Os Filhos do Olimpo escrita por Larissa Haguiô, Noah Rinns


Capítulo 20
Slow dancing in a burning room.




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LUA

Vislumbro as chamas se espalhando pelas plantações de trigo através da janela. Alastor e Lara vão correndo para fora, atrás de Adam. Os outros permanecem imóveis, sem saber o que fazer.

Deméter dá as costas e vai para a cozinha. Annie e Lucy se entreolharam.

– Mas que belo líder! - Exclamou Dianna, pegando a lança. - Mentiu sobre a profecia!

A filha de Ares dá as costas a nós e vai até a porta. Antes de sair, virou-se para mim e disse:

– Faça algo de útil, porcelana.

Ela tinha razão, eu deveria fazer. Desde a morte do sátiro eles tem me evitado, como se fosse culpa minha. Poderia ter sido eu. O carro que aquele monstro atirou poderia ter sido o que eu estava tendo o meu sono de beleza. Eu havia escapado da morte.

– Ela tem razão, Lua. - Diz Annie, colocando a mão sobre meu ombro. A garota respirou fundo e caminhou para fora, tendo consciência de que poderia morrer.

– Não! - Gritei. Virei-me para trás e percebi Lucy e Connor me olharem. - Protejam a casa, vou salvar Adam e Annie.

– O-oque? Mas.. - Não o deixei terminar a frase. Agarrei a gola de sua camisa e lhe beijei.

Connor ficou gelado. O garoto era um pouco mais novo que eu, apesar de ser mais alto. Era tímido, o que significava que talvez não fosse tão bom com as garotas. Seus cabelos eram negros e desgrenhados, e os olhos castanho-avermelhados.

Pronto, eu tinha acabado de fazer a primeira coisa útil: tirar a virgindade da boca de um garoto de 14 anos. Tomei a machadinha de suas mãos e corri para fora, pronta para lutar.

Antes de passar da porta, o ouvi dizer:

– Meus deuses... que lábios divinos.

A luz da lua e as sombras tremulantes nas paredes da casa de campo causavam um efeito fantasmagórico. Avistei Alastor correndo atrás de Adam colina abaixo. Lucy e Connor vinham logo atrás, cada um protegendo um lado da casa.

Pelo menos três cavalos-de-fogo seguiram Adam e Alastor descendo a colina, e corri para junto deles. Comecei a descer a colina, ofegante. Pela primeira vez na vida eu estava transpirando. Meu vestido de renda verde que ia até os joelhos estava colando em meu corpo. Meus cabelos loiros, longos e de pontas cacheadas estavam arrepiados, e os pelos da nuca eriçados. O fogo estava se espalhando cada vez mais. Como água se espalhando por uma piscina que logo iria transbordar. Mas em vez de transbordar, o fogo levaria tudo a baixo, acabando com todos nós em questão de segundos. Talvez morrer afogada fosse melhor.

Finalmente alcancei Alastor, que havia parado, respirando com dificuldade.

– Não posso usar meus poderes. - Ofega ele. - Está quente. Não há como atrair água para cá.

– Onde está Adam? - Perguntei, procurando-o.

O céu sem estrelas estavam num tom forte e escuro de azul, e a minha volta só havia fogo, aumentando cada vez mais, impedindo-me de fugir para os lados.

Alastor apontou para a frente, onde mais abaixo havia um cavalo maior do que os outros, que abria a boca e rajadas de fogo se espalhavam para os lados. Adam estava a sua frente, com o escudo e espada nas mãos. O fogo batia no metal do grande círculo e voltava para o oponente.

– Temos que impedi-lo. - Corri na sua direção, atravessando a grande cerca de fogo que havia crescido entre Adam e eu.

Queimando. Meu corpo queimou. Senti minha pele derreter, como se eu estivesse me desfazendo aos pouco. Logo em seguida veio uma dor mais profunda. Estava ardendo. Comecei a cambalear para a frente, com fortes machucados nos meus braços descobertos. Cai de joelhos sobre a grama.

Adam estava apenas há alguns metros de mim, tentando atacar o cavalo com sua espada.

– Ohhh. - Não consegui evitar. Meu corpo doía cada vez mais. Os gritos longos e roucos saiam da minha boca instantaneamente, sem que eu pudesse evitar. Meu maior medo sempre tinha sido morrer com dor, e era justamente assim que seria minha ida aos Campos Elíseos. - Ahhhhh. - Fiz um esforço e consegui lançar a machadinha no monstro. Senti um tremor e soube que ele havia caído.

Eu me contorcia. Sentia o fogo se espalhar sobre meu corpo como se eu estivesse numa cama e as chamas fossem meu cobertor. Mas o quarto estava quieto. Eu já não tinha mais voz para gritar. Não havia vozes a minha volta, muito menos pessoas. Apenas podia sentir-me repousando na cama e o longo cobertor de fogo me cobrindo. Eu ainda me mexia, tentando me adaptar ao clima quente. Estava dançando lentamente num quarto em chamas.

Nos últimos segundos que tive refleti sobre minha atitude. Dei a vida por alguém para ser lembrada. Para ser considerada útil após ter escapado da morte várias vezes pois tinha sido salva por aqueles que eram meus verdadeiros amigos. Talvez esse tivesse de ser o preço. Minha parte do acordo estava cumprida. E então eu já poderia descansar em paz.

Aos poucos, fui me esvaindo do meu corpo, deixando-o inerte sobre a grama em chamas. A última coisa que ouvi foi o crepitar do fogo como uma música para os meus ouvidos.


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Notas finais do capítulo

E as situações trágicas talvez estejam apenas começando...



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