Stella se sente estranhamente feliz. Estuda alegremente inúmeros livros com questões de vestibular, pronta para a prova que teria dali dois dias em uma das instituições que mais lhe interessava: Harvard.

Cursaria Medicina, algo que definitivamente se tornara um sonho em NovaHead, contudo, não pensado a fundo.

Em Nova York a situação está tranquila. Morando na mesma casa em que Wanda e Pietro viviam, sua vida definitivamente dera uma guinada espetacular. Magneto a reconhecia como filha, mesmo não partindo de seu próprio sangue, o que era um lado diferente do vilão que todos estavam acostumados a ver.

Talvez fosse apenas uma questão de ideias divergentes no final das contas. Um simples ideal oposto aos defendidos pelo Professor Xavier.

Fosse o que fosse Stella estava adorando a ideia de ter uma nova família. E adorando ainda mais a ideia de estudar com Charlie Wayne.

Nesse instante, sentada em uma mesa diante do moreno em uma de milhares de bibliotecas da cidade, aprecia a maneira como ele se dedica em entender determinado conceito e passá-lo para ela de um jeito mais simples. É tão inteligente...

— Entendeu? — Charlie termina de explicar e arqueia uma das sobrancelhas ao perceber a falta de atenção da jovem, que cora imediatamente deixando de fitá-lo na cara dura.

— H-Hurun...

Charlie sorri fechando o livro.

— Então acho que pode repetir o que acabei de dizer.

Stella desvia o olhar, ouvindo as risadas do moreno.

— Bobo — Ela murmura voltando a encará-lo. E antes que ele faça alguma piadinha, muda o foco completamente. — Você vai voltar para Gotham ainda hoje?

— Não. Acho que vou ficar mais um tempo aqui. Sabe... Vigiando a Clary antes que a mamãe tenha um outro filho de tanta preocupação.

Stella sorri.

— Estou feliz por estar de volta à Nova York. É tão bom aqui... Me traz muitas lembranças.

Por um segundo ambos ficam em silêncio. A cadeira range quando Charlie se levanta.

— Vem. Vamos andar por aí. Estou vendo que já estudamos demais por hoje.

Stella o segue para fora da biblioteca, e sente sua mão ser envolvida pela dele assim que pisam na calçada coberta de sol. Não consegue conter o sorriso.

(...)

O resto da tarde passa como um flash, com ambos no Starbucks rindo e se divertindo falando sobre qualquer assunto que lembrem. É tão louco a maneira como o destino planeja as coisas...

Stella nunca pensou que teria tanto interesse por Charlie. Ele sendo, irmão de Clarissa, parecia algo até mesmo proibido. E agora estavam ali, aproveitando os instantes de paz e de amor mútuo que sentiam.

— Você é especial, Stella — sente Charlie segurar sua mão. Sua expressão guarda emoções indecifráveis. Uma mistura de receio e paixão? — Eu...

Ele hesita antes de concluir a frase, deixando em Stella uma breve expectativa. Soltando sua mão, se afasta por um segundo, parecendo incomodado.

— O que foi? — Ela questiona com puro interesse.

Charlie a observa novamente, um suspiro deixando seus lábios. Se apruma contra a mesa, as mãos sobre o tampo unidas, representando seu nervosismo.

— Eu sou um Wayne, Stella. Guardo um legado que meu pai construiu desde a conturbada infância que teve. Eu sei que talvez seja difícil para você entender, mas...

— Eu convivi com a Clarissa minha adolescência inteira — interrompe Stella, sorrindo. — Entendo o que for que tenha a ver com os Wayne.

Meneando a cabeça, o moreno prossegue.

— Eu sou o herdeiro direto da armadura do Batman. Meu pai disse que é uma escolha minha, uma opção, mas acredito que seja um destino. Nossa família protege Gotham desde antes do meu pai, mesmo que não na face de justiceiros. Meus avós eram investidores diretos em inúmeras causas beneficentes.

Stella assente, tentando entender aonde Charlie quer chegar.

— Eu gosto de você Stella. De verdade. Esses quatro anos para mim foram uma verdadeira tortura. Quando eu finalmente me interessei por uma garota legal, linda, gentil... Ela cai em sono profundo sem qualquer perspectiva de quando despertar — respira fundo, observando com tristeza em seu semblante os olhos arregalados de surpresa que Stella carrega em sua face. — Mas eu não posso investir nisso, Stella. O meu destino é... Ser um protetor. Um justiceiro. Não posso envolver você em algo assim. Você tem sonhos, perspectivas maiores, e principalmente: eu não suportaria que alguém te usasse para me atrair.

Ela abre a boca e a fecha, sem palavras concretas para dizer. Charlie se levanta da mesa, e suspira pesarosamente.

— Sinto muito.

 Deixa Stella sozinha, completamente perdida. Charlie gostava dela. Okay. O único problema era o fardo que ele carregaria como um protetor de Gotham, e a preocupação dele com o bem-estar dela.

Ao mesmo tempo em que se sente triste, se sente feliz. Charlie não pode ficar com ela, mas gosta dela.

Pensando bem... Essa situação é pior do que não ter nenhum crush.