You Only Live Once escrita por Vero Almeida


Capítulo 34
Crise Nervosa Coletiva


Notas iniciais do capítulo

Amores, nem tenho cara pra pedir desculpas. Sei que demorar virou rotina, e que não deveria ser assim. Mil desculpas.

Gente, tenho uma cena aleatória de Noah e Marie prontinha, e queria postá-la como um anexo, algo que não interfere na história. Não é uma cena +18, é só algo fofinho e açucarado. Acham que devo postar?

Espero que gostem do capítulo



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PDV do Noah

Sabe, lidar com Marie sempre foi uma coisa complicada. Mesmo antes de namorarmos, já era complicado. Ela muda de humor tantas vezes ao longo do dia que eu acabei desenvolvendo métodos para começar conversas neutras com ela até me assegurar de que estava de bom humor. Além disso, é sensível. Sensível demais para namorar um cara sem um filtro entre o pensamento e a língua como é meu caso, mas de um jeito só nosso conseguimos fazer as coisas funcionarem. Funcionam muito bem, inclusive.

Só que ter que aturar essa jararaca de terninho sem reclamar, já é sacanagem.

Marie pode reclamar da mãe e xingá-la em inglês e francês de quantos nomes feios quiser, mas eu estou estritamente proibido de dizer uma palavra sequer sobre a mulher.

Ela está há duas horas trancada no quarto sem falar comigo, só porque eu disse que a mãe dela é a pessoa mais intragável que eu conheço.

Ok, eu posso ter dito também que a situação só não é pior porque o nome dela não é Esperança.

E talvez, num momento de desabafo ali, eu tenha dito que o pai dela provavelmente não tira o atraso da patroa faz tempo.

A última foi a que mais irritou Marie.

– Amor... Me desculpa. – Pedi, pela milésima vez, enquanto batia na porta de maneira insistente. – Eu não pensei antes de falar.

Ela escancarou a porta meio segundo depois, bufando como um búfalo raivoso.

– Esse é o problema, Noah. Você nunca pensa. – A boca se abria enorme conforme falava (provavelmente gritava) comigo. Eu podia identificar os humores de Marie pela maneira como sua boca contornava as palavras que dali saíam. Pode parecer loucura, mas passo tanto tempo olhando pra bocas que consigo fazer isso com quase todas as pessoas que fazem parte do meu convívio.

Claro que quando sua namorada te olha com a expressão assassina, não é preciso nada além disso para identificar o mau humor.

– Ok, eu admito que não devia ter falado da sua mãe desse jeito, mas puta merda Marie, ela me tratou como um saco de lixo e eu não te vi ficar toda bravinha por isso! – Eu não esperava que ela enfrentasse a mãe, mas sabe como é, já que fiz besteira tinha que fazê-la se sentir culpada também.

– Ah, eu te defendi sim! Eu disse a ela que você ia freqüentar minha casa, e do jeito que quisesse ir!

– Sério? Poxa amor, que bacana! – Tentei abraçá-la com a cara mais deslavada do mundo, esperando fazê-la mudar o foco da conversa. Só que Marie não caía mais tão facilmente nos meus truques.

– Noah, não muda de assunto! – Afastou meus braços, estapeando-os. Respirou fundo uma, duas, três vezes. – Olha, vou ficar aqui na minha um pouquinho ok? preciso de uma folga da sua cara. – Esbravejou.

– Também te amo, meu doce de candura. – Provoquei-a. Ela ergueu os olhos irados em minha direção, e eu pisquei pra ela, somente para ouvi-la grunhir em resposta.

– Você é insuportável! – Bateu a porta na minha cara, e eu fiquei do lado de fora, rindo da maneira como ela ficava toda nervosinha e fofa rosnando pra mim.

Olha, de uma coisa eu tenho certeza: Não dá pra ficar entediado tendo Marie por perto, ta aí um relacionamento que nunca vai cair na monotonia.

_/_/_

PDV da Alícia

A sala de meu pai era grande, espaçosa, cheia de quadros e outros ornamentos artísticos. Meu pai mesmo não tinha muita paciência para leilões e galerias, mas minha madrasta adorava.

Como esperado, a minha presença naquela casa gerava o pandemônio de sempre. Todos gritando e falando ao mesmo tempo, minha madrasta apontando o dedo na minha cara, as gêmeas fazendo um drama desnecessário, meu pai perdendo a paciência com todo mundo, e eu pensando no Ryan e naquele maldito (ou bendito, ainda não decidi) beijo.

Mamacita, devia ser crime alguém beijar tão bem desse jeito, isso sem falar naquelas mãos grandes e a maneira como apertava minhas costas...

Pelo amor de Deus garota, não é uma boa hora pra pensar nisso.

Tentei voltar minha atenção ao ambiente, mas ainda assim, minhas lembranças me levavam de volta àquele carro. Eu via o olhar furioso de meu pai em todos os presentes, mas o calor daquele beijo não me abandonava de jeito nenhum.

Que droga, com que cara eu ia olhar pro Ryan agora?

– Ela fica, e ponto final. – A voz estrondosa de meu pai ecoou por entre as paredes e me tirou de meus devaneios. – Prometi a tia dela que zelaria por ela enquanto estivesse aqui.

– Mas essa promessa é um absurdo! Essa garota nunca foi problema nosso. – Minha madrasta gritava. Tanta agressividade sempre me soara como insegurança. Quando olho pra o descontrole dessa mulher diante de mim ou da memória de minha mãe, eu tenho esperança. Um casinho qualquer não deixaria uma mulher em tamanho descontrole.

– Ela sempre foi problema nosso. – Os olhos castanhos de meu pai me fitaram de maneira incisiva. – Já passou da hora de deixar de ser.

Eu apenas correspondi o olhar com a mesma intensidade, rezando fervorosamente para que não estivesse estupidamente transparente o quanto aquelas palavras me machucavam. Acho que preferia ter levado uma bofetada no meio da cara.

– Não se preocupem. Eu vou procurar um emprego e podem apostar que saio dessa casa o quanto antes. Se não conseguir refazer minha vida, eu volto pra minha terra, mas não vou ficar aqui servindo de tapete pra vocês por muito tempo. – Dediquei um último olhar a todos os presentes e sumi corredor adentro, rumo ao velho quartinho de empregada onde dormia antes de começar a faculdade.

Pela primeira vez desde que cheguei eu tinha tantos motivos pra voltar, e nenhum pra ficar. Estava mais do que claro que aquele homem na outra sala jamais me trataria com o mínimo de respeito e eu não podia mais voltar a estudar...

... Mas e meus amigos? E o Ryan? Eu sentiria tanta falta desses idiotas, já sinto falta de todos eles. Meu Deus o que é que eu faço da minha vida?

_/_/_

PDV do Ryan

Eu nem me lembro quando foi a última vez que me senti tão bem. Ok, eu sei que eu fui estúpido e irresponsável, devia ter simplesmente deixado que saísse do carro mas não consegui. Ela roçou seus lábios aos meus, e eu simplesmente não consegui deixa-la ir. E agora eu estou feliz, escutando Maroon 5 no último volume e gritando a letra da música junto que nem retardado. E olha que eu nem curto muito Maroon 5!

Lá no fundo, bem lá no fundão mesmo, uma parte de mim se sente culpada e sabe que não deveria procurar esse tipo de contato com Alicia de novo, mas pelo menos por agora eu estou tentando reprimir esse pensamento e curtir a sensação.

Daria um jeito de levar as coisas dela ainda amanhã, mesmo com aula e ensaio, encontraria uma maneira. Eu sei que é extremamente egoísta mas eu quero beijá-la de novo. Por Deus, minha vida está do avesso, e eu nem tenho certeza de que isso é tão ruim assim.

Quando cheguei de volta à república, fui atingido logo na porta pelo foguete Ana que me abraçou como se fosse um urso, me encheu de perguntas sobre Alicia e quase me deixou surdo quando contei que a deixei na casa do pai. Ela ficou tão estupefata com essa história quanto eu, e aposto que vai me ajudar a tirá-la de lá. Depois disso saiu porta afora toda afoita e resmungando, alguma certamente ela vai aprontar.

Resolvi ir até meu quarto e tomar um banho, mas todos os meus nervos explodiam de preocupação só de imaginar como a estariam tratando naquela casa. Precisava ligar pra ela, mas não estou tão certo de que ela quer falar comigo.

Quando entrei no corredor, encontrei Noah esmurrando a porta de Marie, e se desculpando por algo entre risos. A garota ouvia o rádio no último volume e jamais escutaria as desculpas risonhas de Noah, mas ele não tinha como saber disso.

Aproximei-me e toquei seu ombro, dando tapinhas solidários.

– Ela não vai te ouvir cara, o rádio está ligado lá dentro. Que foi que você fez dessa vez? – Perguntei, tirando uma com a cara dele.

– Chamei a mãe dela de mal comida. – Disse simplesmente, como se fosse um detalhe bobo, sem importância.

– Porra Noah, eu achava que sua falta de tato tinha limite, mas já vi que não.

De repente ele me encarou e arqueou a sobrancelha desconfiado, abrindo um sorriso torto em seguida.

– E você? Por que ta com essa cara de quem viu o passarinho verde? Cadê a Alicia maluquinha? Ela tá bem?

– Ah, mais ou menos né cara. Ela é forte como uma rocha, é impressionante. – Não consegui conter um sorriso besta. – Quando a encontrei estava bem abalada, mas hoje de manhã parecia melhor. Agiu naturalmente a maior parte do tempo, mas eu podia ver o medo que sentia...Ela passa o tempo todo olhando em volta e abraçando o próprio corpo. – Um rastro quente de raiva subia por minha espinha só de tocar no assunto. – Eu vou descobrir quem está fazendo isso com ela, é uma promessa. Vou trazê-la de volta.

– Olha só você todo caidinho pela garota, quem diria! – Socou meu ombro de maneira brincalhona. – Mas hey, como assim trazê-la de volta?

– Ela não quis voltar, não quer mais botar os pés aqui. A deixei na casa do pai, mas isso não vai ficar assim. – Parte do meu bom humor tinha se esvaído naquele momento. – E eu não to caidinho por ninguém.

– Sei. – Não parecia muito convencido. – Bom, eu vou lá na janela dizer pra Marie que tenho notícias da Alicia e usar esse trunfo pra ela me perdoar.

– Vocês são o casal mais engraçado que eu conheço. – Eu ri. – Bom, vou tomar banho, a gente se fala depois. Boa sorte.

Ele acenou em resposta e correu pela sala em direção a porta da frente.

_/_/_

PDV da Ana

Eu fiz uma promessa à Alícia. Dei minha palavra de que ia ajudá-la a transformar a música em seu ganha pão, e vou cumprir, mesmo que a tarefa tenha se tornado um pouco mais complicada do que parecia.

Só que eu precisava de ajuda pra cumprir essa promessa, e infelizmente, a única pessoa com a mais remota capacidade de me ajudar, também é aquela que eu não queria ver tão cedo.

Larguei Ryan falando sozinho e saí correndo porta afora, bufando e grunhindo como um bicho selvagem. Eu aprecio bastante meu sossego sabe, e ultimamente não tenho tido muito tempo de paz interior. Isso me irrita. Mexerem com meus meninos também me irrita, e ter que recorrer a Faros me deixa louca de tão irritada.

Atravessei o gramado da frente batendo o pé no chão como uma criança mimada. Segui apressada em direção ao meu fusca, tão cega de nervosismo e irritação que nem reparei que tinha alguém no caminho, não antes de trombar com ele.

– Ah, desculpa, eu... – Comecei, mas quando ergui os olhos e vi de quem se tratava, dei de ombros e larguei as desculpas de lado. – Ah é você? Então foi bem feito!

Cruzei os braços, contrariada. Faros ergueu a sobrancelha em divertimento.

– Fazer birra combina com você, Kailis, é uma atitude digna de sua idade mental.

Revirei os olhos.

– Ta fazendo o quê aqui?

– Eu normalmente inventaria uma desculpa esfarrapada como “estava de passagem e resolvi vir te atormentar”, mas hoje eu estou com preguiça, então a verdade é que eu soube da sua aluna desaparecida e quis vir aqui ver como você está, e dizer que eu avisei que você é negligente demais com esses garotos. – Seu olhar convencido com ar de superior me deu vontade de sentar a mão na cara dele, mas eu percebia uma preocupação genuína em suas feições, e na maneira como me observava e tentava disfarçar. Impressionante, até sendo legal ele conseguia me irritar.

– Eu dispenso suas provocações agora, e peço por favor, se é que tem uma alma aí dentro dessa carcaça cabeluda, ajude primeiro e me provoque depois.

Ele sorriu meio de lado, aquele sorriso provocante de quem ouve uma proposta interessante.

– Estou ouvindo. – Me encarou com seus olhos congelantes.

– Alicia já apareceu, Ryan a encontrou num posto de gasolina, a largaram às margens da estrada. Eu preciso saber quem fez isso com ela, caso contrário duvido que a garota volte pra cá.

Ele riu, incrédulo.

– Ana, quem garante que essa guria não consumiu nada alucinógeno em algum lugar e foi parar lá sozinha, e por livre e espontânea vontade?

– Eu garanto. – O encarei com os dentes trincados. – Vai me ajudar ou não?

– O que você acha que eu posso fazer? Sou astrônomo, não um membro do FBI.

– Sei lá, você tem equipamentos. Não sei, mas acredite, se eu estou aqui olhando pra sua cara te fazendo esse pedido, é porque eu não tenho ninguém mais pra recorrer.

Ele não respondeu de imediato, ponderou por um tempo.

– Vou ver o que posso fazer, mas não acho que meu equipamento vai ajudar. São próprios pra enxergar muito mais longe que a janela do vizinho, sabe.

– Pode ver se algum de seus alunos conhece, ou sabe de algo, qualquer coisa, sobre o garoto que morreu na praça? Não precisa de seus preciosos equipamentos pra isso.

– Ok. – Colocou as mãos no bolso do sobretudo, preguiçosamente. – Conte comigo.

Acenei afirmativamente, acabou sendo mais fácil do que achei que seria.

– Só não se acostume Kailis, essa é uma situação especial.

Argh, insuportável!

PDV anônimo

– Chefe? – Estava de frente para uma enorme casa azul clara há uns 15 minutos do centro da cidade e pelo menos há uns 45 minutos do campus. Me escondia no meio de uma planta estranha de folhas meio amareladas e espiava a nojentinha através da janela que dava pra dentro do quarto de empregada. Ela tinha acabado de sair do banho, estava com uma toalha na cabeça e outra enrolada no corpo. Abriu o guarda roupas e retirou de lá um dos uniformes das serventes da casa. Suspirou, em seguida foi até a janela e fechou as cortinas. – A garota não voltou pro Campus, o riquinho intrometido passou a noite com ela em um motel, depois a trouxe pra uma casa um pouco afastada. Ela não trouxe nada, talvez ainda planeje voltar.

Eu rezava para que voltasse. Só assim poderia colocar as mãos nela de novo, e dessa vez não seria tão fiel aos protocolos. Não pretendia deixa-lá em paz, voltando ou não, ainda veria surpresas minhas.

– Ótimo, se não voltou ao campus, não temos mais que nos preocupar com ela, ao menos por enquanto.

– Mas, ela ainda pode voltar! – Contestei.

– Você conhece as regras. Nós os queremos fora, o que fazem de suas vidas na rua não nos diz respeito desde que mantenham nossa escola livre de suas patas nojentas. Enquanto a garota não nos incomodar, terminamos com ela.

E desligou.

Mas eu ainda não terminei com ela. E ela logo vai disso.


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