You Only Live Once escrita por Vero Almeida


Capítulo 31
Quando o medo toma conta


Notas iniciais do capítulo

Hey! Olhem quem demorou só uma semana e 2 dias dessa vez *o* Ebaaaaaaaaaaaa!! /calei

Esse é um dos meus capítulos favoritos, espero que seja de vocês também. ;D

Obrigada por me acompanharem. Divirtam-se!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/472379/chapter/31

PDV do Ryan

Eu corri como se minha própria vida dependesse disso. Corri com o maldito Buggie até meu carro, então coloquei o endereço do posto no GPS e corri com o carro também. Se essas porcarias de Buggies pudessem sair do campus eu poderia usar o GPS do celular e chegar lá na metade do tempo, mas como não podiam, acabei demorando mais de meia hora pra chegar até Alícia.

Quando cheguei lá, desejei ter chegado antes. Na verdade chegar antes não seria suficiente, eu queria é ter uma maquina do tempo e apagar tudo o que aconteceu depois que descemos do coreto.

Ela estava sentada no chão em frente à loja de conveniência do posto, abraçando os próprios joelhos enquanto as lágrimas rolavam livremente por sua face, sem que ela se preocupasse em secá-las. O olhar estava perdido, e seu corpo todo tremia, provavelmente estava morrendo de medo.

A raiva que eu sentia era tão grande que eu provavelmente mataria o infeliz responsável por isso, se botasse as mãos nele.

Eu fiquei parado ali olhando pra ela por no mínimo uns 5 minutos, e ela não pareceu me notar, mal se moveu.

Um dos frentistas se aproximou de mim e se apresentou como o coitado que eu ameacei ao telefone. Desculpei-me pela hostilidade, Ele me disse que tentou oferecê-la água e algo pra comer, mas ela nem ao menos o respondeu.

– A garota desligou o telefone, sentou-se ali, e do jeito que sentou permaneceu até agora. Não quis nem a cadeira que eu ofereci. – Me contou.

Eu acenei afirmativamente e disse que cuidaria dela dali por diante. Era inacreditável a diferença entre a garota que estava agora à minha frente e a garota que sorria mostrando-me todos os dentes enquanto cantava no coreto horas antes.

Horas, algumas horas apenas. Parecia uma vida.

Avancei em direção a ela devagar, e agachei-me diante de seus pés. Seus olhos castanhos apenas se ergueram pra mim quando eu já estava bem perto, e quando finalmente encontraram os meus, eu tive vontade de chorar com ela.

– Alícia... – Sussurrei. Ela jogou os braços em torno do meu pescoço e se aninhou em meus braços antes que tivesse sequer terminado de pronunciar seu nome. Eu a apertei ainda mais contra meu peito, aliviado por finalmente encontrá-la, e transtornado pelo estado em que estava. Pelo menos não parecia ter ferimentos, estava suja e cansada, mas não estava machucada, mal parecia ter sido tocada. – Você está segura agora, ok? Eu vou te levar pra casa...

– Não! – Ela me interrompeu, a voz saía em meio à soluços. – Eu não vou voltar pra lá. Me leva pra casa do meu pai.

– São quase quatro horas da manhã, não podemos ir pra lá agora. – Massageava-lhe as costas com meu dedão, fazendo movimentos circulares.

– Eu não vou voltar pra lá, se voltar eles vão me matar! – Ela estava tão agarrada ao meu pescoço que suas unhas me machucavam um pouco.

– Tudo bem, vou perguntar ao frentista onde podemos conseguir um quarto pra dormir, aí amanhã nós pensamos no que fazer, ok?

Ela acenou afirmativamente, mas se recusou a soltar-me mesmo que por alguns segundos. Tive que carregá-la no colo enquanto conversava com o frentista, e então a carreguei cuidadosamente em direção ao carro.

_/_/_

PDV da Ana

Quando encontrei Marie e Noah já no exterior da boate, Ryan já tinha sumido por aí provavelmente de cabeça quentíssima. Esses garotos ainda me dariam cabelos brancos, e olha que eu tenho uma genética bem favorecida!

Fizemos mais uma ronda pelos arredores, dei uma lanterna na mão de Adam e o mandei vasculhar os becos. Ele detestou a ideia, mas já passou da hora desse garoto largar de ser bunda mole.

Peguei meu fusca e dei umas voltas por aí em busca da garota, deixei meu celular no porta luvas aberto, vai que a anta do Ryan encontra Alícia,ou se mete em alguma confusão. Quando esse garoto fica pilhado desse jeito é sempre bom ter ele debaixo das vistas, nunca se sabe quando a bomba vai explodir de vez.

Desistimos da busca cerca de uma hora e meia mais tarde, já tínhamos olhado todos os cantos das proximidades da boate, ela provavelmente estava mais longe. Precisávamos de ajuda.

Fomos à polícia, mas como imaginava eles não podiam declarar uma pessoa desaparecia com tão pouco tempo de sumiço. Eu acho essa regra idiota um absurdo, a maior parte dos desaparecimentos acaba em tragédia antes mesmo que se possa fazer um boletim de ocorrência

O descaso era enorme, praticamente me chamaram de louca por tratar o sumiço de uma jovem num sábado a noite como um desaparecimento. Eles não a conheciam, não sabiam que ela simplesmente não sumiria assim só pra curtir a noite e voltaria no dia seguinte como se nada tivesse acontecido.

Eu gritei, fiz barraco, quase derrubei aquela delegacia, e o máximo que consegui foi um guardinha simpático que disse que ia ver o que podia fazer com sua viaturinha minúscula e um rádio que mal pegava a freqüência da polícia.

Isso é um absurdo! Não faz o menor sentido.

Voltamos pra casa com o rabinho entre as pernas, mas nenhum de nós se atreveu a dormir. Fiquei sentada na sala com Noah, Marie e Adam, todos apreensivos esperando qualquer toque daquele maldito telefone.

E o cretino do Ryan, por onde andava? Filho da puta, como se eu á não tivesse coisas o bastante pra me preocupar.

Já era cerca de 4:15 da manhã quando resolvi levantar do sofá e fazer um café bem forte. Eu nem gosto de café, mas precisava urgentemente de um copo bem cheio. Só esperaria o dia clarear e voltaria naquela maldita delegacia, e dessa vez derrubaria tudo se ninguém fizesse nada. O pior é que eu não tinha prova nenhuma, as ameaças anteriores pareciam piada, ninguém acreditaria em mim.

Fervi a água mais tempo do que deveria, acabei me perdendo em meus pensamentos e quando e dei conta já tinha secado quase tudo. Xinguei a mãe de meio mundo e enchi novamente a chaleira.

– Ana! – Marie gritou da sala, num tom mais estridente que o habitual. Me assustei, e antes mesmo de pensar no que estava fazendo, meus pés já corriam pelo corredor de volta à sala.

– Que foi? O que aconteceu? – Perguntei, correndo meus olhos por todos eles, imaginando que mais poderia dar errado agora. A garota magricela estendeu o telefone pra mim, e eu o coloquei na orelha meio confusa, nem ao menos tinha o ouvido tocar.

– Alô? – Murmurei.

– Oi, é o Ryan. – A voz rouca do outro lado da linha fez meu sangue subir e esquentar ainda mais. – Escuta, eu...

– Seu estrupício! Aonde você se meteu, infeliz? Eu não acho a garota em lugar nenhum, fiquei aqui me descabelando com esses três incompetentes e de quebra ainda tinha que ficar vigiando a PORRA do telefone pra ver se você não fez merda por aí! Eu não falei pra você me esperar lá? Hein?

– Ana, eu achei ela.

– Você não tem noção não? Não pensou que meus nervos podiam tipo explodir? Você... Espera, quê?- Agarrei o telefone com força, sentindo meu coração se apertar em expectativa. – Achou ela?

– Ela me ligou de um orelhão, foi largada na beira da estrada e andou até encontrar um posto de gasolina. Ela não quer voltar pra república, arranjei um quartinho nesses motéis de beira de estrada. Não está machucada, acho que nem a amarraram, devem ter lhe dado um belo dum sedativo. – Ele fez uma pausa, ensaiou começos de frases algumas vezes, mas não chegou a terminar nenhuma. Esperei pacientemente, mesmo que por dentro eu tivesse vontade de ir até ele e sacudi-lo até que me contasse tudo. – Ela está aterrorizada, só chora e abraça as próprias pernas. Não consegue ficar sozinha, agora mesmo eu estou do lado de fora do quarto já que lá dentro não tem sinal do celular, e ela está me vigiando da porta, encostada ao batente.

Tinham tantas energias diferentes carregadas na voz daquele garoto! Tristeza, raiva, alívio. Eu podia sentir toda a sua tensão.

– Eu juro que alguém vai pagar por isso, Ana. E falo bem sério.

Ah eu sei que fala sério, e é disso que eu tenho medo.

– Ryan me deixa falar com ela... – Pedi, já com a voz embargada. Caralho, eu não gosto de ficar emotiva, eu sou durona! – Não, melhor não, ela deve querer é sossego agora. Trate de voltar lá e cuide bem dela, você me entendeu? Ela está bem mesmo? Tem certeza? Contou o que aconteceu?

– Fisicamente está bem, mas tá tão apática que chega a ser assustador. – Suspirou. – Ela não se lembra de nada, só de estar na boate dançando e de repente acordar largada na beira de uma estrada. Eu acho que não fizeram nada além de tirá-la de lá e trazê-la pra fora do campus, é um recado.

– Um recado nada sutil. – Concordei. – Enfim, cuida direito dela, tenta fazer ela dormir, e se conseguir, deixe-a dormir o quanto quiser. Quando ela estiver mais calma a gente vê o que fazer.

– Ok. Dou notícias quando ela acordar, ou desistir de tentar dormir.

– Ok.

Quando desliguei o telefone, me deparei com 3 pares de olhos curiosos me encarando cheios de expectativa e curiosidade. Estavam quase em cima de mim, como urubus em volta da carniça.

Expliquei a eles tudo o que Ryan me dissera, o que deu início a uma pequena confusão. Todos falando ao mesmo tempo, um atropelando o outro, todos gesticulando, praticamente gritando.

Deixei eles lá se matando e fui até meu quarto. Tudo o que eu queria era um pouco de sossego e paz agora que sabia que estavam todos bem, e isso eu com certeza merecia. Eles que discutissem suas hipóteses e opiniões entre eles, tudo o que eu queria era tentar dormir.

Aliás, tentar dormir não, eu queria é morrer e ressuscitar algumas horas depois.

_/_/_

PDV da Alícia

Estava frio, muito frio. Meu vestido mal cobria meus braços, então me encolhi junto ao batente da porta enquanto meus olhos monitoravam Ryan com medo de que sumisse se eu sequer piscasse.

Eu sou covarde, uma maldita covarde, minha família teria vergonha de mim. Minha mãe me ensinou a ser forte e destemida, e agora tudo o que eu consigo fazer é chorar e tremer. Eu não me lembro de nada... Por horas e horas eu estive na mão de estranhos e não me lembro de nada. Podiam ter me machucado, me matado, ou coisa pior. Coisas que eu nem tenho coragem de pronunciar.

Eu tento não ter medo, mas não consigo.

Me pareceu uma eternidade até ele desligar aquele telefone e finalmente voltar para dentro. Tocou meus ombros gentilmente quando chegou ao batente da porta, e então fechou a porta às nossas cortas.

– Você está fria. – Disse ele, já retirando a jaqueta e ajeitando-a sob meus ombros. – Ta com fome?

Balancei a cabeça negativamente.

– Pode tomar um banho se quiser, não temos troca de roupa, mas tem um roupão no banheiro e eu posso ver se eles tem uma lavanderia.

Eu bem que queria tomar um bom banho, mas calafrios me subiam a espinha só de pensar em ficar sozinha naquele banheiro. Acabei negando com a cabeça, puxando a jaqueta ainda mais contra meu corpo.

– Então deita e descansa, tenta dormir. Eu vou estar bem aqui, não vou sair daqui, ok? – Ele cravou os olhos em mim, e eu sorri minimamente. Perdi as contas de quantas vezes já tinha me dito isso desde que me encontrara no posto. Eu tinha tanta certeza de que ele sempre estaria lá quando precisasse, que acho que enlouqueceria se um dia não o tivesse por perto.

Acenei afirmativamente.

Fui até o banheiro apenas para me limpar superficialmente, deixei a porta aberta. Lavei meus braços, rosto e pescoço na pia mesmo, quanto antes voltasse ao quarto, melhor.

Aquele era pra ser um dos melhores dias da minha vida. Eu me lembrava de como me senti cantando no coreto, e da maneira como meu peito ardia quando Ryan olhava pra mim. Ele ia me beijar, e eu queria que me beijasse. Agora tudo isso parecia tão distante...

Quando voltei ao quarto, Ryan já tinha se ajeitado na poltrona reclinável com um travesseiro e um lençol.

Eu meio que tinha esperanças de que fosse se deitar ao meu lado na cama. Não que eu fosse agarrá-lo ou algo do tipo, mas era tão reconfortante sentir seu calor, sua respiração, o olhar sempre tão profundo. Se estivesse comigo talvez eu conseguisse dormir, se estivesse comigo eu teria a certeza de que nada me faria mal.

Eu estava tão ferrada em todos os sentidos da minha vida que cheguei a desejar dormir pra sempre, principalmente se ele estivesse do meu lado.

Enfim, Ryan é um cavalheiro, eu deveria saber que jamais se ofereceria para dividir a cama comigo. Suspirei, e deitei-me sozinha meio a contragosto. A colcha era absurdamente vulgar, mas parecia quente. Agradeci por isso, estava muito frio.

Ele apagou as luzes e um arrepio ruim me invadiu, mas resolvi ficar quietinha e encarar. Eu nunca tive medo do escuro, não devia começar agora.

Tinha um relógio no quarto, não sabia se estava pendurado ou em alguma cômoda, mas o tic tac insistente enchia meus ouvidos e não me deixava dormir.

Fiquei parada na cama. Olhava pra cima e ficava brincando com meus olhos, se encarasse um ponto fixo sem piscar, parecia que tudo ia escurecendo ainda mais.

Deitei-me de bruços, do lado direito, do lado esquerdo, de barriga pra cima, sentei na cama. Estava ansiosa demais pra dormir.

Eu tentava ignorar, mas o medo ainda estava lá. Hora ou outra me pegava encarando a porta como se algo fosse adentrar o cômodo a qualquer momento.

E se Ryan precisasse ir ao banheiro no meio da noite? Quem estaria a postos para me defender? E se ele dormisse?

– Ryan. – Chamei.

– Hm? – Respondeu, meio sonolento.

– Não dorme não. – Pedi, sabendo que era um pedido muito injusto.

– Não vou. Eu te fiz uma promessa Alícia, nada vai te acontecer. Pode dormir.

Mas eu não conseguiria dormir. Também não tinha certeza de que nada me aconteceria. Confio em Ryan de olhos fechados, mas alguém me tirou daquela boate iluminada em meio a milhares de pessoas, imagina o que não podiam fazer no escuro?

Senti meus olhos marejarem novamente, o medo era maior que eu.

– Deita aqui comigo. – Pedi logo antes que tivesse tempo para pensar e me arrepender. – Por favor.

Ele suspirou longamente, e por uns segundos o silêncio reinou absoluto no quarto, nenhuma resposta. E então no momento seguinte eu ouvi seus passos ecoando no piso de madeira e senti seu corpo pesado puxando parte da colcha.

– Vem cá. – Sussurrou gentilmente, passando os braços em torno dos meus ombros e me acomodando sob seu peito. Ele estava quente, e aconchegante. A proximidade me fez um bem instantâneo.

– Obrigada. – Agora eu também sussurrava, ele estava tão pertinho, não havia necessidade de falar mais alto. – Por tudo. Desde meu primeiro dia, eu sempre pude contar com você. E só te dei trabalho.

– Não é verdade. – Os dedos dele acariciavam meu couro cabeludo, e meu estômago se contorcia em resposta. – Você sempre sabe o que dizer. Eu acho que nem percebe, mas seus conselhos fazem diferença na vida das pessoas. Todos ficaram alarmados quando você sumiu, todos te adoram, ninguém quer te perder. Eu... – Parou de falar. A respiração estava urgente, podia sentir seu peito subir e descer, e até mesmo isso me era reconfortante. – Eu quase enlouqueci quando pensei que não conseguiria te achar. Você não pode simplesmente sumir da vida das pessoas assim, não pode. Não existe ninguém como você no mundo.

Essas palavras deviam me fazer bem, mas apenas me deixavam mais triste.

Se eu sou tudo isso, porque não escolhe a mim ao invés daquela ruiva azeda?

– Eu não posso arriscar mais. – Disse, sabendo que era uma mudança brusca de assunto. – Não quero viver atormentada, com medo da minha própria sombra.

– O que quer dizer?

– Eu quero dizer que se querem que eu saia, é exatamente o que vou fazer.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "You Only Live Once" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.