Alinhamento Astral. escrita por Luali Carter, Rocker


Capítulo 10
Capítulo 9 - Acalmar um filho de Hades não é tarefa fácil


Notas iniciais do capítulo

Atrasada, mas estou aqui!



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Capítulo 9 - Acalmar um filho de Hades não é tarefa fácil

CHARLIE

– Nico, você vem comigo agora! - eu disse, com meus olhos lilás em decisão, e o puxei pelo pulso em direção ao meu Chalé.

– Me solta, Charlie, ele ainda vai apanhar muito! - ele disse, com extremo ódio em seus olhos e desprezo no tom de voz, tentando se soltar de minha mão.

Mas eu não desistiria tão cedo. - Já chega, Nico, ele já apanhou demais de você e de Leo.

Por um segundo, ele pareceu convencido de que já era o suficiente. Mas então ouvimos Will gritando atrás de nós algo que foi incompreensível, mas que deixou claro a Nico de que ele não havia apanhado o suficiente. Nico puxou seu braço, tentando se afastar, mas eu também recuei e parei à sua frente, obrigando-o a olhar nos meus olhos acinzentados. Eu estava sombria, e isso não era boa coisa.

– Por favor, Nico, não faz isso. - eu pedi calmamente.

Ele analisou meus olhos, como se procurasse indícios de algo que eu não fazia ideia do que era. E eu apenas observava cada estrago em seu rosto. Seu lábio estava cortado e havia um corte atravessando sua sobrancelha esquerda. Seu olho esquerdo começava a aparecer uma mancha arroxeada sob sua pele.

– Tudo bem. - ele disse derrotadamente, permitindo que eu o puxasse pelo braço em direção ao meu Chalé.

Quando entramos, eu o pedi para que se sentasse na minha cama, enquanto eu procurava por algum indício de ambrosia ou néctar na minha mochila. Mas então eu me lembrei de que quando eu era imortal, eu raramente precisava, ou seja, nada de comida dos deuses para ajudar Nico.

– Nico... - eu me virei para ele e o peguei me olhando atentamente. Quando percebeu que eu o pegara, desviou o olhar rapidamente. Eu corei rapidamente, enquanto meus olhos iam até o rosa. - Ahn... Eu acho que vai ter que ser à moda antiga mesmo, eu não tenho ambrosia.

Ele deu de ombros. - Por mim eu ainda volto lá para bater mais naquele...

– Ei. - eu o interrompi rapidamente, sentando ao seu lado e colocando a mão sobre seu ombro. Nico olhou para mim, com um ódio evidente em seu olhar, e eu fiz algo que também me surpreendeu, mas que era necessário. Envolvi meus braços por seus ombros e o abracei forte. - Obrigada. - sussurrei.

Depois do choque inicial, Nico me envolveu pela cintura em um abraço apertado e assim ficamos durante algum tempo. Até que eu me lembrei de que eu realmente precisava cuidar dos ferimentos dele. Soltei-me de seu abraço e fui até a estante de livros, evitando que meu olhar se cruzasse com o seu.

– O que está fazendo? - ouvi sua voz atrás de mim e agradeci por ele não ter se aproximado. Acho que meu coração já estava batendo alto o suficiente.

– Procurando algum livro sobre cura. - eu disse, ainda analisando a grande estante e finalmente encontrando um livro que me chamara atenção.

Sanitatum. Cura em latim.

Eu rapidamente o peguei e procurei por alguma coisa que me ajudasse ali. Talvez as aulas de latim que eu tivera antes de virar Caçadora viesse a calhar. Sentei-me ao lado de Nico, que me olhava curioso, e comecei a folhear as páginas procurando um feitiço que ajudasse sem muitos estragos. Levou vários minutos, mas eu finalmente achei um que fosse útil. Só havia um único probleminha...

– Nico. - eu disse, levantando meu olhar para o garoto ao meu lado.

– Achou? - ele perguntou.

– Acho melhor eu ir procurar por ambrosia lá na Casa Grande. - eu disse, me levantando e tentando chegar até a porta, mas ele puxou meu braço antes que eu conseguisse dar quatro passos.

– O que houve?

– É uma poção, não um feitiço. - suspirei, já tentando novamente me soltar de seu braço para ir procurar ambrosia, mas Nico forçou um pouco mais seu aperto, chamando minha atenção.

– Eu confio em você. - ele disse, com um sorriso tão lindo no rosto que eu mal consegui resisti. Ou melhor, eu realmente não consegui.

– Tudo bem, mas não garanto boa coisa. - eu disse, enquanto me voltava novamente para o livro jogado em minha cama.

Meia hora depois, com o olhar penetrando de Nico observando cada movimento meu, eu consegui preparar a poção. Ao menos em parte.

– Ainda preciso de uns dez minutos para finalizar. - eu anunciei. - Enquanto isso eu dou uma limpadinha nos ferimentos. Quando a água ficar roxa, me avisa.

Nico assentiu em concordância e eu fui até a prateleira, pegando água e um pequeno pedaço de algodão. Parei de frente a Nico, que me observa atentamente, e me ajoelhei, colocando o copo com água ao lado do meu joelho. Eu molhei o algodão rapidamente e tirei o excesso. Concentrei cada energia minha em apenas limpar o sangue que havia secado em sua boca e em sua sobrancelha, procurando não mexer muito nos cortes abertos, mas eu não conseguia deixar de me sentir um pouco nervosa sob seu olhar atento e analisador sobre meu rosto. Ao menos me consolo em saber que o dourado em meus olhos eram sobre me sentir nervosa em sua presença.

– Me dá nojo até de pensar que ele tentou encostar em você. - ele disse, olhando fundo em meus olhos e eu simplesmente não consegui desviar o olhar de seus olhos negros profundos.

– Nico, eu... - eu tentei dizer, mas ele não precisou dizer nada para me interromper. Minha voz simplesmente não saía.

– Eu prometo, Charlie. - ele disse, segurando meu rosto em suas mãos. Nesse momento eu já nem me importava mais em limpar seus ferimentos. - Eu prometo que não vou deixar ele encostar um dedo em você.

Eu sorri. Era meio inevitável, como eu já percebera antes. Principalmente quando ele também abriu um sorriso singelo nos lábios finos. Nico olhou por cima do meu ombro e fez uma careta.

– Parece que sua poção está pronta. - ele disse, parecendo estar meio a contragosto.

Levantei-me, também a contragosto, e levei o copo de água de volta pra estante antes de mexer novamente na poção. Olhei no livro que estava aberto sobre a estante e repeti exatamente as palavras necessárias.

Di me sanabit Terran adjuvet, etiam in quantum homo est mihi.

– Que língua é essa?! - Nico perguntou, surpreso e curioso, quando eu terminei de recitar.

– Latim. - respondi, enquanto via o pouco líquido preparado se transformando em azul claro.

Peguei uma colher do líquido azul, que era quase toda a poção feita, e levei até Nico, que bebeu fazendo uma careta. Segundos depois, porém, os cortes foram fechados e o arroxeado sobre o olho esquerdo sumira.

– Que gosto horrível! - ele reclamou, mas eu sorri.

– Pelo menos está novinho em folha. - eu disse, passando o polegar levemente sob o local que antes tinha um corte sobre a sobrancelha dele.

Nico se levantou, indo até a única janela e observando seu reflexo refletido no vidro escuro. - Já está escuro, é melhor eu ir!

Olhei pela janela e vi as estreladas brilhando sobre o céu escuro, com a lua minguante alto na imensidão.

– Não vai, eu quero que você vá à praia comigo. - eu disse rapidamente, inventando alguma coisa para que ele permanecesse mais tempo em minha companhia. Ele me olhou meio receoso, mas eu não ia desistir. - Vamos, por favor!

Nico suspirou derrotadamente. - Tudo bem, então, Charlie.

Eu sorri e ele me acompanhou para fora do Chalé. Andávamos calmamente até a praia, em silêncio e há alguns centímetros de distância. E posso te falar, por mais que eu tivesse toda aquela aversão sobre meninos, eu não estava gostando nada dessa distância entre nós dois. Mas eu não podia simplesmente esticar a mão e segurar a dele, como minha mão coçava pra fazer! Que droga, cara! Quando chegamos na Praia dos Fogos, sentei-me rapidamente na areia, observando a lua minguante sendo refletida no mar de águas negras. Era uma visão sensacional e eu estava feliz por estar a dividindo com Nico, que logo se sentou ao meu lado. E essa felicidade estava sendo refletida no amarelo em meus olhos.

– Em que está pensando? - ele perguntou de repente, se deitando sobre a areia e observando o céu estrelado.

– No mar. - eu disse. - E no quanto eu estou feliz em estar aqui.

– Mesmo com o lance do Will estar aqui?!

Dei de ombros, sem realmente saber o que dizer. - Eu não sei. Acho que eu sabia que mais cedo e mais tarde eu ia acabar tendo que enfrentar isso na vida. Adiei por cinco anos, mas pelo menos tenho amigos para me apoiar, mesmo que um deles queira bater nele.

Olhei de soslaio para Nico, que ria.

– Não que eu tenha realmente achado ruim disso. - eu continuei e acompanhei ele nas risadas.

– Mas você sempre teve Luali com você. - ele disse.

– É verdade, mas ela não sabia sobre meu passado. Preferia não deixá-la preocupada quando o próprio passado dela a assombra. - eu disse tristemente, relembrando o quanto minha melhor amiga sofria com isso.

– E o que houve com ela? - ele perguntou, apoiando-se sobre o um dos cotovelos.

Eu me deitei ao seu lado, deixando-o ligeiramente acima de mim. E como não sou burra - ou eu ao menos penso que não sou -, me deitei próxima a ele, com sua mão direita, que estava à frente do corpo, roçasse levemente em meu braço, arrancando-me um arrepio que eu esperasse não ser sentido por ele.

– A mãe sempre queria ser Caçadora, até que conheceu Poseidon e Luali nasceu. Mas quando ela morreu de câncer, Lua se empenhou em seguir o sonho da mãe de entrar na Caçada, mesmo não sendo o que ela queria.

– E o que você queria? - Nico perguntou, olhando diretamente me meus olhos. Eu queria poder desviar o olhar, mas mesmo que eu olhasse para as estrelas, sentiria seu olhar sobre mim.

– Eu nunca havia pensado em entrar para a Caçada, mas depois do que houve com Will, eu meio que passei ter nojo de meninos, então não me importei muito. - disse sinceramente.

Mas foi a coisa errada a dizer.

E eu pude perceber bem isso quando Nico se afastou repentinamente, ameaçando levantar, mas eu o segurei pelo cotovelo e o obriguei a se deitar ao meu lado.

– Mas eu percebi tem alguns meses que eu não devo generalizar. - eu disse rapidamente. - Você é diferente.

Eu rapidamente senti minhas bochechas corarem, ao mesmo tempo em que meus olhos se tornavam rosados. Mas Nico apenas sorriu para mim, antes de segurar minha mão e entrelaçar nossos dedos, com toda sua pele branca encostando em toda a extensão do meu braço. Ficamos algum tempo apenas observando as estrelas, quando ele finalmente se pronunciou novamente.

– Então foi por isso vocês ficaram amigas? Digo, você e a Lua?

– Não. - eu neguei. - Todas na Caçada tem algo no passado. Mas eu sempre achei que havia uma ligação entre mim e ela. Digo, sobre o mar e sobre a noite.

– O mar e a noite?! - ele perguntou, confuso, e ficou me observando, com seu rosto próximo ao meu. Tinha certeza que se olhasse para ele, nossos narizes quase se tocariam.

– É. - eu disse. - A mãe de Lua era semideusa, filha de Nyx. E Hécate tem seus relacionamentos no mar, onde ela conquista os marinheiros.

– Uau! - ele parecia realmente impressionado. - Não sabia disso.

– Recebi isso da minha mãe. - não tenho a menor ideia do porque eu disse isso. - Posso conquistar qualquer cara no mar. É por isso que, apesar de adorar o mar, eu sempre o evito.

Nico desviou seu olhar do meu rosto rapidamente e quase podia jurar que ouvi algo como "não precisou do mar para me conquistar", mas como isso provavelmente era fruto da minha mente eu ignorei.

Alguns minutos depois, eu me pronunciei novamente. - Sabe, eu queria que Lua não se sentisse tão responsável pela morte da mãe.

– E eu sei exatamente como te ajudar nisso. - Nico disse, se levantando e estendendo a mão para mim, pra me ajudar a me levantar.

– O que pretende, di Angelo?! - perguntei, caminhando ao seu lado de volta para o Chalé de Hécate.

– Quem sabe eu traga a mãe dela para uma visita?! - ele disse. - Mas vamos conversar mais sobre isso quando eu vir buscá-la para irmos tomar o café-da-manhã.

– Você é louco! - eu disse rindo, enquanto subia os degraus de entrada do meu Chalé.

Nico veio até mim, parando à minha frente, há centímetros - milímetros– de distância. Ficamos apenas algum tempo nos observando atentamente nos olhos. Eu quase me perdia no negro profundo de seus olhos, enquanto ele olhava fixamente para o vermelho que tomava os meus. E então ele falou uma frase que quase me deixara sem fala, com sua voz rouca e profundamente serena.

– Por quê uma garota incrível como você falaria com um cara como eu? - ele disse, e eu quase tive a impressão de que ele não queria usar o exato verbo falar.

Fiquei sem reação por apenas alguns segundos, antes de lhe responder com três palavras e seguir para o Chalé, sem olhar sua reação.

– Por quê não?


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Notas finais do capítulo

Eu tinha a tradução do que ela tinha dito, mas acabei perdendo, sorry :/