O Garoto da Última Casa escrita por Bruna Ribeiro
Notas iniciais do capítulo
Bem, eu estou atrapalhada com tudo essa semana.
Esse é basicamente o motivo que me levou a não responder todos os comentários, mas eu irei responder cada um, não se preocupem.
E bem, gostaria de dizer a Phoenix que esse CAPÍTULO É TODO SEU, pela sua MARAVILHOSA RECOMENDAÇÃO. Sério, isso foi demais e eu estou totalmente agradecida.
Espero que gostem do capítulo, comentários serão mais que bem-vindos.
CAPÍTULO 43 - MEUS PEDIDOS ESTÃO SENDO ATENDIDOS?
Meus olhos se arregalaram a medida que o ser disforme corria em nossa direção. Antes que eu conseguisse formular qualquer frase, William me empurrou de lado e caímos na grama recém aparada.
A Aberração era muito grande e quando percebeu que não estávamos mais em seu caminho, parou devagar. Ela se virou de uma só fez e seus olhos castanhos avermelhados, me fitaram como um predador atrás de sua caça. Não havia ódio neles, não havia raiva e nem nada do tipo, eram apenas olhos vazios e sem vida.
Meu medo me deixava abobada e me peguei pensando como seria o humano antes da fera. Porque essa era a única coisa que eu sabia daquela coisa. Havia uma pessoa por dentro daquele corpo disforme, daquela cabeça grande e por debaixo da pele dourada.
Olhei ao redor, esperando ouvir gritos, mas para a minha surpresa, não havia ninguém na rua. Ninguém havia saído de casa ou até mesmo olhado na janela, por causa do barulho?
–Por que ninguém chamou ajuda? – perguntei para William, enquanto ele me ajudava a levantar – Eles estão com medo?
–Medo? – ele deu uma leve risada e isso me irritou. Por que ele estava achando aquilo engraçado? – Eles não podem ver a Aberração.
–Como.. – a criatura deu um passo para a frente, fazendo com que William e eu déssemos dois para trás. O mostro parou mais uma vez, como se avaliasse suas opções – Por que as pessoas não podem o ver?
–Está vendo a pele dele? – ele perguntou. Bem, a pele do monstro era branca e parecia brilhar na noite. De todas as coisas estranhas na criatura, era a mais normal – O tom meio brilhoso é a sua resposta. Esse tom quer dizer que as Bruxas lançaram um feitiço nele. Um feitiço de disfarce.
–As pessoas podem nos ver e não a ele?
–Devem estar achando que somos dois loucos, provavelmente. Ou nem devem estar ligando. Owens é cheia de loucos, de qualquer forma.
Como se estivesse furioso com a conversa baixinha, a criatura correu mais uma vez em nossa direção.
Eu não sabia o que fazer e talvez William tenha ficado impaciente comigo quanto á isso. Eu me mantive parada e provavelmente continuaria assim, se William não me puxasse para seu lado. A Aberração passou reto novamente. Só que dessa vez, tentando se virar rapidamente, caiu sentada.
–Essa Aberração pode ser a mais burra criatura com que eu já lutei, mas até ela vai entender o nosso plano.
–Nosso plano?
–Você acha que eu estou me jogando nessa grama por diversão?
–O que faremos? – perguntei de pé, dessa vez, ajudando William a se levantar. Ele parecia mais cansado e mais machucado que eu. Enquanto eu não tinha nenhum arranhão, o garoto estava cheio deles. Seus braços e seus rosto tinham riscos avermelhados e ele começava a suar.
–Bem, temos que feri-lo um pouco – respondeu, olhando para a criatura que tentava se levantar – Você se lembra da adaga que dei a você?
Por um momento, eu achei que William estivesse delirando, mas então me lembrei do objeto que ele se referia. Uma linda e perigosa adaga de prata. Ele havia me dado aquela arma, depois que meus ‘’seguranças’’ foram assassinados por Aberrações.
–Sim, eu lembro – disse – Escondi em meu quarto.
–Nossa, que surpresa – ele resmungou – Tem que ir lá e pegá-la.
–Mas é uma adaga pequena, acha que resolverá?
A criatura se levantou e olhou em nossa direção, furiosa, como se odiasse o fato de estarmos fugindo dele.
–Prata queima as Aberrações – ele disse – E é o que temos.
–Tudo bem, então vamos – disse e tentei puxar William comigo , para a casa, mas ele se manteve no mesmo lugar – O que está esperando?
–Se nos dois entrarmos na casa, ele – apontou para a criatura -, virá atrás de nós e...
A Aberração voltou a correr. Suas mãos se fecharam em um soco e ele estava preparado para qualquer movimento que fizéssemos. Ou achava isso.
William se jogou para um lado e eu para o outro, deixando a criatura confusa.
Realmente eu percebi que isso não duraria. A Aberração parou e olhou nossos movimentos, como se juntasse as peças e percebesse o que estávamos fazendo esse tempo todo.
– Droga – William resmungou alto o suficiente para eu ouvir, mesmo a alguns metros de distância.
–Droga – repeti.
–Miller! – chamou e eu lhe dei atenção – Entra na sua casa, pega essa adaga e atrás para cá o mais rápido possível!
–Não vou deixar você sozinho aqui! – gritei de volta.
–Isso não foi um pedido – ele falou – Foi uma ordem. Vai de uma vez!
–Mas...
–É a nossa melhor chance.
Com um salto, eu fiquei de pé rapidamente.
Meus joelhos agora doíam, senti algo líquido e fui surpreendida por sangue em minhas mãos, quando toquei minha testa. Droga tripla.
Olhei mais uma vez para William – que se levantava – e para a criatura – que alternava seu olhar entre o Hãnsel e eu.
William pegou alguma coisa, ao seu lado, e atirou em direção a criatura. Aparentemente a Aberração não se machucou, mas, quando ela cerrou os olhos em direção ao Hãnsel, percebi que estava irritada.
Essa era a minha chance.
Corri em direção a minha casa, sem olhar para trás e entrei pela porta aberta. Tudo estava uma bagunça – o sofá emborcado, vidros quebrados, coisas espalhadas – e eu me perguntei o que diria a Jade sobre isso. Chega, Alexis, não havia tempo agora para isso. Subi os degraus de dois em dois e rapidamente cheguei em meu quarto.
Meu quarto estava como o deixei, horas atrás, e isso fez com que eu quisesse me jogar na cama e ficar ali a noite toda. Escutei um barulho vindo de fora da casa e corri até a minha janela. Assim que eu vi a imagem da criatura apertando o peito de William contra uma árvore, percebi que estava demorando demais.
Olhei ao redor e fui em direção a uma caixinha de sapato preta, estrategicamente jogada de lado. Me abaixei e tirei a arma, cheia de detalhes em seu cabo, de lá.
Seu brilho me fascinou, mas eu tentei não perder muito mais tempo com besteiras. William precisava de mim.
Segurei com força a adaga, até meus dedos ficaram pálidos, e corri para onde a criatura lutava com William.
Assim que ultrapassei a porta de entrada da casa, William foi arremessado até cair em cima da cerca, pelo mostro. Ele gemeu alto e tocou as costas com uma das mãos, enquanto a criatura tinha uma espécie de sorriso – ou algo do tipo – nos lábios.
Me aproximei do garoto, sem que a Aberração se movesse em minha direção.
–William – falei – Você está bem?
–Nunca tive um aniversário tão terrível em toda a minha vida – ele resmungou rouco – Eu só queria a discografia completa da minha banda. É pedir muito, Deus? Ah, sim, sim. Olha o que eu ganhei. Um mostro arremessador de pessoas.
–Eu trouxe a adaga – estendi a arma e seu brilho encontrou os olhos azuis do Hãnsel.
–Ótimo, deixa eu levantar e... – assim que tentou se colocar de pé, William deixou escapar mais um gemido de dor. Ele não poderia lutar, isso estava claro.
–Você tem que ficar parado – mandei – É óbvio que se machucou. Eu vou lá.
–Negativo – protestou – Não estou doido ainda, Miller. Você não vai a alugar algum.
–Nem consegue se mexer, não pode me impedir.
–Eu liguei para Ashley – ele disse.
–Quando?
–Quando não estava apanhando – respondeu raivoso – Mas a Aberração quebrou meu celular logo depois.
–Conseguiu falar com ela?
–Sim – ele respondeu e forçou a voz, para que não falhasse. Sem dúvida suas costas deveriam estar doendo – Ela está a caminho.
–Então eu tenho que ganhar tempo.
–Você tem que se manter viva, isso sim. Não chegue perto daquela criatura.
–Como se alguma vez eu ouvisse você – caminhei em direção a Aberração que acompanhava com o olhar vazio, cada movimento meu. William gritava meu nome e mandava eu parar, mas eu pouco me importei e continuei a andar.
A adaga balançava ao lado do meu corpo e meu olhar se prendia na criatura. Ela então começou a andar também, só que, antes que eu notasse, ela já estava correndo em minha direção. Eu pisquei surpresa. Quando o mostro ficou tão rápido?
Esquecendo que eu queria machucar a Aberração com a adaga, me joguei de lado. A criatura já estava mais esperta e percebeu meu movimento rapidamente. Antes que eu notasse isso, ela acertou minhas pernas e eu cai imediatamente.
Minha cabeça bateu em uma pedra e a arma escapou de minhas mãos. Eu fechei meus olhos com força e gritei, apenas em meus pensamentos, por ajuda. De Deus, da minha avó, minha mãe, bem, de qualquer um.
Senti alguém segurar minhas pernas e abri meus olhos. A criatura me arrastava em sua direção e William tentava se levantar. Eu realmente queria que o Hãnsel conseguisse se colocar de pé e me ajudasse, mas ele caiu e vi pela sua expressão de dor que, por mais que quisesse, nada mais poderia fazer.
A Aberração me encarou e eu a encarei de volta, como o céu sem estrelas como plano de fundo. Mais uma vez me peguei pensando no que aquele mostro era antes de ser transformado. Algo dentro de mim queria gritar e chorar, mas minha expressão era indiferente. Era como se a morte já fosse algo normal para mim e mais uma ameaça contra a minha vida fosse totalmente esperada. O que era verdade, de certa forma.
Não sei dizer ao certo o que aconteceu depois disso. Eu sei que por cima da cabeça gigantesca da criatura, eu poderia jurar que vi uma sombra. Ela passou muito rápido, mas eu a vi. Um segundo depois o mostro estava ao meu lado, com a minha adaga em seu coração.
Isso não fazia sentido.
Olhei em direção ao Hãnsel procurando respostas, mas ele devolveu o mesmo olhar incrédulo e confuso que eu deveria também ter.
Ficamos assim por alguns segundos, um olhando para o outro, com a boca aberta, até uma luz ofuscar meus olhos.
Ashley, Brad e Henry desceram de um carro preto - com adagas maiores que a minha em mãos – e compartilharam do mesmo olhar pedindo respostas, que William e eu.
–Você matou essa criatura, Alexis? – Ashley perguntou depois.
Eu neguei com a cabeça, devagar.
– William?
Neguei mais uma vez.
–O que diabos houve aqui então? – ela disse, sem tirar os olhos da criatura que jazia ao meu lado, imóvel.
–Eu não sei – respondi, com a voz fraca – E adoraria saber.
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