POV PERCY

Aquela lembrança foi apenas a primeira de muitas outras que me atingiram, em algumas eu chorava em outras eu ria involuntariamente, em outras eu simplesmente ficava calado, pensando em como seria bom estar com Annabeth naquele momento. Lembrei de como Annabeth sentia medo, eu achava estranho, ver Annabeth com medo por tanto tempo, como se tivéssemos voltado a época em que estávamos em guerra, lembrei de quando ela se jogou em minha frente levou a facada em meu lugar, lembrei de nossas brigas por coisas bobas, uma vez, eu tinha 20 anos, Annabeth ficou sem me olhar nos olhos por uma semana só por dizer que ela já estava grande demais para ter medo de aranhas, parece que foi a tanto tempo, mas na verdade foi a 2 anos, queria que naquela hora o tempo passasse rápido, mas o tempo insistia em não passar, me deixando mais aflito ainda, será que Annabeth ainda me amaria depois de voltar á vida? Será que ela me acharia um covarde por não ter salvado ela naquele sonho? Eu realmente não me importava, claro que seria devastador, mas a vida dela me importava, independente se ela me odiasse ou não. Lembrei também de quando Annabeth fugia do seu chalé pra dormir comigo, alguns campistas faziam a mesma coisa, e eram pegos, nós nunca fomos pegos, não sei como, mas acho que tem dedo de Afrodite nisso... lembrei de quando acordei no Acampamento, de quando ela disse que eu babava, de como ela tagarelava sobre Arquitetura, provavelmente só passei em história porque agüentava Annabeth falando sobre, lembrei de quando ela tagarelava sobre qualquer coisa e eu ficava olhando para seus lábios, lembrei de sua voz, de seu toque, de como nos comunicávamos com o corpo, dos olhares que ela me lançava quando estava no pavilhão do Acampamento, Annie tinha mania de me “torturar” fazia questão de sentar no mesmo lugar de sua mesa e me lançava olhares maliciosos, e no fim da noite, quando ela aparecia em meu chalé, dizia que não queria nada, porém eu sempre a fazia mudar de idéia com meu “charme aquático”, lembrei que Annabeth tinha mania de bagunçar o meu chalé só pra arrumar quando tivesse nervosa, ela tinha mania de arrumação, e eu já era bagunceiro, lembrei de quando passávamos a tarde escutando música, gostávamos de vários estilos e de várias bandas, lembrei de quando Annabeth bebeu demais aos 19 anos, sim ela bebia, raramente, mas quando eu percebia que ela precisava relaxar comprava uma garrafa de whisky no chalé de Hermes e fazíamos uma mini-festa no meu chalé, essa nossa fase pós-guerra e profecias durou dos 18 aos 20, depois que começamos a fazer faculdade paramos (NA: psé, to me odiando por estar escrevendo a parte delinqüente e rebelde do Percy e da Annabeth, mas achei interessante, vou tentar escrever um capítulo com eles bêbados...).

Meus pensamentos foram interrompidos por batidas na porta.

– Entra. – murmurei fechando o álbum e enxugando as lágrimas.

– Ei cara, não vou perguntar se está bem, pois você não está, então achei que você precisava de um amigo pra desabafar, então cá estou eu. – falou Grover

– É eu preciso mesmo de conversar, de irmão pra irmão, (Tyson não entenderia, ele não sabia exatamente o que eu sentia, Grover sabia, era mais maduro.) – respondi

– Acho que sei como é ficar longe de quem se ama, sinto saudades da Juníper, ela ta bem brava comigo, espero que entenda quando eu explicar pra ela tudo o que aconteceu. – ele disse

– A culpa é minha, você e Thalia se sacrificaram por mim e pela Annie, Juníper está com raiva de você e Thalia pode ser punida da caçada, e eu... eu tenho uma filha pra criar e não consigo encontrar um porto seguro, que antes era a Annabeth, sinto falta de tudo. – respondi

– Percy você fala como se Annabeth não fosse voltar, é claro que ela vai voltar, a Annabeth é forte, lembro dela quando criança, não desistia por nada, eu sei que de onde ela estiver, ela vai estar lutando pela vida dela, ela tem motivos para voltar, quanto a mim e a Thalia, Juníper e eu vamos nos acertar, e Thalia não será punida, ela fugiu com vocês pra protegê-los e eu também, foi por um bom motivo, eu sei das emoções da Sophie e sei que ela sente falta da mãe, sente falta da voz dela e ela sabe que tem algo errado só não entende o que é, e nesse exato momento sei que ela quer estar perto de Annabeth. – disse Grover

– E se não for o suficiente? Eu fiquei tão convicto da morte da Annabeth, que acreditar fica difícil, eu tenho sonhado com ela, sei que ela está viva, mas se não tivesse sonhado que ela estava presa da primeira vez eu não acreditaria. Eu nunca fui o suficiente pra ela, ela merecia alguém melhor, alguém mais responsável. – falei me segurando pra não gritar, agora eu sentia raiva de mim.

– Quem fazia Annabeth parar de ler pra ir a praia? Quem fazia ela beber de vez em quando? Quem agüentava ela tagarelando sobre arquitetura? Percy, eu não to parecendo uma mulherzinha conversando com você á toa, se ela não está no Mundo Inferior, é por que ela lutou pra não estar lá, ela lutou para estar ao seu lado, como sempre esteve, ela lutou pra ver Sophie crescer, não consigo imaginar Annabeth sem estar lutando, com ou sem guerra ou monstros, ela poderia muito bem ser uma caçadora, se fosse seria a melhor, tenho certeza disso, mas não, ela desistiu de uma vida eterna por você, e você fez o mesmo, se isso não é ser suficiente, eu não sei nem porque estou respirando. – “brigou” Grover.

– Annabeth não está viva, essa é a prova de que eu não fui o suficiente pra ela. – respondi e Grover saiu do quarto. “Ótimo!”

Fiquei pensando no que Grover me disse, ele tinha razão, eu era e ainda sou o suficiente pra Annabeth, eu me colocava pra baixo. “Eu sempre vou me sentir culpado pela morte da Annie, se talvez eu tivesse deixado Grover no meu lugar poderia proteger ela.” Depois de tanto pensar (eu estava fazendo isso muitas vezes ao dia) fui guardar o álbum da Sophie, se o deixasse no meu quarto iria perdê-lo no meio da minha bagunça, e dessa vez sem fazer barulho, e sem acordar Sophie, fui ao quarto dela guardá-lo, quando de repente um envelope cai da capa do álbum. O abri.

Percy, Sophie, ou os dois. Se está lendo essa carta significa que eu estou morta, ou algo parecido, mas saibam que eu amo vocês, incondicionalmente e para explicar mais as coisas: com 4 meses eu tive o primeiro pesadelo ou sonho(digo isso porque era um sonho bom, mas eu sabia que algo ruim havia acontecido), foi logo depois de termos voltado de nossa segunda ou terceira ultrassom,eu acordei chorando e acabei mentindo ao seu pai sobre o motivo, falei que tinha lembrado de Atena, do que ela tinha dito pra mim; se quem estiver lendo essa carta for o Percy me desculpe, estávamos tão felizes por tudo, que eu não queria estragar o momento,nesse dia eu estava ansiosa demais por conta do quarto da Sophie e você tinha me acalmado, nós tínhamos escutado Small Bump do Ed Sheeran e nós dançamos e (acho que pela primeira vez)você não tinha pisado no meu pé, acho que foi meu último momento em que pensei que estaria pra sempre ao seu lado, depois disso tive o primeiro sonho, e depois vieram mais vários todos indicavam a mesma coisa, que eu não resistiria ao parto, bom eu sei que vocês já devem estar cansados de saber disso, mas não pensem que foi fácil pra eu aceitar isso, aceitar que eu não estarei viva para ver seu sorriso, aceitar que não estarei viva para te levar ao primeiro dia na escola, aceitar que eu não terei mais filhos com seu pai, aceitar acima de tudo minha morte, não foi fácil, eu não queria morrer,não tinha motivos para isso, minha vida fazia sentido, eu tinha motivos para respirar, eu tinha você e seu pai,e de repente, por meio de sonhos descobri que mesmo tendo motivos eu não respiraria mais, mas isso aconteceu, senão vocês ou você não estaria lendo essa carta. Sophie você deve ser uma menina linda, eu sei disso por que você vai ser parecida com seu pai, e se for parecida comigo saiba que eu concordo com todas as vezes em que seu pai me chamou de linda, por favor não me odeie por não estar presente em sua vida, eu sei que crescer sem alguém pra chamar de mãe é horrível e me acho uma hipócrita por te proporcionar o mesmo, desculpe.Percy, saiba que você me proporcionou os melhores momentos da minha vida, viver e quase morrer todos esses anos ao seu lado foi definitivamente perfeito,eu te amo e nunca vou cansar de dizer isso, espero que essas sejam minhas últimas palavras, ou meu último pensamento, eu não me sinto bem sabendo que a responsabilidade de Sophie será jogada em cima de você, eu sei que não está sozinho, mas sempre que precisar, sempre que quiser estar comigo, pense em mim, lembre-se de como eu fui feliz ao seu lado, das batalhas, dos treinos, do meu medo por aquele-bichinho-asqueroso-de-oito-patas, do meu amor por azeitonas,das tardes inteiras nas quais eu tagarelava sobre Arquitetura, enfim,de tudo e principalmente que eu te amo muito.

Com amor incondicional, Annabeth, Sabidinha, Sua Mãe.

A carta estava escrita em grego, possuía a caligrafia de Annabeth, e também tinha vestígios de seu cheiro, lembro que quando acordamos havia papéis e uma caneta em cima da escrivaninha. Por mais que Annabeth tivesse mentido pra mim eu entendia ela, acho que se eu tivesse no lugar dela eu faria o mesmo. Guardei o Álbum de Sophie e fui dormir mais um pouco.