Sob o Brilho da Lua escrita por Bia Kishi


Capítulo 4
Capítulo 4 - Segredos


Notas iniciais do capítulo

- Pode parar Damon, comigo não funciona.
— Não posso nem te elogiar? Viu porque eu sou tão terrível, nem você que é um anjo, acredita na minha recuperação.
Respirei fundo – se Miguel, por acaso estivesse nos escutando, ele diria que Damon tem razão. Então, fiz minha cara preferida de “criatura celestial” e sorri.
— Você tem razão Damon, vou lhe dar o benefício da dúvida hoje.



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Muitas coisas aconteceram na semana que se seguiu. Eu e Stefan ficamos mais próximos e cúmplices, ele e Elena mais apaixonados. Damon continuou sendo o mesmo “ser sem escrúpulos” de sempre, embora comigo ele se comportasse melhor.

Em um dia quente, ao entardecer, Damon apareceu em meu quarto com um pacote nas mãos.

- Com licença, será que você me permite entrar?

- Se eu não permitir, você não entra?

- Ah para com isso Ayllin! Eu estou me comportando direitinho.

- Ok Damon, pode entrar.

Damon entrou e se sentou ao meu lado na cama. Passou o pacote para mim, com um sorriso. Quando abri, a surpresa ficou explicita em meu rosto. Ele me comprara um vestido Channel – provavelmente da coleção nova, por que eu nunca tinha visto em nenhuma vitrine.

- Damon, porque você... Damon me interrompeu.

- Ouvi você dizer a Stefan que lhe devia um. Sabe, não gosto de dever nada a ninguém.

- Não seja bobo, você não me devia nada, foi só força de expressão!

Damon segurou minha mão – contra minha vontade, diga-se de passagem – eu podia sentir o suor se formando. Ele olhou, com seus profundos olhos verdes, dentro dos meus dizendo:

- Apenas me diga se gostou.

- Damon, a questão não é essa, é que...

Damon me interrompeu novamente, chegando o rosto tão perto que eu podia sentir o cheiro adocicado e enjoativo de seu hálito.

- Apenas me diga, sim ou não.

Ele estava me testando. Sempre que chegava perto, eu me descontrolava e perdia a razão, era exatamente o que ele queria. Desta vez, eu decidi que não ficaria nervosa, ou pelo menos, tentaria não deixar que ele percebesse. Encostei meu nariz no nariz dele, sua respiração estava tão acelerada quanto a minha, seus olhos procurando os meus – tenho que confessar que todo este papo de “olhos nos olhos” era bem estranho para mim, eu não estava muito acostumada a ficar tão próxima de “coisas” como ele.

- É um lindo vestido Damon, obrigado.

- Viu, não é tão difícil. Eu pergunto e você responde, ou vice-versa. Isso é uma coisa chamada conversa. Funciona bastante aqui na terra.

Ele gostava de me irritar. Tentei me manter calma e apenas sorri, demonstrando – ou fingindo – que ele não mexia mais comigo.

- Vou tentar me lembrar disso, Damon. Prometo. Agora se me der licença, eu preciso me arrumar.

- Vai sair?

- Apesar de não ser de sua conta, eu vou. Vou encontrar Stefan.

- Olha só, não é que meu irmãozinho aprendeu. Está com duas lindas garotas.

- Não seja ridículo Damon, Stefan está com Elena, além disso, você sabe exatamente do que se trata meu relacionamento com ele.

- Sendo assim, acho que eu devia acompanhá-la.

- Ficou maluco?

- Não acho que seria legal você sair com um casal de namorados, sozinha. Encontros á quatro são bem divertidos.

- Não é um encontro, Damon. E você sabe que eu não preciso de companhia. Além disso, o que houve com seu brinquedinho? Como é mesmo o nome dela? Caroline!

- Ela me cansa! Fala de demais e me deixa com dor de cabeça.

- Engraçado, conheço alguém que tem o mesmo efeito sobre mim!

Damon apertou os olhos e me dirigiu um olhar de reprovação. Eu gostava de irritá-lo, isso sem dúvida era mutuo.

- Eu vou de qualquer jeito. Você pode me levar com você, assim pode me vigiar; ou pode me deixar ir sozinho, e aí eu posso fazer o que quiser.

Senti o sangue subindo, e minhas bochechas esquentando. Ele me dava nos nervos, por mais que eu tentasse controlar, ele me dava nos nervos.

- Então, como vai ser?

- Ok ser insuportável, me espere lá na sala.

Assim que ele desceu, eu contei até trezentos mil pra ver se me acalmava. Quando percebi que não adiantaria vesti uma calça jeans e uma blusinha rosa de seda, frente-única e desci.

Damon me esperava todo arrumado e perfumado – ele podia até ser um monstro, mas era um monstro bem bonitinho. Isso eu não podia negar. Embora sentisse minha luz de perigo acender a cada vez que ele se aproximava

- Está muito bonita senhorita.

- Pode parar Damon, comigo não funciona.

- Não posso nem te elogiar? Viu porque eu sou tão terrível, nem você que é um anjo, acredita na minha recuperação.

Respirei fundo – se Miguel, por acaso estivesse nos escutando, ele diria que Damon tem razão. Então, fiz minha cara preferida de “criatura celestial” e sorri.

- Você tem razão Damon, vou lhe dar o benefício da dúvida hoje.

- Eu sempre tenho razão, gata.

- Não força, ok? Eu não sou uma criatura das mais pacientes.

Chegamos ao gril, no carro de Damon. Quando ele estacionou e descemos juntos, Caroline quase teve uma síncope. Ela correu desesperadamente até Damon e o agarrou. Damon retribuiu o beijo, com os olhos abertos, olhando para mim – eu queria dizer que não senti nada, ou que fiquei feliz por ele estar se comportando, mas na verdade eu senti nojo e um pouquinho de raiva.

Caminhei – tentando desesperadamente não parecer a idiota que eu me sentia – até a mesa em que estavam Elena, Stefan, Matt e Bonnie.

- Oi!

Todos me cumprimentaram e Stefan – elegante como sempre – puxou uma

cadeira para que eu me sentasse, ao lado de Matt. Eu estava especialmente feliz por Matt e Stefan encontrarem afinidades.

            O papo girava tranquilamente em torno de uma tal “festa dos fundadores” – que aliás me parecia bem sem graça – mesmo assim, deixei que a conversa fluísse – eu estava naquele lugar de expectadora e era o que devia ser.

            - De que estão falando? Damon nos interrompeu, colocando a mão irritantemente quente sobre meu ombro nu.

            - Da festa dos fundadores. Disse Bonnie.

            - Teremos uma festa, então?

            Eu tentei permanecer quieta, mas meu gênio não permitiu.

- Nós não temos festa alguma, Damon, apenas os seres humanos comuns. Além disso, não fomos convidados.

Matt interrompeu, segurando em minha mão e me acalmando um pouco.

- Ayllin, eu adoraria levá-la comigo. Se quiser, será uma honra.

Os olhos de Damon escureceram na hora. Eu apertei a mão de Matt, impedindo qualquer tipo de manifestação de Damon contra meu amigo.

- Prometo que pensarei no assunto, Matt.

Eu fiquei pouco tempo no grill, assim que Stefan e Elena saíram, eu sai também. Stefan era minha prioridade, por mais que gostasse da companhia de Matt e Bonnie, eu estava lá para me divertir e não podia me esquecer disso.

Voltei para a pensão caminhando, Zach estava no sofá. Ele olhou para mim e sorriu.

- Você trouxe muita paz para esta casa Ayllin. Sei que Stefan não me contou a verdade a seu respeito, sei que não é uma garota comum. Quero que saiba que não me importo, não preciso saber para ver a pureza de seus sentimentos. Eu fico feliz por Stefan, ele deve mesmo merecer.

Eu me aproximei de Zach e segurei suas mãos entre as minhas. Ele era bom, e quando não era, tinha seus motivos. Não devia ser nada fácil conviver com um segredo como este na família.

- Você é um bom homem Zach, sei que terá sua recompensa.

- Obrigado, vindo de você, eu sei que é verdade.

Zach olhou nos meus olhos diretamente. Era possível sentir a preocupação em seus olhos.

- Ayllin, tome cuidado com Damon. Ele é inteligente, astuto, não se engane. Damon é um demônio e sempre será.

- Não se preocupe, Zach – eu olhei em seus olhos e pisquei, sorrindo – estou acostumada a lidar com demônios.

Subi as escadas e entrei em meu quarto, não era verdade. Damon não era como os outros. Ele me enfraquecia e me deixava fora de controle, e mesmo assim, eu não conseguia tirar aqueles olhos de minha mente.

Tirei os sapatos e me deitei na cama. Fazia muito tempo que eu não ia para a casa, ainda que eu não sentisse muita falta de lá, eu estava enfraquecendo.

Fechei os olhos e tentei me concentrar. Controlar meu corpo ás vezes era difícil, especialmente quando eu estava sozinha. Eu não podia ficar com frio, tinha que controlar minha temperatura para conseguir me manter na terra, se Miguel me chamasse eu não conseguiria ficar e se eu subisse, ele não me deixaria voltar. Stefan não merecia isso, eu queria que ele tivesse sua chance, que ganhasse sua nova vida. Concentrei-me nele e em como queria que ele estivesse comigo, acho que o chamei sem querer.

Logo, senti a aproximação de alguém e um suave toque em minha bochecha. Abri meus olhos lentamente. Stefan estava lá, doce e meigo como sempre.

- Você?

- Não sei explicar, acho que senti que precisava de mim. O que houve? Você está estranha, meio brilhante e azulada.

- Esse é meu maior problema. Eu não sou uma criatura da terra, manter-me aqui sem ser em minha forma natural é difícil. Eu preciso me sentir humana, para ser uma.

- Como assim?

- Eu sou um anjo Stefan. Minha aparência real é aquela que eu lhe mostrei, está que vocês vêem é uma ilusão. Quando meu coração está livre de emoções humanas, eu não consigo manter minha forma e volto a ser o que sou.

- Existe alguma maneira de eu lhe ajudar?

- Bem, até existe, mas é meio constrangedor.

- Ayllin, você está me dando algo que eu nem pensei ser possível. Não importa o que seja, é só me dizer.

- Fique perto de mim.

- Perto?

- Bem, você “tecnicamente” é uma criatura do inferno, portanto, é quente o suficiente para me manter aqui.

Stefan segurou minha mão, puxando-me para perto de seu corpo e me abraçou. Instantaneamente, meu corpo se aqueceu. E eu fui ficando mais quente.

- Acho que está funcionando, você está mais coradinha, e menos azul.

Eu apenas sorri, encostando meu rosto em seu peito.

- Viu, Ayllin, não foi tão difícil assim. Acho que vou ficar aqui esta noite.

- Aqui comigo?

- Não precisa se assustar. Acho que não existe nenhuma regra em passar a noite abraçada á alguém, não é?

- Acho que não.

Stefan sentou-se em minha cama, e eu me aninhei em seus braços. Era bom estar com ele, eu me sentia melhor.

- Acho que está com saudades de casa.

- Não muita. Não tenho muita coisa lá pra sentir saudades.

- Um dia você me conta sua história?

- Não é muito divertida, mas tudo bem, eu te conto.

- Eu sinto que alguma coisa te magoa, quando pensa em sua casa.

- Minha mãe morreu.

- Sinto muito.

- Eu também. Foi á muito tempo, eu não a conheci.

- É estranho pensar em anjos tendo filhos, eu sempre pensei que não tivessem sexo.

Eu tive que sorrir do comentário. Afinal, de quem tinha sido essa idéia de dizer que anjo não tem sexo?

- Eu sei, ouço isso o tempo todo. Na verdade Stefan, a coisa funciona da seguinte maneira. Temos uma não-vida, quase normal. Cada um tem uma tarefa a realizar, algo como um trabalho; temos um reino nosso, onde moramos. Nos apaixonamos e temos filhos, como os humanos. Bem, quase, como os humanos. Nós não podemos errar. Não somos perdoados porque conhecemos o bem e o mal, não existe livre arbítrio para os anjos. Se escolhermos o mal, não existe perdão.

- Foi isso que aconteceu com sua mãe, ela tomou a decisão errada?

- Sim. Minha mãe deixou-se influenciar demais, ela se deixou envolver e se apaixonou. Não ouve perdão para ela.

- Eles a mataram?

- Mais ou menos. Não dá para matar algo que não está vivo. Ela só não pode, nunca mais, voltar.

- Ayllin, eu sinto muito, muito mesmo.

Meus olhos estavam marejados e a camisa de Stefan, molhada.

- Como eu disse, não é uma história muito divertida.

- Acho melhor deixar esta conversa para outra hora.

Fiz que sim com a cabeça e o quarto ficou em silêncio – por um curto espaço de tempo, porque antes que pudéssemos adormecer, o som de palmas nos despertou.

- Muito Bonito!

- Que bom que gostou, Damon. Disse Stefan, irritado.

- O que a doce Elena pensaria de uma cena como esta?

- Pensaria que o namorado dela é um cavalheiro! Eu disse, abraçando Stefan.

- Tem razão, Stefan é um cavalheiro. Alias, espero que seus planos para uma noite com ele, terminem assim, porque ele não fará mais nada – Damon chegou à minha cama pelo outro lado, e encostou a boca em meu ouvido – Agora se quiser diversão, baby, meu quarto fica no fim do corredor.

- Você é nojento!

- Katherine não pensava assim.

Uma veia pulsou na têmpora de Stefan. Eu me levantei e empurrei Damon para fora do quarto, fechando a porta.

- Seu... seu... insensível!

Damon saiu com aquele sorriso vitorioso e sem graça nos lábios, os olhos brilhando de maldade. Assim que minhas mãos tocaram em seu peito, todo o restinho de frio que eu sentia, acabou – se alguma criatura era totalmente do inferno, esta era Damon, sem dúvida.

- Não dê atenção a ele, isso é dor de cotovelo. Sabe, por causa de Elena.

- Acho que não é só isso, Ayllin. Mesmo assim, obrigado por me defender.

- Bem, eu sou sua protetora, lembra? É minha função.

Stefan sorriu. Naquela noite, eu me senti mais leve. Apesar de não ter tido coragem de contar a história toda, dividir um pouco de meu passado com alguém, me fez bem. Naquele quarto, eu me sentia acolhida e segura. Naquele pedacinho de mundo, eu podia dividir um pouco do grande farto que eu carreguei por tanto tempo, meus segredos.


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