The Son of Fear escrita por Leila Edna Mattza


Capítulo 3
I'm a monster


Notas iniciais do capítulo

Cara, eu acho que a fanfic tem futuro, hein? Indo melhor do que eu pensei. Obrigada. Mas a exigência de reviews vai aumentar, hein?
Boa leitura.



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PERCY

Depois de voltar à Academia Yancy para buscar meus pertences, peguei o ônibus para ir para casa. Não é como se eu estivesse ansioso, mas Quíron conseguiu me convencer. Aliás, pelo menos eu não teria de terminar o semestre de aula.

Grover me acompanhou, mas, assim que chegamos ao terminal rodoviário, eu o descartei. Eu sei, foi rude, mas se bem que é o tipo de coisa que eu faria. E Grover estava me levando à loucura, me olhando nervosamente como se eu fosse um homem morto e murmurando coisas sem sentido.

Sempre que Grover fica nervoso, sua bexiga entrava em ação, portanto não fiquei surpreso quando, assim que descemos do ônibus, ele foi direto ao banheiro. Então, eu pensei “É melhor eu ir logo me adiantando, ir para casa e arrumar uma mochila para o tal Acampamento Meio-Sangue que Quíron falou.” Então, eu peguei minha mala, saí discretamente e fui chamar um táxi.

Acabou que meu plano foi pela culatra. Demorou muito para convencer um taxista a me ajudar, já que todo mundo se matinha afastado de mim. Eu estava usando óculos escuros por meio das dúvidas, mas ainda demorou muito. Quando finalmente consegui um táxi, Grover me alcançou antes que eu sequer conseguisse entrar no carro.

Depois de me dar um grande sermão e reclamações sobre não ter esperado por ele, eu finalmente perdi a paciência e disse para ele se calar, o que, é claro, ele fez. Entramos no carro, e eu disse ao taxista:

– Centro e quatro Leste com Primeira Avenida.

Encostei a cabeça no vidro da janela e olhei para os carros passando, e suspirei.

Então, lá estava eu voltando para o inferno. Ou Hades, melhor dizendo.

Quando chegamos ao meu apartamento, disse para Grover me esperar fora. É meio mal-educado, mas eu não queria que Grover tivesse problemas com meu padrasto. Ele entendeu, e concordou em esperar, intensificando, quando falou, a afirmação de que não iria me abandonar ali. Cara, eu já pedi desculpas!

Entrei no pequeno apartamento, logo encontrando Gabe Cheiroso na sala de estar, jogando pôquer com seus cupinchas. Na televisão, o canal de esportes estava no volume máximo. Havia batatinhas e latas de cerveja espalhadas pelo tapete.

Gabe Ugliano era meu padrasto, um imbecil de marca maior. Quando mamãe se casou com ele, ele foi simpático nos primeiros 30 segundos em que o conheci, antes de mostrar quem realmente era. Quando eu era pequeno, apelidei-o de Gabe Cheiroso, porque ele fedia a pizza de alho mofada num calção de ginástica.

Aprendi da maneira mais difícil a nunca chamá-lo assim na frente dele, mas não mudei minha opinião.

Mal erguendo os olhos, Gabe disse com um cigarro na boca:

– Então você está em casa.

– Parece que eu estou.

– Bem, então saia. – Ele disse, antes de olhar para mim. – Você tem alguma grana?

E foi isso. Nada de Bem-vindo ao lar. Bom ver você. O que fez nos últimos seis meses? Não que eu esperasse isso dele. Não que eu fosse esperar isso de qualquer um. Havia ficado totalmente sozinho depois que perdi minha mãe.

Gabe tinha engordado. Parecia uma morsa sem tromba com roupas de brechó. Tinha uns três fios de cabelo na cabeça, todos penteados por cima da careca, como se isso fosse deixá-lo bonito. Sorri. Ele era tão ridículo. Eu poderia simplesmente perder o controle e enlouquecê-lo com meus poderes loucos, mas não queria mais esse tipo de peso na minha consciência de novo, quando nem havia superado o primeiro.

Gabe era gerente do Hipermercado de Eletrônica, no Queens, mas passava a maior parte do tempo em casa. Não sei por que ainda não tinha sido demitido. Ele só fica recebendo o pagamento, gastando o dinheiro em charutos e cerveja. Sempre cerveja. Toda vez que eu estava em casa ele esperava que eu lhe fornecesse fundos para jogar. Chamava isso de nosso “segredo de homem”. Isto é, se eu contasse para a minha mãe, ele me quebrava a cara.

Bem, isso foi quando minha mãe estava aqui. Depois, ele foi forçado a usar o dinheiro para pagar as contas, a não ser que quisesse morar no olho da rua.

– Não tenho grana nenhuma. – Eu disse, cerrando os punhos.

Ele ergueu uma sobrancelha oleosa.

Gabe era capaz de farejar dinheiro como um cão de caça (que poderia ter sido mais útil do que ele), o que era surpreendente, já que seu próprio cheiro deveria encobrir qualquer outro.

– Você pegou um táxi no terminal de ônibus. – Disse ele. – Provavelmente pagou com uma nota de vinte. Recebeu seis ou sete dólares de troco. Alguém que espera viver embaixo deste teto devia ser capaz de se sustentar. Estou certo?

– Na verdade não. – Respondi. Tentei parecer casual, mas saiu como um rosnado. – Não peguei um táxi no terminal de ônibus, foi um pouco distante dele. E se bem que não planejo viver com um porco como você por muito mais tempo.

Gabe me dirigiu uma careta, e se levantou da cadeira, se aproximando de mim. Não me mexi. Quando já estava bem na minha frente, segurou meu cabelo com força e puxou para que eu olhasse em seus olhos. Fiz uma careta pela dor e por seus bafo ser ainda pior que seu cheiro normal. E também porque ele tinha arrancado a bandana vermelha da minha cabeça.

– Escuta aqui, punk. – Ele rosnou. – Esta é a minha casa. É bom você ter mais respeito.

Eu o encarei com um sorriso ousado.

– E por que eu deveria ter respeito por um...

Fui interrompido por um tapa forte no rosto, fazendo minha bochecha arder e meu sorriso sumir.

– Cala a boca, menino! – Gabe gritou. – Você não pode falar nada de mim! Você é uma aberração, ridículo pedaço de merda! Olha o que você fez com sua mãe! Cala essa boca!

Rangi os dentes. Odiava me sentir tão vulnerável. Queria simplesmente desistir do controle e deixá-lo tão desesperado que seu coração pararia. Com tanto medo que ele iria enlouquecer, eu iria tirar sua sanidade mental, como... como havia feito com a minha mãe.

Sacudi esses pensamentos para fora da minha cabeça. Eu não cometeria o mesmo erro de novo.

– Tudo bem. – Disse eu. Tirei um maço de dólares do bolso e o dei para Gabe. – Tomara que você perca.

Ele arrancou o dinheiro da minha mão e voltou para a mesa, resmungando alguma coisa sobre geninho metido.

Fui até meu quarto, que na verdade não era meu, e bati a porta. Durantes os duros meses de aula, era a “sala de estudos” de Gabe. Ele não “estudava” coisa nenhuma lá, exceto revistas de automóveis, mas adorava socar as minhas coisas no armário, largas as botas enlameadas no peitoril da janela e fazer o possível para deixar o lugar com o cheiro de sua colônia detestável, charutos e cerveja choca.

Larguei a mala em cima da cama. Inferno doce inferno.

Sentei-me na cama e me deixei perder em pensamentos. Gabe, pela primeira vez, provavelmente estava certo. Eu me odeio pelo que fiz com minha mãe. Odeio ser lembrado do que aconteceu. As pessoas não interagem comigo, mas eu sei que falam sobre mim pelas minhas costas. Odeio silenciar com corredor inteiro quando passo, e ouvir os sussurros baixos de “Eu soube que esse menino enlouqueceu a própria mãe” e “Qualquer um iria para um psiquiatra tendo um filho como ele”.

Bem, você certamente não está entendendo nada.

Minha mãe se chama Sally Jackson, e ela é a melhor pessoa do mundo. Seus pais morreram em um acidente de carro quando ela tinha cinco anos, e então foi criada por um tio que não lhe dava muita bola. Queria ser escritora, assim passou o curso de ensino médio trabalhando e economizando dinheiro para pagar uma faculdade com um bom programa de oficinas literárias. Então o tio teve câncer e ela precisou abandonar a escola no último ano para cuidar dele. Depois que ele morreu, ela ficou sem dinheiro nenhum, sem família e sem diploma.

Não sei bem se conhecer meu pai foi uma coisa boa. Quer dizer, minha mãe não costumava gostar de falar sobre ele, pois isso a deixa triste, então é provável que realmente o amasse. Nunca o conheci.

Quando eu era pequeno, minha mãe se casou com o porco Gabe. Ela vivia trabalhando para nos sustentar, me deixando nas mãos sujas de Gabe, que as usava para bater em mim. Ele sempre nos tratou mal. Ninguém pode reclamar por eu odiá-lo.

Tudo dava mais ou menos bem, até que minha “mágica” apareceu. Eu tinha pesadelos toda noite. Chorei naqueles dias, e depois nunca mais chorei. Era tanto medo e aflição que... sumiu. Puf! Medo não era nada mais do que diversão para mim. Eu achava que era normal, claro. Era apenas uma criança. O que era para mim, deveria ser para todos, não é?

Não. Não é. Medo e lágrimas eram normais, não a falta deles. Eu não era normal. Mas só fui descobrir isso ao perder minha mãe.

O pior medo de minha mãe era me perder. Na época, não me importei tanto, não era o tipo de coisa que eu entendia. Mas agora eu entendo. Ao descobrir o medo de uma pessoa, posso saber de tudo que ela já temeu, o que a levou a temer, e um pouco de sua história. Mas eu não havia entendido os medos de minha mãe até que Quíron me explicou tudo sobre deuses e semideuses. Mamãe tinha medo de me perder para um mundo que ninguém conseguia entender.

Então ela sabia o tempo todo que eu era um semideus.

Ela mentiu para mim.

Tentei tirar o rancor de minha cabeça. A culpa voltou à minha mente. Eu achava que mostrar seu medo seria divertido. Eu nunca imaginei que a deixaria tão mal. Eu nunca imaginei que a enlouqueceria. Mas o fato é que minha mãe foi internada numa clínica psiquiatra, e eu fiz isso.

A culpa é minha.

Afinal de contas, Gabe estava certo.

Eu sou um monstro.


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Notas finais do capítulo

Meio sentimental, né? Pois é, apesar do que dizem, eu posso ter sentimentos. E aí, o que acharam? Cedo demais para recomendações?
Eu ainda não terminei o próximo capítulo, mas já estou de férias e vou ter muito tempo. Dessa Vez, Eu Quero 9 Reviews.
Beijos!