–Bom dia! - Clary cumprimentou alegrimente Leo, que se arrastava pela cozinha. O CD gravado por Clary chamado "Preguiça de Domingo" estava tocando Hooked On A Feeling, que ressoava confortavelmente pela cozinha enquanto a garota fazia panquecas e fritava bacon e ovos.

–Péssimo dia. - o homem a cumprimentou e pegou leite da geladeira. Derramou o conteudo da caixa em uma tigela e, em seguida, derramou cereal.

–Ressaca? - a garota perguntou, pondo a frente dele um prato cheio de ovos e bacon. Era o favorito dele.

–Pior. Elise decidiu terminar comigo.

–Sério? Mas por que? Vocês pareciam tão bem juntos. - Clary pôs as panquecas em seu próprio prato e passou geleia de morango nelas, sentando-se para ouvir a história de Leo.

–Nas palavras dela, eu ainda não tenho "maturidade suficiente para um relacionamento sério".

–Vaca. - Clary xingou enquanto misturava água quente com pó para capuccino instantâneo.

A música mudou para Hey Jude.

–Eu sei. Mas bem, agora é seguir em frente. Se ela acha que eu não sou maduro, então o que eu posso fazer? Se estamos em um relacionamento, ela deveria gostar de mim por quem eu sou.

–Exato! Muito bem dito!

–Falando em coisas bem ditas, tem certeza que você quer ir para a próxima reunião do conselho das bruxas com minha mãe? As coisas sempre são meio pesadas por lá.

–Não se preocupe. Eu vou ficar bem.

Alguém bateu na porta e Leo levantou-se para atender. Clary começou a recolher os pratos, catarolando levemente ao som dos Beatles.

–Clary! Vem aqui!

A garota rapidamente pôs os pratos na pia e foi até Leo.

Seus olhos arregalaram.

Na porta, estava uma cesta com um pequeno bebê dentro. Junto a criança, um bilhete.

"Leo, o filho é seu. Boa sorte, Kelly"

–Quem diabos é Kelly? - Clary perguntou, olhando para Leo.

–Uma garota que eu peguei ano passado, antes de namorar Elise.

–A exatamente quanto tempo foi isso?

Leo parou para pensar e seus olhos se arregalaram.

–Nove meses.

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–Eu não posso cuidar de uma criança! - Leo gritava ao telefone com Kelly. Pelo que Clary pôde entender, a mulher nem chegou a dar um nome ao pequeno menino. Deixou a criança no apartamento de Leo e partiu para Vegas. Aparentemente, vai ser dançarina por lá.

O bebê chorava alto. Clary estava morrendo de dor de cabeça. Havia até mesmo desligado a música. Já impaciente pela falta de instintos paternos de Leo, ela pegou o bebê nos braços e o levou para a cozinha, ninando-o enquanto cantava a última música que havia ouvido, a mesma música que sempre usou para ninar os próprios primos.

Hey, Jude, don't make it bad

Take a sad song and make it better

Remember to let her into your heart

Then you can start to make it better

O bebê ficou em silêncio e Clary sorriu. O garoto tinha olhos castanhos bem escuros e o cabelo preto expesso. Era tão parecido com Leo que chegava a arrepiar.

A garota continuou cantando e fazendo carinhos no bebê, que soltava risadas. Nem notou que Leo já havia desligado o celular e a observava pensativo.

Hey, Jude, don't be afraid

You were made to go out and get her

The minute you let her under your skin

Then you begin to make it better

"Será que eu posso ser um pai? Com Clary, parece tão fácil. Ele parou de chorar e está até rindo. Eu não tenho dinheiro, nem responsabilidade! Não tem como eu conseguir!"

Clary finalmente percebeu que não estava sozinha.

–Quer tentar? Ele não quer dormir de jeito nenhum.

O garoto voltou a chorar e Clary, em resposta, voltou a cantar, mas mesmo assim entregando o pequeno a seu pai. A letra da música fez Leo se sentir mais confiante e pegou o bebê com cuidado.

And anytime you feel the pain

Hey, Jude, refrain

Don't carry the world upon your shoulders

For well you know that it's a fool

Who plays it cool

By making his world a little colder

Na na na na na na na na

E Leo soube, naquele instante, que ele nunca amaria alguém tanto quanto ele ama o garoto em seus braços. E que ninguém, nunca, iria separá-lo dele.

Quando o pequeno adormeceu, foi posto de volta na cesta.

–Então? O que vai fazer? Ele vai para a adoção? Porque se você decidir ficar com ele, saiba que tem todo o meu apoio. Afinal, somos família. - Clary perguntou, receosa. Havia se apegado ao pequeno rápido demais.

Leo sorriu.

–Dê boas vindas ao novo membro de nossa pequena família: Jude Clark Parker.

Clary riu.

–Você sinceramente gosta de referências pop, não é? O nome e sobrenome de dois super heróis e o nome de uma música.

Leo riu.

–Bem, nós o conhecemos ao som de Hey Jude. E meu sobrenome é Parker. Além disso, Jude Clary Parker ou Jude Kent Parker não soam muito bem.

Clary estava chocada.

–Você nomeou o seu filho em minha homenagem?

–Claro que sim. Afinal, somos família. E meu filho merece ser nomeado em homenagem a madrinha fantástica dele.

Os olhos de Clary marejaram. Pela primeira vez desde que saiu de Fells Church, ela sentiu-se, verdadeiramente, em família.

E pela primeira vez na vida, enquanto abraçava Leo, o pequeno Jude entre os dois, as lágrimas que derramava eram de felicidade.

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Três meses antes, Fells Church...

Um dia depois da despedida...

–Obrigada pela compra, senhora, tenha um bom dia! - a vendedora falou assim que Clary deu-lhe uma nota de 20 dólares. A garota pegou as duas sacolas cheias e saiu da Dollarama apressada em diressão a floresta da cidade.

Assim que chegou a floresta, foi até a parte mais profunda, aonde havia um elevamento de terra de dez metros de altura, formando um pequeno penhasco. Abaixo, um rio afluía calmamente.

Clary tirou o coteúdo das sacolas rapidamente e os organizou. Havia 20 bolas de basebol.

A híbrida levantou uma das bolas na altura do rosto. Imaginou as palavras de sua discussão com Elijah.

"Você não era o suficiente para fazê-lo feliz."

Com raiva, Clary lançou a bola no ar, em direção penhasco. Depois, com um grito, fez a bola explodir. Um dólar jogado no lixo.

"Você nunca foi o suficiente."

Mais um dólar foi explodido em pedacinhos.

"Ele não vai voltar."

Mais uma vez, uma bola foi explodida no ar.

De repente, chuva começou a cair. Clary não se importava. Jogou quatro bolas de uma vez e as viu explodir enquanto ria. Completamente encharcada, o cabelo grudado ao rosto, Clary nunca sentiu tanta raiva.

"Ele vai te esquecer. Aquele relógio, um dia, não vai passar de uma lembraça de uma garotinha por quem ele se interessou."

Na noite anterior, ela havia chorado até dormir. Acordou com rímel melando o seu rosto, os olhos vermelhos injetados e as mãos tremiam.

Já havia torrado 15 dólares.

"Ele sempre vai ser seu primeiro amor. E você sempre será mais uma."

Quando jogou a última bola, estava cansada e não sentia mais raiva. Queria um bom banho e descanso. Comer o sorvete de menta com chocolate da geladeira enquanto relaxava na cama assistindo algo com Gina. Até mesmo aqueles animes que sua amiga tanto gosta.

Enquanto andava pelas ruas, notou algo estranho.

"A chuva sempre foi salgada?" perguntou a si mesma e apressou o passo.

Queria ir para casa.

E então, ela percebeu.

Quando ela chegasse em casa, teria que cuidar de seus primos. Dar um almoço para a mãe e limpar a casa. Teria que agir como uma adulta.

Há dois anos, uma garota de 15 anos teve que ser uma adulta para a mãe que parece ter perdido a vontade de viver e para duas crianças. Ela cuida das contas e das despesas. Ela cozinha e quase nunca sai para se divertir.

A garota tocou o anel que estava pendurado em seu pescoço. Ela segurou-o em frente ao rosto e o olhou atentamente. Era tudo que havia sobrado de Elijah, além de fotos tiradas em seu celular.

E, no meio daquela floresta, a garota fez uma promessa a si mesma.

–Eu vou viver cada dia da minha vida como se fosse o último. Vou cuidar de mim mesma e correr riscos. E, quando eu finalmente consiguir superar Elijah Mikaelson, eu vou tirar esse colar.

E, com isso, ela começou a correr para casa. Precisava ligar para Erik.