Tira os óculos e os deposita no criado mudo ao lado da cama. Não conseguia se concentrar no romance. ‘O morro dos ventos uivantes’ repousa fechado sobre suas pernas. Não devia estar lendo aquilo. Onde Emily Brontë estava com a cabeça quando escreveu um romance tão dramático, conflituoso e devastador?

"Nem que ele a amasse com toda a força de sua vil existência, seria capaz de amá-la tanto em oitenta anos como eu num só dia."

Sabia pouco sobre estar com alguém que se ama, muito pouco em vista da experiência de doze anos de solidão amarga escondida dentro do peito, por detrás da altivez do queixo e do trocar de pernas em saltos altivos.

Agora se encontrava ali. Sentada na cama entre as cobertas tentando ler um romance como fazia todas as noites antes de dormir. Mas agora era diferente, agora tinha algo a mais em todas as historias, nas grande e até pequenas historias de amor. Não conseguia manter um foco nas linhas, manter-se firme nas palavras. Cambaleava os olhos de um lado ao outro do papel quando era constantemente interrompida pela rosa ainda vermelha dentro do pequeno vaso e perdia-se nos discursos, quem estava a lhe dizer o quanto ama? Heathcliff, Catherine, Emma...

Fecha os olhos por alguns segundos. Sua testa franzia uma pequena angústia. Respira fundo levantando os cílios. A rosa ainda estava lá na estante do quarto fazendo- a lembrar do toque, do beijo, do cheiro, de como sua voz ressoava fora e dentro de si fazendo-a refém de um sentimento impiedoso.

Poe o livro em par com os óculos. Aconchega-se na cama. Seus olhos partem em direção ao criado mudo, seu celular fazia companhia aos óculos, ao livro, ao abajur, objetos talvez de um pequeno romance. Bastava uma esticada de braço e algumas palavras, quaisquer palavras, mesmo as mais loucas e sem sentido algum fariam de um simples 'enviar' uma história de amor.

*****

Sentia o cheiro do mar e o gosto do sal trazido pelo vento frio. Nos ouvidos as pequenas ondas rebentavam num chacoalhar distante uma canção insone, como uma brandura dentro do peito, um sonho bom. A água gelada batia na ponta dos seus pés descalços e em seus olhos brilhavam milhares de estrelas que enfeitavam aquele céu sem lua, negro, profundamente negro, como os cabelos dela.

– Quando você iria me contar que beijou a mulher mais gostosa dessa cidade?

– Hum... Não sei. Como te disse, nos beijamos e logo em seguida ela surtou e começou a falar um monte de coisa. Eu fiquei meio mal.

– E não falou comigo nem com ninguém por uma semana. Eu sou amiga, Emma, sua melhor amiga, espero.

– Você é. Você, Neal E Ruby. São Excelentes amigos, mas isso era algo que eu queria superar sozinha.

– E como você superou, hein! Até agora ainda não acredito. Você e a diretora Mills no banheiro da escola. Aquela mulher é muita areia pro seu caminhão.

– Pro meu fusca...!?

– É, pro seu fusca amarelo.

Emma retira os olhos do céu, vira o rosto em direção à amiga.

– Você acha que um dia Regina entraria no meu fusca? - Mulan se desfaz em uma gargalhada estridente.

– Claro que não! Não imagino aquela mulher toda dentro do seu fusca. Não combina com ela. Você terá de arranjar uma Mercedes se quiser levar Regina pra sair.

Emma faz beicinho. Seria realmente intrigante ver Regina dentro de seu fusca. Ele não era velho, era charmoso, talvez um pouco amarelo demais para Regina. Seus pais haviam acertado em cheio ao lhe dar o carro, definitivamente era a sua cara; meio esquisito, desengonçado, barulhento, nem um pouco discreto mas, apesar de tudo, forte.

– Eu adorei o presente. Não imaginei que meus pais um dia me dariam um carro, acho que isso significa que eles esqueceram aquela coisa com a Tamara e confiam em mim de novo.

– Ok, seu fusca é lindo. Mas me conta , como é?

– Como é o que? - pergunta automaticamente de novo olhando pra cima.

– A Regina, uai! Ela beija bem? - Seus olhos brilham para infinito.

– Se ela beija bem? - Fecha os olhos num pequeno sorriso - Ela é perfeita.

– Tenho pena de você.

– Por quê?

– Desculpa te dizer isso, Emma, mas você está toda fodida, se ela te der um fora você vai passar a vida toda sem falar com ninguém.

– Ela não vai me dar um fora. Eu sei que não. Eu vi, eu li nos olhos dela. Ela me quer, não sei se tanto quanto a quero, mas de alguma forma ela me quer.

– Só espero que essa história não dê merda e que você não saia dela machucada ou eu... Eu vou tirar satisfação com a diretora e provavelmente serei expulsa da escola e nunca entrarei numa boa universidade e vou ter uma vida de merda, então, faça o favor de ser feliz com ela de uma vez. Ok?

– ok...

– Agora vamos nos juntar aos outro. Acho que você já passou tempo demais aqui deitada na areia pensando na Regina. - Mulan levanta da areia enquanto Emma preparava-se para ficar de pé quando ouve o bipe do celular.

–---

Você está dormindo?

–---

Emma lê a mensagem três vezes para acreditar no que seus olhos presenciavam. Mulan se encontrava parada olhando a cara de besta da amiga.

– ok, já entendi. Você não vem. Tuuuudo bem. Entendo você perfeitamente mas eu, bem... Eu vou beber porque amar tá foda, se por acaso eu cair me leva pra casa, fui...

Emma sorri. Deita de novo na areia. O celular na altura dos olhos.

Tap...tap...tap..

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N, estou na praia.

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O que você faz na praia a essa hora?

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Olho pro céu e penso em vc...

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Para de beber, Emma. . Não vou cuidar de você de novo caso se meta em outra briga.

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Vc deve estar linda fazendo essa cara de brava que só vc sabe fazer.

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Ok, você realmente deve ter bebido. Boa noite, Swan. E fique grata por eu não ligar agora pros seus pais.

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Sua preocupação comigo me alegra. :D mas neste momento é desnecessária. N estou bebendo nem fazendo nada, n consigo fazer nada, n tenho culpa se vc ocupa todos os espaços dentro da minha cabeça.

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Você não devia dizer essas coisas .

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Pq não se é a verdade? Não vem com a desculpa de paixão platônica adolescente, vc sabe e eu sei que não é isso.

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Só queria agradecer pela rosa. Até já me arrependi disso. Boa noite.

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Henry me convidou para à sua casa amanhã no fim da tarde para um campeonato de vídeo game. Tudo bem para vc?

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Por mim tudo bem. Gosto que Henry interaja com os amigos. Agora, definitivamente, boa noite, Swan.

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Boa noite, minha rainha ciumenta ♥

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Ia retrucar. Não estava preocupada muito menos estava com ciúmes. É certo que algo a incomodava, não o fato da garota se divertir com os amigos, mas algo naquelas palavras. "Que droga, Regina..., para de lutar", pensava consigo mesma. Leu todas as mensagens mais uma vez e outra e outra. Tentava manter o coração dentro do peito, mas era quase impossível. Lembrara-se do que Rob havia lhe dito naquela tarde. Se resistisse poderia ser pior, sucumbiria a atos impensados por que Emma não desistiria; "Emma não desistirá", dizia mentalmente para si mesma enquanto sorria sem perceber. Puxava todo o ar que conseguia guardar nos pulmões. "Eu desisto...". Sorri, sorri e, novamente, sorri. Vira-se ao avesso na cama. Do que importava agora se ainda era tempo de cometer loucuras na vida? Fecha os olhos e deixa-se levar pelo sono.

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Na praia Emma continuava lá deitada na areia com os pensamentos entorpecidos. Regina era meio confusa. Dava esperanças e as retirava, dava esperanças de novo, tentava manter uma pose dura, tentava esconder o que sentia e ao mesmo se traía, mostrava-se. Devia afastar-se daquilo, de todo aquele vai e vem, mas ao contrário, aquele jeito dela de lhe dar com os sentimentos a prendia ainda mais àquela mulher. Nem conseguia imaginar como seria quando ela fosse sua, quando se entregasse, quando se amassem pela primeira vez. Seria lento, doce como uma valsa, um balé ou seria feroz, impetuoso como uma disputa por maior espaço no corpo uma da outra?

–Emma...!? - Chama uma voz fina ao seu lado.

–...

–EMMA!? - Agora cutucava seu braço delicadamente.

Emma se assusta. Dá um pulo. Olha pra garota sentada ao seu lado sem entender nada.

–Aurora?! - fala confusa.

–Oi,- A garota sorri meio desconcertada. - Desculpa acordar você.

–Ãnh..., eu não estava dormindo só pensando.

–Hum... - Aurora concentra o olhar na areia.

–O que foi? Você quer falar comigo? Aconteceu alguma coisa? Desculpa tantas perguntas... você nunca falou comigo antes então...

–É, eu nem sei como começar. preciso falar com você sobre, sobre.. - A garota olha para o grupo de amigos de Emma meio distantes dançando e bebendo em volta do violão de Eric.

–Sobre a Mulan?

–C-como você sabe? - Pergunta tombando um pouco a cabeça.

–Ela me falou de você uma vez. Vocês eram amigas, né? - Emma vê as linhas finas do rosto da garota endurecerem. A amizade com Mulan com certeza devia ser um assunto delicado para ela.

–Sim. - Afirma olhando as próprias pernas. - Você é muito amiga dela, né?

–Acho que sim.

–Eu queria, queria me aproximar dela de novo.,retomar nossa amizade. Foi..., foi tudo tão estranho o que aconteceu conosco. Éramos amigas de infância então... há alguns anos eu comecei a namorar o Philipe e ela se afastou de mim. Passou uns meses fora da cidade, se despediu e, quando voltou, não falou mais comigo e agora.. agora ela pega todas as garotas que vê pela frente. - Aurora levanta o queixo com um olhar questionador. - Você e ela...

–Não! Nunca. Nunca mesmo. Somos amigas, apenas amigas.

–Hum... Pensei que talvez você fosse uma "amiga", como a Ruby. -Fala num tom de voz fino, porém raivoso.

Emma sorri. É uma postura parecida a de Regina. Aurora gostava de Mulan mais do que admitia a si mesma, querer retomar a amizade? Não, não mesmo... Estava claro, era fato assim como também era claro que a garota travava uma luta interna tão constante que precisava se abrir com alguém e mesmo nunca tendo falado com Emma estava ali abrindo o máximo que conseguia de seus sentimentos confusos.

–Você pode falar com ela?

–Falar o quê?

–Não sei... eu tenho medo de falar com ela depois de todo esse tempo e ser ignorada.

–Acho que ela não ignoraria você. Só não sei se ela aceitaria retomar a amizade. Ela gosta de você. Não diga a ela que te disse isso, por favor. Ela gosta e não vai admitir.

–Eutambém gosto dela, ela foi minha melhor amiga.

Emma sorri revirando os olhos num sarcasmo contido.

–Você não entende? Ela não gosta de você como amiga, ela é apaixonada por você. Esse papo de amizade só vai fazer com que toda a dor que ela sentiu em ver você com o Philipe retorne. - Emma suspira. - Você nunca percebeu? Melhor..., você nunca quis perceber por que tem medo, tem medo por que ela é uma garota.

–... - Aurora abre a boca para falar, mas as palavras lhe fogem. Não é possível, Mulan era apaixonada por ela, era isso mesmo? Mas como?

–Olha..., eu não sei o que se passa pela sua cabeça agora, a única coisa que eu sei é que você sabe o que sente só não quer admitir isso. Desculpa, mas eu olho pra você agora e... e só vejo um monte de confusão. Pensa melhor a respeito, não fala com ela agora sem saber o que você quer, o que você pretende. Dê um tempo pra pensar e sentir melhor o que você realmente quer e quando você souber vai lá ou não vai, depende de você, mas uma coisa eu repito, não tenta retomar a amizade isso vai fazê-la sofrer e não só a ela, a você também. Pensa nisso.

Emma levanta-se. Aurora continua no mesmo estado embasbacado. A loira olha a garota de cima, estende a mão.

–Vou ficar aqui mais um pouco. - Fala com a voz cortada.

–Ok, boa noite então. - Sorri e sai caminhando pela areia. Segue até os amigos, despede-se de todos.

–Você já vai? - Pegunta Ruby. - Mal começamos aqui.

–Já, não tem ninguém pra socar hoje. - Todos riem.

–Então dá um abraço aqui. - Ruby se joga contra Emma abraçando-a apertado. A loira sente o cheiro forte de bebida e afasta a amiga delicadamente.

–Quer que eu te leve pra casa?

–Não... estou bem ainda. Mulan me leva, assim que ela conseguir se levantar. - Ruby ri. Mulan estava deitada na areia vendo tudo girar.

–Já estou de pé. - Diz Mulan levantando-se. - Boa noite, Emma... e me conta tudo depois, viu?

–Ok, boa noite pessoal.

Despede-se. Caminha até o estacionamento. Entra no carro. Enquanto dirige pensa em como as pessoas são conflituosas. Ela mesma esteve por um tempo em conflito quando ao que sentia por Regina, mas foi um tempo tão curto, havia aceitado muito rápido a necessidade de amar Regina Mills. "Amar, já estava pensando em amor?".As consequências disso não podia prever, mas não a deixava insegura, pelo contrário, sentia ainda mais vontade de se jogar naqueles braços morenos.