The Son of Fear escrita por Leila Edna Mattza


Capítulo 4
Electric-blue eyes.


Notas iniciais do capítulo

EU GANHEI UMA RECOMENDAÇÃO! OBRIGADA, ANNAKELY! E aí, povo, que tal seguir o exemplo dela?
Boa leitura!



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PERCY

Arrumei minha mochila e saí de meu quarto, passando por Gabe e seus amigos como se não estivessem lá. Desci as escadas pensando no que faria quando visse minha mãe. Ela iria me culpar pelo que aconteceu? Ou iria me abraçar e me perdoar? Ou será que nem tinha noção o suficiente para fazer isso?

Grover e eu pegamos um táxi, e fomos à clínica em que minha mãe estava internada. Eu não estava com medo, eu estava nervoso. O que faria quando chegássemos lá? Eu queria pedir perdão à minha mãe, mas parecia tão pouco. O que eu tinha feito com ela... Ela não merecia. Ela merecia apenas o bom e o melhor.

Enquanto pensava nisso, me senti absurdamente egoísta. Quando a enlouqueci, quando vi suas lágrimas, achei que estivesse rindo. Medo me fazia rir. Por que ela não ria? Era divertido!

Talvez agora eu tivesse enlouquecido a mim mesmo.

Meus pensamentos foram interrompidos quando Grover sacudiu meu ombro. Havíamos chegado à clínica.

Minhas mãos não paravam quietas enquanto atravessávamos as portas e o saguão. Quando a recepcionista me viu, várias emoções passaram por seu rosto. Surpresa, medo, desgosto.

– No que posso ajudá-lo? – Ela falou com uma careta.

– Preciso ver a paciente Sally Jackson. – Eu disse baixinho, um pouco envergonhado. Parece que minha fama se espalhou por toda a cidade.

Ela estreitou os olhos, mas pegou uma espécie de phone e disse:

– Traga a paciente Sally Jackson para a sala de visitas, por favor. – Depois de desligar o phone, ela se virou para mim. – Segundo andar, corredor C-3.

Balancei a cabeça em agradecimento, mas a mulher só me olhou friamente. Ela olhou para meu rosto. Eu ainda estava usando óculos escuros.

Virei-me para Grover, murmurando:

– Você pode esperar aqui na recepção? Eu... tenho que fazer isso sozinho.

Ele assentiu, compreensivo.

– Boa sorte, Percy. – Ele me deu um pequeno sorriso.

Respirei fundo, e comecei a andar.

Não gosto da cor branco. E não gosto de azul também.

Não sou, sequer, do tipo que gosta de luz. Os corredores eram de azulejos brancos e azuis, e as luzes muito fortes. Não peguei o elevador. Preferi subir as escadas. Assim demorava mais.

Talvez eu estivesse mais do que nervoso. Não vejo minha mãe há dois anos. Como ela estaria? Como ela não estaria? Teria juízo para me perdoar, ou para me odiar?

Sinceramente, eu não me importava se ela iria me odiar ou me amar. Eu só queria que ela estivesse bem. Que estivesse... sã.

Parei em frente à porta da sala de visita. Contei até três, e entrei.

Engasguei ao vê-la. Seus cabelos eram castanhos com uns poucos fios cinzentos. Seus olhos eram, em geral, azuis, mas pareciam mudar de cor na luz. Neles, havia um brilho. Um brilho... saudável. São. Ela estava bem. Ela sorria para mim.

– Percy, meu menino! – Ela disse, correndo para me abraçar, quase me sufocando em seu aperto de mamãe ursa.

Eu estava um pouco atordoado, mas levou apenas um segundo para que eu envolvesse meus braços em volta dela. Escondi meu rosto em seu ombro. Ela ainda tinha o mesmo perfume.

Quando nos soltamos, eu ainda estava piscando, como se ela fosse uma alucinação.

– Mamãe. – Eu sussurrei. – Eu sinto muito...

– Está tudo bem, Percy. – Ela acariciou meu rosto com ternura. – Eu entendo. Medo é apenas diversão para você, não é?

Eu deveria ter perguntado como ela sabia, mas ainda estava muito atordoado. Ela realmente me perdoa. Ela entende. Eu estava tão aliviado que poderia ter chorado, mas eu meio que não me lembrava de como fazer isso.

Eu a levei até um pequeno sofá que havia encostado à parede azul-claro, e nos sentamos. Olhei para minhas mãos por um minuto antes de dizer:

– Mãe... Você... Você sabia que eu era um semideus, não sabia?

Seu sorriso brilhante desapareceu.

– Oh, querido. – Ela parecia envergonhada. – Eu... eu sei que deveria ter lhe contado. Mas eu...

– Estava com medo. – Eu encarei seus olhos azuis. – Sim, eu sei disso. Mas... como eu sei?

– Percy. – Ela disse num tom de advertência. – Nomes têm poder. Sei que você quer saber quem é seu pai, mas eu não posso lhe dizer. Não aqui. Você deve ir ao Acampamento Meio-Sangue. Seu pai vai reclamá-lo como seu, e depois, é o que as Parcas quiserem.

Ficamos em silêncio. Ela me abraçou e acariciou meu cabelo, como fazia quando eu tinha nove anos. Aspirei seu perfume de cookies. Lembrei-me de quando havia duvidado que um dia pudesse fazer comida vermelha, minha cor favorita, e como ela havia feito exatamente isso. Ela tirou meus óculos escuros e sorriu para meus olhos, o que jamais alguém poderia ter feito.

Sorri de volta para ela. Sentia tanta falta de minha mãe.

Ela me soltou, e só depois de um tempo pareceu notar minha mochila ao pé do sofá. Ela me olhou tristemente.

– Acho que você está indo para o Acampamento Meio-Sangue, não é?

– Quíron me contou sobre os deuses. – Eu disse. - Ele disse que eu deveria visitá-la... Estou feliz por tê-lo ouvido.

Ela sorriu, e eu perguntei:

– Mãe, você acha... Que já está boa para sair daqui? Nós poderíamos nos livrar de Gabe, e...

– Eu não sei, Percy. – Ela me interrompeu. – Há momentos em que eu estou bem, e então as imagens entram em minha mente. E... Eu tenho medo do que posso fazer num momento de descontrole.

Eu olhei para o chão, não querendo encontrar seus olhos.

– Me desculpe. – Eu sussurrei. – Isso é tudo culpa minha.

– Está tudo bem, querido. – Ela segurou meu queixou e ergueu meu rosto. – Eu não culpo você. Eu sabia que ia acontecer. Eu queria que você ficasse comigo, mas você deve ir agora. Agora que você sabe que é um semideus, os monstros vão saber onde você está. Você deve ir ao Acampamento Meio-Sangue, e treinar. Fique seguro meu filho.

Eu me levantei, e beijei sua testa. Estava confirmado. Eu era um semideus, o que quer dizer que esta poderia ser a última vez que veria minha mãe.

– Eu amo você. – Ela sussurrou. – Nunca esqueça disso.

– Eu também amo você. – Respondi. – Adeus, mamãe.

Ela sorriu.

– Adeus não, meu filho. Até breve.

Eu sorri enquanto deixava a sala de visitas, descia as escadas e encontrava Grover na recepção. Eu estava feliz como não havia estado há dois anos. Minha mãe havia me perdoado. Ela entendia. Aquele poderia ter sido o dia mais feliz da minha vida, porque eu sabia que estava tudo bem. Tudo ia ficar bem agora.

Cara, como eu estava errado.

Quando deixamos a clínica, eu e Grover pegamos outro táxi. Se Grover não estivesse disfarçado de garoto aleijado, provavelmente nunca teríamos conseguido. O motorista teve pena dele e nos levou, embora não parasse de me dirigir uma cara feia. Ah, que vontade de tirar os óculos e ver se ele iria tentar me olhar assim de novo.

Grover pediu para que ele parasse no extremo de Long Island, em frente à uma das várias placas que diziam “Colha seus próprios morangos. Se eu fosse outra pessoa, o motorista teria perguntado se era ali mesmo que queríamos descer, mas ele nos descartou lá sem pestanejar. Tirei o óculos assim que ele saiu, e Grover tirou as calças, o que poderia ter sido muito estranho se ele não tivesse pernas de bode, deixando a situação ainda mais estranha.

Havia começado a chover. Meus olhos pareciam chiar (estranho) a cada gota que conseguia passar por meus cílios. A chuva embaçava minha visão, que já não estava muito boa por causa do escuro do anoitecer.

– Precisamos subir aquela colina! – Grover gritou por cima do barulho. – É a entrada do Acampamento!

Não havia dado nem um passo quando ouvi um rugido desumano atrás de nós. Virei-me, e mesmo com o escuro e a chuva, pude ter uma quase perfeita visão do monstro.

Tinha, fácil, mais de dois metros de altura, e os braços e pernas pareciam algo saído da capa da revista Músculos, estufados como bolas de beisebol embaixo de uma pele cheia de veias. Ele não usava roupas, a não ser cuecas branquíssimas da marca Fruit of the Loom, o que teria sido engraçado se não fosse o fato de a parte superior de seu corpo ser tão simplesmente horrorosa. Pelos marrons e grossos começavam na altura do umbigo e iam ficando mais espessos à media que chegavam aos ombros. Seu pescoço era uma massa de músculos e pelos que levavam à enorme cabeça, que tinha um focinho tão comprido quanto meu braço, narinas ranhentas com um reluzente anel de bronze, olhos pretos cruéis, e chifres preto e branco com pontas que você não conseguiria fazer nem num apontador elétrico.

O Minotauro.

Grover engoliu em seco ao meu lado.

– O filho de Pasifae. – Disse. - Oh, deuses, estamos ferrados.

– Vamos logo. – Eu disse, com os olhos fixos no monstro. – Comece a subir a colina.

Ele obedeceu, mas o Minotauro também começou a subir pesadamente a colina, com o focinho voltado para cima e fungando, tentando nos farejar.

Então ele abaixou a cabeça e olhou diretamente para mim.

Tentei pensar. Como eu iria matá-lo? Eu não tinha sequer uma arma! Como...

Ei, garoto.

Olhei para os lados freneticamente, procurando quem havia falado. Mas não havia ninguém, a não ser Grover, e a voz parecia ter vindo de dentro da minha cabeça.

Quem disse que você não tinha uma arma?, perguntou a voz. Aperte o pingente de seu colar, Perseus. Use o poder do medo!

Inseguro, levei minha mão até o pingente de “caveira do medo” em meu colar e apertei.

Uma lança de um metro e meio apareceu magicamente em minha mão. Tinha um metro e meio de comprimento, puramente negra com desenhos vermelho-sangue. A ponta era de bronze, e cruelmente afiada.

Sorri lenta e maleficamente. Olhei para o Minotauro, e vi algo que me satisfez imensamente, aumentando meu sorriso.

Ele estava com medo.

Corri em sua direção, a lança erguida. Fiz um corte em seu ombro, e ele grunhiu. Tentou me agarrar com as mãos enormes, mas eu me esquivei. Ele tentou de novo, mas eu não estava mais lá. Me pus atrás dele e pulei, ficando sobre seu pescoço. O Minotauro balançou violentamente, tentando me tirar de lá, mas eu segurei firme. Infelizmente, segurei tanto em seu chifre, que quando ele deu uma grande sacudida violenta, eu fui jogado para longe, ainda segurando seu chifre.

Bati a cabeça em uma árvore e fiquei tonto, mas me recuperei rapidamente. Levantei-me, e o monstro grunhiu para mim quando me viu segurando seu chifre arrancado.

– Ei! – Balancei o chifre para ele, provocante. – Você quer isso, monte de carne moída?

Ele rugiu se lançou na minha direção. Preparei a lança. Eu acho que ele percebeu, mas seu ataque era tão furioso que ele nem conseguiu parar. Quando ele já estava perto, cravei minha lança em seu peito.

O Minotauro se retesou, olhando para o ferimento em descrença. Então começou a se debater, caindo no chão, e depois começou a se desintegrar.

Arfei. Agora que a adrenalina começava a sumir, percebi a dor em minha cabeça e levei a mão até ela. Senti uma umidade viscosa em meu cabelo, e trouxe minha mão de volta, olhando para o sangue nela. Que ótimo.

Olhei para minha lança. A chuva havia parado. Pude perceber uma palavra entalhada na madeira logo abaixo da lâmina. Timore.

– Medo. – Murmurei. Timore era medo em latim.

Desejei que a lança voltasse a ser um colar e ela sumiu, e pude sentir meu colar de volta ao meu pescoço. Sorri. Que legal.

Levantei a cabeça e olhei para Grover, que me encarava da metade da colina, de olhos arregalados. Ele piscou algumas vezes, e então desmaiou.

Eu grunhi em frustração. Pensei ter ouvido duas risadas masculinas ao longe, mas deve ter sido só a minha imaginação, ou algum deus idiota brincando comigo.

A segunda opção é a mais provável.

Peguei Grover pelo colarinho e comecei a arrastá-lo para o topo da colina. Quando já estava lá, avistei uma casa enorme com uma janela ainda acesa. Eu tinha que chegar até lá.

Grunhi novamente. A adrenalina havia sumido totalmente agora, e eu percebia o quanto estava cansado. Estava tonto pelo sangue que escorria por minha testa, embaçando minha visão. Poderia ter me deitado ali no chão e dormir, mas ainda havia Grover, esse sátiro preguiçoso.

Arrastei-me até a casa, desabando na varanda de madeira, e olhando para o ventilador de teto que girava acima de mim. A porta se abriu, e três pessoas saíram, um homem e duas garotas.

– Percy. – Ouvi a voz de Quíron. – Está tudo bem agora. Annabeth, Thalia, tragam-no para dentro.

A última coisa que vi, foi um par de olhos azul-elétricos.

E então, tudo ficou preto.


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Notas finais do capítulo

Que vocês acharam? Tá legal? Cedo demais para recomendações? A Annakely recomendou. Sigam o exemplo dela! E me digam o que vocês acham.
Beijos!