Sob o Brilho da Lua escrita por Bia Kishi


Capítulo 3
Capítulo 3 - Mais que Amigos


Notas iniciais do capítulo

Ele puxou meu corpo em um único golpe, trazendo para si. Eu sentia como se fosse desmaiar. Cheirou meu cabelo, com os olhos fechados, inspirando lentamente o ar. E pronunciou uma frase que na minha opinião, Shakspeare nunca havia pensado:
— Pense o que quiser, você sempre será minha. Eu a vi primeiro.



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Stefan sorriu para mim. Levantando meu rosto com as mãos. Seus olhos eram incisivos, apesar de doces.

-          Está brincando comigo, não é?

-          Na verdade, não – Eu lhe disse, tentando livrar o rosto de suas mãos quentes.

-          Como pode ser, anjos não existem.

-          Bem, partindo do principio de que vampiros também não. Acho que existem muitas coisas não reveladas.

Os olhos de Stefan passaram do castanho-esverdeado ao negro em segundos. Ele não conseguia entender como eu podia saber de seu segredo.

-          Impossível! Você é... é... só uma garota. Maluca, devo admitir, mas só uma garota.

-          E você Stefan, não é só um garoto? Ainda assim, não pode mudar o que é de verdade.

-          Mas isso aqui – ele colocou as mãos no próprio rosto, deslizando até o peito – é só um disfarce. Não é quem eu sou de verdade, você nem imagina o que eu sou de verdade.

-          Engano seu. Em primeiro lugar, isto aqui – levei minha mão com suavidade à pele de seu rosto, acariciando sua face – é você de verdade. Aquilo de que não gosta, não é o que tem você tem no coração. Em segundo lugar, quem disse que eu não estou disfarçada?

Um sorriso brotou, timidamente, no canto do rosto de Stefan. Ele havia relaxado um pouco e seus braços estava mais soltos. Ele cruzou os braços sobre o peito, agachando no galho do carvalho.

-          Se é mesmo um anjo, tem que ter asas. Onde estão suas asas?

Eu retorci meu rosto, lançando um olhar de desdém a ele.

-          Nada criativa sua pergunta. Mesmo assim vou responder. Eu sou, digamos que um “meio-anjo”, e sim, eu tenho asas. Elas estão disfarçadas.

-          Duvido!

-          Garoto não duvide de mim, você nem imagina do que eu sou capaz!

-          Então, eu duvido novamente.

-          Stefan, não vai mesmo querer um anjo no jardim da sua casa, não é?

-          Bem, pensando por este lado, melhor entrarmos. Acho que meu quarto é grande o suficiente.

Stefan deu um salto, passando rapidamente pela janela aberta. Sentou-se na cama, encostado no travesseiro.

-          O que foi, está com medo?

-          Não é isto – Eu estava sem graça de dizer o motivo real, apesar de Stefan ser quem melhor compreenderia – eu não posso.

-          Não pode entrar?

-          Não.

-          Não acredito. Precisa mesmo que eu a convide?

-           Preciso. Assim como você, só posso entrar se for convidada.

-          Puxa, isto sim é inédito. Tudo bem então, lá vai. Gostaria de entrar em meus aposentos, senhorita Ayllin?

Eu pulei para dentro do quarto, parando em frente à cama. Segurei a ponta da blusa e flexionei o joelho, fazendo uma reverência.

-          Muito obrigado, senhor Stefan Salvatore. O senhor é muito gentil.

-          Agora que está aqui, vamos ao que interessa. Onde estão?

-          Ok, mas devo avisar que é meio estranho.

-          Eu posso agüentar.

Levantei os braços, deixando minha aparência humana de desfazer. Meu cabelo foi ficando mais comprido e brilhante. Os olhos mais claros. E minha pele, marcou-se novamente com os arabescos cintilantes – Stefan estava imóvel, não era possível ouvir nem ao menos um suspiro – as roupas se foram, dando lugar a um vestido de um ombro só, de tecido fluido e quase transparente.

            Eu sorri – ainda falta o “gran finale”. Liberei cuidadosamente minhas asas, as plumas brancas criaram uma brisa suave pelo quarto.

            Stefan se moveu lentamente, andando até mim.

-          È mesmo verdade!

-          Eu disse.

-          Você é tão... tão...

-          Estranha? Eu disse, tentando melhorar a cara de espanto dele. Eu geralmente odiava ser o centro das atenções.

-          Linda! Eu ia dizer linda.

Senti meu rosto corar – pior que ser o centro das atenções, era ser elogiada.

-          Agora que já viu, posso voltar a ser normal?

Stefan demorou a responder, seus olhos estavam fixos em mim. Era como se eu o tivesse hipnotizado. Depois de alguns minutos – que pareceram séculos para mim – ele respondeu.

-          Claro.

Voltei o mais rápido possível, a minha forma humana. Era desconfortável não bater as asas e bate-las dentro de um quarto, era ainda mais desconfortável – na última tentativa frustrada, eu havia contundido a asa esquerda e fiquei imobilizada por quase três dias.

            Sentei-me na cama, ao lado de Stefan. Eu sabia que ele teria muitas perguntas e queria responder logo todas.

-          Bem, pode começar.

-          Começar com o que?

-          As perguntas. Deve ter uma dúzia delas.

-          Na verdade, tenho mesmo.

-          Então pergunte. Aproveite, não é sempre que as criaturas celestiais estão com bom humor – eu lhe disse, dando um soquinho com o ombro no dele.

-          É mesmo? Engraçado, achei que os anjos sempre estivessem de bom humor.

-          Aí é que está, como eu disse, eu sou um meio-anjo.

-          Porque veio, Ayllin? O rosto de Stefan era sério.

-          Porque você me chamou.

Ele parecia não compreender; olhava em minha direção sem realmente me ver. Achei melhor explicar mais claramente a situação.

-          Stefan, você nunca aceitou sua condição, sempre tentou ser algo melhor. Seu coração é puro e por isso, eu estou aqui. Sou algo como, sua advogada.

-          Minha advogada? Eu nem sabia que estava sendo julgado.

-          Não é bem um julgamento. É mais algo como, uma nova chance.

-          Chance?

-          Sim. Uma nova chance de ter sua vida de volta.

-          Isso é impossível, eu não posso mudar o que sou.

Stefan abaixou a cabeça, cobrindo o rosto com as mãos. Ele sofria tanto. Eu me aproximei dele, mais, e coloquei minha mão sobre a sua. Embora ele fosse quente, sua pele era agradável. Eu gostava de tocá-lo.

-          Você não, mas eu posso. Eu disse.

Seus olhos se voltaram para mim. Eu podia ver através deles uma faísca de esperança, embora Stefan tentasse esconder.

-          E você vai ficar aqui na terra?

-          Por enquanto sim. Eu preciso, não consigo evitar. No momento em que fui destinada a protegê-lo, formou-se um elo entre nós.

Stefan sorriu. Seus lindos olhos estavam esverdeados novamente. Seu sorriso iluminava todo o quarto

-          E vai ficar morando na árvore?

-          Como eu disse, não posso ficar longe de você.

-          Então fique aqui dentro, em casa, conosco. Tenho certeza de que Zach adoraria.

-          Acho que seu irmão é que não gostaria muito.

-          Mais uma razão para você ficar.

-          Pensando por este lado, acho que seria uma ótima idéia.

-          Então, estamos combinados. Você fica conosco.

-          Ótimo, eu estava mesmo ficando com dor nas costas.

-          Bem se vai ficar conosco, precisamos encontrar uma razão. Que tal se dizer que você é minha prima?

-          É uma boa idéia. Mas e Damon?

-          Damon nem mora aqui, ele não precisa saber.

Antes que eu pudesse responder, senti o cheiro enjoado de Damon.

-          Seu irmão está aqui.

Damon entrou no quarto como se o mundo lhe pertencesse. Com aquele ar de superioridade estampado na cara de pau. Ele provavelmente se sentia a encarnação de James Jean, com sua jaqueta de couro preta e o cabelo caindo no rosto. Eu tentei me segurar o máximo possível para não voar em seu pescoço.

-          Então, temos uma hóspede. Disse ele.

-          O que faz aqui, Damon? Perguntou Stefan, colocando-se entre mim e Damon – acho que querendo me proteger.

-          Que insulto irmãozinho! É a casa de nossa família.

Ele encostou-se na escrivaninha e cruzou os braços.

-          Um anjo! Quem diria.

-          Você estava ouvindo nossa conversa? Seu... seu – por mais que eu procurasse palavras, meu repertório de palavrões eram pouco para Damon.

-          Sabe como é, vampiros escutam muito bem.

Eu devia estar vermelha como um pimentão, porque Stefan colocou as mãos em meus ombros, tentando acalmar-me.

-          Faça como eu e ignore Damon. É a melhor saída.

Eu respirei fundo e lancei um olhar sem emoção para Damon. Stefan tinha razão – o que aquele garoto sem graça poderia fazer para mim? Provavelmente me tirar do sério, mas tudo bem. Eu estava acostumada a lidar com coisas do tipo dele. Além disso, veríamos quem incomodaria mais.

Acho que Stefan entendeu meu olhar. Chegou com a boca perto do meu ouvido – fazendo os pelinhos da minha nuca se arrepiarem com o ar quente – e disse:

-          Pelo menos é mais confortável que a árvore, e você pode ter uma vida normal.

-          Vida normal? Impossível!

-          Tudo bem. Então você pode ter uma não-vida normal.

-          Assim é melhor.

-          Venha, vamos contar as novidades para Zach.

Nós descemos as escadas, ignorando a presença de Damon, e encontramos o sobrinho-neto de Stefan na cozinha. Stefan disse-lhe apenas que eu ficaria um tempo com eles e que não precisaria se preocupar com Damon enquanto eu estivesse por lá. Zach pareceu se animar com a idéia de não ter que se preocupar com Damon, por algum tempo.

Esse garoto tinha mesmo o dom, todos que o conheciam, o odiavam. Com exceção de Caroline – a loura fatal.

Stefan mostrou-me um dos quartos que estava vago. Era um pouco menor que o dele, mas muito bonito e bem iluminado. Uma grande janela de madeira escura, abria-se para a floresta atrás do casarão. A vista era calma e agradável.

Aproveitei-me do fato de ter onde me arrumar e tomar banho, e o fiz calmamente.

 Eu ainda não tinha muitas roupas, e as que tinha, estavam no banco do carro – que eu havia escondido no estacionamento do hotel – então Stefan gentilmente me emprestou uma camiseta, para que eu pudesse enfim tirar a roupa que usava desde a noite anterior.

Tomei um delicioso banho quente e deitei na cama de casal. Alua brilhava intensamente no céu, sem nenhuma estrela. Minha noite favorita.

Stefan bateu delicadamente na porta.

-          Posso entrar?

-          Claro.

-          Vim dizer que vou ver Elena. Acha que ficará bem?

-          Acho que posso agüentar.

Ele se aproximou de mim e beijou minha testa.

-          Se precisar de alguma coisa, grite. Eu prometo que escutarei.

-          Ok!

Quando ele já estava na porta, eu o chamei.

-          Stefan?

Stefan voltou seu lindo rosto para mim e sorriu.

-          Pode me fazer um favor?

-          Claro, é só pedir.

-          Você poderia buscar o meu carro?

-          Você tem um carro? Achei que os anjos voassem por aí.

-          Engraçadinho! Eu tenho um carro sim. Ele está estacionado em frente ao hotel, no centro.

-          Ok.

Eu joguei as chaves e Stefan pegou-as no ar.

Naquela noite, devo ter adormecido rapidamente, porque não me lembro de nada além do despertador tocando insistente.

Acordei assustada – eu havia sonhado com Damon – e um sonho nem um pouco angelical – levantei da cama, quase tropeçando no tapete de pele de ovelha que ficava ao lado da cama. Andei até o banheiro, esfregando o rosto de sono – efeitos de três noites, dormindo em cima de uma árvore – meus cabelos estavam embaraçados e mais parecia uma peruca de hallowen. Por sorte, o banheiro era só meu.

Quando cheguei á porta, soltei um grito e saí correndo – devo ter sido rápida, porque em menos de meio segundo estava no quarto de Stefan.

-          O que foi, aconteceu alguma coisa?

-          Tem um homem nu no meu chuveiro.

Stefan levantou-se, meio atordoado e só de calça de moleton, e foi comigo até o quarto.

Quando entramos, Damon – sempre ele – estava penteando o cabelo, com a toalha enrolada na cintura.

-          O que foi? Porque estão me olhando assim? Eu disse que morava aqui.

-          Damon, não seja ridículo, você não mora aqui. Você nem mora, em algum lugar! Disse Stefan irritado.

-          Bem, agora eu moro.

-          E tem que ser neste quarto? Você a assustou.

Eu estava atrás de Stefan, me protegendo em suas costas – a própria cena da “donzela em apuros”.

-          Em primeiro lugar, eu só vim até aqui, porque o banheiro do andar de cima está sem água quente. Em segundo lugar, ela se assustou por que é boba, afinal, não é primeira vez que ela me vê sem roupa.

Stefan olhou para mim sem entender nada. Eu não sabia o que dizer e sentia o sangue se acumular em minhas bochechas.

-          Longa história – eu disse, tentando mudar de assunto.

-          Venha, pode usar o meu banheiro. Damon é um idiota!

Saí do quarto feliz por Stefan ter me defendido.

Enquanto nos preparávamos para a escola, ficamos conversando. Stefan pegou a mala com minhas roupas e colocou sobre a cama. Eu estava feliz por, enfim, poder escolher uma roupa diferente.

-          Ah Stefan que bom que pegou para mim.

-          Pois é. Você só se esqueceu de me dizer que os anjos tinham carros de luxo.

-          Bobo!

Eu havia decidido usar um vestidinho de alças, já que o calor não me dava trégua. Ele era florido e tinha a saia rodada, as pequenas guirlandas de flores arroxeadas, deixavam minha pele ainda mais branca. Penteei os cabelos e arrumei tudo em um coque – assim quem sabe, eu sentiria menos calor.

-          Está parecendo mesmo um anjo.

-          E isso significa que estou bonita?

Stefan se aproximou de mim, segurou minha mão e a beijou como um cavalheiro.

-          Isto significa que você é linda, senhorita Salvatore.

-          Puxa, ganhei um sobrenome?

-          Se é minha prima, tem que ter meu sobrenome.

-          Acho fantástico! Eu nunca tive nenhum.

Stefan me abraçou e descemos as escadas. Deixei que ele dirigisse meu carro, até a escola.

Quando nos viu juntos, Caroline arregalou os olhos para Stefan. Eu nem precisava ler mentes para saber o que ela estava pensando. Eu estava tão certa que mal coloquei meu pé para fora do carro, e Elena apareceu.

Stefan desceu e a cumprimentou com um beijo.

-          Elena, acho que não conhece minha prima.

-          Na verdade, ela conhece sim. Eu interrompi.

-          Sim, eu a conheci no vestiário. Só não sabia que era sua prima.

-          Desculpe-me Elena, eu estava tão atordoada ontem, que esqueci de dizer. Vou ficar um tempo com os Salvatore, problemas familiares.

-           Ah claro! Eu entendo perfeitamente.

Elena era uma menina doce e mesmo que tivesse algum receio a meu respeito, comportou-se muito bem; Stefan ajudou, não dando motivo para nenhuma desconfiança.

Naquela manhã, a aula foi menos insuportável. Acho que porque ficamos tagarelando o tempo todo. Eu, Elena e Bonnie. No segundo período, teríamos uma aula de teatro. Um projeto para a festa da primavera, encenar Romeu e Julieta – eu odiava representar, diga-se de passagem.

Nosso professor de teatro sorteou os papéis. Eu, infelizmente, peguei o de Julieta – para completo desespero de Caroline – e Matt, o de Romeu.

O que me consolava em ser Julieta, é que meu par era Matt, e existia uma certa afinidade entre nós.

Elena seria a mãe de Matt, Stefan seria meu primo e Bonnie, minha criada.

Eu conhecia bem a peça, Shakspeare era um de meus autores favoritos, mas será que não poderia ser outra peça? Romeu e Julieta era tão “século passado”. Alguém ainda creditava neste tipo de amor?

            O mais difícil de tudo foi tentar colocar na cabeça de meninos como Tyler e Matt, o que era cavalheirismo. O único que havia conseguido vestir bem o papel, era Stefan. Ele parecia o próprio primo de Julieta – claro que para ele era fácil, ele havia mesmo vivido aquela época.

            Voltamos da escola rindo. Deixei Stefan e Elena na casa dela e segui para a antiga pensão.

            Entrei em meu quarto e abri todas as janelas – aquele bendito cheiro enjoado, ainda estava lá.

            Sentei na janela aberta e fiquei olhando a floresta. Antes que eu pudesse me mover para longe, Damon apareceu, sentando-se bem ao meu lado – o calor era quase insuportável e uma gotinha de suor brotou em minha testa.

-          Quer fazer o favor de ficar longe de mim?

-          Não!

-          Como assim, não?

-          Você me perguntou se eu quero ficar longe de você, e eu disse que não. Eu não quero. Eu gosto de vê-la sem jeito e, além disso, você tem um cheiro adorável.

-          Pena que não posso dizer o mesmo.

Damon segurou meu rosto em suas mãos, a boca a milímetros da minha. Eu podia sentir a respiração dele, podia até ouvir o pulsar do sangue em suas têmporas.

-          Tem certeza?

Eu queria gritar, queria tirar as mãos dele de cima de mim. O que ele estava pensando? Eu não devia gostar desta aproximação sem propósito. Eu não devia, mas também não conseguia dizer que não. Engoli em seco e respirei fundo, pulando para dentro do quarto e para longe de Damon.

-          Ficou maluco, garoto?

Damon sorriu sedutoramente, seu sorriso mais intenso. Os olhos verdes eram como um oceano profundo.

-          Eu sou paciente. Afinal, eu tenho a eternidade. E saiu.

Deitei na cama e só abri os olhos quando ouvi a voz de Stefan. Ele tentou disfarçar, mas quase morreu de rir quando eu contei o que havia acontecido – não que eu achasse a menor graça. Conversamos longamente, Stefan me acalmava.

Na manhã seguinte acordei um pouco mais disposta, e menos amassada. Para minha felicidade, não havia homem algum em meu banheiro e eu pude me arrumar com calma.

Era um dia quente e ensolarado. Vesti um vestido azul marinho, tomara que caia e um sapatinho de boneca. Prendi os cabelos em um rabo de cavalo bem alto e coloquei um casquinho de manga chinesa, bege, por cima.

O dia começou perfeito – nada de Damon pela casa – entramos no carro e seguimos novamente para a escola. As aulas da manhã demoraram uma eternidade, e quando eu achava que ia ser abduzida por Aliens, o sinal tocou.

Começamos o ensaio da peça, um pouco melhor – graças a Deus, aqueles garotos entenderam que naquela época, os homens eram mesmo cavalheiros.

Matt e eu teríamos a primeira cena romântica e eu não estava preocupada. Matt era gentil e provavelmente não faria nenhuma gracinha – especialmente depois de achar que Stefan era meu primo.

Antes que pudéssemos começar, escutei aquela voz rouca e sem emoção que tanto me irritava.

-          Com licença Sr. Brown, acho que não está bom. Falta emoção, paixão.

O que ele entendia de emoção? E de paixão, então? Ele nunca deixava ninguém vivo por tempo suficiente para se apaixonar. Para o meu completo descontentamento, o professor concordou.

-          Tem razão Sr Salvatore – Damon olhou dentro dos meus olhos e sorriu – o que acha que devemos fazer?

-          Se quiser, eu posso demonstrar como deve ser feito.

-          Seria ótimo.

Eu tentei me esconder, não podia nem pensar na hipótese, mas o professor Brown me achou.

-          Senhorita Salvatore, tenho certeza de que não se importa de encenar com seu primo?

-          Tem? Eu respondi, sentindo o cutucão de Stefan em minhas costelas – infelizmente eu não podia fazer nada.

Subi no bendito palco com cara de poucos amigos. Os olhos de Damon faiscavam pela vitória. Ele estendeu a mão para mim e eu segurei.

-          Acho que deveria tirar este casaquinho, querida.

-          Acho que eu não deveria não, querido.

-          Por favor, Ayllin?

Olhei em volta e percebi que, se eu fizesse uma cena, só traria problemas para Stefan. Soltei o ar dos pulmões com toda a força que consegui, dando uma bufada no final.

-          Tudo bem, priminho.

Faríamos a cena em que Romeu vai ao quarto de Julieta – a pior cena possível para fazer com Damon. Ele segurou minha mão e começou a recitar as falas, sem desviar os olhos de mim. Eu não conseguia desviar o olhar, seus olhos eram como correntes.

Damon tinha uma voz suave e gentil, muito diferente da que usava normalmente – se eu não o conhecesse poderia até acreditar. Ele puxou meu corpo em um único golpe, trazendo para si. Eu sentia como se fosse desmaiar. Cheirou meu cabelo, com os olhos fechados, inspirando lentamente o ar. E pronunciou uma frase que na minha opinião, Shakspeare nunca havia pensado:

-          Pense o que quiser, você sempre será minha. Eu a vi primeiro.

Embora quilo não fosse nada romântico e não tivesse nenhuma relação com Romeu e Julieta, as borboletas voltaram. Meu coração martelava descompassado.

Damon segurou-me em seus braços e levou-me até a cama – na verdade a mesa que estávamos usando como cama – e deitou-me, puxando um pouco minha cabeça para trás – eu nunca havia entendido tanto a minha mãe, como naquele momento. Ele encostou suavemente os lábios em meu pescoço e depois sobre meus lábios, quase sem tocar.

Eu nem me lembrava mais o que estava fazendo ali, mas deve ter sido uma boa apresentação, porque todos aplaudiam – todos, menos Stefan e Caroline.

Damon se levantou e deu-me a mão para que eu me levantasse. Eu sentia meu rosto queimar e queria encontrar um buraco no chão, muito, mas muito fundo mesmo.

Com seu sorrisinho besta no rosto novamente, ele saiu dizendo com ar de vitória:

-          Não foi tão ruim assim!

Não foi ruim? Claro que não, foi péssimo! Eu sentia o cheiro dele em mim. Eu provavelmente teria que queimar aquele vestido! Aliás, ele me devia um vestido channel novinho, porque aquele estava inutilizado.

Voltei para casa revoltada e birrenta. Stefan acabou nem indo ver Elena, e ficando comigo. Depois de algumas horas de conversa agradável, eu “quase” havia me esquecido da cena patética.

Parei e olhei Stefan nos olhos. Ele realmente merecia uma nova chance, merecia de volta a vida que havia sido roubada dele. Em pouco tempo, eu sentia por ele um carinho imenso. Stefan era muito mais que um amigo, ele era como um irmão.


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