Réquiem escrita por Ghanima


Capítulo 18
Dança Macabra


Notas iniciais do capítulo

Música: Dance of Death
Banda: Iron Maiden



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Cap 18 – Dança Macabra

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Naquele dia 22 de Dezembro...A Morte, ferida e irada, varreu várias vidas em Kumogakure. Nenhuma dessas partidas foi delicada e – o cheiro da podridão passeou pelas ruas rapidamente. Sendo acompanhado pelos choros, gritos e lamúrias dos que sobreviveram.


Trancando dentro do quarto e deitado na cama, aspirando o perfume de sua fêmea, lágrimas corriam pelo rosto de Hidan.


- Ino maldita, porque fez isso comigo?

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OoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOo

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"A morte talvez não tenha mais segredos a nos revelar que a vida."

(Gustave Flaubert)

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Let me tell you a story to chill the bones

(Deixe-me contar uma história de arrepiar)

about a things that I saw

(sobre coisas que eu vi)

One night wandering in the everglades

(Uma noite, vagando pelos pântanos)

I'd one drink but no more

(Eu tinha tomado um drinque, nada mais)

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~ Kirigakure - 21 de Janeiro ~

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Os primos haviam se refugiado em um pequeno chalé, no interior de Kirigakure. Era uma construção simples. Feita de tijolos vermelhos, teto baixo, um banheiro, dois quartos, uma cozinha e uma sala. Tudo modesto e mais do que suficiente para abrigar os dois "fugitivos" de Kumogakure. O abrigo deles tinha algumas poucas casas vizinhas, mas cujos moradores eram bastante gentis e acolhedores, o que se opunha incrivelmente ao inverno rigoroso que se assentara.

 

A chegada súbita daquela dupla pegou os moradores de surpresa, mas a mente rápida de Deidara viera planejando um enredo coeso a ser dito. A prima estava doente e o marido tinha que se ausentar por causa de um assunto urgente, por isso o primo a trouxe para um lugar mais calmo. O distanciamento que Ino se impôs fez com que os habitantes simpatizassem ainda mais com o loiro, encarado como um parente paciente e sofredor, obrigado a viver com uma mulher doente e difícil.

 

O próprio artista incitava esse pensamento, de forma a manter os curiosos longe da figura frágil e debilitada da Jashin. Desde a chegada deles ali, a mulher se sentia muito pouco inclinada a sair de casa e foram poucas as boas noites de sono. Pesadelos com o ocorrido na noite da fuga assombravam a mente da bela e isso se manifestou fisicamente, com uma sucessão de febres e enjoos. Um médico fora trazido de uma vila próxima, mas apenas Ino ficou sabendo do que se passara com seu corpo, ela se recusava a compartilhar as informações.

 

Para cuidar melhor de Ino, Deidara optou por dormirem no mesmo quarto e com ajuda dos vizinhos, colocou uma das camas de solteiro na casa no mesmo quarto da loira. Seria apropriado vigiá-la de perto.

 

Quando chegaram à Kirigakure, os primos venderam algumas joias da época de solteira da loira, assim poderiam ter algum dinheiro sempre por perto. Não ir muito a bancos seria um outro meio de se manterem longe de olhares inquisitivos. Uma senhora da vila era gentil o suficiente para auxiliar na manutenção da casa, pois Ino se demonstrara muito debilitada para isso.

 

A cada dia, o primo ficava mais preocupado e se perguntava se não seria melhor ir para Konoha ou para a casa dele, em Iwagakure. Nesses lugares, seria mais fácil tratar da saúde de Ino e ela teria contato com pessoas que a conheciam e queriam bem. A Jashin era veementemente contra! Ela sentia que Hidan (ou seja lá o que ele fosse!) a encontraria nesses lugares e queria evitar isso ao máximo.

 

Num dia em que se sentiu mais forte, a mulher compartilhou com o parente o que tinha visto na noite da fuga. O rapaz ficou sensivelmente chocado e – somando o que soube pela conversa com Satsuki – acabou por considerar o seu pensamento sobre um possível contrato entre a prima e a Morte. No entanto, ele não se sentia inclinado a falar disso com ninguém.

 

A condição delicada da loira fez mudar um pouco de sua aparência. Sua pele alva e saudável ganhara um aspecto pálido, quase acinzentado e sem o brilho característico. Os cabelos estavam opacos e quebradiços, por mais que Deidara fizesse o máximo para manter os fios dourados em bom estado. Ela parecia ter perdido uns 3 quilos desde a vinda para Kirigakure e um par de olheiras profundas estavam sempre a macular a bela face feminina. Os magníficos olhos azuis cintilantes pareciam foscos e distantes, como os de uma boneca viva.

 

Duas semanas após se instalarem no chalé, durante uma ida a vila para comprar comida, o loiro foi informado de um fato horrível. A onda de falecimentos em Kumogakure, que começou na mesma noite me que eles partiram. Bastou aquilo para que o artista sentisse que sua teoria parecia ter mais fundamento do que ele mesmo supunha. Só que, tendo consciência do estado fraco da loira, preferiu que essa notícia não chegasse a ela de jeito nenhum.

 

Na presente noite, do dia 21 de janeiro, a dupla estava na sala. Um cômodo pouco mobiliado, com um sofá, uma poltrona, uma lareira, uma mesinha de quatro lugares e uma pequena estante.

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I was rambling, enjoying the bright moonlight

(Eu estava divagando, apreciando a brilhante luz da lua)

Gazing up at the stars

(Olhando para as estrelas)

Not aware of a presence so near to me

(Sem saber de uma presença tão perto de mim)

Watching my every move

(Observando todos os meus movimentos)

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O loiro estava sentado na poltrona, aquecido por seu pijama azul e branco e por uma manta; ele lia um livro muito interessante sobre um homem em busca de vingança. Ino, por sua vez, se encontrava deitada no sofá, enrolada em um edredom e vestia uma grande camisola rosada. Seus olhos fitavam as chamas crepitarem na lareira. Ela pensava na conversa com Satsuki.

 

- Niisan. - emite a voz fraca dela.

 

- Sim, Ino-chan, un. - ele tira sua atenção do livro. - Quer alguma coisa?

 

Ela o fita.

 

- Quando é a próxima lua nova? - era uma pergunta estranha, fato.

 

- Não faço idéia, un. - responde o primo, não entendendo o propósito da pergunta. - Por que isso?

 

- Não sei. - mentira deslavada. - Apenas quis saber.

 

Os dois se calam e voltam às suas respectivas ações, o homem se foca no livro e a mulher se perde em pensamento. Ino queria voltar para Kumogakure por uma razão simples: Ver se conseguiria ter a mesma experiência de Satsuki, de ver uma reunião dos Jashinistas. Se era verdade que eles se uniam nas noites de lua nova, ela precisaria saber quando seria a próxima.

 

As horas passam lentamente e, já no quarto, a loira desperta do sono. Ao olhar para o lado, ela percebe o sono profundo do primo e se levanta, caminhando até a figura sonolenta e permitindo que seus olhos se enchessem de lágrimas. Seu niisan estava sendo tão paciente e cuidadoso com ela, que a jovem julgava se merecia tudo aquilo.

 

Com todo o cuidado, ela pega o livro caído no chão e o coloca sobre o criado-mudo, que separava as duas camas. Em seguida, Ino ajeita o coberto sobre o corpo do companheiro, de modo a aquecê-lo devidamente. A Jashin vai saindo do quarto e desce a pequena escada de madeira, rumando então para a cozinha. Ela pega um chaleira, enche a mesma e liga o fogão; depois se senta na bancada e fica observando o vaporzinho lento subindo.

 

Em um dado momento, sem motivo e ao mesmo tempo em que a imagem do marido lhe vem a cabeça, algo dentro de si reage. Ela leva uma das mãos ao peito e entende o que se passava. Voltar. Era imperativo o seu retorno à Kumogakure. Seus olhos vêem o jornal daquele dia e o pega, de cima da lata de lixo. Não demora até que ela veja algo sobre as fases da lua e obtém, então, a informação sobre a lua nova. Começaria o seu ciclo no dia 26 de Janeiro e duraria até o dia 01 de Fevereiro.

 

Já tendo essa informação, Ino se ocupa de terminar de preparar o seu chá (a chaleira já fazia um barulho alto) e ruma para sua cama, com uma xícara em mãos. A jovem se senta na cama e fita o cair da neve, do lado de fora. Os floquinhos brancos bailavam com o vento, colavam no vidro e seguiam o seu caminho. Depois da deliciosa bebida, ela pega no sono novamente e consegue, depois de muitos dias, uma noite de sono confortável.

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Feeling scared and I fell to my knees

(Com medo eu cai de joelhos)

As something rushed me from the trees

(Enquanto alguém correu por trás das arvores)

Took me to an unholy place

(Levou-me a um lugar profano)

And that is where I fell from grace

(E foi ali que eu cai em desgraça)

OoOoOoOoOoOoOoOoOo

They summoned me over to join in with them

(Eles me convocaram para me unir a eles)

To the dance of the dead

(na Dança da Morte)

In to the circle of fire I followed them

(Ao círculo de fogo eu os segui)

In to the middle I was led

(E para o meio eu fui levado)

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Depois daquela horrenda onda de mortes em Kumogakure, a Morte conseguiu canalizar todo os seus odientos sentimentos para um veneno interno, uma fúria contida e sempre viva. Aos poucos, os temerosos empregados da mansão voltavam a seus afazeres de praxe, mas seus olhos sempre acompanhavam cada passo e cada gesto do patrão; que se torna algo mais parecido com a sua verdadeira natureza. Silencioso, assustador e sombrio.

 

Parte das horas de sol do dia eram dedicadas ao trabalho, as outras muitas ficavam reservadas à uma solidão fria e impenetrável, mas ao mesmo tempo dotadas de certos e discretos matizes de lamúria. O Jashin passava muito desses seus momentos de contemplação solitária sentado em uma poltrona, fitando o exterior exibido pela enorme janela próxima.

 

Naquela noite, não havia sido diferente e lá estava Hidan, enfiado dentro de seus pijamas cor de ébano; os orbes púrpuras fitavam um ponto de distância incalculável e em algum lugar inacessível para os pobres mortais. Ele havia cansado de esperar que a esposa recobrasse o juízo e voltasse para casa, mas isso se mostrava uma utopia mais e mais delirante, conforme os dias iam passando e todos os traços da presença da loira fossem enfraquecendo.

 

Ele se concentra para usar seu tão enorme poder e encontrá-la. Bastou apenas um milésimo de segundo para que os olhos (outrora fechados) se esbugalhassem e demonstrassem o choque e a frustração que lhe consumiam.

 

- Que diabos tá acontecendo aqui? - ralha ele para o nada, tentando mais uma vez libertar-se dos grilhões de sua veste mortal.

 

- Não vai funcionar.

 

A Morte olha para a janela mais próxima e vê ali um alguém ruivo, de frios olhos castanhos e expressão neutra. Sua atenção estava focado no lado de fora do cômodo, no cair lento e cadenciado dos flocos alvos e gélidos. Na verdade, o cair dos flocos fora interrompido no exato momento em que o visitante se fez presente. O Tempo parecia ter sido congelado e realmente o fora.

 

- Só pode ser sacanagem. - o homem de cabelos prateados se permite afundar na cadeira e cruzar os braços, sem querer acreditar naquela visita indesejável. - É você que não está me deixando ir...

 

- Conclusão precisa. - o visitante não se movera. - Só que lenta.

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As if time had stopped still

(Como se o tempo tivesse parado)

I was numb with fear

(Eu estava entorpecido com o medo)

But still I wanted to go

(Mas ainda assim eu queria ir)

And the blaze of the fire did no hurt upon me

(E as chamas da fogueira não me feriram)

As I walked onto the coals

(Enquanto eu andava sobre o carvão)

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Com uma agilidade que nenhum sistema de medidas seria capaz de quantificar, o ruivo se coloca de frente ao Jashin, que pode observar melhor o outro. A capa que o cobria era de um tom profundo e indizível, assim como o era o livro nas mão do dono dos olhos castanhos. Era um exemplar nem velho nem novo, de cor indecifrável e indiferente, as páginas tinham uma cor curiosa e neutra.

 

Aliás, neutro era a palavra exata para se descrever aquele misterioso ser. Nada nele denotava a mais vaga e mísera sombra de originalidade, sendo um indivíduo de proporções e trejeitos ordinários. Ele podia ter qualquer idade, ser de qualquer lugar, sua expressão lhe faria passar sem ser notado em qualquer lugar. Resumindo a ópera: Aquele cara era total e insuportavelmente comum.

 

- Quer o que aqui, inferno? - inquiri o dono da casa, bufando sonoramente.

 

- Não gosto do seu vocabulário. - responde o outro. - Pare de agir como Hidan Jashin e seja aquilo que você é.

 

Eles se olham longamente, o castanho encontrando o púrpura, que logo se transformou em um negro profundo. Não demoraria logo a se perceber uma mudança intensa na figura do Jashin. Aquilo que ele tinha de humano foi deixado de lado.

 

- Assim é melhor. - comenta o ruivo. - Você não irá até a humana.

 

- Não, é? - o desafio da pergunta era palpável.

 

- Não. Você tem interferido no Caminho dela bem mais do que o tolerável. - o visitante coloca o livro em cima da mesa e as palmas das mãos contra o objeto. - E todo o Caminho de alguém é prerrogativa minha.

 

- Ela fez um acordo comigo. - replica a Morte. - Quando alguém parte e como parte são prerrogativas minhas.

 

- Então, você devia ter se limitado a isso! - ele abre o livro e ambos fitam as páginas escritas de forma linear e que só eram interrompidas na hora do falecimento. O dono do objeto folheia até chegar em uma página particular, onde a linearidade some e é substituída por um pandemônio de letras. - Sabe o que é isso?

 

Claro que sabia.

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And I felt I was in a trance

(Eu senti que estava em transe)

And my spirit was lifted from me

(E que meu espírito foi levado de mim)

And if only someone had the chance

(Se alguém tivesse a chance)

To witness what happened to me

(de testemunhar o que aconteceu comigo)

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- A vida da Ino. - diz a Morte, com uma calma nunca vista em sua presente forma de Jashin.

 

- Que está caótica por causa da SUA interferência. - afirma o ruivo. - E isso deverá parar agora.

 

- Que seja. - afirma Hidan. - Só que eu tenho que ter com ela antes.

 

- Você terá com ela na hora certa e não antes. - diz o visitante,

recolhendo o seu livro e olhando pela janela. - Quanto à sua afirmação...

 

- Qual delas?

 

- A que fez logo que eu cheguei.

 

- De ser sua culpa eu não poder ir até Ino.

 

- Exato. - confirma o de aparência mais neutra. - Devo complementar a informação: Não sou só eu que não está te permitindo ir.

 

Uma coisa muito difícil, quase impossível, se dá naquele instante. A Morte fica surpresa com a resposta do outro. Por sua vez, o falante recente apenas fitava o companheiro, sabendo qual seria a reação, quanto duraria e o que se passaria depois. O que não é de espantar, visto quem ele era.

 

- Sua brincadeirinha de humano passou dos limites, irmão. - afirma o ruivo. - Dê um fim nisso depressa.

 

Aquela verdade já vinha assombrando Hidan há algum tempo.

 

- Não vai me desejar boa sorte? - a ironia não pôde ser evitada.

 

- Eu não desejo. - responde o de olhos castanhos. - Eu sei.

 

- Exibido...

 

E assim a misteriosa figura parte, tão silenciosa e ágil quanto apareceu. A Morte segue em seus pensamentos, mais inflamados ainda pela visita daquele ser. Entretanto, aquela presença lhe fez perceber uma verdade que ele queria ignorar: O pouco de Hidan Jashin que havia sobrado dentro daquela casca mortal, lhe estava fazendo sentir tão qual um humano. De fato, o Destino era implacável.

 

Naquele mesmo momento, a figura encapuzada se colocara do lado da cama da loira. Ora com os olhos na página de vida da adormecida, ora observando a dita figura. Com toda a calma que lhe foi cabida, uma de suas mãos pálidas e sem temperatura determinada toca a testa de Ino. Os orbes castanhos vão até a página do livro e vêem o pandemônio no Caminho feminino se aliviar um pouco.

 

- As coisas estão voltando aos eixos. - diz ele, por mais que não pudesse ser visto, ouvido, ou sentido. - Chegamos então ao ponto sem volta.

 

Terminada a sentença, ele parte.

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And I danced and I pranced and I sang with them

(E eu dancei e pulei e cantei com eles)

All had death in their eyes

(Todos tinham a Morte nos olhos)

Lifeless figures they were undead all of them

(Figuras sem vida, eles eram mortos-vivos, todos eles)

They had ascended from hell

(Eles tinham ascendido do Inferno)

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OoOoOoOoOoOoOoOoOo

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As I danced with the dead

(Enquanto dançava com os mortos)

my free spirit was laughing and howling down at me

(meu espírito livre estava rindo e uivando acima de mim)

Below my undead body just danced the circle of dead

(Abaixo, meu corpo semimorto apenas dançava na roda dos mortos)

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~ Kumogakure – Dia 27 de Janeiro ~

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Os primos retornaram àquela tão temida terra no final daquela tarde e haviam se hospedado num pequeno albergue, longe da área central e mais longe ainda da Mansão. Por mais que Deidara tivesse se oposto firmemente à idéia de voltar para aquele lugar, a resolução voltou à personalidade da loira logo depois da visita de Destino. Durante o sonho daquela noite, a Jashin teve uma visão enigmática e relevante.

 

Um ponto na floresta de Yugakure, onde se encontravam as decrépitas ruínas de um antigo complexo que se assemelhava a um monastério. Ali, figuras encapuzadas de negro e trajando vestes da mesma cor, se reunião em um culto secreto e desconhecido, nenhum rosto estava claro, só se viam os olhos e as máscaras que ocultavam metade das faces.

 

Ao despertar, a loira compreendeu que tinha tido uma visão dos Jashinistas e logo se pôs a relatar o fato para o primo. Se antes da conversa com Yui, aquela história pudesse lhe parecer uma bobagem delirante, agora o loiro se encontrava mais crédulo em relação a tudo que pendesse para o sobrenatural.

 

Ino fez um desenho de como seriam as roupas dos membros do culto e, com a ajuda da boa senhora que cozinhava para eles, as vestimentas e máscaras foram feitas bem rapidamente.

 

Assim que estavam com tudo pronto, a dupla tomou o rumo de Kumogakure e passaram todo o caminho se preparando para aquela noite. Eles sabiam que suas vidas mudariam para sempre depois daquela "aventura".

 

Eram em torno de 23:00 e a loira já estava trajada, por mais que a máscara estivesse guardada dentro de uma bolsa, presa a seu pulso, onde havia algum dinheiro, uma garrafinha de bebida, um pequeno castiça, fósforos e velas.. O relógio da parede fazia o seu 'tic-tac' característico e o silêncio sepulcral da noite lhe dava o sossego que ela sabia estar perto de perder.

 

Ela vai até a porta e, antes de sair, fita a figura adormecida do primo. Por mais que Deidara tivesse insistido em ir com ela, Ino sabia que aquela deveria ser uma missão solitária. Por isso, escreveu uma carta que foi posta ao lado do travesseiro do artista. A Jashin paga a o dono do albergue para que pudesse usufruir do cavalo dele, e o homem aceita.

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Until the time came to reunite us both

(Até a hora de nos reunirmos)

My spirit came back down to me

(Meu espírito voltou para mim)

I didn't know if I was alive or dead

(Eu não sabia se estava vivo ou morto)

As the others all joined in with me

(Enquanto todos os outros se juntavam a mim)

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Enquanto no centro, ela e seu companheiro marrom e quadrúpede transitam calmamente, evitando atrair qualquer atenção que denunciasse o retorno da senhora Jashin, uma vez que a partida dela se tornara conhecida no dia seguinte ao acontecimento. Quando se percebe longe o suficiente das atenções, ela faz com que o cavalo corra mais rápido e agradece por ter tido uma memória que lhe tivesse feito pegar uma camada a mais de agasalho.

 

A neve não atrapalhava sua visão, pois era muito fina e até um tanto quanto agradável de se ver. A copa das arvores estava coberta pela alva e fria camada, o som dos cascos do cavalo ecoam com mais força quando ela se vê passando por cima de uma conhecida ponte de madeira. Mais ao fundo, a visão de uma construção específica causa arrepios à jovem, que ao sair da ponte, se embrenha dentro da mata silenciosa e escura.

 

Ino não sentia medo, apenas uma curiosa sensação de contentamento, por saber que a verdade que ela deseja estava próxima. Dentro de seu corpo, algo ia se agitando conforme o animal se aproximava do local mostrado no sonho. Era esse 'algo' que ansiava por voltar à Kumogakure e que desejava tomar parte do que se passaria naquela madrugada.

 

Era 00:26 quando ela chega ao local determinado. Ela e o cavalo estavam em um alto barranco e, lá embaixo, estavam ruínas de algo que parecia ter sido um monastério. Havia fogo e a jovem sente parte de sua resolução ir embora, a Razão lhe dizia que era insano procurar aquela verdade. Sua alma berrava que aquilo não terminaria bem. A loira ignora s avisos internos de sua pessoa de desce do cavalo, amarrando o bicho ao que sobrara de uma árvore.

 

Por causa do frio, a Jashin guiara seu companheiro até uma pequena caverna natural, esculpida por alguma força da Natureza, nas rochas úmidas. A neve tornava a descida escorregadia e isso piorou, quando seu corpo foi tomado por uma leveza, um torpor anormal. Ela não percebeu, mais uma figura trajada nos mesmos moldes que ela colocara a mão negra em suas costas e a levava até a parte debaixo.

 

Quem fitasse os orbes cor de safira, veria a mudança assombrosa que seu deu neles. Estavam completamente opacos! Íris e retina desapareceram em meio a um mar azul. Ela não era mais dona de seu corpo, mas ela conseguia gravar em sua memória o que via. Ao chegarem nas ruínas, chamas azuis (o fogo-fátuo que tanto lhe apavorara quando vira a Yugakure pela primeira vez) irromperam dos cumes dos pilares velhos, mais figuras cor de ébano se colocaram em um círculo e pareciam tão delirantes quanto ela.

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By luck then a skirmish started

(Por sorte, um barulho começou)

And took the attention away from me

(E desviou a atenção de mim)

When they took their gaze from me

(Quando os olhares saíram de cima de mim)

Was the moment that I fled

(Foi o momento em que fugi)

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O pouco de razão que lhe restara – mesmo combinado com o medo - não lhe impediram de querer tomar parte daquilo e o mesmo ser que a guiara até a reunião, fez com que a Jashin parasse no centro do círculo, de onde irrompeu a chama mais estranha que um dia se teve notícia. Não era azul, nem o tom vermelho natural. Combinavam um rubro intenso, roxo vivo e um azul escuro, e o calor que emitiam não lhe confortavam contra o frio.

 

Aliás, elas nem mesmo queimavam seu corpo, mas faziam sua alma arder. Essa falta de ardência física permitiu que a loira (ausente e "anestesiada") caminhasse e dançasse sobre o fogo sobrenatural, que lhe subia lentamente pelo corpo e jogava seus cabelos dourados para os lados. Ao redor dela, os Jashinistas seguiam naquela dança mórbida. Que logo veio acompanhada de um canto horripilante, como um coro de espíritos atormentados, ansiando por libertação.

 

O tempo parecia ter parado e – num instante de poder da mente – a jovem se percebeu querendo berrar dada uma visão. Ino se sentia voando sobre os outros membros do ritual e o mais horrível era, contra todas as probabilidades, seu corpo continuava na dança. Como era possível? Se ela estava ali, pairando no ar?

 

- Deus, o que está acontecendo aqui? - não demora até que ela se perceba que o seu espírito deixara o corpo, que estava animado de alguma forma desconhecida.

 

Antes que ela pudesse pensar em mais uma coisa, corpo e espírito voltaram a ser um só e o azul de seus olhos voltaram ao normal e ela pôde testemunhar que, o que se passou com ela, também estava se passando com os outros ao seu redor. O torpor deles foi o que permitiu que ela analisasse tudo.

 

Os (MUITOS!) corpos sem alma, que bailavam ao som daquela música infernal, espíritos perdidos e pairando loucos pela floresta, os fogos-fátuos se intensificando e indo até cada corpo que dançava, um odor enjoativo e forte. Como uma mistura de enxofre e cadáver em decomposição. Foi esse aroma fétido que permitiu que a loira entendesse uma coisa, que ficou mais ainda assentada em sua mente, quando ela olhou nos olhos de um companheiro.

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I ran like hell faster than the wind

(Eu corri mais rápido que o vento)

But behind I did not glance

(Mas não olhei para trás)

One thing that I did not dare

(Uma coisa que a que eu não me atrevi)

Was to look just straight ahead

(Era olhar só para frente)

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Não havia cor ali, nem vida. E sim, algo que a apavorou mais do que todo aquele cenário irreal e grotesco. Todos tinham a morte nos olhos e os pingentes em seus pescoços – iguais ao da loira – brilhavam de forma medonha.

 

- Mortos vivos.

 

Não a palavra que descreva o que ela sentiu quando uma figura surgiu, no topo de um dos pilares. O rosto era como o de uma caveira, as vestes eram do tom mais profundo de negro que se podia imaginar. Entretanto, o indescritível sentimento só mereceu esse epíteto quando ela olhou nos orbes púrpuras, que fitavam o ritual e ao perceber os fios prateados que balançavam com a intensidade do fogo próximo.

 

- Hidan..

 

Bastou aquilo para que várias imagens aleatórias surgissem em sua mente: Os pais doentes, ela conversando com um homem trajado de cinza, um alguém cujo rosto ela conhecia bem, seu atual marido, o misterioso colar, seus pais voltando ao normal. Como? Como aquilo era possível?

 

Ino quis gritar, mais o seu horror roubou todas as suas forças. Aproveitando o delírio coletivo, a Jashin correu até o seu cavalo e o desamarrou, montando ao animal e cavalgando sem olhar para trás. Lágrimas começavam a correr e congelavam no rosto dela, queimando a pele delicada. O animal corria sem direção e a uma velocidade incrível, como se soubesse que sua companheira precisava sumir dali com urgência.

 

- DEEEUSS! - berra ela, para o nada e ouvindo sua voz ecoar pela densa floresta. - Socorro! Alguééém.

 

O balanço no lombo do cavalo a fez virar para um dos lados e vomitar intensamente. Vomitar com tanta fúria que ela perde as forças e vai caindo do cavalo, que segue louco pela floresta. A consciência dela vai sumindo, conforme o chão se aproxima e mesmo assim, Ino se prepara para sentir um baque.

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When you know that your time has come around

(Quando você souber que sua hora chegou)

You know you'll be prepared for it

(Saberá que está preparado para isso)

Say your last goodbyes to everyone

(Diga um último adeus a todos)

Drink and say a prayer for it

(Beba e reze para isso)

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Que não acontece. Ela já se encontrava inconsciente quando um par de braços a aparou e limpou o vômito e as lágrimas que poluíam aquela face. Ino estava mortalmente pálida e o pânico se manifestava em sua expressão e nos orbes cerrados, visto que as lágrimas não paravam de cair.

 

Fora o marido que a acudira. Depois da reunião com Destino, a Morte entendeu que seu jogo com a vida de Ino estava indo longe demais que deveria terminar em breve. Assim sendo, ele permitiu que ela tomasse parte e assistisse ao culto Jashin, por mais que desejasse roubá-la de lá e fazer com que a esposa esquecesse tudo o que vira.

 

Mas ele sabia que não poderia fazer isso, Destino fora enfático! A interferência dele no Caminho de Ino teria que cessar. Hidan carregou o corpo da desfalecida até a Mansão, e nenhum cansaço se manifestou na casa física da qual a Morte tomara posse. Os empregados dormiam e nada havia ali, senão o silêncio.

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When you're lying in your sleep,

(Quando estiver dormindo)

when you're lying in your bed

(Quando estiver deitado em sua cama)

And you wake from your dreams

(E acordar de seus sonhos)

to go dancing with the dead

(para ir dançar com os mortos)

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Hidan mesmo cuidou da higiene e de colocar a jovem na cama, ela sabia que o sono dela seria profundo e atormentado, mas ele não tinha muito o que fazer. Se não, esperar. Esperar pelo momento de revelar a verdade e ver o que se daria dali pra frente. Naquele momento, ele invejou Destino, por saber de tudo que se pode ser sabido. A Morte também fez a higiene do corpo que usava, mas não compartilhou do mesmo leito que a mulher, pois sabia que sua presença destruiria o pouco de sanidade que a Ino restava.

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To this day I guess I'll never know

(Até hoje acho que nunca saberei)

Just why they let me go

(Por que eles me deixaram partir)

But I'll never go dancing no more

(Mas eu nunca mais dançarei)

'Til I dance with the dead

(Até que eu dance com os mortos)

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Continua


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Notas finais do capítulo

La Danse Macabre, também chamada Dança Macabra, Dança da Morte, La Danza Macabra, ou Totentanz, é uma alegoria do final do período medieval sobre a universalidade da morte: não importa o estatuto de uma pessoa em vida, a dança da morte une a todos. La Danse Macabre consiste na representação de uma Morte personificada conduzindo um fileira de figuras de todos os estratos sociais dançando em direção aos seus túmulos-tipicamente com um imperador, rei, papa, monge, adolescente e bela mulher, todos numa forma esqueletal. Estas representações foram produzidas sob o impacto da Peste Negra, que lembrou as pessoas de quão frágeis eram suas vidas e quão vãs eram as glórias da vida terrena.



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