Do Lado De Dentro escrita por Mi Freire


Capítulo 21
Fascinante


Notas iniciais do capítulo

Um capítulo fofo pra vocês



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"Tem coisa que dá vontade de viver de novo. E de novo. E de novo."

Acordei com a luminosidade batendo no meu rosto. Senti-me um tanto grogue, como um vampiro que não pode se expor ao sol.

Mexi os ombros para conferir se meu corpo estava mesmo funcionando depois de tudo que passei ontem. Não sei em que momento voltei pra casa e fui dormir. Não me lembro de nada.

Percebi que havia alguém atrás de mim.

Tive medo de me virar e dar de cara com Mark ou qualquer outro garoto. Tive medo de ter passado dos meus limites e ter me entregado a qualquer um depois de toda aquela bebedeira. Não é a primeira vez que acordo sem saber onde estou. Já acordei na rua, dormindo na calçada ou em um canto, largada, dentro de uma boate ou em um bar. Não sou boa com bebida alcoólica. Sempre acabo passando dos limites.

Olhando a minha volta, sem me mexer, apenas girando os olhos, percebo que, definitivamente, aquele não é o meu quarto. Não mesmo. E sim, um quarto de garoto, o que aumenta ainda mais a minha preocupação.

O desespero começar a bater forte dentro de mim.

O braço de alguém, possivelmente o dono do quarto, está sobre mim, sobre a minha cintura. Estamos deitados em conchinha, não muito colados, dividindo uma única cama de solteiro. E isso é realmente preocupante. Com um movimento breve, dou uma conferida em mim mesma e posso suspirar aliviada ao ver que estou de roupas, ainda de coturnos e fedendo a cigarro e álcool.

Mordo os lábios reunindo coragem para ver quem é ele. Quem é ele que está ali comigo, naquele quarto, deitado comigo. Preciso saber o que aconteceu entre nós durante a madrugada, se é que alguma coisa aconteceu. Eu realmente não me lembro de nada. A última cena que se passa por minha cabeça é a de Jesse beijando Maddie sem parar...

É ele. Dormindo tranquilamente como um anjo. Seu peito subindo e descendo conforme ele respira sonolentamente. Seus cabelos ondulados de um dourado invejável estão bagunçados, espalhados sobre a testa, lhe cobrindo parte dos olhos fechados.

E ele também está de roupa, o que é um bom sinal, as mesmas roupas de ontem.

— Jesse! – cutuco-o. — Jesse! Acorda.

Ele resmunga, batendo a mão no ar como quem espanta um mosquito. Solto um risinho baixo. Sentindo meu coração bater tão forte que parece possível sair saltitante pela boca.

— Hayley? – ele pergunta, logo depois de finalmente abrir os olhos após piscar algumas vezes. — Oi. – ele abre um largo sorriso. — Bom dia!

— Oi Jesse. Oi.

Preciso me levantar dali, preciso saber o que houve, preciso voltar pra casa. Preciso agir. Mas algo parece me impedir, me puxando de volta para perto dele, poder sentir o cheirinho do seu perfume, o contato da sua pele roçando na minha, ouvir sua respiração de encontro ao meu pescoço, observar seu rosto enquanto ele dorme tranquilamente.

— O que aconteceu? Porque estou aqui? Onde estamos? – disparo, após conseguir me sentar. Jesse continua imóvel e sorridente.

— Você, Hayley, ficou muito mal ontem. Estava em um péssimo estado. Quando te chamei para ir embora, você aceitou, mas conforme íamos caminhando de volta pra casa, você surtou, de repente, chegou a me assustar. Tivemos que parar no meio do caminho. – ele riu, lembrando-se das cenas que eu não conseguia me recordar. — Você começou a chorar feito uma criança. Falava coisas que pra mim não faziam sentido. E me abraçou de uma maneira... Engraçada. Como se não tivesse forças, como se realmente não estivesse bem. E chorou. Tanto que ficou vermelha, fungava, soluçava e mal conseguia falar. Se explicar. – Jesse também sentou, encostando as costas na parede. — Eu tentei a todo custo de carregar até em casa, mas você não facilitava. E eu não sabia se ria de você ou se chorava com você.

Sorri, imaginando. Que ridícula.

— Na frente da sua casa, você se jogou no chão feito uma criança mimada. Debateu-se e se esperneou. Fiquei sem reação. Enquanto você me dizia que não poderia entrar em casa que seus pais iriam te matar e que seu irmão... Bom, eu não entendi muito bem. Então, tive uma ideia. Lembrei que você tem “problemas” em casa e não queria dificultar sua situação. Te trouxe até aqui. Entramos pelos fundos. Tio Alec já estava dormindo, era bem tarde. Tapei sua boca e te ajudei a subir. Entramos no quarto e tranquei a porta. E você ainda chorava, jogada no chão, realmente dramatizando, e começou a dizer que sentia falta. Muita falta e que precisava de um tal de... de... Como era mesmo o nome? Ah. Brandon.

Então foi esse o motivo do meu chororo.

— Quem é ele? Quero dizer, quem é o Brandon? Um cara legal que você conheceu? Um garoto especial que ficou na noite passada? – Jesse perguntou. Olhei pra ele, completamente envergonhada. Mas ainda assim, pude ver uma leve irritação em seus olhos e no tom da sua voz.

— Não está com ciúmes, está? – perguntei, rindo por pura provocação. Também, tentando fugir do assunto.

— Claro que não. É que...

Suas bochechas coraram. O que me fez lembrar de algo.

— Ei, calma aí, você e a Alexa, vocês não estavam namorando? E ontem, na boate, você e a Maddie, bom, vocês estavam se pegando.

— É. Nós ficamos. – ele abaixou a cabeça, quase envergonhado. — Mas eu e a Alexa, bem, nós meio que... Brigamos.

O assunto ficou interessante.

— Mas por quê? – quis saber,curiosa. Endireitando as costas.

— Ela é uma garota incrível, adorável, meiga, doce... No inicio, apesar de tudo, eu relevei suas crises de ciúmes. Mas com o tempo, percebi que ela estava mesmo exagerando. E se tem uma coisa que eu não gosto é me sentir sufocado, preso...

— Ah. Entendo. – desviei o olhar. Meus olhos se depararam com as horas expostas no relógio analógico sobre o criado mudo. — Preciso ir. Mamãe vai enlouquecer se eu não aparecer. – observei, já levantando. — Não que eu realmente me importe. Mas tenho dó dela, coitada. Não é fácil ter alguém como eu como filha.

— Realmente...

Nós rimos.

— Bom, obrigada Jesse. Mais uma vez. – eu disse, já com a mão na maçaneta da porta. Pronta para sair. — Digo... Por cuidar de mim.

Ele sorriu em resposta, sem dizer nada.

— Até mais tarde, então.

Abri a porta. E subitamente, antes de sair, me lembrei de algo.

— Espere – Jesse disse, interrompendo-me. Antes de eu dizer qualquer coisa. — Vamos sair hoje? Quero dizer, vamos fazer um programa legal? Diferentemente daquilo que fizemos ontem. Quero mostrar a você o que realmente vale a pena.

— Tá me zuando? – encarei-o sorrindo. — Sim, eu aceito. Mas antes, quero dizer: como é que eu vou sair daqui? Seu tio deve está lá em baixo e se eu aparecer assim, do nada, ele vai querer me matar.

Não havia ninguém em casa, mas mesmo assim a porta estava destrancada. Mamãe deixou um bilhetinho colado na geladeira. Dizia que papai saiu, Oliver sumiu, como sempre, e ela estava na casa da vizinha trabalhando em novos planos. O que isso significa? Não saberia dizer.

Aproveitei pra ligar o som do quarto bem alto, deixando a porta aberta para o som poder circular pela casa. No quarto dos meus pais, fui até o banheiro com tudo que eu precisava em mãos. Enchi a banheira com água quente e me preparei para tomar banho. Um bom banho.

Já vestida, na cozinha, preparei algo pra comer. Meu estomago estava vazio e parecia se contorcer. Sentada a mesa eu devorei tudo que tinha direito, ainda ouvindo minha boa e velha música e saboreando aquela boa sensação de que tudo está em seu devido lugar.

Ouvi Jesse gritar por mim lá de fora.

Coloquei a cabeça na janela e pedi pra ele esperar um minutinho. Eu precisava desligar o som, pegar uma jaqueta, luvas e toca.

— Aonde vamos? – perguntei, já andando ao lado dele.

— A lugares bons, diferentes do que você me mostrou ontem.

— Foi tão péssimo assim? – perguntei, sorrindo.

Ele riu, o que poderia se considerar que sim, foi péssimo. Mas eu não achei tão ruim assim. Tirando a parte do beijo dele com a Maddie e a minha crise de choro por Brandon.

— Como posso confiar em você? Você nem conhece a cidade. É a primeira vez que vem até aqui, não é?

— Sim. Mas pedi uma ajudinha ao meu tio Alec. – Jesse não parava de sorrir. E o sorriso dele me fazia sorrir também. — Confia em mim.

Eu confio.

Caminhos por vinte minutos, completamente calados, mas não foi um silencio ruim. Era agradável estar ao lado dele, mesmo que não precisássemos dizer nada.

Jesse me levou até a praça, que eu conheço desde pequena, a Praça dos Anjos. Com um lago, agora congelado, e uma ponte curva que dá do outro lado. A praça está vazia. Há um casal em um dos bancos namorando. Há muitas árvores recobertas pelo gelo e estatuas de anjos com expressões tristonhas.

— Esse lugar parece comum, como qualquer outro.

— Isto é porque você não olhou direito. - ele retrucou.

Olhei em volta, tentando captar a mensagem, mas nada vi, além das mesmas coisas das quais eu costumo me recordar.

— Olhe direito, Hayley. Há certa magia quando observamos com outros olhos. – havíamos parados no centro da praça. — O problema é que você não está acostumada a esse tipo de lugar. Esse lugar é especial...

— Não estou acostumada, – interrompi-o. — pois gosto de lugares agitados, movimentados, com pessoas por todos os lados, coisas interessantes a se fazer.

Verdade mesmo, é que tudo que é simples, perdeu a graça quando Brandon morreu. Evito esses lugares por causa das lembranças.

— Você realmente não gostou de nada de ontem?

— Eu gostei. Gostei de conhecer o “seu mundo”. O problema é que – Jesse me deixou para trás, com a frase pairando pelo ar. Ele andava a frente, mas não muito rápido, eu ainda podia ouvir a sua voz exatamente de onde estava. — é bom estar sozinho a dois.

— Sozinho a dois? Como? Por quê? – eu não conseguia entender muito bem onde ele queria chegar. Voltei a caminhar ao lado dele, deixando nossas pegadas para trás sobre a neve.

— É diferente. – ele se posicionou atrás de mim, tapando meus olhos com suas duas mãos. Nada pude ver além da escuridão. No meu ouvindo, ele continuou a dizer: — Por exemplo, nesse momento, podemos conhecer melhor um ao outro sem nada e ninguém por perto para interferir. Juntos, podemos enxergar coisas que em meio à multidão não enxergaríamos.

Senti a maciez do seu toque em meu rosto.

— Foi por isso que fiquei daquele jeito ontem. Porque eu imaginei, eu só queria que, as coisas tivessem acontecido de outra forma. Mas não que eu esteja reclamando. Foi bom. Foi bom saber das coisas que você gosta.

Esperei ele continuar, sem nada a dizer.

— Mas você, Hayley, precisa aprender a olhar melhor as coisas a sua volta. Aprender a observar, sentir, se permitir. – senti seu toque se afrouxar do meu rosto. Não queria. Não queria de jeito nenhum. Mas também, isso, eu não poderia dizer. — Olhe. Olhe com outros olhos.

E ele destapou meus olhos.

Fiquei muito surpresa, realmente, tudo mudou. As coisas não eram como antes. Não parecia que estávamos no mesmo lugar. Mas ainda assim, era a antiga Praça do Anjo, a velha e misteriosa praça. Agora, com detalhes mais específicos. Como se fosse possível às expressões dos anjos das estatuas derem mudado de sombrias para alegres e vivas.

— Como isso é possível...? Como pode ser...? Eles parecem felizes agora.

— E estão, Hayley, e estão. Acredite.

Fechei meus olhos. Voltei a abri-los. Mas nada mudou. Os anjos estavam mesmo felizes e eu não estava delirando. Por acaso, Jesse é algum tipo de feiticeiro? Tem algum poder? Até agora pouco, os anjos pareciam infelizes, mas agora, não, não estavam mais.

Procurei pelo casal em um dos bancos para ter certeza de que eles também tinham visto aquilo. Mas não estavam mais lá.

— Como você fez isso? Jesse...

Ele riu, surpreendentemente, me abraçando por trás, posicionando seu queixo no meu ombro, ainda, sem responder a minha pergunta.

— Não fui eu. Foi você. Foram seus olhos.

Ele pegou minha mão e entrelaçou nossos dedos um no outro como peças de quebra-cabeça que se encaixam perfeitamente. Jesse me levou até um dos bancos e nos sentamos ali. Eu ainda sem conseguir olhar pra ele, impressionada com tudo a minha volta. Mas podia sentir seu toque quente, apesar de estarmos de luvas, era como se uma corrente elétrica percorresse por nossos corpos.

— Foi aqui, bem no meio dessa praça, que meu tio Alec pediu Kristin em casamento.

Pude ver em seus olhos cor de âmbar algo semelhante ao orgulho e prazer ao dizer aquilo. Como se seus tios, tivessem sido seus pais e me peguei imaginando o quão bom os pais de Jesse, assim como toda sua família, era bons pra ele.

Desviei meus olhos dos deles, abaixando a cabeça devagar, fitando nossas mãos entrelaçadas sobre o meu colo como se realmente fossemos um casal de namorados. O que me entristeceu, repentinamente, como se eu estivesse sendo injusta comigo, com ele, com Amy e especialmente com Brandon. Que foi o único garoto que eu amei na vida.

Brandon e eu fazíamos passeios como esse. Onde tudo era perfeito, romântico ao mesmo tempo em que tudo fluía naturalmente. Nenhum de nós dois precisava se esforçar para que as coisas saíssem conforme o esperado, exatamente como está acontecendo agora comigo e com Jesse.

Brandon segurava a minha mão todo o tempo, me fazendo sentir a pessoa mais especial e sortuda do mundo. Nós conversamos, riamos e sorriamos um para o outro. Ele dizia coisas românticas e eu corava timidamente. Ficávamos juntinhos, abraçados, em silencio. Apenas ouvindo a respiração um do outro e não havia lugar melhor no mundo do que estar ao lado dele, fazendo o que for, ou até mesmo nada.

— Você não vai me dizer quem é Brandon, não é mesmo? – ouvi a voz de Jesse me resgatar de uma viajem que poderia não ter fim. As lembranças fora tudo que me restou e por mais dolorosas que fossem eu preferia estar com elas, para nunca me esquecer dele.

— Porque faz tanta questão?

— Eu não faço questão. – ele balançou os ombros evitando o contato dos meus olhos, visivelmente incomodado. — É que às vezes, eu só queria, por um momento, mesmo que único, que você me dissesse o que se passava aí, dentro do seu coraçãozinho.

Jesse está fazendo com que eu me sinta uma criança, pela maneira como ele age, fala e me trata com tanta paciência e carinho. Não que isso seja algo ruim, eu até gosto, mas é um tanto estranho.

— Sabe Jesse – minha voz era falha, como se um bolo em minha garganta impedisse a passagem da minha voz. — Eu passei boa parte da vida me enganando. Sabe aquela coisa de fingir que tá tudo bem, que não doeu, que tá bom assim, que eu aceito, que ahãm, tá legal do jeito que tá? – não foi exatamente uma pergunta. Mas pela expressão de seus olhos, um brilho incrivelmente encantador, pude perceber que ele me entendia sim. — Pois é, isso realmente não é nada legal.

Sentia que lágrimas me impediam de enxergar. Mas eu não podia chorar. Não agora. Não queria estragar aquele momento tão bom.

— Te abraço.

Arqueei a sobrancelha franzindo o cenho, olhando pra ele, sem entender porque ele disse aquilo. Que sentido havia naquilo?

— Mas eu nem disse nada. – soltei um risinho sem graça.

— Mas eu sei que é disso que você precisa.

E ele me abraçou. E toda vez que ele me abraça sinto que todas às vezes são diferentes das anteriores. Uma nova emoção, uma nova sensação, uma maneira diferente de me dar exatamente o que eu preciso.

— Que segredo traz esses seus olhos tristes? – ele perguntou, com as duas mãos segurando o meu rosto.

Jesse olhava pra mim, de maneira profunda, quase como se eu não pudesse evitar olhar pra ele também. Atenta aos seus movimentos, louca pra saber como ele conseguia enxergar tantas coisas mantidas em segredos dentro de mim. E enquanto ele me olhava, o mundo inteiro parecia desaparecer lentamente. Como se houvesse restado só nós dois. Era meio que feliz e triste ao mesmo tempo. Feliz por estarmos tão ligados de uma maneira que eu não saberia descrever e triste por me sentir tão traidora ao enganar pessoas que eu gosto verdadeiramente. E o pior de tudo, é que eu não consigo ficar perto dele sem sentir essas coisas, sem sentir tudo.

Jesse realmente meche com a minha cabeça.

Fechei meus olhos, suspirando fundo, certa do que estava prestes a acontecer entre nós. Estamos tão próximos, tão ligados e conectados um ao outro. Não é como se eu pudesse evitar. Perto dele estou sempre impulsionada a fazer o que tenho vontade. E naquele momento eu quero beija-lo mais que tudo. E de alguma forma, sinto que é o que ele quer também.

Sorrio devagar quando sinto seus lábios ainda fechados pressionados contra os meus. Ainda posso sentir uma corrente elétrica navegar por todo meu corpo me fazendo arrepiar. Seus lábios tem um gosto doce e me faz ter vontade de cada vez ir mais a fundo. Meio como uma necessidade, além da vontade e do desejo de me perder.

Alguém pigarreou, rompendo aquele momento tão magico.

Afastamo-nos em um pulo como se tivéssemos sidos flagrados fazendo algo de errado. De certa forma sim. Completamente sem chão, sinto o vazio dentro de mim se estender, por falta do que ia acontecer, mas não aconteceu. E então vem a culpa e o desespero.

— Oi Jesse – Andrew força um sorriso. Percebo que ele está tão constrangido quanto nós. — Seu tio Alec bem que disse que você estaria aqui. Só não disse que... - ele passou os olhos rapidamente por nós dois, ignorando-me completamente. Ele voltou a olhar pro Jesse. — Ah, deixa pra lá. – ele riu sozinho. — Lembra o que combinados? Que a banda não iria ser esquecida no feriado?

Não sei se foi só impressão minha ou Andrew realmente estava fingindo que não me viu.

— Vim te chamar pra ensaiar. Esse foi o combinado.

Maldito Andrew. Justamente agora?

— Ei Andrew – chamei sua atenção com um aceno. — Oi. Eu estou aqui. Deu pra perceber?

Ele se virou pra mim, com um falso sorriso.

— Desculpe Hayley, eu não queria ter atrapalhado...

— Bom, não atrapalhou nada – nesse momento, Jesse voltou-se pra mim subitamente como se eu acabasse de ter dito uma grande besteira. — Mas tenho a leve impressão, que, você está me evitando. Desde que...

— Não é isso, Hayley – Andrew não esperou que eu acabasse de falar e riu, riu feito um idiota. — Você está delirando! Nada a ver...

— Pode ser – dei de ombros, levantando-me. Voltando ao meu eu de sempre. Durona e sagaz. Como se eu não tivesse agora pouco me derretido toda nos braços de Jesse. — Bom ensaio pra vocês.

Afastei-me, enfiando as mãos no bolso da jaqueta. Notando que por alguma razão, as faces das estatuas dos anjos voltaram a ser frias outra vez. Exatamente como eu vi da primeira vez.

— Hayley. Não. Espere – ouvi Jesse gritar quando eu já estava prestes a sair da praça. Voltei-me para trás e esperei ele dizer. — Na verdade, não é nada, deixa pra lá.

Sorri e acenei em despedida.

Em casa, embaixo das cobertas, tomando leite quente com biscoito, sentindo o cheirinho de bolo pairar pelo ar; pensava em qual teria sido o final daquele passeio caso eu e Jesse tivéssemos nos beijado pra valer pela segunda vez no ano.

Imaginar a cena me fez sorrir atoa.

Beija-lo outra vez teria sido diferente, já que da primeira fui pega de surpresa por ele. Mas dessa vez, não, não foi exatamente como se tudo tivesse sido planejado, mas de um jeito ou de outro, tudo parecia conspirar ao nosso favor, tirando a parte que não aconteceu, por culpa de Andrew.

De repente, me preocupei, com a possibilidade de Andrew contar a alguém o que vira e que ninguém, além de mim e Jesse, deveria saber. Por muitos motivos: Alexa, Amy e Tyler. Os outros ficarem sabendo seria uma verdadeira catástrofe. Estar me sentindo atraída por Jesse não me parecia uma boa ideia. Pelo menos não na vida real, mas enquanto eu pudesse imaginar que sim, não me sentia completamente culpada por ele ser um garoto tão fascinante.


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Notas finais do capítulo

E ai, o que acharam?



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