Meu primeiro dia estudando em uma escola de sobrenaturais está perfeitamente normal até agora, ou o mais normal possível que um primeiro dia de aula em uma escola de sobrenaturais pode ser.

A primeira metade do dia foi usada para matérias normais como matemática, latim, literatura e história sobrenatural. Quem estuda latim nos dias de hoje?

Estou sentada no refeitório em uma mesa bem mais isolada com Melody do meu lado comendo o maior e mais mal passado hambúrguer que já vi na vida.

– Carne é importante pros lobisomens – disse quando perguntei como ela iria comer um boi inteiro entre duas fatias de pão.

Depois de ver como alguns lobisomens comem resolvi pegar um prato de macarrão com queijo e ficar bem longe dos pratos com carne.

Melody foi boa comigo, me ajudou nas aulas, passou bilhetes e foi a única que não riu quando disse que não entendia nada sobre história sobrenatural.

Aparentemente o universo foi criado por um ser supremo que pode ser conhecido como Deus, o cara que depois se tornou pai de Jesus e matou meio mundo no velho testamento da bíblia, ou , como é chamado pelos sobrenaturais, Universo. Ninguém sabe se Universo e o Deus representado nas religiões espalhadas pelo mundo são a mesma pessoa e existem diversas teorias para explicar porque eles deveriam ser e porque não deveriam, hoje eu aprendi a visão dos sobrenaturais para isso.

Era uma vez o nada. Sim, eu comecei certo, nada. Tudo que existia era um grande espaço sem um único planeta, estrela ou meteoro nele. Um belo dia surgiu o primeiro Imortal, o Universo.

Universo não tinha nada para fazer além de vagar sem rumo pelo espaço vazio em que estava preso, então ele criou os planetas, as estrelas e três outros seres que seriam seus amigos e o ajudariam a cuidar dos planetas.

O primeiro ser que foi criado era vaidoso e delicado ao mesmo tempo em que era forte e sábio, esse ser foi chamado de Vida e seria responsável por criar todos os habitantes dos planetas que Universo fez. O segundo ser que foi criado era sábio e calmo, ele não era apressado e gostava de ver o que iria acontecer sem alterar o rumo das coisas. Esse ser foi chamado de Destino e a ele foi dado o poder de decidir os caminhos que as criaturas criadas por Vida iriam seguir.

O terceiro ser a ser criado era imprevisível e, muitas vezes, queria se intrometer no que Vida e Destino faziam. Esse ser não tinha uma personalidade fácil como os outros, vivia mudando seus sentimentos, era inconstante e inconsequente, a única coisa com a qual os outros podiam contar vindo dela é que iria aparecer. A esse ser foi dado o nome de Morte e o poder de retirar as vidas daqueles que Vida criara quando sua estadia no mundo mortal chegasse ao fim.

Universo então criou a terra, a água, o ar e tudo mais que existe no nosso mundo, depois disse para Vida colocar suas criações no mundo para habita-lo. Com o passar do tempo, as criaturas criadas por Vida começaram a criar os sentimentos que se tornaram Imortais Menores e assim como os primeiros seres passaram a ajudar Universo a cuidar dos planetas.

Tudo estava bem, as primeiras criaturas que Vida havia criado estavam sobrevivendo com os recursos que Universo havia criado e algumas até se alimentavam de criaturas menores. Destino conseguia administrar todos e estava sempre de olho para saber se algo estava seguindo o rumo certo. Morte buscava as almas cansadas e as levava para o mundo pós-morte onde elas poderiam se juntar a Universo ou conhecer uma dimensão em que demônios como Leviatã vivem.

Os problemas começaram a surgir quando outros seres conhecidos como demônios passaram a invadir a essa dimensão para causar destruição e provocar medo, com a aparição dele foram criados mais imortais menores: Caos, Ira, Vingança e Medo.

Preocupados com o rumo que as coisas estavam tomando, os três grandes Imortais pediram para Universo conceder poderes para grupos fortes e distintos de pessoas. Universo disse que Vida era a única que deveria cria-los já que ela era a responsável pelas criaturas desse mundo.

Vida se relacionou com humanos dando inicio a uma raça conhecida pelos humanos como Nephilim, mas para os sobrenaturais são as fadas as criaturas mais próximas dos imortais. Depois ela recolheu características de outros imortais e criou espécies como elfos, lobisomens, metamorfos, feiticeiros e as sereias. O que ninguém podia imaginar era que Vida usaria também características em algumas de demônios criando assim os vampiros, ogros, trolls, bruxas e criaturas que eram meio humanas e meio demônio.

Uma batalha começou a ser travada para salvar esse mundo e graças as criaturas alteradas por Vida essa batalha pode ser vencida. Problemas começaram a aparecer quando os humanos, as primeiras criaturas de Vida, passaram a sentir medo dos sobrenaturais e entra em brigas com eles.

Por ordem dos Imortais os sobrenaturais se excluíram da sociedade humana, criaram cidades e até mesmo países para viver sem atrapalhar aqueles que não tinham poderes e logo suas histórias de tornaram contos de fadas e lendas nas quais ninguém acreditava. Aqueles que um dia salvaram nosso mundo e nossa dimensão foram esquecidos.

Com o passar dos séculos os sobrenaturais passaram a criar rixas e discórdia entre si como, por exemplo, as fadas que odeiam as bruxas por fazer magia “negra” – aquela que requer a força vital de criaturas para ser realizada. E isso causou consequências no mundo humano (aposto que você não sabia que Hitler foi manipulado por feiticeiros para causar a Segunda Guerra Mundial!), porém, os sobrenaturais vivem agora uma época de paz. Por enquanto.

As palavras de Vida sobre eu estar fazendo a escolha errada não saem da minha cabeça. Estou realmente seguindo o caminho errado? Alex não me alertaria sobre isso se fosse o caso?

– Você ainda está passeando com ela, Mel? – Pudim estava colocando sua bandeja com uma espécie de sopa colorida sobre a mesa no lugar mais distante possível de mim.

– Sem comentários maldosos, Pudim – a bronca de Melody teria sido mais ameaçadora se ela não estivesse com molho barbecue sujando sua boca – A Ali é legal.

– Ali? – Pudim e eu falamos em um coral perfeito.

– É seu apelido – Melody deu de ombros e limpou a boca.

Resolvi não discutir com minha única amiga sobrenatural sobre intimidade para das apelido uma a outra e continuei comendo meu macarrão que já estava acabando. Percebi que Pudim estava abrindo uma pequena embalagem transparente e comecei a rir sem querer.

– O que foi, sininho? – Pudim me fuzilou com o olhar e ... Opa! Já tenho outro apelido.

– Nada – respondi tentando segurar o riso – Mas você está cometendo canibalismo.

Intrigada ela olhou para a embalagem de pudim na sua mão o que me fez rir mais e fez Melody rir junto.

– Nunca tinha reparado que você fazia canibalismo! – Melody sorriu de um jeito que mostrou os seus dentes pontudos.

Devem ser ótimos para rasgar a carne de uma pessoa.

Parei de rir no mesmo instante e voltei a me concentrar apenas em mastigar, engolir e digerir a comida.

– Essa piada foi tão boa que me causou varíola demoníaca – Pudim estava com cara de tédio. Resolvi não perguntar o que é varíola demoníaca.

Alguns minutos depois todas já tínhamos terminado de comer e estávamos levando nossas bandejas para a pilha de louça suja no fundo do refeitório.

– A diretora deveria contratar mini robôs dos elfos para limpar as mesas.

Melody revirava os olhos e reclamava a cada cinco segundos. Pudim a ignorava totalmente, provavelmente já ouviu essas reclamações antes.

Eu aproveitava o tempo livre para devanear um pouco sobre o lugar onde estava, meu olhar passeava preguiçosamente pelas mesas tentando adivinhar de que espécie era cada grupo que estava nelas. Notei um grupo de pessoas mais pálidas que bebiam em grandes copos de milk-shake algo vermelho, sem dúvida são os vampiros.

Um grupo gigante de garotos e garotas que não paravam quietos tinham juntado várias mesas em um canto onde estavam sentados, aposto que são lobisomens como Melody ou alguma outra espécie tão hiperativa quanto.

Uma garota olhava para mim de uma mesa próxima a fila. Ela tinha cabelos pretos bem escuros, olhos acinzentados e orelhas pontudas que não ficava escondidas em baixo do cabelo. Elfos! Existem elfos como Stella aqui também.

Queria correr até lá e conversar com aquela garota, aprender mais sobre o que Stella é e tudo que pudesse sobre sobrenaturais afinal os elfos são como os cientistas deles, devem ser espertos, mas fui acordada do meu devaneio por um dor súbita no braço.

– Ai – murmurei olhando para o braço.

– Desculpe, deixe-me te ajudar para compensar.

Queria ter respondido algo, mas não consegui porque vi um sorriso que roubaria todas as palavras do dicionário de uma só vez.

O dono do sorriso era mais alto do que eu, tão forte quanto Alex e tinha covinhas. Covinhas! Eu amo covinhas. Os cabelos dele eram loiros com vários fios dourados se destacando, brilhando como se estivessem no sol. Já seus olhos eram de um tom âmbar que chegava tão próximo ao dourado.

Ele pegou a minha bandeja e a depositou na pilha de louça suja. Olhei para Melody e Pudim pedindo alguma ajuda para saber o que fazer. Melody olhava para o garoto como se ele fosse um deus grego e Pudim o olhava com desprezo o que é bem normal para os padrões de Pudim.

– Obrigada – consegui murmurar depois do que pareceram séculos.

– Não precisa agradecer, foi um pedido de desculpas por esbarrar em você – ele fez um sinal para que eu o seguisse saindo da fila, notei Melody saltitando ao lado da Pudim e apontando para nós – Sou Morfeu, metamorfo, prazer em conhece-la.

– Alice, fada – ele segurou minha mão e a beijou delicadamente.

– Sinto-me honrado em conhece-la, mas agora tenho que ir. Até mais – ele fez uma mesura que me fez rir e saiu lentamente do meu campo de visão.

– Você falou com o Thomas! – Melody havia brotado do meu lado – Não acredito!

– Ele disse que se chamava Morfeu – Esse filho da mãe mentiu pra mim? Sobrenaturais canalhas.

– Ele não gosta do próprio nome – disse Pudim que também havia brotado – Assim como eu – murmurou a última parte tão baixo que tive duvidas se era pra ter ouvido ou não.

– De qualquer jeito ele falou com você! – Melody saltitava me arrastando para fora do refeitório.

– E o que isso tem de tão incrível?

– Metamorfos não falam com todo mundo – ela sorria mostrando as pontas afiadas de seus dentes – Mais incrível que isso seria um anjo da morte falando com você.

– Mais impossível ela quis dizer – corrigiu Pudim.

– Claro – engoli em seco – Impossível – resolvi mudar de assunto - Qual a nossa próxima aula?

– Combate com armas – Pudim sorriu o que me assustou – Você vai amar essa aula.

Algo me diz que não vou sair viva dessa aula.