humanidade. Mas não importa, já a levaram para o hospital, está sob os cuidados daqueles que se preocupam com ela. Ela já sofreu o bastante, poderemos terminar o ritual nós mesmos e trazer nosso Deus, estamos quase lá, quase! Mas precisamos fazer isso antes que ela o ajude a achar o Flauros, ela o está ajudando, sei que está! E isso não pode acontecer, não pode, eu o escondi tão bem...”

Emma virou a página, o resto estava muito encardido por causa do pó da casa, sem falar nos estragos que as traças haviam feito, era impossível ler. Emma largou o livro no chão e engoliu seco. “Não foi um incêndio acidental.” Pensou. “Pobre garotinha.”

– Sebastian... – Emma lembrou-se do seu verdadeiro objetivo ali.

Voltou para o quarto onde ele estava.

– Achou alguma coisa? – ele perguntou.

–Não... – Emma pensou em falar das anotações mas decidiu deixar pra lá.

– Não se preocupe... a dor já está passando, viu? – disse Sebastian ficando de pé, um pouco trêmulo, tentando mostrar que já estava melhor – Vamos só tentar dormir Ok?

– Uhum... – Emma sentou-se ao lado dele – Obrigado... – Sebastian a olhou com cara de indagação - Por me salvar.

– Não foi nada. – Sebastian riu.

– Amanhã levaremos você para o hospital de Silent Hill.

– Sim... sim...

Emma e Sebastian reclinaram suas cabeças na parede, o silêncio reinou, e nada podia ser ouvido se não o rosnado do bicho que ainda vagava lá embaixo, em poucos minutos, pegaram no sono.

.

.

.

Sebastian lentamente abriu os olhos, já era de manhã, a noite havia passado rápido.

– Ainda bem que acordou. - disse Emma.

– Uhum... – disse Sebastian, levantando-se.

– Como está a perna?

– Melhor, já nem sinto.

– Ótimo, mas ainda iremos ao hospital OK? Escuta, o tal cachorro, estou observando a janela a algum tempo e parece que se foi.

– Então não vamos perder tempo. – disse Sebastian já recolhendo a bolsa e a lanterna.

Emma olhou em volta novamente pela janela, nada, talvez a fera realmente tivesse ido, ela tomou coragem, sentou-se na janela e pulou para o chão, olhando para cima gritou:

– Sua vez.

Sebastian jogou o material de lá e fez o mesmo.

– A névoa continua bem densa. – comentou.

– Mas é bem menos assustadora de manhã.

– Uhum... – riu Sebastian.

Os dois partiram em direção à Silent Hill, no momento não pelo pai de Emma, mas mais pela perna de Sebastian e pelo carro quebrado: problemas mais urgentes para resolver. Estavam receosos que dessem de cara com o inimigo de ontem novamente, porém para sorte e alívio dos dois não passaram mais que alguns vários minutos caminhando quando da névoa uma cerca de metal se erguia, por trás dela alguns outdoors mal cuidados com alguns anúncios e mais ao longe as casas e prédios começavam a aparecer.

– Chegamos. – disse Sebastian.

Sebastian e Emma começaram a andar empolgados em direção a cidade, quase correndo, finalmente haviam chegado a seu destino e o melhor: vivos! Adentraram as ruas da cidade e ficaram chocados, até elas estavam cheias da névoa que havia tomado conta da estrada no caminho, mas e daí? Inverno! Mais do que depressa, os dois começaram a procurar a pessoa mais próxima para que pudessem pedir alguma informação, viraram a primeira esquina, viraram a segunda e a terceira, até que a empolgação e o alívio se tornaram frustração e medo quando os dois perceberam algo perturbador: não havia ninguém nas ruas além deles, elas estavam totalmente desertas com a exceção de carros parados, também sem ninguém, todos os prédios pelos quais tinham passado estavam totalmente fechados e não se ouvia ou via nenhum sinal de vida vindo dali.

– Tem certeza do que leu naquele site? Não parece um lugar feliz para mim.

– Estava lendo sobre essa cidade: Silent Hill. Tenho certeza. – retrucou Emma.

– Então precisam atualizar o sit.... – Sebastian sentiu algo leve caindo sobre sua cabeça.

– Ei, o que é isso? – Emma pegou a coisa com a ponta dos dedos, era um floco de alguma coisa – Neve? - disse ela aproximando dos olhos.

– Não...

– Cinzas. – Emma concluiu, após sentir o cheiro do material misterioso.

Outra caiu sobre o ombro de Emma. Os dois se entreolharam com olhar de surpresa e olharam para cima, ficando estáticos: cinzas começaram a cair sobre a cidade, até onde a vista alcançava, como se estivesse nevando.

– Mas o que está acontecendo aqui? – Emma retrucou – É uma piada? – Emma gritou na esperança de que estivesse sendo vítima de uma brincadeira idiota de TV.

Silêncio absoluto.

– Aqui neva cinzas? É, no mínimo, um lugar exótico. – Sebastian falou olhando pros lados.

– Isso não tem graça Sebastian. Nenhum carro na estrada, essa névoa toda e uma cidade completamente deserta onde neva cinzas não parece nada suspeito para você.

– Sim, mas...

– É melhor voltarmos, ir embora. – Emma interrompeu.

– Escuta Emma, estamos a varias horas de Brahms, sem carro e sem onde ficar, para onde acha que vamos embora? Tudo bem, tem algo errado aqui mas não é possível que não tenha ninguém, correto? Além do mais, não acha provável que seja apenas uma anomalia climática? Que tenha empurrado as pessoas pra suas casas ou algo do tipo? E ainda precisamos ir ao hospital.

– Hunf... - Emma pensou um pouco e assentiu com a cabeça- E onde acha que é o hospital?

– Não sei, mas aquele mapa deve saber. – disse Sebastian apontando para uma placa numa calçada próxima onde havia o mapa da cidade, provavelmente para turistas, que havia acabado de ver.

Os dois andaram em direção ao mapa e o examinaram.

– Fica a umas dez quadras naquela direção. – disse Emma apontando – Tomara que esteja certo.

Sebastian fez que sim com a cabeça, arrancou o mapa da placa (afinal, não seria difícil se perder naquela situação) e os dois partiram em direção ao hospital. No caminho nada repararam de diferente se não névoa e uma cidade deserta. Emma e Sebastian ainda estavam meio incomodados, mas já estavam se acostumando com a atmosfera do lugar, que havia ganhado um leve cheiro de queimado por causa das cinzas. Após andarem cerca de cinco quadras os dois passaram por um posto de gasolina, numa esquina de um dos quarteirões, o qual possuía uma conveniência, percebida por Sebastian.

– Tá com fome? – Sebastian perguntou.

– Sim... Faz mais de um dia que não comemos.

– Bom, tenho algum dólares aqui comigo, coisa pouca, mas posso comprar algo para gente comer.

Emma já estava se sentindo inútil, pois desde que chegara ali só Sebastian havia tomado atitudes, isso fez com que ela pensasse em recusar a oferta para mostrar ser durona, mas o assunto comida trouxe de volta toda a fome que fora suprimida pelos acontecimentos de até então.

– Pode ir se quiser, eu espero aqui. – disse ela tentando mostrar indiferença.

Sebastian rapidamente correu através do posto até a porta da conveniência e entrou, badalando o sininho que avisava quando um cliente chegava. Como ele esperava: totalmente vazia, o único movimento no local era o do ventilador de teto que por alguma razão ainda girava lentamente. Não havia ninguém no caixa, assim como em nenhum outro lugar do posto.

– Alguém não vai ter que pagar. – disse feliz com o canto da boca, enquanto andava entre as prateleiras procurando algo para comer.

Lá fora, Emma esperava impaciente, estava de braços cruzados e batia o pé no chão, olhando de um lado para o outro como se esperasse alguém. Bom, ela esperava: Sebastian, porém essa espera foi atendida por outra pessoa. Da esquina do posto onde estava, Emma tinha um visão ótima de um beco que ficava entre dois prédios do outro lado da rua, beco esse que levava até o outro lado do quarteirão, do qual Emma pôde ver um vulto passar rapidamente.

Ela arregalou os olhos, "Alguém", pensou. Sem perceber, começou a andar em direção ao beco, queria encontrar esse alguém, não podia perdê-lo de vista mas não podia deixar Sebastian para trás.

– SEBASTIAN – Emma gritou olhando para trás enquanto andava em direção ao beco. – SEBASTIAN, eu achei alguém! - não houve resposta.

“Ele ainda vai demorar... essa pessoa... não vou ter outra chance.” Pensou. Emma já estava correndo através do beco em direção ao final, na esperança de encontrar o tal vulto e voltar com ele até o posto para reencontrar Sebastian. Saiu do outro lado e conseguiu vê-lo rapidamente dobrando a esquina.

– ESPERA – ela gritou – Não me ouviu... – cerrando os punhos e continuando a correr.

Sebastian, por sua vez, continuava na conveniência procurando algo de bom que pudesse ser aproveitado. Passou em cada prateleira empoeirada, até descobrir que não havia nada de conveniente na conveniência, tudo já tinha passado da validade, há muito tempo, tudo cheirava mal, inclusive o lugar. Desapontado por não ter encontrado o que comer, ele saiu da conveniência e enquanto atravessava o posto ensaiava o modo como daria a má notícia à Emma. Obviamente ele não precisou, afinal, ela não estava lá, não havia ninguém lá.

– Emma? – ele olhou de um lado pro outro – Cadê você? – não houve resposta.


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Notas finais do capítulo

Após passarem a noite refugiados numa casa da floresta, Emma e Sebastian partem para Silent Hill, que para surpresa dos dois está cheia de névoa e completamente deserta. Porém, sem escolha os dois decidem adentrar ainda mais na cidade com o objetivo de chegar ao hospital e cuidar do ferimento de Sebastian. No meio do caminho os dois param num posto para arranjar comida, mas por causa de um vulto misterioso Emma e Sebastian acabam se separando.



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