Let It Snow - Natal das Sagas escrita por River Herondale


Capítulo 8
As Vantagens De Ser Invisível


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que não é mais natal, mas não cumpri minha meta dos dez contos :( preciso terminar logo então vamos com o conto do eu Charlie querido



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Neve, presentes e infinito.

26 de dezembro de 1994

Querido amigo,

Desde 1992 não te mando cartas e estou ciente disso. Mas eu tentei participar e, não que a vida esteja melhor agora, mas não está tão ruim. A verdade é que passei bom tempo ignorando o que me machucava e apenas me foquei no que me deixava alegre.

Quando não se tem amigos na escola (Eu tenho, mas nenhum que eu possa chamar realmente de amigo. Apenas colega), você fica deprimido. A não ser que você realmente se foque no que se deve fazer na escola: estudar. E eu estudei.

E sei que agora falta pouco para eu sair do colegial e sentir a brisa da liberdade. Mas às vezes me questiono se é a liberdade que eu quero. Tenho medo do que posso encontrar nela.

Não fumo mais. Nunca encostei nenhuma droga de novo em mim e apenas bebo quando estou com meus velhos amigos. Não bebo para ficar bêbado, entende? Bebo para participar.

E no meu aniversário de dezoito anos recebi de presente a visita de meus velhos amigos Sam e Patrick.

Sam e eu nunca entramos em um relacionamento sério, se está se perguntando. Não daria pra acontecer, já que ela estava longe de mim e nossa diferença de idade ainda era estranha. Um garoto do quinze, uma garota de dezessete. Mas eu sei que quando eu tiver vinte e dois e ela vinte e quatro, por exemplo, não será nem um pouco estranho. Eu espero.

Sam nunca disse para mim, mas eu sei que teve namorados na faculdade. Patrick também está muito feliz já que arrumou um namorado muito bom um ano e sete meses mais velho que ele. Will é o nome dele. Will é meio que um porta-voz para um grupo de homossexuais da faculdade. Nada sério, os próprios membros se encontram para umas festas e falam sobre suas adolescências ruins e comemoram suas independências agora jovens adultos. Patrick disse que eu deveria conhecê-los quando for para visita-lo, e eu tenho que confessar que estou bem animado.

A campainha tocou e eu me aprontei para atender. Lá estava Sam, linda e com um novo corte de cabelo, seus olhos brilhando quando foi me abraçar. Mais para trás estava Patrick de mãos dadas com quem eu soube naquele momento ser Will.

– E aí, cara. – disse ao Patrick e o abracei também. Ele meio que gritou um feliz aniversário no meu ouvido e depois acrescentou:

– E feliz natal, é claro. Você teve que decidir nascer um dia antes de Jesus.

Will também me abraçou e me desejou um “Feliz Natalversário”, o que fez com que eu gostasse dele imediatamente. Patrick parecia apaixonado, tão apaixonado de um modo que eu nunca tinha visto antes.

– Já comemorou com a sua família? – perguntou Sam, colocando um pouco de sua cabeça para dentro da casa a fim de ver toda sua família sentada no sofá.

– Já. Nós comemoramos na hora da janta. – respondi.

– Vamos comer de novo, então. – disse Patrick. – Estou faminto por causa da viagem e é claro, precisamos comemorar! – Patrick meio que gritou na última palavra.

– Comer às dez da noite? – eu perguntei, meio desconfiado de que algum lugar estivesse aberto às dez da noite em plena véspera de natal.

– Não que seja por isso, Charlie. Eu tenho alguns salgadinhos da viagem e você pode pegar um refrigerante aí de sua casa. Vamos apenas sumir daqui e poder conversar alto de besteiras. – disse Sam com aquele sorriso arrebatador que ela sabia fazer muito bem.

Peguei uma garrafa de refrigerante e uma toalha de mesa e corri entrar no carro de Sam. Patrick dirigia e Will estava sentado ao seu lado. Eu e Sam ficamos no banco de trás.

– Como está a faculdade? – perguntei com interesse.

– Eu me encontrei lá e não quero sair.

Assenti com a cabeça. Será que eu contava que eu faria um teste para cursar na mesma faculdade que ela? Decidi esperar.

Chegamos em um Mcdonalds fechado. Mesmo assim a parte externa da loja estava livre, com suas mesas e cadeiras para quem prefere comer fora. Decidimos usar uma daquelas mesas para comemorarmos meu aniversário.

Comemos os salgadinhos murchos da Sam que, eu juro por Deus, estavam maravilhosos (Ou era porque eu estava com meus amigos e assim tudo fica maravilhoso). Bebemos toda a garrafa de refrigerante e Patrick começou a discursar:

– Sabe, Charlie, agora você é maior de idade. Atingir a maioridade é um privilegio, mas também uma maldição. Quantas coisas passará agora... Mas enfim! Will e eu quisemos comprar um presente só, mas bom, do que comprar dois presentes baratos, porém ruins. Esperamos que goste.

Will sorriu de encorajamento enquanto eu abria o pacote bonito.

– Isto é...

– Ingressos para o show do The Smiths, sim. Mas como você sabe, eles não estão em atividade faz anos, mas esse será um show único e caríssimo e pensamos: Por que não? E aproveite, porque eles não queriam fazer essa reunião da banda, então será uma oportunidade de ouro para alguém que era tão fascinado por Asleep.

Não sei se você lembra, amigo, mas essa música me acompanhou nos piores momentos de minha vida.

– Isso é mais do que incrível, Patrick. Obrigado, Will, vocês são demais. – eu os abracei novamente.

– Asleep é um tanto mórbido, não? Eu gosto. – comentou Will após eu abraça-lo.

– Agora eu acho que é minha vez. – disse Sam, se levantando para ficar em evidencia.

– Eu queria dar algo especial a você, mas eu acho que nada ganha o presente de Patrick e Will. Então eu estava revendo nossas fotos e, wow, como nós mudamos nesse tempo! Éramos estupidamente pirralhos e eu odeio isso. Mas eu pensei que seria um presente ideal isso.

Sam tirou um de um pacote uma caixa encapada de fotos lindas nossas em preto e branco. Era feito com muito cuidado e carinho, artisticamente pintado pela linda Sam.

– Estou encantado, Sam. É lindo.

Ela sorriu e disse:

– Agora abra a caixa.

E dentro da caixa havia uma caneta luxuosa, digna de escritor, e um livro chamado: “Histórias dos grandes escritores e como chegaram à ascensão”.

– Ainda quer ser escritor, não é?

E de fato eu queria. Tentei muito por esses anos escrever um romance, ou poemas, ou qualquer coisa literária. Mas às vezes eu me sentia profundamente solitário fazendo isso e em uma das minhas crises eu queimei um rascunho que se tornaria romance. Naquela época eu havia escrito cento e trinta páginas. Viraram pó.

– É claro. – respondi a ela e a abracei de um modo mais longo do que eu esperava.

Então começamos a caminhar na neve. Patrick e Will caminhavam envolvidos um no outro mais a frente. Sam e eu ficamos atrás conversando.

– Já começou a se preparar para a faculdade? – ela me perguntou com as mãos no bolso.

– Já estou fazendo testes. Não sei, mas estou confiante que consiga.

– Você vai conseguir.

Meia hora depois, mais precisamente onze e trinta e dois, nós decidimos voltar para o carro e que amanhã nos veríamos de novo.

Eu saí do carro e fui até a porta. Antes que entrasse eu ouvi o grito da Sam:

– Charlie, espere!

Ela saiu correndo e me abraçou forte.

– Esqueci de dizer que eu te amo.

– Eu também te amo, Sam.

– Eu te amo muito mesmo, Charlie. Promete que sempre vai me amar?

– Eu te amaria para sempre de qualquer jeito.

Ela então segurou em minha nuca e depositou um beijo leve, porém maravilhoso na minha boca.

– Te vejo amanhã.

Mas antes que ela saísse eu falei:

– Vou passar na mesma faculdade que você. Poderemos ficar juntos por mais tempo.

– Eu pensei que você não ia falar isso. – ela sorriu e disse. – Finalmente.

E então eu vi ela entrando no carro e Patrick buzinando loucamente e os punhos levantados dos três, me fazendo me sentir infinito como fazia muito tempo que não sentia.


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Notas finais do capítulo

Ficou curtinho, mas espero que tenham curtido :D