Do Lado De Dentro escrita por Mi Freire


Capítulo 35
Verdades


Notas iniciais do capítulo

Acho finalmente minha criatividade voltou a reinar.



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"O que definitivamente não dá certo, ao menos para mim, é se apaixonar."

Estou na sala de artes mesmo depois que todos já foram. A professora Eliza permitiu que eu ficasse, pois ela sabe, sabe o quanto pintar pra mim é importante para que eu possa me expressar. É como uma terapia. Ainda mais agora que eu já nem sei mais exatamente o que sentir.

Literalmente, eu estou uma bagunça por dentro.

Antes de começar a pintar vou até as janelas para fecha-las. Há uma correte de ar frio adentrando a sala, movimentando as cortinas, enquanto neva lá fora e alguns alunos se divertem como podem no gelo.

Alguém bate a porta e entra.

— Hayley? Oh desculpe. – é o Jesse. Quem mais poderia ser? Às vezes acho que nossos “encontros” são algum tipo de pirraça do destino.

Ele some antes que eu possa dizer alguma coisa. Até parece que sou uma assombração ou alguém muito ruim que ele quer evitar. Mas talvez, pensando melhor, seja isso mesmo. Eu já nem mais o reconheço.

— Ah, eu de novo. – ele volta poucos segundos depois. Agora com todo o corpo para dentro da sala. Fico observando-o de longe. Parece muito desconfortável. — Você saberia me dizer onde está à professora Eliza?

— Não tenho muita certeza. – digo, passando o peso de uma perna para outra. A presença dele ali não me é bem vinda. — Mas acho que ela foi buscar alguns materiais novos que chegaram de fora.

— Ah. – ele disse sem muita importância. Percebi que tinha uma pasta azul em mãos. — Eu precisava entregar um trabalho para ela.

— Se quiser, posso entregar pra você. – eu sugiro como quem não quer nada. Mas porque estou sendo legal mesmo depois de tudo?

— Não. Obrigado mesmo assim. – ele sorri. Daquele jeito dele que me deixa completamente perdida. Droga. — Acho que vou esperar. Eu preciso falar com ela antes da entrega.

Ele vai até a mesa da professora e se senta ali. Agora sem olhar pra mim. Algo em suas mãos parece muito mais interessante. Volto-me para a minha tela ainda branca. Pego o pincel e olho para as tintas.

Não consigo pensar em nada. Não consigo sentir nada. Além de um grande incomodo por Jesse está ali. Somente eu e ele em um ambiente fechado. Coisa que nunca mais aconteceu. Tão próximos e ao mesmo tempo tão distantes. Como dois desconhecidos.

— Tá tudo bem com você? – ele pergunta, fazendo-me erguer os olhos outra vez para poder olhar pra ele. Porque parece interessado em saber como estou? Até então ele não se importou como tenho me sentido depois de tudo que ele está me fazendo passar.

Se bem que a culpa não é totalmente dele. Nós decidimos assim.

— Tá tudo bem. – respondo tentando sorrir de maneira agradável para que ele possa acreditar. Mesmo eu não tendo tanta certeza. — Só estou sem ideia. Quero pintar. Mas é como se eu não conseguisse.

— Eu sei como é isso. – ele diz vagamente como se realmente entendesse. Talvez entenda. Só não quero ter que me importar. — Quer ajuda? – e então ele se levanta para a minha surpresa, deixando o trabalho sobre a mesa da professora. Ele vem até mim.

— E o que você sugere? – quero saber. Sentindo o coração começar a bater cada vez mais rápido com a sua aproximação. Quando ele se coloca ao meu lado seu braço toca ao meu. E mesmo através das muitas camadas de roupas posso sentir uma correte elétrica.

— Que tal – ele está olhando para a tela em branco. — algo que te lembre a sua infância? Você deve ter muitas historias para contar.

Ele se vira para olhar diretamente pra mim. Com aqueles olhos magníficos.

— Ah. – desvio o olhar olhando para as tintas. De todas as cores possíveis. — Eu realmente tenho muita história para contar! – estou sendo sarcástica. — Especialmente sobre às vezes em que perturbei seu tio Alexander e provavelmente o fiz me odiar pelo resto da vida.

Nós rimos. Sei que ele entende.

— Você não deve ter sido uma criança má todo o tempo.

— Digamos que 99% do tempo sim. Eu fui má.

Dessa vez eu não ri. Eu estava certa. Sou eu sabia o quanto. Mas Jesse sorriu de um jeito encantador.

— Mas e o 1%, o que fazia com ele?

— Eu me lamentava por não ter nenhum amigo de verdade. - arrependo-me do que acabo de dizer.

Burra. Burra. Burra.

Ficamos em silêncio. Jesse deve ter ficado surpreso com a minha resposta para a sua pergunta. Afinal, eu sou a Hayley. A garota descarada, fora de si e sem noção. Que tem tudo e nada. A garota que tem muitos conhecidos, mas que nunca, até então, pôde dizer que tinha um amigo de verdade em que pode se contar pra tudo. Mas agora tenho Amy e meu próprio irmão que basicamente estão sempre ao meu lado.

— Eu nunca pensei que... Que... Ah, deixa pra lá. – ele voltou a sorrir, sem concluir o próprio pensamento. Também não insisti. Eu já sabia exatamente o que ele ia dizer. — E quando você estava sozinha, você costumava fazer o que além de se lamentar? – parei pra pensar por um momento. — Pense sobre isso. Pode ser que surja uma ideia.

Cenas da minha infância começaram a rodar dentro da minha cabeça como em um filme. Peguei um pincel não muito fino e mergulhei na tinta verde-primavera e deixei minha mão fluir sobre a tela branca.

Primeiro fiz o gramado, depois o céu, um balanço e uma figura que poderia ser uma criança. No caso, eu. Fiz as flores do pequeno jardim da mamãe, que hoje já não existe mais, mas naquele tempo mesmo pequeno e mal cuidado era lindo. Mas nada que se comparava ao de Alexander.

Sorri comigo mesmo, lembrando-me da sensação de liberdade que eu sentia, com o vento no meu rosto ao balançar muito alto naquele velho balanço nos fundo da minha casa. Balanço que mamãe doou aos filhos de Elisabeth. Quanto mais alto eu balançava, mais perto do céu eu me sentia. Era como poder toca-lo.

— Nunca vi algo tão lindo. – Jesse virou-se pra mim. Por um momento, enquanto pintava, esquecera-me completamente de que ele estava ali. Ele quem me deu a ideia. — Sem duvidas é o quadro mais lindo que você já pintou! – ele sorria deslumbrado. — E que eu já vi.

Estava completamente envergonhada. Sempre que eu pinto e as pessoas veem, eu me sinto exposta, como se estivesse nua ou acabado de relevar um grande segredo. Sei que não deveria me sentir assim. Mas não é como se eu pudesse evitar. Afinal, pintar é uma saída pra mim. E como poder sentir um alivio após conversar horas e horas com um psicólogo.

Tentei recuar quando senti as mãos de Jesse tocar as minhas mãos. Ele retirou o pincel de mim e voltou a coloca-lo onde deveria estar. Fiquei observando seus movimentos como se eu fosse um robô que precisava ser reajustado. Ele afastou uma mecha do meu cabelo azul que desprendia do alto cabo de cavalo. E passou a me olhar, com aqueles olhinhos vibrantes com a luminosidade que entrava pelas janelas que fechei.

O resto do mundo se desligou.

Eu queria poder odiá-lo por isso. E odiar a mim mesma por ser tão tolinha. Mas eu não conseguia mover nenhum centímetro do meu corpo que pudesse evitar aquele momento. Ou até mesmo fugir. Sem pensar nas consequências permiti que ele me beijasse. Não foi um beijo calmo, doce ou sensível. Foi um beijo desesperador. Como se fossemos um casal de namorados que não se viam há anos.

Senti Jesse me guiando até a parede fria da sala de artes. Suas mãos na minha cintura e seus lábios colados aos meus. Fechei meus olhos ao sentir as costas baterem na parede. Os ombros relaxam e a musculatura do meu corpo também.

Conforme ele me beijava, queria cada vez mais que ele passasse suas mãos em mim. Queria poder senti-lo mais e mais. Mesmo tendo em consciência que estávamos em uma sala de aula, a porta estava aberta e qualquer um poderia entrar.

Não somos namorados pra piorar ainda mais a situação. Tem a Alexa, não posso não pensar que ele tem um compromisso com ela. E essas preocupações enfraquecem nosso beijo. Como se estivéssemos pensando na mesma coisa.

— Porque você faz isso comigo? – sussurro, puxando-o para mais perto de mim laçando meus braços em volta do seu pescoço para um abraço de arrependimento por ter sido tão fraca.

— Me desculpe. Me desculpe. – sua boca estava bem próxima do meu ouvido. Seu tom de voz era choroso. — Eu sei que não devíamos... Mas então, você parecia tão frágil, tão pequena, relembrando da sua infância, de momentos difíceis e pouco alegres... Eu não pude resistir ao impulso de querer estar com você. Eu disse que estaria. – ele se afastou para poder olhar dentro dos meus olhos. Segurando meu rosto com suas mãos de músico. — Eu sinto muito Hayley. Por estar sendo o cara mais babaca que já passou pela sua vida. Eu estou tão... Perdido.

Eu vi lágrimas cintilando dentro dos seus olhos âmbar. Eu podia quase entender como ele estava se sentindo. Triste e feliz ao mesmo tempo, assim como eu. Feliz por beija-lo, por estarmos ali. Triste por não ser o correto, por ser um erro. Uma traição com o resto das pessoas.

Puxei-o para um abraço. Longo e duradouro. E por um momento tive a sensação de ser o mais próximo do céu que eu poderia estar. Quase como poder toca-lo. Como no balanço. Como quando eu era criança.

Beijei seu rosto de olhos fechados. Sentindo as lágrimas banharem sua face. Não é comum vê-lo chorar. Tento me lembrar se eu já tinha o visto chorar. Mas então, percebo que é a primeira vez. Ele deve está mesmo se sentindo perdido. Mas quem nunca antes se sentiu assim? Eu tenho a impressão de que estou perdida todo o tempo.

Beijo-o outra vez. Passando os dedos em seu rosto para secar as lágrimas que escorrem depressa. Jesse não faz nenhum ruído, nem se movimenta. É um choro bonito. Sinto que quero coloca-lo em meus braços, se fosse possível, como um bebê e mima-lo até que ele possa sorrir outra vez e se sentir bem. Não consigo vê-lo chorar sem sentir uma dor no peito.

— Hayley! Eu... – meu coração para assim que ouço aquela voz nos pegando em flagrante. É a Amy. Nada poderia ser pior. — Oh, desculpe eu pensei que... Jesse?

Não há tempo para explicação. Nem como reverter o que ela acaba de presenciar. Acho que qualquer outra pessoa que tivesse visto seria menos pior que a Amy ter visto. Logo a Amy. E agora? Tudo está perdido.

— Eu vou atrás dela! – Jesse dispara.

— Nada disso! Ficou louco? Eu que vou.

Deixo-o sozinha contra minha própria vontade e saiu correndo atrás da Amy pelos corredores. Chamando a atenção de todos. Só espero que ela não abra a boca antes do tempo e estrague ainda mais as coisas. Eu preciso encontra-la a tempo. Será uma longa conversa. Isso se ela quiser conversar. Se Amy não quiser. Estará tudo arruinado.

— Hayley, eu preciso falar com você. – trombei com Tyler pelo corredor. Ele agarrou meu braço fazendo-me virar de frente pra ele.

— Agora não, Tyler. – me soltei, sem nem olhar nos olhos dele direito. Preciso muito encontrar a minha amiga. E estou farta do Tyler ter sempre o que dizer e nunca dizer quando tem oportunidade.

Continuo a correr, subindo as escadas. Ela deve estar no quarto.

— Amy, o que você está fazendo? – entro no quarto e dou de cara com Amy socando suas roupas dentro de uma mala que está em cima da cama.

— Quero mudar de quarto! – ela parecia descontrolada. De um lado para o outro atrás de coisas dela. — Não quero ficar aqui, no mesmo ambiente que você, nem mais por um segundo! Se eu pudesse mudaria de escola também. Mas como não é possível... – Amy não parava para olhar pra mim. Eu estava horrorizada. — Você é uma mentirosa Hayley! Como eu não enxerguei isso antes? Você não só mentiu pra mim como também pra todo mundo! Você traiu a minha confiança, a nossa amizade... Que amizade? Você nunca me contou nada sobre você! O que eu sei é muito pouco. – ela parou finalmente para me olhar com seus os olhos negros feito dois abismos. — Tudo bem. Eu entendia. Você era reservada, preferia ficar na sua, guardar suas coisas. Eu sempre entendi. Nunca insisti. Mas agora olha só pra você! Deveria ter pena de si mesma.

Talvez ela estivesse certa. Eu deveria ter no mínimo contado o que eu sou para ela. Deveria ter sido sincera e justa desde o principio. Amy sempre foi tão boa pra mim. Uma irmã. E eu sempre fui uma traidora e mesmo sabendo que ela gostava do Jesse, eu fiquei com ele. Mas nunca, nem por um momento, deixei de pensar nela. Mesmo assim, não justificava, pois, ela precisava saber quem eu sou.

— Amy, deixa eu me explicar. Por favor. – tentei me aproximar, mas apenas com um olhar furiosa ela pediu que eu não me movesse. Caso contrário ela seria capaz de voar no meu pescoço. — Eu tenho uma explicação pra isso tudo. Sei que parece tudo muito confuso, mas...

— Sai da minha frente Hayley. – ela pegou a mala e veio em direção a porta onde eu continuava paralisada. — O resto das minhas coisas eu venho buscar depois. Não se preocupe. Não precisaremos nunca mais nos olhar, nem nos falar. Eu nem quero saber de nada. Só quero sair daqui, fica difícil respirar perto de você. Traidora.

Eu posso até ser uma traidora. Eu não deveria me importar que ela estivesse me insultando. Amy está coberta de razão. Eu não me importaria em outros tempos, com outra pessoa. Mas é a Amy. Minha única e melhor amiga. Eu nunca tive por perto alguém como ela. Não posso deixa-la escapar assim. Sem ao menos tentar salvar a nossa amizade mesmo que ela nunca me perdoe por isso.

— Você vai ficar aqui. E vai me escutar. – digo elevando o tom de voz para deixar claro a minha decisão. — Por favor, Amy. Sem mentiras dessa vez.

— Tá. – ela revirou os olhos, caminhou até sua cama. Deixou a mala no chão e sentou-se com os braços cruzados. — Pode começar.

— Vai ser uma longa conversa. – observo, sentando-me em sua frente para olharmos nos olhos uma da outra. Estou impressionada com a facilidade que ela deixou eu me esclarecer. — Prepare-se.

— Estou preparada. – ela estava muito séria. Até um pouco assustadora. Levantei-me e fui até a porta para tranca-la. Só sairíamos dali até que ela soubesse de tudo. E ninguém nos interromperia. — Mas nada vai mudar a minha escolha. Eu vou mudar de quarto.

Voltei a me sentar, sentindo um peso nas costas.

— Há alguns anos atrás eu conheci um garoto. Brandon.

— Espera. Para. O que esse garoto tem a ver com isso?

— Espera, Amy. Deixa-me continuar, ta? É muito importante que você saiba sobre ele. Eu nunca converso sobre isso com ninguém. – exceto com Jesse. Mas isso ela não precisa saber agora. — O Brandon foi o meu primeiro amor. E foi aí que tudo começou.

Relatei a ela a história desde o principio. Como e quando foi que nós apaixonamos um pelo outro de maneiras tão diferentes, mas tão intensas. Contei ela a importância pra mim de tudo aquilo, logo eu que nunca fui de sentir muito. Ou melhor, logo eu que sempre fui muito de disfarçar sentimentos, guardar, acumular, esconder. Quando falei pra ela da morte de Brandon, a reação dela foi a esperada, Amy ficou paralisada, quase como se não acreditasse. Naquele momento, eu só queria que ela me abraçasse, mesmo que não ela não soubesse exatamente o que dizer, mas ela não me abraçou, pois não importava o que eu lhe revelasse, ela ainda estava muito chateada comigo pelo que presenciou na sala de artes entre eu e o garoto que ela se diz completamente apaixonada.

— Lembra-se quando você falou pela primeira vez sobre o Jesse? Eu ainda não o conhecia. Mesmo assim me dispus a ajuda-la. Mas então, na primeira apresentação da banda dele aqui no colégio, eu fui assisti-los, mas por curiosidade do que qualquer outra coisa. E assim que meus olhos bateram em Jesse pela primeira vez, eu senti que o coração tinha parado de bater. E eu já nem lembrava qual fora a ultima vez em que me senti assim. Os olhos dele foram o que mais me chamaram a atenção àquela noite. Os mesmo olhos do Brandon! E eu pensei, por um segundo, que estava tendo uma alucinação. Afinal, não é fácil, até hoje, saber que eu nunca mais vou ver aqueles olhos outra vez. Os do Brandon.

Pausei por segundo. Eram tantas coisas para dizer. E ao mesmo tempo me sentia perdida pela falta de palavras. Mal conseguia me expressar. Estava sendo muito difícil. Exatamente como todas as vezes que me imaginei tocando naquele assunto.

— No começo eu estava mesmo disposta a ajuda-la. Mas conforme fui conhecendo o Jesse, eu fui me encantando, era diferente de tudo que eu já tinha visto. Ele me fazia lembrar cada vez mais do Brandon e ao mesmo tempo esquece-lo pouco a pouco. Eu não queria ter que admitir, me sentia muito injusta, uma traidora. Por você, pelo Tyler a até mesmo pela Alexa e pelo Brandon. Por isso, é tão difícil pra eu ter que admitir que eu estivesse me apaixonando pelo Jesse. Perdidamente. Cada vez mais. E ficamos tão próximos de uma maneira que eu não esperava. E pra minha surpresa, o Jesse também estava se envolvendo nessa história. Às vezes acredito que até mais que eu. Mas agora, sei que sou a quem mais dá importância ao que nos aconteceu. Eu gosto dele! Gosto dele de todas as maneiras possíveis. E eu sinto muito, Amy. Mas aconteceu. E agora, de jeito nenhum, eu posso mudar isso. É algo que me destrói por dentro e me regenera.

Por um momento pensei que Amy iria chorar. Ela estava com cara de quem ia chorar com todas essas minhas revelações. Ainda mais agora, que eu acabei de dizer a ela que não posso fazer nada para mudar o que sinto pelo Jesse. E que ele sente também. Talvez não mais o mesmo. Mas eu sei que sente. Ele me confirmou isso ainda mais por ter me beijado hoje na sala de artes quando o que mais queríamos era ficar um longe do outro para quem sabe, conseguíssemos deixar de sentir muito um pelo o outro.

— E quantas vezes você ficaram juntos? – a voz dela era pacifica, completamente controlada. — Quero dizer, sem que ninguém soubesse?

— Muitas vezes. E todas elas sem ninguém por perto. E quase sempre por impulso. Meu ou dele.

— Pela maneira como você fala – ela abaixou a cabeça, brincando com os dedos. Desconfortável. — acho que ele gosta muito de você.

Alguém bateu a porta. Já estava escuro lá fora. Eu pude ver pelas janelas abertas. O céu cinza e negro. Estiquei-me para ligar o abajur.

— Meninas! – era Natalie. Do outro lado da porta. — Eu preciso entrar para pegar uma coisa. É rapidinho! Por favor, me deixem entrar.

— Nath, não! – é Amy quem diz. Achei que a nossa conversa já teria terminado. Eu ia deixar a Natalie entrar. — Volte daqui alguns minutos.

— Eu volto! – ela gritou de volta. Impaciente. — Depois quero saber o que tanto acontece ai dentro. E porque não posso fazer parte.

Amy e eu sorrimos.

— É estranho, mas eu quero saber de tudo. – ela sorri de novo de maneira graciosa. A Amy é linda com sua pele branca e seus cabelos negros curtos. Lembra-me a branca de neve. — O que o Jesse fala pra você quando estão juntos?

Um sorriso amigável brinca em seu rosto. Não consigo não sorrir também sentindo a tensão se esvair. E então começamos a conversar igual duas melhores amigas falando sobre garotos. Conto a ela basicamente tudo, guardando apenas os segredos e particularidade de Jesse, tento contar tudo que consigo me lembrar sobre nós dois e todos os momentos em que passamos juntos. Amy parece entretida e interessada em saber cada vez mais. Ela mesma pergunta coisas que eu não teria coragem ou não saberia contar. Pela insistência, eu me rendo. E por um momento, acho que tudo volta a ficar bem outra vez. Igualmente ao que éramos antes de tudo aquilo acontecer.


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Notas finais do capítulo

O que vocês acham? Porque será que de repente, de uma hora pra outra, Amy que se dizia apaixonada pelo Jesse, quer saber de tudo que aconteceu entre ele e Hayley? Será mesmo que as coisas estão bem como a Hayley acha que estão? Comentem! Deixem suas opiniões.



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