Elsa encarava-me na longa mesa da sala de jantar. Santa Quione, ela estava linda naquela manhã, e nem estava produzida nem nada, usava apenas um vestido simples e branco, os cabelos louros esbranquiçados caindo nos ombros em belos cachos, os olhos azuis pareciam ser capazes de congelar minha alma pela forma como ela me olhava.

– E então Jack? - Anna me chamou. - Como está se sentindo.

Deixe-me pensar, meu coração bate, sinto que posso morrer a qualquer segundo em que respiro fundo demais, o frio me incomoda um pouco mas fora isso?

– Sinto-me ótimo. - Disse segurando a faca na mão. Senti algo gelado tocando em meu antebraço exposto pelas mangas dobradas até os cotovelos da camisa de botões e encaro-o, uma geada se espalha na mesa.

Elsa me encara como se fosse me queimar vivo. Ela limpa os lábios vermelhos com um guardanapo e se levanta.

– Se me derem licença, tenho assuntos do reino para tratar e uma viagem a planejar. - Ela diz e se retira, vejo a geada escapando de seus pés enquanto ela anda.

Encaro Anna, que solta um suspiro derrotado e acaba de comer seus waffles.

– Tudo bem com ela? - Pergunto.

– Está irritada desde ontem. - Anna explica. - Algum bicho deve tê-la mordido durante a noite.

Levanto-me devagar e pego meu cajado da ponta da mesa.

– Aonde?

– Na sala de instrumentos. Elsa ama ir lá, lembra-a da época em que nosso pai tocava para nós, ainda me lembro da música. - Ela começa a cantarolar uma melodia. - Do you wanna buil a snowman? – Ela continua a cantarolar por um tempo e depois para, me olhando levemente envergonhada.

– Canta muito bem. - Digo sorrindo e colocando as mãos no bolso da calça branca. Ela suspira e me encara.

– Olha, não te recomendo ir atrás dela. Quando Elsa se tranca naquela sala, é porque realmente precisa "esfriar" a cabeça, nem eu posso entrar. - Ela também se levanta. - Vou visitar meu namorado, fique a vontade.

Ela se retira, e eu a observo até o rabo-de-cavalo ruivo sumir da minha vista. Suspiro e começo a subir as escadas em direção ao meu quarto.

Até passar pela porta, uma melodia leve, bonita e suave sai dela. Uma voz mais linda que a melodia sai em seguida.

– We only have each other, just you... and me. What are we gonna do? – Ouço algo como um soluço, a voz dela sai sofrida, como se segurasse para não chorar. - Sim, eu adoraria... - Ela fala.

Abro a porta e Elsa se espanta, ela estava ao piano, seus olhos brilham, seu corpo treme.

– O-o que f-faz...

Achava que ela não era capaz de sentir as coisas, achava que aquele coração era congelado, cheio de mágoas, obscuro, sem esperança.

O tipo de coração que Pitch gostaria.

Por isso ver lágrimas escorrendo em sua pele branca fez meu coração bater forte, doeu de início, mas depois, ele bateu normalmente.

Quando a enlacei em meus braços.

Eu não podia deixar o coração dela congelar ainda mais, não podia deixá-la se entregar as trevas. Tinha que aquecer seu coração, tinha que fazê-la sentir, se divertir. Sorri.

– Duvido me pegar. - Ri e peguei meu cajado me erguendo do chão e saindo pela janela. - O último que chegar no seu castelo é uma bola de neve derretida!

Sai voando, e...

Pude ouvir. Seu riso.

Pude ver. Ela enxugando suas lágrimas.

Pude sentir. Meu coração bater.

E uma dor se espalhar em meu peito, a ignorei e olhei Elsa no parapeito da janela. Seu rosto ainda estava molhado por lágrimas, mas ela sorria. Voei em sua direção e a peguei em meus braços.

Dane-se a corrida, aquilo era melhor.

A sensação de sentir um coração de gelo derretendo.