— Edward, será que você nunca vai mudar? — esbravejou Alice.

Mal pus meus pés em território Cullen e uma miniatura de trem bala me arrastou a força para bem longe dali.

— Ei, nem um “oi” eu recebo mais? — Ela me encarou com cara de maus amigos. Péssimos amigos, na verdade. Era só eu estar de ótimo humor para as bombas me alcançarem. — Posso saber do que estou sendo acusado, pelo menos?

Você se alimentou da Bella!, pensou, mas tudo o que disse foi:

— Sério mesmo que não sabe? — Ler pensamentos era ótimo nesses momentos. Evitava aquele longo jogo de “adivinhe ou fico de mal” que as mulheres amavam fazer.

— Não é o que está pensando. Você pode ver o futuro, não sei porque está me atac... — Como eu era devagar! — O que você viu Alice? O que vai acontecer? — Procurei em cada pensamento da Alice o que poderia estar por vir, mas tudo o que via era uma densa névoa branca.

— Esse é o problema, Edward! Desde que você resolveu se alimentar dela, o futuro da Bella está cheio de lapsos, momentos que ficam se modificando, como quem está sempre mudando de opinião. — Estou com medo do que possa acontecer. — Ela é minha amiga, Edward. Sei que está acostumado a sair se alimentando de humana em humana, pegando mulher a mulher, mas ela é diferente! — Não vou deixar seu lado canalha destruir ela.

— Minha pequena, realmente entendeu tudo errado — falei aliviado por não ser nada grave. — Eu não estava realmente precisando me alimentar e não usei meu controle mental sobre ela. — Ótima desculpa, nosso poder não funciona sobre ela! — Bella se entregou de livre e espontânea vontade. Aquele era um momento que precisávamos ter. Não sei porque o futuro dela está dessa maneira, mas saiba que a culpa não é minha. Numa coisa está certa, pequena, Bella é diferente, e eu a escolhi como minha humana.

— Edward... — afrouxou um pouco o tom de voz. E se não conseguir se controlar da próxima vez? — Você mesmo me disse que quando a conheceu teve vontade de mata-la.

— O sague dela é o melhor que já provei, incomparável, isso é verdade. Mas também é verdade que consigo me controlar. — Como pode ter tanta certeza? — Vocês tem que controlar o monstro dentro de vocês para não matarem. Eu não, Alice, eu sou esse monstro.

Minha família vegetariana tinha que conviver todos os dias com a sede, aquela agonia de tomar sangue humana que era controlada momentaneamente por sangue animal. Eu não tinha esse tipo de problema. Sempre me mantinha saciado, de modo que um lanchinho de vez em quando nunca se tornaria realmente um banquete.

Lembrei daquele momento, na clareira. Nunca havia deixado alguém se aproximar tanto. Sentir ela se entregando a mim daquela maneira... Ouvi-la gemendo sob mim, clamando por meu verdadeiro eu... Aquilo era tão bom quanto tomar seu sangue.

Aquele sangue... Era bem mais do que eu esperava. Seu cheiro sempre me deixou embriagado, mas o sabor... Era bem mais do que aquela promessa. Entendi na hora o que os personagens de livros queria dizer ao descrever o manjar dos deuses. Como se ela tivesse sido feita apenas para mim. Parar não foi fácil, mas também não foi difícil. Eu queria drená-la bem ali, bem naquele momento, mas foi só me lembrar que jamais teria minha humana ou meu manjar novamente que parei.

Ao contrário do que humanos idiotas dizem, devemos prolongar o que é bom, e não aproveitar tudo de uma só vez.

Lembrei de Elizabeth. Mesmo depois de todos aqueles séculos ainda me lembrava do cheiro de seu sangue, do cheiro de sua pele. Meus poderes ainda eram fracos na época, quase inexistentes, e eu nunca estava próximo o suficiente dela (para não cair em tentação), de modo que nunca consegui ler sua mente. Mas o cheiro... Esse eu sentia de longe. Era o melhor cheiro que senti em toda minha existência... Até conhecer Bella.

Não entendia o que havia de tão especial naquela garota, apesar de já estar preso em suas mãos frágeis, porém definitivamente pretendia descobrir.