O Garoto da Última Casa escrita por Bruna Ribeiro


Capítulo 45
Capítulo 44


Notas iniciais do capítulo

Capítulo extra :)



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CAPÍTULO 43 - ABRA OS OLHOS, MEU CARO.

William resmungou um xingamento quando Brad e Henry o sentaram na minha cama. Todos nós fomos para meu quarto, depois de esconder o corpo da criatura atrás da minha casa. Antes de começarmos nossa conversa, eu liguei para Jade e menti sobre estar mal e não me sentir bem para ir ver Olaf, como resposta ela disse que meu tio ainda não tinha acordado. Involuntariamente, quando ela me informou isso, eu olhei para William, me perguntando se era realmente certo confiar nele. Mas ele havia me ajudado, certo? Ele havia tentado me salvar? Isso era alguma coisa?

–O que a Jade disse sobre Olaf? – Henry perguntou, assim que eu desliguei o celular.

–Inconsciente – respondi, baixo, e todos entenderam que eu não queria mais falar sobre Olaf.

–Tudo bem – Ashley quebrou o silêncio constrangedor – O que aconteceu, Alexis e William? Me contem.

–Já disse a você o que aconteceu. Ai, ai, ai – William respondeu, com as mãos apertando as costas – Que filho da mãe, me acertou em cheio.

–Então, uma Aberração derrubou William Hãnsel? Que fascinante história para se contar ao mundo! – Henry provocou. Revirei os olhos. Aqueles dois eram impossíveis.

–Você não sabe de nada, vermelhinho – Wiliam rebateu – Bem, a criatura me pegou desprevenido.

–Te pegou desprevenido? Como? Estava olhando o céu, por acaso?

–Posso fazer você ver estrelas agora mesmo se...

–Chega os dois! – Ashley mandou e eles obedeceram. Quase abracei a loira, que estava ao meu lado com uma cara furiosa e os braços cruzados. – Pelo que me disse, William, essa Aberração não era muito esperta.

–Sim, um pouco forte, mas não tão esperta. – ele concordou.

–Então, se o objetivo das Bruxas era machucar vocês, por que mandar uma criatura burra para o trabalho? – Ashley deixou essa dúvida no ar.

–Bem, está na cara que o objetivo das criaturas não era machucar os dois, Ashley – Brad respondeu, ao lado de William na cama – Elas queriam apenas dizer que estão por perto.

–Concordo com o Brad – William disse.

–Acabou que com essa, William se machucou. Imagine então se Elas mandassem uma Aberração para machucar os dois – Henry comentou. William Hãnsel o fulminou com os olhos.

–Não foi só ele – tentei mudar o rumo que a conversa estava tendo – Minha testa doí e senti sangue escorrendo dela, minutos atrás.

Ashley me avaliou por alguns segundos e disse:

–Tem razão, há sangue seco em sua testa, mas acho que foi apenas um arranhão.

–Certo, depois poderemos cuidar disso – Brad interveio – Agora, o mais importante, se nem um dos dois acertou a criatura, o que o acertou?

–Tudo o vi foi um vulto rápido – William respondeu – Achei que estivesse vendo coisas, por causa da dor.

–Eu vi uma sombra também – disse – Mas eu não vi rosto ou forma alguma.

–Uma sombra? Tipo, uma sombra do nada? – Brad perguntou.

–Sim, tipo uma sombra do nada.

–Sério, isso era só o que faltava. Fantasmas em Owens.

–Brad, você sabe que é bem possível que isso seja verdade.

–Vocês acham que essa sombra pode ter atacado Olaf também? – todos me encaram, com um quê de pena, e eu quase perdi as palavras que estavam em meus pensamentos – Levando em consideração o fato de, até agora, não temos provas contra William.

Henry fez uma cara confusa e Ashley cerrou os olhos em minha direção. Ambos provavelmente deveriam estar se perguntando como mudei de opinião sobre William rapidamente. Mas a verdade é que eu ainda não havia mudado de opinião completamente. Sim, eu concordei em lhe dar uma chance, mas era só uma chance. Eu divida do Hãnsel, mas ao mesmo tempo acreditava em suas palavras inteligentes e rápidas. Sim, isso não fazia sentido.

–Duvido – Brad respondeu – Por que ela feriria Olaf e depois ajudaria você?

–Talvez ela goste de mim – respondi, dando de ombros.

–Isso é meio estranho – ele falou.

Mas o que não era estranho naquela cidade?

–Nossa – exclamou Henry – Quanta coisa para se pensar. Temos que nos preparar para a invocação de Sarah, tem a Maldição de William, o ataque de Olaf e agora isso. Sinceramente, acho que estou precisando de um aumento.

–Se ao menos nossos pais... – Brad começou a dizer, mas foi logo interrompido por uma Ashley indiferente. Ela ainda sofria por isso, eu sabia.

–Nossos pais nos abandonaram, Brad – ela falou – Estamos por conta própria e os ‘’se’’ não são permitidos aqui.

–O que faremos então? – ele perguntou.

–Bem, a primeira coisa que podem fazer é me comprar um bolo de aniversário – William falou – Não é porque minha vida vai ficar uma desgraça a partir de agora e a cidade corre risco de ser destruída por uma Bruxa sem alma, que meu aniversário tem que passar em branco.

–William é noite – Ashley observou – Seu aniversário está acabando.

–Muitas coisas estão acabando, Ash.

...

Eu batia meu pé, impaciente, na sala de espera quase vazia.

Depois que todos foram embora da minha casa, eu não consegui dormir, mesmo que Henry e Brad estivessem fazendo uma varredura no bairro a noite toda, para a minha segurança. Por isso, assim que o sol apareceu em Owens, eu me pus de pé e fui ver como Olaf estava. Eu sei, eu sei, perdi mais um dia de aula, mas isso realmente não era tão importante quanto Olaf.

E lá estava eu, esperando me chamarem para o quarto de meu tio e encarando a recepcionista plastificada, que me olhava raivosa por algum motivo que eu não sabia.

Antes que eu fosse perguntar qual era o problema dela, a mulher com maquiagem extravagante e uma roupa nada ideal para um hospital, veio em minha direção.

–Então, e o casamento? – ela disse, com nojo, enquanto mastigava chiclete.

Por que quando ela me via sempre falava em casamento? Eu parecia que ia me casar?

–Quê?

–Por que ele escolheu você, hein? – ela continuou mastigando seu chiclete – É tão sem graça. Parece uma menininha mimada. É mimada, sem graça?

Eu realmente estava ouvindo aquilo?

–Olha aqui, desculpe, mas... – tentei mandar ela ver se eu estava na esquina de uma forma educada, mas a mulher não deixou.

–Me fala de uma vez, sem graça – ela interrompeu – Por que ele vai se casar com você? Está grávida?

Que diabos...?

Eu pareço grávida? Tudo bem, talvez eu devesse maneirar no sorvete e no macarrão a noite, mas não a esse ponto.

–Do que você está falando? – antes que ela me respondesse, eu completei – Se me chamar de sem graça mais uma vez, haverá consequências.

–Estou falando do garoto com olhos legais, sem.. Menina – ela respondeu.

–Garoto com olhos legais? Você está bêbada?

–Estou falando do garoto alto, com olhos azuis, cabelos escuros e postura ereta. Ele era lindo e estava totalmente na minha. Ele veio visitar você no hospital.

–William? Por qu...

–Rolou um super clima entre ele e eu, mas ele não queria machucar você e nem eu.

–Que...

–Ele me convidou para sair, mas eu neguei. Não saio com caras que vão se casar.

–Se casar?

–Ele disse que era seu noivo.

Arregalei os olhos.

–Não somos noivos. – falei a ela.

Ela arregalou os olhos.

–Vocês terminaram? – então riu como uma criança – Isso sim é preces alcançados.

–Olha aqui, eu não disse isso – eu falei, fazendo a recepcionista de rir no mesmo instante, como se eu tivesse acabado de lhe dar um soco no nariz.

–O que disse então?

Eu não sabia o que estava fazendo, eu só sabia que não iria deixar aquela loira azeda sair por cima, nessa história.

O que eu iria dizer? Por que eu queria dizer algo? Hã?

–Nós nos casamos, final de semana passado – respondi e ela fez um biquinho. Segurei a risada e continuei. Tudo bem, era divertido até – Garota, foi uma cerimônia linda. Muitas flores e beijos. O amor estava no ar. Foi o dia mais feliz da minha vida.

–Achei que estivesse rolando um clima entre eu e ele.

–Achou? – foi minha vez de rir – Não foi isso o que pareceu, quando ele disse ‘’Eu aceito’’ no altar.

Ela então fechou a cara, raivosa, e voltou para seu lugar. Eu? Bem, eu apenas tentei não gargalhar com a situação. Alexis 1 x Loira Oxigenada 0.

–Senhorita Alexandra Miller? – o médico me chamou e fui ao seu encontro. Assim que parei em sua frente, ele continuou – A senhorita Jade, me disse que estava aqui. Ela está com Olaf agora.

–Eu posso vê-lo?

–Sim, pode.

–Como meu tio está?

–Nos fizemos a transfusão de sangue, mas ele continua desacordado. Só nos resta esperar, senhorita Miller. Mas queria dizer a você, que ele tem grande chance de acordar a qualquer momento.

–Mas.. Ele tem chance de morrer também? – aquela pergunta doeu em minha garganta, mas eu a fiz do mesmo jeito.

O médico me olhou e parecia pensar se era certo ou não dar uma resposta aquela pergunta.

–Sim – ele apenas disse. Eu fechei meus olhos força e suspirei. Aquilo deveria ser um pesadelo, não havia outra explicação. Era terça-feira e eu já me sentia uma derrotada. – Me acompanhe – ele pediu e foi o que fiz - Acho que quer muito vê-lo.

Sim, eu queria.

Nossos passos ecoavam pelo corredor e eu comecei a prestar mais atenção ao meu redor. A maioria dos quartos com pacientes, mantinha suas portas abertas e eu vi várias cenas tristes. Observei um garotinha brincando no colo de uma mulher, que estava sem cabelos, deitada na cama e com os olhos cansados. Vi também quando uma mulher chorava apertando a mão de um senhora, que parecia estar também chorando. Mas eu parei, assim que vi uma meninazinha, com cabelos castanhos e olhos escuros, lendo para o seu pai. Ele parecia estar dormindo e ela não parecia se importar.

–Então, o príncipe chegou a cavalo e percebeu que havia vários monstros ao redor do castelo – ela lia – Ele sabia que a princesa estava sobre um feitiço da Bruxa Má, ele sabia que ela não era mais a sua amada. Mas, mesmo com esse pensamento, ele desceu do cavalo e foi atrás dela. Porque isso era amor. Amor é quando um não desiste do outro, mesmo quando tudo aponta o contrário. – ela levantou os olhos e encarou o pai – Viu, papai? Eu estou certa. Eu não vou desisti de você, nunca, nunquinha. Porque, papai, eu te amo.

Meu coração se apertou e eu permaneci parada.

Várias imagens rondaram minha cabeça. Meu pai, Olaf, minha vó, minha mãe, Wil...

–Senhorita Miller? – médico voltou e parou do meu lado. Como eu não respondi, ele seguiu meu olhar – O pai dela está em coma a quase 6 meses. Acidente de carro – ele informou – Parece que um caminhoneiro bêbado dormiu no volante e acertou o carro em cheio. A mãe morreu na hora e o pai ficou em coma.

–Ele ainda tem esperança de sobreviver?

–Sempre há esperança – ele deu um meio sorriso – Mas bem pouca.

–E ela?

–Bem, ela vem aqui todos os dias, antes da aula, e conta várias histórias para ele – o médico segurou a prancheta contra o peito – Gosto de pensar que ele escuta cada uma delas.

–Tenho certeza que ele escuta – falei.

–Agora vamos? Seu tio também quer escutá-la.

Eu continuei seguindo-o por entre os corredores.

...

Jade, com um sorriso cansado e triste, saiu do quarto com o médico e me deixou a sós com meu tio.

Olaf, assim como o pai da garotinha, parecia estar dormindo, e eu me perguntei se assim como a menina, também, eu deveria ter esperança.

Com calma, me sentei ao seu lado, na ponta da cama.

–Bem, eu vi uma cena bem impactante ainda pouco – eu contei a Olaf, como se estivéssemos tendo um conversa normal – Era uma garotinha. Ela estava contando ao pai uma história. Ele estava em coma e acho que mesmo assim, de alguma forma, ele a escutava. Posso fazer o mesmo?

Como o esperado, não houve resposta.

–Se não há objeções, então eu vou contar – eu disse, rindo – Bem, havia uma garota. Ela não era como suas amigas, nunca foi. Ela era diferente. As princesas nas histórias não se pareciam com ela e isso a deixava triste, porque ela adorava se fantasiar de princesa. Então, ela cresceu. Perdeu pessoas e ganhou outras. Mas, de repente, quando ela achou que sua vida estava boa o suficiente, os pais dela se foram. É, isso foi horrível. Mas nem tudo estava perdido, calma. Quando a menina pensava que teria que ir a um orfanato, eis que surge um tio, super lindo e legal, do nada. Ele foi meio que uma fada madrinha, sabe?

O peito de Olaf subiu e desceu mais rápido e eu não dei muita atenção a isso.

–Esse tio sempre ajudou a garota – continuei – Até mesmo sem saber. De todo o jeito, vários coisas aconteceram e ela se viu em mundo estranho e diferente. Ela acreditou em coisas que nunca pensou que iria acreditar. Gostou de pessoas que... Nunca pensou que iria gostar. Viveu coisas que nunca pensou que viveria. Até que o destino fez com que esse tio super lindo e legal, fosse um suspeito para ela. A garota começou a duvidar da lealdade e da sinceridade dele . ‘’Será que ele está trabalhando para os vilões?’’ ela pensava. Mesmo a razão dizendo que sim, ele era um vilão; seu coração dizia que ele era o mocinho. Ela sabe muito bem que nunca deveria ouvir algo que só faz ‘’tum tum tum tum’’, mas ela não liga mais para nada agora. Ela acredita em seu tio com toda a sua força nesse exato momento. Porque além de uma ótima pessoa, ela descobriu que ele também é seu pai.

Olhei diretamente para a parede branca do quarto que cheirava a limpeza, sentindo uma forte vontade de chorar. Eu sempre quis fazer isso, contar aquilo a Olaf, e ali havia sido um momento para ‘’treinar’’ meu desempenho.

–Eu nunca vou desistir de você, Olaf, nunquinha – disse, assim como a menina, ainda olhando para a parede, com a visão embaçada pelas lágrimas – Porque eu amo você. Amo você, pai.

A sala ficou em silêncio e eu deixei escapar um soluço de minha boca. Minha relação com Olaf era complicada. Eu mantinha ele isolado do meu mundo, através das minhas mentiras, e talvez ele fizesse o mesmo comigo ou não.

Senti alguém segurar meu pulso e me assustei, quando encontrei o olhar sério de Olaf.

–Como você descobriu? – ele disse, rouco. Sua voz parecia um sussurro longe para mim, naquele momento.

Eu prendi a respiração.


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