You Only Live Once escrita por Vero Almeida


Capítulo 37
Surpresas agradáveis, e não tão agradáveis.


Notas iniciais do capítulo

Ebaaaaaa! 1ª semana de férias = Vero postando, e Vero botando as leituras e comentários em dia.

Agradeço a todos que não me abandonaram pela demora, espero que o capítulo valha a espera.

beeijos!!!



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PDV da Ana

Eu corri. Corri que nem uma doida desvairada por entre as ruas pouco conhecidas daquela parte do campus. O celular em meu ouvido chamava repetidas vezes, mas não havia resposta, o que também era péssimo. Faros detesta o barulho esganiçado dos toques de telefone, em geral ou atende, ou desliga antes mesmo do terceiro toque.

Sim, ele simplesmente desliga na cara das pessoas quando não quer atendê-las.

Cheguei ao prédio principal e adentrei o recinto. Os alunos me olhavam com suas faces sonolentas e me encaravam como se eu fosse um extraterrestre enquanto eu atravessava o hall de entrada parando cada um deles de repente e perguntando por Faros.

Caralho, eu precisava me acalmar.

O pior de tudo, a pior parte de toda essa merda de situação em que eu me meti, é que ela prova mais uma vez que eu sou a mulher mais trouxa desse universo, porque eu consigo ainda me preocupar com ele depois de tanto tempo e de tanta indiferença. E agora eu não sei se choro, corro, soco uma parede ou a minha cara.

Segui pelo corredor, ainda esbarrando em alunos e paredes.

Eu sabia que estava exagerando, provavelmente era apenas um atraso (Ou bolo), mas Faros não é dado a essas cretinices. Ele comete muitas outras, mas raramente quebra regras de etiqueta, tirando é claro quando se trata de coisas que o deixam irritado como o toque do telefone citado anteriormente.

Daria pra escrever um livro com todas as cismas e paranóias daquele imbecil, eu sou capaz de apostar que ele tem algum tipo de TOC.

Invadi o observatório, vazio, por conta do horário, e corri em direção à pequena sala dos instrumentos, onde Faros costuma se refugiar com suas anotações depois de uma noite de trabalho. Não estava lá.

Encostei-me à porta do observatório, ofegante, e sem saber mais onde procurar. Eu não sabia onde dormia, a única parte pessoal da vida dele que eu conhecia era aquele maldito apartamento e um sofá bastante confortável em seu escritório. Como podia conhecê-lo a tanto tempo e não saber ao menos onde dorme quando trabalha na faculdade?

Resolvi ligar de novo, e se não atendesse eu bateria em cada república daquele lado do campus. Já me preparava inclusive pra ir à polícia se necessário.

Mas não foi. Antes do segundo toque, Faros atendeu o telefone. A voz aveludada e cínica encheu meus ouvidos e me fez querer explodir de raiva.

– Kailis, desculpe, eu tive um contratempo. – Justificou-se antes de qualquer coisa.

– Contratempo?! Um contratempo que não deixou que você atendesse a DROGA do telefone? – Eu gritava, descontrolada. Uma parte de mim suspirava aliviada, mas a maior parte ainda queria voar no pescoço dele e parti-lo em dois. – Aonde você se meteu? Eu pensei que tinha acontecido alguma coisa com você!

– Oh, ficou preocupadinha é? – Ele debochava do outro lado da linha.

– Vá se foder! Você nunca deixa ninguém esperando, nunca se atrasa, e nem ao menos passou pela sua cabeça que eu me preocuparia caso simplesmente não aparecesse? Estamos lidando com pessoas capazes de dopar uma garota e largá-la no meio de uma estrada, e possivelmente capazes de envenenar um garoto alérgico forjando uma morte fisiológica!

– Já me desculpei. Eu adoraria ter aparecido, mas estive ocupado prendendo um dos alunos no banheiro. Aliás, posso perder meu emprego por isso inclusive. Imagina que lindo se esse garoto for filho de alguém de prestígio e esse incidente for parar nos ouvidos do reitor? – Fez uma pausa dramática. – E sabe porque fiz isso?

– Não, e nem me interessa! – Rebati, orgulhosa.

– Esse garoto diz que sabe de alguma coisa. Ontem concordou em falar com você, e então eu marquei o encontro no café, mas aparentemente algo o fez mudar de idéia, ele não apareceu no meu escritório na hora marcada, e eu fui obrigado a cometer a indelicadeza de deixá-la esperando para caçá-lo pra você.

– Oh... mesmo assim podia ter atendido a droga do telefone! – Insisti. – Onde é esse banheiro? Estou aqui no observatório.

Ele me deu as instruções, e eu segui o caminho indicado, ainda incerta sobre o que fazer. Deviam estar ameaçando o pobre garoto, e se eu o fizer falar e algo acontecer com ele? E se eu ficar parada, provavelmente mais alunos serão perseguidos por esses doentes, não?

_/_/_

PDV da Alícia

Parecia até mentira, uma manhã como aquela no meio de tantas turbulências. Ryan é tão incrível que as vezes é até difícil de acreditar.

Ele me levou até sua casa pra que eu pudesse trocar de roupa, e esperou muito pacientemente enquanto eu tomava banho, passava meus cremes hidratantes e meu perfume. Eu precisava desesperadamente me sentir eu mesma de novo, minhas roupas, meu cheiro, sem toda a má energia impregnada na casa da minha pseudo-família.

Tão diferente da energia da casa dos meus avós, da minha tia, da minha terra. Meu Deus, o que eu ainda faço aqui? Por que mesmo sendo perseguida e ignorada, jogada de um lado pro outro sem ter lugar nenhum pra chamar de meu, por que mesmo assim eu não consigo voltar pra casa?

Tentei demorar o menos possível, mas quando finalmente deixei o quarto de Ryan e desci as escadas, encontrei-o na sala, ajeitando minuciosamente os pratos na mesinha de centro. O cheiro era enlouquecedor, ainda mais pra alguém que saiu de casa tão cedo antes mesmo do café da manhã. Meu estômago roncou alto.

Os dois pratos continham Waffles com cauda de chocolate, mas não pense que eram Waffles comuns, não senhora, esses foram moldados pacientemente em forma de notas musicais.

E ali, olhando pra ele todo torto e curvado diante de uma mesa minúscula ajeitando talheres de maneira quase perfeita, eu tive a resposta pra minha pergunta.

Se eu mal conseguia ficar 24 horas longe dele, como suportaria a idéia de nunca mais vê-lo novamente?

– Eu sempre soube que os britânicos levavam bastante a sério essa história de chá das cinco. – Sussurrei. – Mas não sabia que eram bons em cafés da manhã também.

Ele riu e levantou-se de maneira desajeitada.

– Eu não sou um adepto do chá das cinco. – Caminhou até mim, com aquele sorriso de lado totalmente irresistível nos lábios. – Mas se vamos generalizar, eu me pergunto como ainda não proibiram terminantemente a entrada de Argentinos no país, já que aparentemente eles causam bastante confusão, e ainda esbarram nas coisas com mais freqüência do que as outras pessoas do mundo. – Esqueci de respirar quando senti seus dedos quentes em torno da minha cintura, em seguida seus lábios tocaram minha testa de maneira carinhosa. – Está com fome?

– Sim... – Murmurei, enquanto me aconchegava mais em seus braços, abracei-o pelas costas, já que eu não alcançaria o pescoço mesmo que ficasse na ponta dos pés. – Mas acho que a comida pode esperar mais um pouquinho.

Ele riu, e me ergueu do chão. Finalmente passei meus braços em torno do seu pescoço, enquanto me guiou até a primeira coisa alta que encontrou e me sentou ali (A julgar pelo gelo imediato que senti nas nádegas, eu poderia jurar que era uma bancada de mármore) Pensei que fosse me beijar, mas não aconteceu. Era quase torturante tanta proximidade sem o toque dos seus lábios, eu sentia seu peito se mover conforme a respiração, e era como se cada suspiro vindo dele passasse por cada terminação nervosa do meu corpo e me fizesse tremer de dentro pra fora.

Ali, tão perto dele, era fácil entender o significado da expressão “Amar tanto que chega a doer.”

E como dói. Dói principalmente porque eu me sinto sempre na iminência de perdê-lo.

Ele se acomodou entre minhas pernas. Eu sentia suas mãos apertarem-me contra ele de maneira urgente e ao mesmo tempo tão delicada. Seus braços estavam firmes ao meu redor, e seu nariz gelado passeava por meu ombro e pescoço, distribuindo beijos singelos. Eu sorri ao pensar que talvez ele também tivesse medo de me perder.

Quando finalmente me beijou, foi tão diferente dos beijos anteriores. Não tinha pressa, nem todo aquele fogo que parecia que não acabaria nunca. Oh, não me entenda mal, eu o queria tanto, ou até mais do que antes. E sabia que ele me queria também. Mas agora não estávamos num carro em frente à casa do meu pai, não tinha ninguém ali além de nós dois, e ambos tínhamos desistido de lutar contra o que sentíamos.

Os problemas ainda estavam lá, o passado ainda estava lá, e nós estávamos nos beijando em cima de uma bancada de bar, lenta e apaixonadamente como se o mundo todo só girasse do lado de fora daquela sala.

Só que ainda tinha algo que me deixava inquieta, e por mais que eu quisesse, não conseguia esquecer. Sobretudo porque eu sabia que ela também não esquecia, nem por um segundo sequer.

Interrompi o beijo, mas não fui capaz de distanciar nossos corpos, pelo contrário, tudo o que conseguia fazer era puxá-lo cada vez mais perto. Abaixei a cabeça e enterrei-a em seu ombro.

– Ryan... Como vai ser quando ela voltar? – Perguntei, em meio a um sussurro. Não queria mencioná-la, mas eu precisava saber ou acabaria enlouquecendo.

Ele bufou, a pergunta o irritou. Tentou até mesmo afastar-se de mim, mas agarrei-o pelo braço e não permiti que fosse. Ele me encarou com os olhos castanhos confusos, irados, e cheios de dor ao mesmo tempo. – Você precisa falar dela. Toda santa vez, precisa trazer esse assunto a tona.

– Eu preciso. Preciso porque você pensa nela, o tempo todo.

– Não é verdade. – Ele segurou meu rosto com as duas mãos, e agora estava tão perto que eu podia ver os risquinhos de sua íris. – Nos últimos tempos, tudo o que eu faço quando não estou com você é pensar em maneiras de estar com você. Eu planejei esse dia inteiro pra ser o mais longo possível, tenho lugares pra te mostrar, e duetos pra planejar. Eu nunca me senti assim antes, você trouxe um monte de coisa pra minha vida que eu nem sabia que existia e agora não consigo me ver sem.

– Eu sei... Eu sei que você tem sentimentos por mim, sinto isso. – Ajeitei seu cabelo pra trás, a franja estava tão grande que lhe caía aos olhos. Aliás, nem tinha mais franja, ela já estava pouco acima da altura do ombro como todo o resto do cabelo. – Mas você a ama, Ryan.

– Alguma vez eu já menti pra você? – Perguntou, eu balancei a cabeça em negação. – Então confie em mim, ok? Eu não posso apagar dois anos da minha vida de um dia pro outro, mas eu nunca vou mentir pra você, a última coisa que eu quero é te magoar. Eu tentei de todas as maneiras que pude ficar longe de você, porque eu sei que você merece mais. Só que eu não tenho mais forças pra fazer isso. Ela sempre vai ser um carma na minha vida, mas não tem que ser um fantasma entre nós dois. – Colou nossos narizes. – Eu penso nela sim, todos os dias, mas é tão diferente do que existe entre nós! Eu não sei o que é, e Deus sabe que por mais que eu não consiga tirar aquela maluca da minha vida, eu jamais a aceitaria de volta. Eu quero que as coisas dêem certo entre nós, porque, Droga Alícia você é a melhor pessoa que eu já conheci na minha vida.

– Eu não quero que tente ficar longe de mim... – Beijei-lhe a testa, a ponta do nariz, e o queixo. A barba fez cócegas em meu rosto. – Ela tentou de todas as maneiras que pôde te diminuir e te reduzir a nada, mas eu não vou deixar que isso aconteça, entendeu? Você não é a desgraça do Universo, Ryan, ela é. Você é só alguém que ela magoou tanto quanto pode, mas vai refazer a vida e dar a volta por cima, nem que eu tenha que te dar uns bons sopapos até você reagir. Entendeu?

Ele sorriu, e pegou minha mão entre seus dedos, brincando com eles.

– Você vai insistir em mim, mesmo sabendo que tudo o que eu posso te oferecer agora é um coração partido que bate feito um louco sempre que está assim tão pertinho de você? E claro, uma série de frases piegas exatamente como essa, que eu jurei nunca dizer na vida mas agora é inevitável porque é a pura verdade?

Acenei afirmativamente. – Vou. Vou sim, porque nós merecemos isso. – Dei-lhe um selinho demorado e enterrei meu rosto em seu pescoço.

– Eu também acho. – Me abraçou do mesmo jeito super protetor de sempre. Eu queria que pudesse estar comigo a noite, quando eu apago a luz pra dormir e fico um tempão vigiando a janela, sem conseguir me livrar da maldita sensação de estar sendo vigiada, e da lembrança de ter acordado na beira de uma estrada sem saber como fui parar lá, ou do que aconteceu nas horas anteriores a isso. Era fácil me sentir segura com ele.

– Nós provavelmente devíamos comer e nos mandar logo daqui, antes que meu pai venha almoçar e resolva conversar com você durante a tarde toda. – Sussurrou ao meu ouvido.

– Eu gosto de conversar com seu pai, ele é um gênio.

– Sei disso, mas hoje eu quero você só pra mim. – Beijou-me a curva do pescoço, me fazendo arrepiar. – Vem, vamos comer.

Rompeu o abraço e me puxou pela mão em direção a mesinha de centro.


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