Annabeth.

Durante a semana, percebo que tenho sido observada por Percy. Fui escalada para as atividades que o mesmo comanda, e tenho certeza de que isso não aconteceu por coincidência.

Por alguma ironia do destino tem chovido muito, então passamos a maior parte do tempo em nossas celas, e tenho que admitir o quanto eu gosto disso.

Tenho me acostumado à vida por aqui, mas quando a noite chega, todas as luzes são apagas e quando por fim consigo fechar os olhos, os pesadelos invadem minha mente. Eu devo gritar durante eles, pois Percy sempre invade meu quarto e me acorda. Como extinto a primeira coisa que eu faço é abraça-lo.

Sinto que preciso visitar minha mãe. Durante o tempo em que ficamos no quarto, penso em estratégias para conseguir sair daqui, pelo menos para vê-la.

Hoje pretendo colocar em prática uma de minhas estratégias, e mesmo que ela seja difícil como encontrar uma agulha no palheiro, não é impossível.

Acordo. Escovo os dentes, lavo o rosto e amarro meu cabelo em um rabo de cavalo alto. Vou até o pequeno armário que o quarto possui, e pego uma calça jeans, camiseta preta e All Star de mesma cor, as mesmas pertencem a Piper. Meu capuz preto está dobrado delicadamente no fundo do armário.

Saio corredor afora, e me surpreendo por Percy não estar lá. Não conseguindo evitar um sorriso, durante meu caminho para o refeitório.

– Bom dia, flor do dia. – Digo para Thalia, sei o quanto a mesma odeia tal menção ao seu nome.

Ela me olha como se fosse desferir um murro certeiro em meu queixo, mas ao invés disso ela soca meu ombro, e eu devolvo um chute em seu quadril. Sim, nos cumprimentamos de uma forma esquisita por aqui, mas se nos cumprimentássemos com um beijo no rosto seria estranho não é mesmo?

– Preciso conversar com você e Piper, o quanto antes melhor.

– Hoje o sol está brilhando e isso significa...

– Atividades normais, eu sei. – Sorrio.

– Então porque você está sorrindo? – Thalia me questiona um pouco surpresa.

– Mais tarde Thalia, mais tarde.

Vou até a fila para pegar o simples pão com manteiga que é servido todas as manhãs junto a um café ou suco de laranja.

Olho em volta, e percebo que a maioria dos olhares estão voltados para uma menina de pele morena, e cabelos cor de chocolate. Ela parece estar triste e com medo de estar ali. Meu forte nunca foi fazer amizade, mas algo me impulsiona a falar com ela. Quando consigo me aproximar da garota, sinto mãos em minha cintura.

– Isso não fica bem para um policial. – Digo antes mesmo de olhar para trás.

– Não quero que você se meta em confusão. – A familiar voz rouca sussurra ao pé de meu ouvido o que provoca arrepios involuntários.

– Não sou eu que vou me meter em confusão Jackson.

– Promete que...

– Não prometo nada, agora me deixe em paz.

Sento-me junto à menina. De início ela me olha torto, mas depois começa a falar.

– Por um acaso, as outras mesas estão ocupadas?

Olho em volta fingindo procurar algo, e então a encaro.

– Acho que não. – Sorrio de canto.

– Então você já pode se retirar.

– Você não está enganando ninguém com essa pose de durona.

– “Pose” de durona? – Ela debocha sorrindo nervoso. – Experimenta mexer comigo. – A morena passa as mãos no cabelo.

– O macacão laranja indica que você chegou hoje, o modo como você mexe no cabelo é pelo fato de estar nervosa, e o olhar assustado me diz que você não é capaz de machucar uma mosca, mas também não é frágil... Então durona você deve estar aqui por furto de algo pequeno, estou certa?

A morena me encara impressionada.

– Hazel, meu nome é Hazel Levesque, e eu furtei um óculos escuro.

Sorrio, é incrível a diferença de “peso” que nossos crimes têm. Enquanto eu torturo pessoas, ela furta óculos escuros, e olha só... Estamos no mesmo lugar.

Levanto-me da mesa, e pisco para Hazel.

– Annabeth Chase.

– Onde você aprendeu isso tudo? – Ela questiona.

– Com o tempo você aprende os gestos de um mentiroso. – Retiro-me dali, e vou até Piper e Thalia.

– Quem é a garota nova? – Pergunta Piper.

– Hazel, ela furtou um óculos escuro. – Respondo indiferente bebendo um pouco de suco. – Isso não importa, eu preciso falar com vocês.

– Manda aí. – Elas dizem juntas.

– Hoje à noite eu irei fugir, e preciso de ajuda.

X

Thalia e Piper ouviram meu plano com atenção, e prometeram despistar Percy no momento certo.

As 9h00 da manhã, fomos para as nossas atividades habituais já que colocaríamos o plano em ação somente ao anoitecer.

Assim que piso meus pés sobre o chão da quadra, não me surpreendo ao ver Percy me encarando, e é exatamente o que eu desejo para hoje. Vou até ele com um sorriso.

Paro ao seu lado, e os olhos do moreno fixam-se ao meu. Por um instante, esqueço qualquer outra coisa que há em minha mente, e me concentro apenas em seus olhos. Hoje eles estão calmos, pois a cor verde clara predomina.

– Preciso da sua ajuda. – Digo.

– Isso não é bom... – Percy sorri de canto, e encara a cesta de basquete.

– Esteja as 23h00 em meu dormitório.

O moreno franze as sobrancelhas.

– Pedido estranho, mas porque não?

Pisco com um dos olhos para ele, e vou até Thalia.

– Ele caiu? – Pergunta ela.

– Feito um pato. – Sorrio. – Vamos jogar.

X

22h47 da noite.

Coloco meu capuz preto, mas dessa vez deixo meus cabelos desamarrados. Amarro o All Star firmemente, e guardo as barras de cereais, que Piper conseguiu furtar mais cedo, na mochila de Thalia.

Passo pelo corredor mais rápido que a velocidade da luz e em poucos segundos já me encontro no pátio.

O plano é, enquanto as 23h00 Percy irá me “visitar”, estarei aqui fora esperando pela abertura do portão, o mesmo abre esse horário para a troca de vigias e depois dela, permanece alguns segundos aberto.

Meu relógio marca 22h50, 10 minutos para que eu me sinta livre; 9 minutos para que eu possa visitar minha mãe; 8 minutos para que eu volte a procurar aquele assassino que me tirou algo importante; 7 minutos de excitação; 6 minutos de agonia; 5 minutos já sinto a adrenalina subir; 4 minutos me preparo para correr; 3 minutos ajeito o capuz; 2 minutos me escondo nas sombras; 1 minuto, sinto uma mão me segurar.

– Aonde você pensa que vai?