You Only Live Once escrita por Vero Almeida


Capítulo 30
Desaparecida


Notas iniciais do capítulo

Oieee! Mais um capítulo pra vocês. Espero que gostem, eu escrevi e reescrevi várias vezes, tava difícil de sair do jeito que eu queria.

Aproveitem! Beeijoos.



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PDV do Ryan

Eu acho que nunca me senti desse jeito em toda a minha vida.

Eu tinha vontade de gritar, socar paredes, quebrar coisas, mas não tinha tempo pra isso então precisava canalizar toda essa fúria pra alguma coisa construtiva. Eu praticamente corria por entre as pessoas da boate, meus olhos vagavam pelo ambiente tentando captar cada mínimo detalhe. Estava agindo como um animal, e sabia disso. Mal me dava ao trabalho de desviar das pessoas, saí trombando em todo mundo, cheguei a derrubar alguns e não tinha tempo de ajudá-los a se levantar.

Eu quase podia sentir a adrenalina pulsando em minhas veias.

Eu estava transtornado. Pouco me importava a quem eu atingia, se os machucava, na verdade eu mal os enxergava. Meu olhar mal parava em algo tempo o suficiente para reconhecer o que quer que fosse, a única coisa que me preocupava reconhecer era Alícia.

Que tipo de justiça será que existe nessa porra de mundo? Como pode uma pessoa como Matthew viver no bem bom a vida toda, infernizando os outros, inclusive o coitado do irmão, enquanto pessoas como Alícia tem essa vida de cão que ela leva desde que nasceu?

Ela nunca fez nada pra ninguém, e eu não sei o que raios aconteceu com ela.

Nunca senti tanta raiva, é assustador. Nem mesmo quando Stella me tirava do sério, nem mesmo quando descobri que ela me fez de trouxa por pelo menos metade do tempo que namoramos. Era tanta raiva que eu chegava a relinchar como um búfalo selvagem.

Rodei a boate toda e nenhum sinal dela. Cheguei a subir no pequeno palco e vasculhar o local bem ao lado da cabine do DJ, cheguei inclusive a entrar no banheiro feminino. Depois disso o segurança me colocou pra fora, e eu relutei, xinguei, soquei-lhe a face e quase fui parar numa delegacia.

Lá fora eu gritei, e quase arranquei meus cabelos fora. Não sabia mais o que fazer, se ela não estava lá dentro aonde eu ia procurar? Pra onde tinham levado ela? E onde raios estavam Noah e Marie que não davam sinal de vida?

Peguei meu celular e disquei o número de Marie 500 vezes. Estava tão afobado que errei o número mais vezes do que era capaz de contar.

Ela demorou pra atender, devia estar lá dentro ainda, em meio ao barulho. A ligação já estava quase caindo quando finalmente atendeu.

Ryan! – A garota gritava ao telefone. – Achou ela? Não a vimos em lugar nenhum.

Cerrei os olhos, socando a parede mais próxima mal me importando com a dor que se seguiu ao ato. Eles também não a tinham achado.

– Não precisa gritar, eu to aqui fora, consigo te ouvir. Eu acho que ela não ta na boate.

Mas ela entrou comigo, tem que estar em algum lugar! – Continuou gritando, agora por puro histerismo mesmo. E eu nem tinha contado a pior parte ainda.

– Marie, eu preciso que você mantenha a calma porque eu não estou nem um pouco calmo e preciso de alguém que pense com clareza, ok? – Meus pés chutavam a guia da calçada com impaciência. – Eu recebi uma mensagem estranha, eu acho que tem alguém atrás dela.

Acho que ela demorou pra processar o que eu disse, pois o telefone ficou mudo por quase um minuto inteiro.

– Ai meu Deus! – Disse por fim. – Ai meu DEUS, A CULPA É TODA MINHA! EU VIREI PRO LADO UM MINUTINHO SÓ E ELA SUMIU! E se alguma coisa acontecer com ela? Pelo amor de Deus Ryan a gente tem que fazer alguma coisa.

– Hey! – Tive que interromper. – Lembra que eu te pedi pra ficar calma?

– CALMA? COMO VOCÊ QUER QUE EU FIQUE...

Tirei o celular do ouvido e desliguei na cara dela. Sei que não é educado, mas ela ia me deixar louco.

E agora o que eu faço?

Meu Deus, se é que você existe né, porque se me permite dizer é muita cretinice deixar algo desse tipo acontecer com Alícia, mas enfim, se você existe, por favor me ajuda a encontrá-la. Se existe alguém nesse mundo que merece um milagre, esse alguém com certeza é ela.

Resolvi ligar pra Ana. Eu não sabia o que fazer, não conseguia pensar, estava cansado e não podia parar. A raiva aos poucos diminuía, mas eu não me sentia melhor, ao contrário. Eu sentia uma vontade imensa de sentar ali na sarjeta mesmo e chorar.

O telefone chamou apenas duas vezes, e logo a voz malcriada de Ana surgiu do outro lado da linha.

– Quando querem as coisas vocês lembram de mim né, mas me chamar pra night com vocês, ninguém chama. A propósito, eu vi vocês na praça, estavam ótimos viu? Obrigada por me incluírem na comemoração. – Estava mal humorada.

– Ana, nós perdemos a Alícia.

– E o que eu tenho a ver com isso? Não fui nem convidada.

– Você não ta entendendo... – Puxei meus cabelos pra trás, gemendo de frustração. – Eu recebi uma mensagem. Pegaram ela.

– ... Pegaram? Quem pegou? Que mensagem? – A voz da baixinha assumira um tom urgente de repente, e eu podia ouvir o barulho de coisas caindo e um molho de chaves balançando do outro lado da linha. – Onde vocês estão? Eu to indo, mas vai me contando essa história direito.

Contei a ela tudo o que eu sabia. Não era muita coisa, não se podia afirmar nada por aquela mensagem, eu nem mesmo podia provar que alguém a tinha pego. Ainda tinha a chance de ela estar perdida em algum lugar em meio a multidão na boate, mas eu procurei, e olhei, e sinceramente não acreditava que estava lá.

Essa garota apareceu do nada numa sexta feira de manhã e virou a vida de todo mundo de pernas pro ar, e isso era exatamente do que todos nós precisávamos. Ela me deu conselhos dignos de uma pessoa com o dobro de sua idade, e ao mesmo tempo parecia tão jovem e inocente como uma criança. E a risada histérica... Já acordei várias vezes com as gargalhadas, principalmente aos domingos de manhã. Noah acorda cedo pra limpar a bateria e ela adora todas as piadas e palhaçadas que ele faz.

Como vai ser amanhã de manhã se eu não encontrá-la?

Não, não encontrá-la não era uma opção.

_/_/_

PDV do Adam

Aquela conversa que tive com Ana não saía da minha cabeça.

Minha família sempre foi tudo pra mim, são pessoas de bem, maravilhosas, e que me ensinaram tudo o que eu sei até aqui. Até meus irmãos encrenqueiros, apesar de gostarem de implicar, sempre me defenderam e lutaram por mim. Todos vão se decepcionar, até mesmo Lyla que sempre foi a pessoa mais próxima a mim desde que eu nasci. Minha única irmã mulher, e minha melhor amiga.

Eu não deveria nem cogitar a possibilidade de afrontá-los dessa maneira, e ao mesmo tempo não podia mais negar que eu gostava de Aaron. Não sabia até que ponto duraria essa aventura, mas queria estar perto dele, conhecê-lo melhor. Eu tinha tantas curiosidades, nenhuma garota tinha me sido tão interessante.

Aquela coisa que faltava no meu namoro com Jenny, que eu nunca soube o que era: Ele tem. Continuo sem saber do que se trata, mas ele tem.

Que Droga! O que eu faço?

De qualquer maneira acho que devia ligar pra ele e pedir desculpas. Nada disso está sendo fácil pra mim, mas pra ele também não foi, fui injusto dizendo aquilo. Acontece que eu tenho tanta inveja por ele não ter mais o peso nas costas, esse peso de não saber se conta ou não conta, se insiste ou desiste. Eu queria que gostar dele bastasse, queria não ter que me preocupar com mais nada, eu invejo isso.

Suspirei, e levantei-me da poltrona surrada ao lado da TV. Fui até a mesa de centro e peguei o pequeno telefone fixo entre as mãos, sabendo que ele provavelmente não me atenderia se eu ligasse do celular.

Disquei o número do telefone, ainda incerto do que falaria, afinal nada mudara. Eu ainda era o mesmo medroso de algumas horas atrás.

Quando ele atendeu, daquele jeito mau humorado de quem não faz questão de esconder que está sendo incomodado, tão característico dele, eu simplesmente fiquei mudo do outro lado da linha.

– ... Oi? Tem alguém aí? – Insistiu, e quando não ouviu nenhuma resposta, bufou indignado. Isso me fez rir, era a cara dele.

– Não desliga. – Falei, finalmente. – Pode me escutar até o final, por favor?

– Ah, é você. – Riu de maneira seca, eu quase podia ver a sobrancelha arqueada e aquela cara de quem não acredita na cara de pau alheia. – Sabe, eu não sou uma pessoa paciente, e até que fui bastante paciente com você. Chega né? Uma hora cansa.

Bom, eu achei que ele ia desligar na minha cara, até então estava sendo melhor que a encomenda, apesar da hostilidade.

– Eu só quero pedir desculpas. Você também tem suas dificuldades, e ainda assim prefere ser fiel a quem você é, e eu admiro isso. – Eu não sabia o que dizer a seguir, eu ainda não estava pronto pra ir a um encontro com um cara, mas ao mesmo tempo não queria que desistisse de mim. É egoísta e estúpido, mas é como eu me sinto. – Eu quero ser assim também, mas pra isso preciso descobrir quem eu sou primeiro.

Ele não disse nada a respeito, ainda estava na linha, podia ouvir sua respiração.

– Eu quero sair com você, quero conhecer você. – Continuei, cauteloso. – Mas preciso de um tempo. Preciso descobrir como lidar com tudo isso e como me entender com a minha família, por favor.

– Você precisa é de vergonha na cara Adam, pelo amor de Deus, para de se esconder pelos cantos. – Suspirou. – Vai precisar de mais que uma ligação pra me impressionar, bebezão. Quando você resolver tudo o que tiver que resolver, a gente conversa.

Eu estava pronto para assegurar mais uma vez que queria fazer as coisas do jeito certo quando Ana atravessou a sala na velocidade da luz, vestindo algo que provavelmente era de dormir.

– Desliga esse telefone e entra no carro. – Gritou, já na porta, batendo-a em seguida. – Agora, Adam! – Acrescentou já do lado de fora.

Bufei, irritado. Eu sempre acabava envolvido nas loucuras dela, querendo ou não. O que quer que fosse, era mais do que justo que eu a ajudasse, depois da conversa na praça.

– Aaron, eu tenho que ir, Ana está exigindo minha presença. – Suspirei. – Eu to falando sério, você vai ver.

– Que você fala sério eu sei né, só que falar só não adianta. – Reclamou. – Vai lá, depois a gente conversa. Até mais.

– Até.

Ana já estava socando a buzina quando devolvi o telefone ao gancho.

Levantei-me num pulo e calcei meus chinelos mesmo, aparentemente a baixinha não me daria tempo pra trocar o sapato. Dei uma última olhada no espelho, ajeitei alguns fios rebeldes de cabelo e saí em disparada em direção ao velho fusca amarelo de Ana.

Ela soltava fogo pelas ventas quando finalmente adentrei o veículo, eu mal tinha fechado a porta e ela já tinha engatado a marcha e saído com o carro.

– O que raios aconteceu? – Perguntei. Ela tinha saído de casa correndo, usando um pijama. Quando me deu carona mais cedo, logo depois da apresentação da banda, a baixinha pretendia ficar em casa e assistir filmes. Alguma coisa tinha mudado seus planos.

– Ninguém encontra Alícia, em lugar nenhum. Precisamos ajudar a procurar. – A resposta foi curta e grossa, sem gracinhas, caretas, ou qualquer dessas traquinagens que eram tão típicas dela. Isso me deixou em estado de alerta.

– ... Mas, será que ela não foi dar uma volta? Sei lá, Stella vivia sumindo e nunca foi feito esse estardalhaço todo.

– É diferente. Ryan me disse que recebeu uma mensagem estranha, parece que todo mundo tem tentado contatá-la pelo celular e não há resposta. Eu não sei de muita coisa, Ryan estava histérico demais pra me explicar direito.

Apenas acenei afirmativamente, completamente boquiaberto. Será que tinha acontecido alguma coisa com ela? Meu Deus, será que tinha alguma coisa a ver com aquelas ameaças estranhas que ela recebia?

_/_/_

PDV do Ryan

Eu já não sabia mais o que fazer. Estava exausto, não sabia mais onde procurar, pra quem ligar. Noah e Marie ficavam me mandando mensagens, me pedindo pra voltar pra casa e chamar a polícia, tentando me convencer de que não nos restava mais nada a fazer se não esperar.

Só que a polícia nunca acreditou em mim, ninguém nunca acreditou em mim. Eu pedi pra reabrir o inquérito daquele garoto incontáveis vezes e nada foi feito. A morte dele foi dada como acidental, e eu não podia simplesmente voltar pra casa e rezar pra que o mesmo não acontecesse com ela.

Eu tinha que achá-la. Não sabia como, mas não voltaria pra casa sem ela.

Seguia andando sem rumo, vasculhando todos os cantos e becos enquanto minhas pernas bambeavam devido à exaustão. Já não sabia há quanto tempo estava procurando, mas certamente já tinha passado do meio da madrugada.

Ana tentava me ligar também, provavelmente tinha chegado em frente à boate, mas a essa altura eu já estava bem longe de lá.

Eu devia ter pego meu carro, mas na hora isso não me ocorreu. Pensei em voltar e pegá-lo, mas precisava seguir em frente, não tinha tempo a perder.

Eu estava perdido e confuso, não sabia como agir.

Meu celular tocava insistentemente, isso estava me irritando. Deviam estar me ajudando a procurar ao invés de me encher, a polícia não vai resolver nada, temos que fazer alguma coisa por ela.

Peguei o celular pensando em desligá-lo ou tacá-lo na parede, mas quando olhei pro visor, não era o número de Marie ou Ana quem ligava. Era um número desconhecido.

Tive medo de atender e ser outra ameaça, ou uma má notícia. Encarei o visor por um tempo, sem coragem pra atender.

A ligação estava quase caindo quando resolvi atender, quem quer que fosse, talvez eu pudesse descobrir o paradeiro dela de algum modo. De qualquer maneira, eu não tinha muitas outras opções.

– ... Alô?... – Murmurei, meio inseguro.

– Ryan! Até que enfim! – A voz do outro lado da linha chorava e soluçava. Meu coração quase saltou do peito, tamanho era o susto e a surpresa.

– Alícia, pelo amor de Deus, aonde você tá? Você tá bem? – As palavras saíram meio atrapalhadas, uma atropelava a outra. Minhas pernas tremiam, e eu tive que me apoiar em uma parede pra não cair.

– Eu não sei, não sei aonde estou, não sei se estou bem, muito menos como eu vim parar aqui! Eu quero ir embora.

Ela chorava tanto que era difícil entender o que dizia. Filhos da mãe, meu sangue fervia só de imaginar o que podiam ter feito com ela.

– Fica calma, respira. Eu não vou desligar o telefone ok? Não vou te deixar sozinha.

Levei um tempo para acalmá-la. Sussurrei palavras reconfortantes ao telefone, ajudei-a a respirar, até cantei pra ela em certo momento. O choro não cessou, mas aos poucos os soluços diminuíram e a comunicação ficou mais fácil.

– Ok, agora eu preciso que você me diga o que aconteceu.

– Eu não sei, acordei sozinha na beira da estrada... Eu senti tanto medo, o lugar era escuro, eu saí andando por aí, andei por mais de uma hora e achei um posto de gasolina. Então te liguei do orelhão. – A voz dela estava trêmula e chorosa. – Por favor Ryan, me tira daqui.

– Eu vou tirar você daí. Pergunta o endereço pra algum funcionário do posto. Melhor, deixa eu falar com alguém. – Já fazia o caminho de volta por onde viera. Eu demoraria muito pra chegar ao carro, precisava achar um buggie o mais rápido possível.

Ela passou o telefone a um frentista, e eu falei com ele. Dei mil e uma recomendações, pedi, na verdade quase exigi que mantivesse os olhos grudados nela e não ousasse tentar nenhuma gracinha. Anotei o endereço na palma da mão (Um compositor sempre tem uma caneta. Sempre. Pode não ter papel, mas caneta sempre) e corri o mais rápido que pude, precisava chegar até ela logo.

Me joguei na frente do primeiro Buggie que passou, e implorei pro cara me deixar pegá-lo. No começo ele não gostou muito, mas nada que algumas libras não resolvessem.

Eu sei lá o que deu em mim, desde que eu recebi aquela maldita mensagem estou completamente fora de mim. Eu só sei que preciso que ela esteja sob meus olhos o mais rápido possível, eu não vou tirar os olhos dela nunca mais.


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