You Only Live Once escrita por Vero Almeida


Capítulo 25
Desgraça pouca é bobagem


Notas iniciais do capítulo

Oi meus amores! O capítulo tá mais curto, mas bastante intenso. Eu queria acabar bem ali, por isso optei por deixar mais curtinho.

Espero que gostem.



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PDV do Adam

– Você mal se curou de um olho roxo e já está procurando por outro. – Matthew riu de modo sarcástico, uma risada parecida com aquela que a gente dá quando ouve uma piada sem graça. Seguiu avançando em nossa direção, os olhos tão escuros quanto os de Aaron oscilavam entre encarar a mim ou ao irmão.

Os olhos dos dois eram tão parecidos que assustava. Fisicamente eram bem diferentes, Matthew não tinha os cachos de Aaron, e tinha um rosto mais quadrado, ao passo que o outro tinha o rosto comprido, mas os olhos eram exatamente iguais.

E mesmo assim, as íris escuras do mais velho eram carregadas de algo que me dava uma impressão ruim. Eu saberia diferenciá-los mesmo que estivessem encapuzados, apenas por isso.

Continuou avançando, e arregaçou as duas mangas da blusa, encarando Aaron com aqueles olhos ferozes.

Eu não sei o que raios me deu, mas quando vi já tinha me metido no meio do seu caminho, encarando-o de frente.

– Você não vai bater nele! – Eu disse. Os olhos arrepiantes voltaram-se pra mim, e meu ímpeto de coragem se foi tão rápido quanto veio. – Pra quê, né? Nós podemos conversar, faz tempo que vocês não se vêem, não?

– Sai da frente, coisa esquisita. Tem sorte de eu não acertar o meio da sua cara também. – Retrucou, gentil como coice de mula.

– Ele não sabe conversar, Adam. – Aaron provocou. – Só sabe agir como um homem das cavernas.

– É isso que eu vou te ensinar nem que seja na base da porrada. – Seguiu avançando, o caçula recuou até a parede dos fundos da cozinha.

Eu apenas enfiei minha cabeça no vão do corredor e gritei por ajuda, mesmo que resolvesse interferir, nunca conseguiria segurá-lo sozinho. Ryan veio correndo pelo corredor, fazendo uma parada no quarto e puxando Noah pra fora de uma vez só.

Matthew acertou a face de Aaron e o derrubou no chão. Ryan e Noah apareceram logo em seguida, e trataram de ir até os dois e arrancar Matthew de cima do irmão, cada um o segurando por um braço.

– Você é doente! – Aaron gritou, pondo-se de pé o mais depressa que pôde. O nariz e a boca sangravam. – Ele é meu amigo, somos só amigos. E mesmo se não fosse assim, você não tem nada a ver com isso!

– Você carrega o meu sobrenome! – Retrucou Matthew, tentando a todo custo se desprender de Noah e Ryan. O cara era tão forte que os outros dois tinham dificuldade em mantê-lo preso. – Eu tenho uma porra de uma reputação nessa universidade, não vou deixar você manchar isso agindo como uma garotinha.

– Stella. – Ryan gritou, tentando a todo custo segurar a fera. – Dá um jeito no seu cachorro de estimação aqui.

Matthew riu do comentário.

– Eu nem gasto meu tempo com você, poderia quebrar sua cara, mas você consegue se enfiar na merda sozinho. – Zombou. – Quem é corno uma vez é corno pra sempre.

– Ah, já chega, eu já ouvi demais por hoje. – Ryan soltou Matthew e o empurrou contra a mesa. Alguns copos se quebraram, machucando superficialmente as costas do encrenqueiro mor.

– Acha que pode comigo, trouxão? Você mal conseguiu me segurar mesmo tendo a ajuda do seu amiguinho deficiente. – Colocou-se de pé num pulo, peitando Ryan e o encarando com aqueles olhos sinistros que mal piscavam.

Stella logo se enfiou no meio dos dois, encarando ambos, carrancuda.

– Ah pelo amor de Deus, hajam como homens! – Ralhou. – Se querem brigar, briguem lá fora. Um duelo justo, de igual pra igual.

Eu não estava acreditando que aquela maluca queria botar mais lenha na fogueira.

Deixei os três lá discutindo e voltei meu olhar pra Aaron, ainda encostado à parede. Fuçava no nariz machucado, eu tinha certeza de que estava quebrado. Estava roxo.

Fui até a geladeira e embalei algumas pedras de gelo num pano de prato. Coloquei sobre o machucado da forma mais gentil que pude, mas ainda pareceu doer.

– Sai de perto de mim, ou ele vai quebrar você também. – Reclamou, ranzinza como sempre. Eu ri.

– Está ocupado demais cantando de galo agora. – Dei uma olhadela para o trio de brigões, só pra ter certeza. Tratei de manter certa distância, era melhor prevenir. – Vai ter que ir ao médico, acho que seu nariz está quebrado.

Ele bufou, estressado.

– Ainda bem que eu adoro a ciência, lá não existe ninguém pra me dizer que é pecado odiar meu irmão.

Bom, com um irmão desses, acho que nem o Evangélico mais fanático consideraria isso pecado.

– Aaron, seu irmão é desequilibrado. Precisa de ajuda profissional. – Eu disse. Ele ergueu os olhos pra mim, como quem diz “Jura? Eu nem sabia disso!” – E você precisa ir à polícia. Eles tem que te dar uma ordem de restrição, não é a primeira vez que ele te bate. Seu olho ainda nem se recuperou desde aquele hematoma do outro fim de semana, não precisa ser muito gênio pra saber que é coisa dele também.

– Não fala besteira, olha bem pra ele. – Retrucou, ríspido. – Você acha que ele respeitaria ordem de restrição? Ele tem é que morrer, isso sim.

O pior é que eu não tinha como discordar.

– Hey! – Alícia gritou, bem quando os dois garotos pareciam decididos a ir pra fora brigar. Ela encarou Matthew, e era uma cena no mínimo hilária de se ver. A garota era tão baixa que mal lhe batia nos ombros. – Vocês não vão se estapear aqui não! – E então virou se pra Stella. – E você devia ter vergonha de incentivar esse tipo de coisa!

– Veja se não é a tontinha que eu deixei semi-nua no meio da praça... – Matthew riu sarcasticamente, deixando Alícia roxa de vergonha ao mencionar o ocorrido. – Ah não se faz de santa vai, você até que é gostosinha, deve ter te rendido uma boa publicidade.

Ryan atingiu-o com um soco antes mesmo que pudesse ver de que lado vinha a agressão.

– Seu babaca, não vai falar assim com ela! – Partiu pra cima dele, esquecendo-se de que o infeliz em questão é um briguento profissional bem forte, por sinal.

Os dois rolaram no chão, se engalfinhando como dois cachorros numa rinha. A coisa estava tão feia que eu nem conseguia ver quem estava batendo em quem.

– Stella, pelo amor de Deus faz alguma coisa! – Alícia berrou, ela estava histérica, dando pulinhos e correndo de um lado pro outro. – Segura o Matthew e eu seguro o Ryan.

– Ah, você ta louca pra agarrar o Ryan não? Eu não vou deixar ele de bandeja pra você. – Olhou as próprias unhas, como se nada mais interessante acontecesse no ambiente. Enquanto isso, alguém chocou alguma parte do corpo com bastante força no pé da mesa de madeira. – Pode até estar por cima agora, mas vai ter volta queridinha!

– Isso não é sobre você! Nem tudo é sobre você. - Tentou novamente chamar a ruiva à razão, mas ela nem se mexeu.

– Adam, pega um braço do Matt e eu pego o outro, que nem fizemos antes. – Noah chegou mais perto da briga, e eu fiz o mesmo.

Eu nunca tinha apartado uma briga, mas não preciso ter experiência nenhuma pra saber que sou muito ruim nisso. Apenas tentei fazer o que me pediu e achar um dos braços pra segurar. Ele fez o mesmo com o braço restante.

Puxamos Matthew pra longe, mas ele se rebatia e lutava contra. Alícia tentou, sem sucesso, segurar Ryan, que já exibia um corte não muito bonito na testa e o olho vermelho e inchado. Ele investiu novamente contra Matthew, e o outro revidou com um chute na barriga que fez o oponente curvar o corpo de dor.

Ryan levantou-se meio trôpego, ainda parecia disposto a brigar, então a garota tentou outro tipo de abordagem. Segurou o rosto dele entre as mãos e conversou com ele, enquanto eu segurava Matthew com toda a minha força.

– Tira as patas dele, sua piranha! – Stella berrou, puxando Alícia pela gola da camiseta e a tirando de perto de Ryan, que uma vez solto, voltara a provocar Matthew. – Eu vou quebrar a sua cara pra você aprender a não se meter com o homem dos outros!

E ali começava outro incêndio.

Stella grudou nos cabelos de Alícia, enquanto a morena estapeava qualquer parte da rival que pudesse alcançar com as mãos. As duas gritavam muito.

Estava cada vez mais difícil segurar Matthew, já que Ryan teimava em vir provocá-lo, peitá-lo e gritar na cara dele. Eu apenas olhava pra cara de Noah, na esperança de que me dissesse o que fazer. Se soltássemos ele, os dois se matariam por aí, se não soltássemos não teríamos como separar as meninas.

Queria perguntar a ele onde Marie estava, mas ele mal olhava pra mim. Eu bem sei que ela detesta esse tipo de coisa, mas ter mais um par de mãos ali seria legal agora.

– Marie! – Chamei, aos berros. Nenhuma resposta.

– Soltem ele! – Agora Ryan gritava conosco, a cozinha tinha virado uma gritaria generalizada. – Eu quero que ele esteja solto quando eu quebrar a cara dele!

Olhei para Aaron, suplicando ajuda, mas ele apenas deu de ombros, não havia muito que ele pudesse fazer com o nariz quebrado.

As garotas continuavam a se engalfinhar, rolando pelo chão. Ambas estavam descabeladas e arranhadas.

– MAS QUE PORRA É ESSA?! – Ana gritou, logo da porta da cozinha.

Ah graças a Deus, estamos salvos! Ou não né, pela expressão dela, não me surpreenderia se ela acabasse de destruir a casa. Descabelada do jeito que estava, e bufando como um búfalo raivoso,. parecia ainda mais psicopata do que de costume

– Vocês são todos maiores de idade, a maioria com mais de 20 anos! Será possível que eu não posso deixar a casa nas mãos de ADULTOS de no mínimo 20 ANOS sem chegar aqui e encontrar o caos???

Ela estava muito emputecida, muito mesmo. Estava vermelha, e gritava muito.

– Stella, você e o seu amigo, rua, agora! – Gritou.

– Mas eu preciso falar com você. – Stella insistiu, Ana a encarou de má vontade.

– Volta amanhã, sem esse aí. – Apontou pra Matthew. – Agora se eu for te dar atenção vou acabar perdendo a cabeça, e provavelmente o emprego. Ele nem deveria estar aqui, acho que não preciso lembrar os termos da expulsão dele.

Stella bufou, indignada. Estava pronta pra comprar mais uma briga, mas os olhos fulminantes de Ana deixavam claro que não era uma boa hora pra contrariá-la.

– Você sabe que eu não preciso estar aqui dentro pra fazer da sua república um inferno. – Matt encarou Ana com um sorriso doentio. – E quanto a você... –Voltou sua atenção ao irmão caçula. – Não pense que vai ficar assim. Você não pode ficar na aba desses panacas pra sempre.

E então saíram como dois furacões, bateram a porta da frente com força.

Ana cerrou os olhos e apoiou-se na mesa. O rubor de seu rosto só se intensificava, e no fim por mais que não tivéssemos começado droga de briga nenhuma, seríamos nós que ficaríamos pra encarar a fera.

– Eu entendo que o cara é um delinqüente provocador... – Começou, arrastando as palavras como se pesassem uma tonelada. – Mas não justifica você sair rolando no chão com ele! – Gritou, apontando na direção do Ryan. – Agora vai fazer parte do time do olho roxo junto com Aaron, podem comemorar, olha que ótimo! Isso sem falar nessa sua testa que deve precisar de pontos. Como raios abriu a testa numa briga?

– Bati no pé da mesa. – Respondeu Ryan, fitando os próprios pés. – Ele estava se gabando pelo que fez com Alícia, fez uma piadinha muito infame. Ana, o cara é um troglodita, ele atacou a absolutamente todos daqui! Pelo amor de Deus, ele bate no próprio irmão.

Ela alisou as têmporas.

– Acertou um bom soco nele pelo menos? Porque pelo visto, quem levou a pior foi você.

Ryan deu de ombros.

– Argh, vocês armam um pandemônio na minha casa e nem pra dar um bom murro na cara dele? - Reclamou, mau humorada. – Vocês me decepcionam.

– Ana, você é meio contraditória, sabia? – Alícia opinou finalmente.

– Você cala a boca, onde já se viu sair se rolando pelo chão. Agora fica aí toda arranhada. Essa porra toda vai sobrar pra mim! – Olhou para Ryan e Aaron e suspirou lentamente. – Agora eu vou ter que explicar como meus alunos acabaram todos roxos, e pior... Vou ter que ligar pro Faros e explicar como o aluno dele quebrou o nariz! Ele é a última pessoa com quem eu queria falar no momento.

– Ah é? Porque? – Aaron perguntou, debochado. A voz saiu anasalada devido ao gelo comprimindo o nariz.

Ana apenas o fitou desgostosa, sem se dar ao trabalho de responder.

– Os dois brigões, pro meu fusca, agora! Vamos concertar esse nariz e testa aí. – Apontou pra eles, sinalizando o corredor que levava à porta da frente. – E quanto a você... – Dirigiu-se à Alícia. – Vai trocar o lixo e faxinar a casa sozinha por duas semanas. E seja grata por eu não te suspender. Ah, e não pensem que vai ser só isso. Eu vou fazer da vida de todos vocês um inferno de agora em diante, e vão ter que repor tudo o que quebraram.

Todos se moveram, obedecendo a ordem. Ninguém era louco de discutir, falar, ou respirar.


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Notas finais do capítulo

Viiish o negócio ficou tenso. E agora?



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