Percy

– Sabe... acho que isso não vai dar certo. – Ouvi sua voz e, parando de secar meus cabelos rebeldes, voltei a atenção para a cabine de chuveiro.

Annabeth passou pela porta de madeira meio indecisa. Ela usava as mesmas sandálias de saltos que colocará naquela mesma noite para ir à festa, porém, não usava mais o vestido. Suas pernas estavam desnudas até abaixo dos joelhos graças a um short preto. Ela vestia também uma blusa verde e a jaqueta branca do colégio, a mesma que ficara com o seu cheiro por toda aquela semana. As minhas roupas em Annabeth eram tão largas que não realçavam nenhuma de suas curvas. Ela levantou o olhar para mim e vi suas bochechas corarem. Seu rosto estava encoberto pelos cabelos loiros molhados e bagunçados, os quais ela afastou impacientemente com uma das mãos, já que na outra ela segurava o vestido completamente encharcado.

Não importava como ou quando, Annabeth conseguia ficar linda de qualquer jeito. Ela me olhava com um misto de indecisão e irritação, tentou andar, mas se desequilibrou momentaneamente nos saltos, sendo obrigada a segurar na porta para não cair.

Eu ri alto e andei até ela.

– Aqui. – Tirei os meus chinelos. – Só para completar o visual. – Continuei a rir.

Ela enrugou o nariz, mas aceitou mesmo assim, tirando as sandálias e calçando-os. Ela levantou seus olhos tempestade para mim, e eu tive a impressão de estar rodando em um tornado no meio de uma tempestade. Meus lábios ainda formigavam com o nosso beijo na piscina. A melhor festa que alguém poderia pedir. Involuntariamente, sorri.

– Do que você esta rindo babaca? – Ela falou com um dedo em meu peito. Meu sorriso se alargou.

– Nada... – Peguei a mão dela em meu peito e coloquei-a em meu pescoço. – Só o fato... – Puxei a outra que pendia no lado de seu corpo e fiz o mesmo. As bochechas de Annabeth estavam rosadas. – De que você fica uma graça... – Coloquei minhas mãos em sua fina cintura. – Com as minhas roupas... – Puxei-a para perto, colando nossos corpos e ouvindo um suspiro.

– Sabe que isso é tudo culpa sua não é? – Ela falou com a cabeça inclinada e encarando meus olhos verdes.

– Eu tenho uma noção... – Disse sorrindo, antes de abaixar a cabeça e tocar nossos lábios, sentindo assim a macies que eram os de Annabeth. Um choque passou por todo o meu corpo, deixando-me levemente tonto. A mesma sensação de ter o meu cérebro sendo derretido voltou, como na piscina. Separei nossos lábios, ainda de olhos fechados e deixei aquela deliciosa sensação de tontura me abandonar aos poucos. Quando os abri, vi Annabeth da mesma forma, com os lábios levemente entreabertos. Ela abriu os olhos e encostou nossos narizes.

– Vou levar a maior bronca hoje... – Ela sussurrou. – A segunda na semana e também por culpa sua.

– Vai dizer que não valeu a pena...

Ela assentiu relutante e fazendo um bico. Eu sorri e apertei-a mais contra meu corpo. Ela soltou uma risada fina e gostosa, e sorrindo, cobriu meus lábios novamente, aprofundando novamente nosso beijo e me deixando tonto o suficiente para me sentir perdido.

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Acordei no dia seguinte com um peso morto em cima de mim. Abri os olhos lentamente e vi o monstro de sete anos que era meu meio irmão Tyson sobre mim.

– Acorda Percy!

Eu resmunguei e rolei na cama, me livrando dele, porém, o mesmo continuou e pular na cama e repetindo a mesmas palavras. Por fim, me dei por vencido e tirei a cabeça debaixo dos lençóis.

– Ok ok... – Bocejei. – O que esta fazendo aqui?

– Decidimos fazer uma visita. – A voz de meu pai veio da porta aberta. Virei o rosto para ele e revirei os olhos. Posseidon tinha os mesmos olhos verdes que o meu e sustentava um olhar infantil, até mesmo divertido.

– Tinham que fazer isso em pleno sábado de manha? – Resmunguei.

– Mais educação Percy. – Minha mãe apareceu ao lado de meu pai na soleira da porta.

Olhei novamente para Tyson.

– Eu sou educado... – E joguei minha coberta sobre a cabeça do meu irmão mais novo, prendendo-o no colchão e fazendo-o gargalhar. Eu sorri e me levantei, soltando-o.

Minha mãe cruzou os braços e apontou com o queixo para a criança que se remexia entre os lençóis e as cobertas de lã.

– Ele vai ficar conosco.

– Hoje?

Meu pai balançou a cabeça.

– Pela semana... vou ter que viajar para Long Island a negócios e Sally concordou em tomar conta dele, afinal, vocês sempre se deram bem.

Senti um travesseiro sem arremessado contra minhas costas e sorri.

– É, acho que não será problema. – Abaixei, pequei o mesmo travesseiro e joguei para Tyson, o qual pegou assim que bateu em sua barriga e caiu de costas na cama, rindo. Voltei minha atenção novamente para meus pais. – Mas... e os treinos?

– Não se preocupe... – Meu pai balançou a cabeça. – Voltarei logo e poderemos retornar os treinos individuais. – Eu assenti. – Mas vou ter que confiar em você para treinar o time nesse tempo em que eu estiver fora. – Assenti novamente, isso não seria problema.

Minha mãe alternou o olhar entre nós.

– Bom... mas por enquanto, vamos só tomar café ok?

Eu assenti, abrindo um pequeno sorriso quando minha mãe saiu em direção à cozinha.

– Ah, mais uma coisa. – Meu pai falou quando Tyson pulou da cama e foi correndo porta afora, atrás de minha mãe, sem nem colocar os sapatos. – Hoje a noite terá jantar em família, para resolver algumas coisas. – Suspirei pesadamente. Esses jantares eram sempre uma droga. – Você vai ter que ir... o que não é novidade. – Eu assenti lentamente. – E não faça essa cara, será divertido... – Eu levantei uma sobrancelha e meu pai ponderou. – Ou quase... – E saiu andando.

Fiquei parado de frente a por e pensei por um momento... talvez tivesse uma forma de deixar esse jantar um pouco melhor.

Coloquei a cabeça para fora do quarto.

– Hey pai. – Ele se virou para mim. – Posso levar uma pessoa...?

Meu pai sorriu e deu de ombros.

– Por mim tudo bem... – Eu sorri. – Passo aqui às 20h para te pegar e irmos até a casa de Hades.

Ele se virou e foi até a escada, andando de vagar.

– Pai, casa do tio Hades? – Falei, estranhando. Esses jantares eram sempre na casa de Zeus. Ele se virou novamente com a mão no corrimão e deu de ombros.

– Eu também não sei... Hades não deu detalhes, mas parece que algo aconteceu com Nico e ele não quer que ele saia de casa.

Eu franzi a testa.

– Ok... – Entrei novamente no quarto e gritei um obrigado.

Andei até a minha cama e me joguei nela, fazendo as molas rangerem. Peguei meu celular e liguei para o meu único contato sem foto. Eu mantinha um sorriso ridículo no rosto.

O telefone chamou por um longo tempo, até eu ouvir um resmungo manhoso e uma voz mole pelo sono do outro lado da linha.

– Alô...?

– Bom dia... – Eu falava enquanto me derretia pela sua voz.

– Percy? – Eu esperei. – Sabe que horas são Cabeça de Algas?

– Cedo. Já estava na hora de você acordar. – Eu virei na cama, deitando de costas.

– Idiota... – Ela resmungou, mas eu sabia que ela sorria.

– Você gosta... – Ouvi um suspiro irritado, porém, ela não desmentiu, fazendo meu sorriso se alargar ainda mais. – Escuta, vai fazer alguma coisa hoje à noite?

Ela pareceu pensar.

– Hoje não... por que? O que esta planejando?

– Então – Suspirei. – você não gostaria de ter o mais chato, mais dramático e desconfortável jantar de toda a sua vida hoje? Com o direito de conhecer toda a minha família e passar longas horas ouvindo pessoas reclamarem?

Ouvi sua risada do outro lado.

– Não tem como resistir a isso...

Eu sorri.

– E a melhor parte é passar a noite toda comigo.

– Nossa, estragou o programa... estava tão bom antes...

– Muito engraçado idiota.

Ela riu alto.

– Tudo bem então, eu faço esse sacrifício. Que horas?

– Passo aí lá pelas 20h...

Ouvi sua respiração.

– Estarei pronta Cabeça de Algas.

Eu sorri ouvindo meu apelido.

– Até lá então... – E desliguei, me sentindo o cara mais idiota e mais feliz de todo o mundo.

Ouvi minha mãe chamar do andar de baixo e levantei. Nada melhor do que Wafflers azuis para acalmar meus ânimos.