Sob o Brilho da Lua escrita por Bia Kishi


Capítulo 2
Capítulo 2 - A Descoberta


Notas iniciais do capítulo

Eu ainda podia ver os olhos deles. Era como se ele estivesse vivo dentro de mim. Eu sentia seu cheiro doce e enjoativo e sentia o calor de seu hálito em meu pescoço. Não conseguia entender como aquilo acontecera. Afinal, qual era a razão de tudo isso? Quem era aquele garoto sem graça para marcar tanto os meus pensamentos?



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Fiquei deitada no galho do carvalho, olhando para o céu sem nada ver. O dia já estava quase amanhecendo. Eu ainda podia ver os olhos deles. Era como se ele estivesse vivo dentro de mim. Eu sentia seu cheiro doce e enjoativo e sentia o calor de seu hálito em meu pescoço. Não conseguia entender como aquilo acontecera. Afinal, qual era a razão de tudo isso? Quem era aquele garoto sem graça para marcar tanto os meus pensamentos? E principalmente, porque o cheiro que eu sentia me atraia tanto? Nem era um cheiro agradável! Isso era ridículo, eu estava louca, era isso, depois de tanto tempo na terra, finalmente o oxigênio havia derretido meu cérebro – se é que isto era possível.

Virei de lado e coloquei o antebraço cobrindo o rosto. Tentei me lembrar de alguma música, alguma que eu pudesse cantar e me dispersasse daquele bendito cheiro. Tudo em vão! Eu o sentia cada vez mais forte.

Já que Stefan estava em segurança, dormindo e sonhando com a doce Elena – eu sabia disso porque infelizmente (ou felizmente, depende do ponto de vista) tudo que ele sentia eu sentia também – decidi que sairia em busca do tal cheiro, quem sabe não existia uma razão lógica para que aquilo me perturbasse tanto.

Cheguei a uma pequena hospedagem. O cheiro vinha de dentro. Eu queria entrar, queria poder ver de onde aquilo vinha. Infelizmente eu não podia, pelo menos não, se ninguém me convidasse. Olhei pelas janelas, procurando alguém a quem eu pudesse persuadir. Em um dos quartos, uma garotinha olhava para fora – seria mais fácil com alguém que acreditasse em mim – Voltei a minha forma natural e deixei que ela me visse, ela sorriu. Estendi minha mão a ela, pedindo que me deixasse entrar. Ela atendeu. Eu lhe agradeci com um beijinho na testa e saí.

Andei pelos corredores, procurando o cheiro perturbador. Quando entrei em um dos quartos, onde o cheiro era mais forte, senti meu rosto corar de ódio – bom eu achava que era ódio, afinal era um sentimento estranho e dolorido, bem na boca do estômago – Damon estava lá, seminu, deitado sobre a garota. Ela parecia gostar de situação e aquilo me irritava ainda mais – garota burra! Será que ela conseguia ver o que ele era? Tudo bem, a garota não era burra, e ela realmente não sabia o que ele era.

Senti minha respiração acelerar, eu quase não conseguia me controlar. Sentia tanta raiva que não consegui manter minha forma natural e acabei permitindo que ele me visse. Eu parei na frente dele, enquanto ele a beijava no pescoço e bati palmas, aplaudindo a cena.

- Parabéns, você se superou! É tão, tão Patético, que chega a dar pena.

Damon arregalou os olhos para mim, parando instantaneamente de beijar a garota – felizmente ela parecia não me ver, aquela altura dos acontecimentos eu não sabia mais o que estava controlando.

- O que está fazendo aqui? Gritou Damon, deixando a garota assustada. Ela tentou responder, mas ele não lhe deu atenção, olhando para o vazio em que eu estava.

- Como eu disse, vim apreciar o seu showzinho.

- O que é você afinal, como consegue estar aqui?

Eu estava mais segura agora, me controlava mais. Percebi que a fronha do travesseiro da garota estava suja de sangue.

- Seja um pouco menos idiota e deixe a garota ir, você já se divertiu bastante com ela.

            Damon se levantou, deixando o lençol cair. Eu cobri meu rosto com a mão. Ele estava completamente nu.

            - E... e... vista alguma coisa. Seu imoral!

            A garota saiu correndo assustada, provavelmente achou que Damon era louco. Eu aproveitei a deixa, e corri também. Estava perturbada e meu coração parecia que ia sair pela boca. Além disso, podia sentir novamente as tais “borboletas” – sentia como se tivesse engolido uma porção delas e agora elas tentassem desesperadamente sair pela minha garganta.

            Voltei para a pensão desesperada, eu não conseguia ficar parada. E ainda por cima, Não conseguia parar de pensar no monstro. Até que ele era bonito – não, eu não estava em meu juízo perfeito. Não podia estar – sacudi a cabeça, tentando afastar o pensamento ridículo da cabeça. Ele era um monstro e todo o resto só podia significar que eu estava sendo envenenada, lentamente, envenenada – com certeza aquelas margaridas no jardim de Bonnie estavam envenenadas. Acalmei minha respiração. Certamente pensar em margaridas envenenadas fazia mais sentido que imaginar que aquele ser desprezível era bonito.

Naquela manhã, decidi que iria a escola como humana. Uma hora ou outra eu teria que enfrentar esta nova vida. Como ainda não tinha onde me arrumar decidi ficar com a roupa da noite anterior mesmo, coloquei apenas uma jaqueta de couro por cima da blusinha verde – não que eu estivesse com frio, ao contrário, o sol da manhã já faziam brotar pequenas gotas de suor pegajoso em minha testa,  mas pelo menos não correria o risco de ninguém além de Matt me reconhecer.

Enquanto Stefan se vestia senti aquele arrepio quente em minha espinha novamente. Damon estava próximo. O sangue subiu em meu rosto, deixando minhas bochechas quentes e meu coração acelerou. Será que isso não passaria nunca?

 Damon estava perturbado – parecia ainda pior do que eu estava uns minutos atrás – ele tentou conversar com Stefan, mas como sempre as conversas entre eles terminavam em brigas. Desta vez não foi diferente. Stefan desceu as escadas correndo, e caminhou até a escola.

Eu odiava andar a pé quando estava em minha forma humana, os humanos eram lentos e aquilo tirava o pouco de paciência que eu tinha. Eu precisava de um carro, e um bonito e com ar condicionado – Sim, eu sabia que isso era ostentação e blá, blá, blá, mas qual era a vantagem de poder ter tudo que eu queria, se eu tivesse que ser modesta?

Quando eu estava em Praga, vi um carro na vitrine de uma loja. Um lançamento da BMW, eu queria aquele. Decidi que depois da aula, eu providenciaria um carro.

Andei – contra a vontade – até a escola e me dirigi à secretaria. A secretária foi simpática, era uma boa pessoa e não foi difícil fazê-la me aceitar como aluna.

Entrei na sala de aula e me sentei. Quando passei por Stefan, ele virou os olhos para mim, era como se nos comunicássemos mesmo sem querer. Matt também me olhou, e sorriu. Achei melhor me sentar ao lado dele e evitar o contato exagerado com Stefan, se ele descobrisse antes de eu me preparar, seria um desastre.

A aula pareceu durar uma eternidade – e olha que para mim, o termo “eternidade” era longo mesmo – quando o sinal da última aula tocou, eu quase explodi de felicidade.

Antes que eu conseguisse passar pela porta, Stefan me alcançou. Seus olhos eram óbvios – ele percebera algo diferente em mim – tentei disfarçar, mas acho que ele percebeu.

- É nova por aqui?

- Bem, sou.

            Ele me olhava tentando encontrar algo errado. Eu sorri, mostrando a ele que não havia o que temer. Stefan desviou os olhos e eu aproveitei para fugir. Quando me virei, Damon apareceu - eu tinha a sensação de que alguém estava fazendo piada de mau gosto com a minha vida. Bom com a minha não-vida, melhor dizendo. A questão era, que para onde quer que eu fosse, aquele bafo quente estava em meu pescoço!

            - Você aqui, não é possível? – ele levou a mão à testa, incrédulo – Quem é você afinal? Porque está me perseguindo?

            Stefan olhou assustado para a cena – Damon com os olhos arregalados, olhando para mim, com cara de bobo. Parecia estar vendo um fantasma. E eu igualmente perturbada.

            - O quê você está fazendo aqui, Damon? Perguntou Stefan, mais perturbado pela presença de Damon, do que pela minha.

            Damon suavizou o olhar – era claro o quando perturbar o irmão, o fazia feliz – ele sorriu de canto de boca, com seu olhar ridiculamente sedutor e respondeu:

            - Sou voluntário, irmãozinho. Achou mesmo que ficaria longe de você e sua doce Elena?

            Stefan franziu a testa. Era possível ver o ódio em seu olhar. Aproveitei-me de seu acesso de fúria e saí, praticamente correndo porta afora e esbarrando novamente em Matt.

            - Desculpe novamente, eu me sinto uma imbecil.

            - Não se sinta. Vamos combinar o seguinte: pode tropeçar em mim sempre que quiser!

            - Ok, então. Estamos combinados!

            Matt estendeu a mão para mim, eu segurei. Eu estava feliz em vê-lo, estar com ele era bom, ele me acalmava e melhorava o calor que eu sentia na presença de Damon.

            - Nos vemos amanhã? Perguntou Matt, olhando-me com seus lindos olhos azuis.

            - É claro, afinal em quem eu iria tropeçar?

            Matt sorriu para mim, enquanto entrava no mustang azul. Eu segui pela rua, desaparecendo assim que não haviam humanos por perto.

            Fora da cidade, encontrei uma concessionária com o modelo que eu queria. Entrei e usei meu “poder especial” para conseguir o carro. Ele era tão lindo, todo prateado e reluzente. Era confortável e suficientemente frio, ou seja, ideal!

            Voltei a Fell Church dirigindo – nem me lembrava mais das sensações desagradáveis que eu sentira na escola – estava tão feliz e satisfeita com minha nova aquisição que decidi dar uma passada no treino do time de futebol. As garotas estariam treinando para a torcida e eu sempre quis participar – este sem duvida seria um bom momento para me enturmar.

            Estacionei meu carro novo e desci. A garota que eu vira com Damon era a líder – um pouco prepotente, por sinal.

            - Oi, sou Ayllin. Eu gostaria de participar, sou nova na escola e talvez me ajude a me enturmar.

            A loura prepotente virou os olhos para mim com desdém – eu devia ter deixado Damon arrancar o pescoço dela. Tá, eu não devia não! Mas, eu gostaria.

            - Acha que vai conseguir aprender a coreografia? Estamos treinando á quase seis meses!

            Senti meu sangue subir novamente. Eu tinha certeza de que minhas bochechas estavam rosadas.

            - Acho sim! Eu a provoquei.

- Bem, eu estou com o humor ótimo esta tarde – minha vontade era lhe dizer: sim eu sei, você quase virou comida de vampiro esta manhã! Respirei fundo e me lembrei que eu não podia ter sentimentos ruins – Por isso vou deixá-la tentar, mas se errar, um passo que seja, está fora.

            Senti meu maxilar endurecer, eu queria voar na garganta dela. Quem ela achava que era? Claro que ela não sabia com quem estava falando, e além disso, eu havia prometido me comportar melhor e não queria deixar Miguel em maus lençóis por confiar em mim.

            - Ok, eu agradeço a oportunidade.

            - Vá se vestir. Não espera treinar de calça jeans, não é? – É claro que eu esperava. O que ele achava, que eu ia colocar um daqueles shorts minúsculos e ficar me exibindo para os garotos? Suspirei fundo novamente, o segundo grau seria ainda mais difícil do que eu pensava.

            Entrei no vestiário e encontrei Elena amarrando o cadarço do tênis. Ela sorriu para mim, enquanto eu fazia careta para o uniforme de ginástica.

            - É nova por aqui?

            - Sou.

            - Eu sou Elena Gilbert. Como você se chama?

            - Ayllin, muito prazer, Elena. Você é adorável.

- Obrigado. E a propósito, não dê muita atenção a Caroline, ela é assim com todo mundo.

            - Tudo bem, já lidei com criaturas piores.

Eu sorri, tentando aliviar a conversa. Elena entendeu e seguimos para o ginásio em silêncio.

Obviamente, eu acertei a coreografia inteira. Caroline fez uma cara de nojo, mas permitiu que eu participasse da torcida.

Quando vi o conversível de Damon estacionando ao lado do meu carro, eu quase desmaiei – será que aquele monstro me perseguiria o dia todo? – ele veio até o ginásio e beijou Caroline. Estava com aquele sorrisinho desprezível no rosto. Stefan também se aproximou, parando atrás de Elena, como que por instinto.

Assim que passou os olhos em mim, o sorrisinho ridículo desapareceu. Damon fez aquela mesma cara de quem havia visto um fantasma para mim.

- Você de novo! Quem... o quê... que tipo de coisa é você? Ele não conseguia formular nenhuma frase, andando de um lado para o outro, como se eu o tivesse encurralado em uma cela.

Stefan virou os olhos para mim, e todos os outros também. Eu queria sumir, queria desaparecer, eu não sabia o que fazer, nem o que responder.

Abaixei minha cabeça e saí, meio correndo, meio andando rápido. Entrei em meu carro e dirigi sem rumo – quem ele pensava que era, aquele garoto ridículo e prepotente. Expondo-me daquela maneira!

Como eu iria lidar com ele? E o pior de tudo era que agora eu teria que encontrá-lo na escola também – voluntário? Sim senhor, ele queria era perturbar a minha vida, isso sim.

Estacionei o carro perto do hotel – Seria mais fácil escondê-lo em um lugar onde não levantasse suspeitas – e voltei para a pensão.

            Deitei em meu galho de carvalho e fiquei, com cara de poucos amigos. As mãos cobrindo o rosto, enquanto eu tentava pensar em algo agradável. Coelhinhos brancos, arco-íris, um campo de margaridas silvestres. Nada me fazia esquecer aqueles perturbadores olhos verdes.

            Um friozinho na barriga. Eu podia sentir uma respiração sobre mim. Minhas mãos pareciam coladas no rosto – não importava quem fosse, eu havia sido descoberta. Engoli um bolo amargo que se formou em minha garganta, eu estava descontrolada, provavelmente não conseguira me manter invisível.

            Abri os dedos, bem devagar, tentando ver pelos buracos quem era meu observador. Meu coração gelou, Stefan. Ele estava sentado no galho, ao meu lado, olhando para mim.

            Engoli mais um bolo amargo de minha garganta. Eu havia mesmo sido descoberta, a verdade seria inevitável.

            Livrei meu rosto das mãos e sorri.

- Não acho que haja uma explicação convincente, então estou aberta a perguntas.

            - Eu só tenho uma.

            Meus olhos estavam suplicantes. Eu estava totalmente vulnerável.

            - Então pergunte.

            - O quê, exatamente, é você Ayllin?

            Desviei meus olhos dos dele – o momento crucial chegara, eu não conseguiria esconder a verdade dele, embora ainda não estivesse preparada. Eu não queria por tudo a perder, não queria estragar a chance dele.

            - Tem certeza, Stefan? Tem certeza de quer mesmo saber a verdade?

- É claro. Embora não saiba quem, ou o que você é, alguém que causa em meu irmão a reação que você causou, já é admirada por mim.

- Então tá, lá vai! Eu sou uma guardiã, Stefan, ou anjo se você preferir. Sou seu anjo, sua protetora.

Stefan arregalou os olhos para mim, eu podia ver em seu rosto a incredulidade se formando. Ele estava em Choque.


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