Black Hole escrita por juliananv


Capítulo 7
Capítulo 7 Aliança


Notas iniciais do capítulo

Este volta a ser narrado pelo Edward.



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            Vinte e três dias sem Bella.


 


            No caminho para Denali, pensei em como seria estar novamente perto da minha família. Eu era um novo homem. Havia passado por grandes mudanças em um período muito curto de tempo; fui da plena felicidade para a mais terrível agonia em menos de um ano, era muito difícil administrar tudo isso. Sabia que a minha família também teria dificuldades; teria de ter paciência com eles.  


 


            Chegamos a Denali no meio da noite, todos esperavam. A recepção foi calorosa, como era previsto. Todos procuravam pensar em coisas sem muita importância, só Esme não conseguia disfarçar sua excessiva preocupação comigo.


 


            - Edward, Jasper e eu estávamos indo caçar, tá a fim? - Disse Emmett.


 


            - Claro, Emmett. - Podia ouvir que Alice havia informado a todos que eu não havia caçado desde aquela terrível tarde. Prometi a mim mesmo que tentaria parecer o mais normal possível.


 


             Corremos pelas montanhas geladas, entreguei-me aos meus instintos. Farejei um casal de ursos a uns cinco quilômetros a leste. Emmett farejou ao mesmo tempo em que eu; corríamos praticamente juntos. Jasper nos seguia. Aumentei a velocidade e saltei.


 


            - Esse é meu! - Ataquei o macho, enquanto Emmett brincava um pouco com a fêmea. Jasper correu atrás de uns lobos que estavam um pouco mais adiante.


 


            Caçamos até amanhecer, o que me ajudou. Fingi que eles me distraíam um pouco com as suas brincadeiras. Jasper e Emmett aproveitavam que estávamos sem as mulheres para lutar, elas sempre colocavam limites nas brincadeiras deles.


 


            - Sem trapacear! - Gritava Emmett. - Estou me sentido relaxado.


 


            - Deixe de ser mentiroso, não estou fazendo nada. Perca com dignidade!


 


            - Vocês sempre trapaceiam. - Emmett colocava no plural, pois nunca ganhava uma luta contra mim, Alice e Jasper.


 


            Emmett não quis perder novamente para Jasper. Vi que estava voltando sua atenção para mim.


 


            - E aí, Edward, pronto para uma revanche? - Não tinha vontade de fazer nada, entretanto tinha de me esforçar. Prometi a Bella que teria distrações.


 


            - Tudo bem, se está preparado para perder novamente.


 


            - Vou atacar mais rápido do que você poderá me ouvir.


 


            Emmett nunca perdia a esperança de algum dia me vencer. Começamos a luta como sempre, Emmett bolando mil e uma estratégias para me surpreender, eu sempre na defensiva. Normalmente passávamos algum tempo assim, não havia muito contato corporal. Até que eu me cansava de irritar Emmett e o atacava, encerrando a luta.


 


            Daquela vez foi diferente, havia uma espécie de fúria reprimida em mim, não consegui controlar a minha reação. Parti para o corpo a corpo, Emmett estava se divertindo. Com o passar dos minutos, a coisa foi ficando totalmente fora de controle, sentia alívio por poder descontar em alguém toda aquela fúria. Emmett foi obrigado a usar toda a sua força na tentativa de me conter e, ainda sim, não era suficiente.


 


            - Acalme-se, Edward! - Pediu Jasper.


 


            Senti a falsa tranqüilidade que Jasper lançava sobre mim. Parei de atacar Emmett, fiquei constrangido por minha reação inesperada.


 


            - Sinto muito, Emmett, perdi o controle.


 


            - Desculpa por quê? Você estava me dando a melhor luta que eu já tive. - Emmett dava gargalhadas.


 


            Jasper estava tenso:


 


            - O que aconteceu, Edward?


           


            - Não sei - balancei a cabeça -, apenas não consegui controlar a minha fúria. Deixei fluir parte do que estou sentindo, não pensei, só agi. É difícil passar o tempo todo tentando me controlar. Perdoem-me, isso não vai se repetir.


 


            - Hã... Sem essa! Fazia anos que não me divertia tanto. Quando quiser se descontrolar de novo, estou às ordens! - Franzi o cenho, Emmett não levava nada a sério. Ele parecia não perceber como a coisa toda podia ter facilmente dado muito errado.


 


            - Cala a boca, Emmett! - Disse Jasper. - Não vê como Edward está perturbado?


 


            - Tudo bem! Bota pra fora, mano, pode ajudar. – Emmett deu um soco em meu braço.


 


            - Nada pode ajudar. – Suspirei. - Só tenho que me esforçar para não ser muito desagradável perto de vocês.


 


            - Não se preocupe com a gente, sabemos que está difícil. Só queremos te ajudar a passar por isso – disse Jasper.


 


            - Vocês poderiam fazer idéia do que é passar por isso se perdessem Alice ou Roseli. - Podia ouvir a dor que eles imaginavam. – Entretanto, sentir é muito diferente. Claro que você sabe o que estou sentindo, Jasper. Entretanto, você só capta as emoções, a dor física que sinto você não é capaz de experimentar. Posso lhes garantir que, se algo acontecesse a Alice ou Rose, vocês estariam implorando pela morte.


 


            - Não diga isso! - Repreendeu Emmett. - Você não pode pensar assim, sabe que isso mataria Esme. Ela o ama! Você sempre será o filho preferido.


 


            - Eu sei disso, Emmett. Agora, e se fosse com você? Se não pudesse mais ficar com Rose, o que faria? – Sabia que Rose era o centro do mundo de Emmett. - E não adianta nenhum de vocês dois tentarem mentir, sei que conseguem me entender.


 


            Respirei fundo antes de falar.


 


            - Preciso fazer um pedido a vocês. – Coloquei a mão no ombro de cada um deles. - Assim que Bella morrer, quero que me ajudem morrer também. - Os dois trocaram olhares assustados.


 


            - Sinto muito, não posso. Edward, como... Não dá! - Jasper não demonstrava nenhum traço de dúvida em sua mente para que eu pudesse insistir no assunto com ele.


 


            - Ficou louco de vez, garoto? - Emmett também estava irredutível.


 


            - Tudo bem. Vejo que não conseguiriam. - Nunca acreditei realmente que qualquer um dos dois fosse capaz, mas tinha de tentar mesmo assim. – Por favor, não comentem isso com ninguém. Não quero deixar ninguém preocupado. Venham, vamos voltar.


 


            Chegando ao Chalé, Esme nos olhava preocupada.


 


            - Por que demoraram tanto?


 


            - Acabamos parando para conversar um pouco. - Jasper tentava acalmar a situação.  


 


            - Estou vendo a roupa do Edward e do Emmett toda rasgada, portanto não adianta tentar me enganar. Vocês andaram lutando? – Esme não gostava das nossas brincadeiras.


 


            - Não foi nada de mais, Esme, pode verificar, não machuquei o precioso Edward. – Emmett a provocava.


 


            - Da próxima vez, levem uma das garotas com vocês.


 


            - Relaxe, mãe; nós garotos precisamos de momentos de descontração. - Emmett tentava sempre deixar Alice e Rose para trás quando íamos caçar, pois gostava de poder brincar à vontade. Rose tratava Emmett como criança, ela sabia muito bem que ele não era nada prudente.


 


            - Não aconteceu nada demais, Esme, pode ficar tranquila. Jasper cuidou da situação. E quando foi que Emmett me pegou sem que eu deixasse? - Tentei relaxá-la um pouco, não queria que ninguém ficasse me vigiando o tempo todo. Se ela sonhasse com o meu pedido, enfrentaria uma cena terrível.


 


            Fui para a sala fingindo ver TV; na verdade me enfiava dentro do grande buraco negro que agora morava no meu peito. Bloqueava os pensamentos deles. Passava a maioria dos dias assim, fingindo me interessar por qualquer coisa. Não conversava com ninguém, eles procuravam respeitar a minha necessidade de ficar só.


 


            Alguns dias eram piores que outros. Quando isso acontecia, saía para fingir caçar. Corria pelo Alasca, Canadá e Estados Unidos. Não tinha um rumo certo, só evitava correr em direção a Washigton, tinha medo de não conseguir parar e acabar em Forks. Voltava, dias depois, quando conseguia me acalmar um pouco.


 


            Estava particularmente preocupado em como resolveria o meu segundo maior problema. O primeiro dependia inteiramente de mim: manter-me afastado da Bella. Já para o segundo eu precisava de auxilio, já que nem Carlisle conseguiu se matar sozinho. Planejei ir aos Volturi, mas tinha o problema da minha família.


 


            Durante séculos evitamos que eles soubessem do meu dom, mas, principalmente, que não tivessem conhecimento de Alice, pois Aro poderia usá-la irmã como arma e ela não merecia isso. Entretanto, eu estava ficando sem saída. Jasper e Emmett se recusavam a me ajudar. Pensava em alternativas... Teria de me manter longe de Aro, essa era a única coisa que eu podia fazer para proteger minha família.


 


            Quarenta e dois dias sem Bella.


 


            Entrei pela janela do meu quarto, retornando de uma de minhas longas “viagens de caça”. Na verdade, havia passado dias vagando por florestas escuras. Eu me mantinha distantes de todos, já que não podia ficar com a única pessoa de que eu necessitava.


 


            - Edward, você poderia me acompanhar até o meu chalé? – Fiquei surpreso com a repentina entrada de Eleazar em meu quarto.


 


            - Claro.


 


            Eleazar não pensava em nada importante; fiquei apreensivo que pudesse ser algo relacionado a Tanya. Assim que entrei, vi que Alice e Carlisle, que já nos aguardavam na sala.


 


            - Eu contei a eles. – Alice, sempre se intrometendo.


 


            - Edward, como você pode pensar em fazer isso conosco? Matar-se dessa maneira? E, o pior, pedir aos Volturi? Pode ser o fim de nossa família! – Carlisle estava profundamente aborrecido comigo.


 


            - Carlisle, eu mal estou suportando a minha dor com a distância. - Balancei a cabeça. - Quando Bella... – Não conseguia falar.


 


            - Resolver assim... se matando... Você vai acabar com Esme, sabe como foi difícil para ela com seu primeiro filho. Vai fazer com que ela passe por isso novamente?


 


            - Carlisle, eu sei que vou magoar a todos, especialmente a Esme. Mas ela tem você! - Estava agitado, andava de um lado para o outro. - Ponha-se no meu lugar: o que faria se sua metade se perdesse para sempre? Que escolha eu tenho, já que vocês se recusam a me ajudar?


 


            - Você sabe exatamente as escolhas que tem. Se Bella vai morrer um dia, é porque você está permitindo! – Alice se levantou e colocou as mãos na cintura.


 


            - Se for para discutir sobre a Bella, estou de saída, Alice.


 


            - Calma, Edward. - disse Eleazar – Se você escolheu proteger essa garota, vamos respeitar. Agora, ir até os Volturi - ele balançava a cabeça - não é uma boa idéia. Conheço Aro muito bem. Se ele souber da existência de Alice, ficará realmente muito interessado.


 


            - Por favor, me ajude então! – Olhava para os três suplicando por alívio.


 


            - Sinto muito, não podemos. Como poderia te matar, filho? – Disse Carlisle.


 


            - Já que vejo que ninguém consegue fazer isso por mim, serei forçado a tomar essa atitude. Não se preocupem, não vou permitir que Aro me toque. Manterei uma distância segura, algum dos seus “escravos” vai acabar me ajudando. Afinal, não seria muito sacrifício para qualquer um deles me fazer esse favor.


 


            - Você está contando com a sorte. Quem te garante que Aro não vai ficar interessado em você? É no mínimo curioso: em todo tempo que estive com eles, nunca apareceu em Volterra um vampiro suicida. – Eleazar falava de maneira sarcástica.


 


            - Isso ainda vai demorar alguns bons anos a acontecer. Bella ainda vai viver muito. Então, não precisam ficar tão preocupados. Quem sabe até lá eu não encontre outra solução para o meu problema?


 


            - Deixe de ser tão cabeça dura, Edward...


 


            - Nem pense em começar com isso, Alice! – Olhei para ela, franzindo o cenho.


 


            - Tudo bem. Contei para Carlisle e Eleazar dos seus planos só por precaução. – Alice sorria. - Vejo que em breve vamos todos voltar para Forks mesmo. Bella chama por você todas as noites, sabia? E você nunca será forte o bastante para se manter afastado dela por muito tempo.  – Alice pensava em Bella chamando por mim.


 


            Após ouvir Alice, saí correndo da sala com a lembrança da última noite em que eu estive no quarto da Bella, implorando para que eu ficasse com ela. Se meu coração pudesse sangrar, estaria sangrando agora. Corri por dias novamente...


 


            Noventa e dois dias sem Bella.


 


            - Olá, Edward! Voltando de mais uma longa caçada? Obrigada por nos presentear com a sua amável presença. - Rose não conseguia disfarçar a irritação que sentia por meu constante mau humor.


 


            - Deixe-o em paz, Rose! - Ordenou Esme. Ela não tolerava a falta de compaixão de Roseli. Eu, por outro lado, jamais esperei outro comportamento dela.


 


            - Não se preocupe, Esme, não vale a pena. – Sussurrei enquanto subia a escada.


 


            Fui para o meu quarto, não gostava de ficar muito tempo na presença deles. Era constrangedor ter de ficar olhando para a cara de compaixão de todos, já que às vezes não conseguia bloquear a preocupação na mente deles.


 


            Jasper andava me evitando nas últimas semanas. Não propositalmente, era difícil para ele ter de compartilhar meu sofrimento. Já Alice fazia uma contagem regressiva, sabia que mais cedo ou mais tarde eu voltaria para Forks. Emmett tentava administrar a falta que sentia de seu “antigo” irmão e manter Roseli bem longe de mim. Carlisle e Esme eram só preocupações.


 


            A família de Tanya procurava manter uma distância segura de mim. Eleazar e Carmem conseguiam me entender um pouco, eles sabiam como seria difícil um viver sem o outro. Por outro lado, Kate e Irina, que já haviam se relacionado com homens humanos, não conseguiam entender a minha fixação por Bella.


 


            O difícil mesmo era ter de ouvir Tanya; o ciúme e a inveja que sentia de Bella me davam nos nervos. Eu nunca havia me interessado por ninguém antes, apesar das inúmeras investidas de Tanya ao longo dos anos.


 


            Mesmo vendo o meu sofrimento, Tanya não conseguia deixar de ter fantasias constrangedoras a nosso respeito, tentava bloquear a mente dela com mais força do que a dos outros. No entanto, eu sabia que em algum momento ela viria me procurar.


 


            Carlisle bateu na porta do quarto, queria chamar minha atenção. Todos sabiam que eu andava tão submerso em meu sofrimento que nem prestava atenção aos pensamentos deles.


 


             Posso entrar? – Pensou Carlisle.


 


            - Claro. - Fingia ler um livro.


 


            Alice está programando uma festa para hoje, sei que você não está no clima. Se sentir vontade, apareça.


 


            - Não sei... Não quero dar oportunidade para Tanya se animar.


 


            Quem sabe não seria bom para você?


 


            - Não! Não consigo ver nada a não ser Bella. Não seria justo com ninguém, só traria mais sofrimento.


 


            Disso você não pode ter certeza. Tanya nunca foi apaixonada por você, só sente... desejos.


 


            - Está além de mim pensar em qualquer coisa desta natureza. Se antes eu nunca me interessei, agora é impossível.


 


            Você que sabe. Esqueça Tanya, apareça. Sua família sente a sua falta, eu sinto a sua falta. Você foi minha única companhia durante anos. Sabe o quanto aprecio sua presença.


 


            Podia ouvir a música e as conversas na sala; Alice tentava levar as coisas de maneira leve. Ela vivia inventado novidades, gostava de espalhar alegria. Amava qualquer motivo para uma festa.


 


            Vem, Eduard, desce um pouco. Tanya não vai te atacar hoje; se vir algo mudar neste sentido, eu te aviso.


 


            Desci só para agradar minha família. Fiquei a maior parte do tempo pensando em Bella, sonhava com a sua janela, minha entrada para o paraíso. Bloqueava o pensamento de todos.


 


            - O que você acha, Edward? - Perguntou Esme me tirando do meu transe.


 


            - Perdão, Esme, estava distraído. - Todos estavam me encarando.


 


            - Quando você acha que devemos partir? - Não fazia idéia do que ela estava falando.


 


            - Sei lá. Não pensei nisso ainda. – Respondi para Esme.


 


            Alice estava sentada ao lado de Esme, ela se mexeu de forma estranha, olhei para ela, seus olhos estavam desfocados; por hábito, entrei em sua mente. Meu corpo ficou ainda mais frio, dei um pulo do sofá.


 


            Alice via Bella se debater e gritar deitada em sua cama. Bella parecia estar doente, estava toda suada. Charlie a segurava, tentava acordá-la e não conseguia. Bella despertou e começou a chorar agarrada a Charlie. A visão durou menos de um segundo, o suficiente para que eu me sentisse desesperado.


 


            - Por que, Alice? - Gritava furioso. - Você me prometeu que não a ficaria vigiando! – Todos olharam surpresos.


 


            - Veio sozinho, você sabe que estou conectada a ela. Quando algo muito forte acontece, vem sozinho! Eu te avisei, não posso evitar tudo... Quem sabe isso não te faça entender o que está fazendo a ela? - Podia ver a confusão de todos. A festa havia acabado.


 


            - O que aconteceu? – Perguntei para Alice, a aparência da Bella me dava medo. - Por que ela estava gritando? – Andei até ficar a centímetros de Alice.


 


            - Não sei. Não posso ver os sonhos, você sabe. Vi o mesmo que você. Então, vamos concordar: Bella não está nada bem, nunca a vi tão pálida.


 


            - Basta, Alice! Ela está viva, vai se recuperar. Charlie está com ela.


 


            - O que aconteceu, Edward? – Virei-me para Esme. - O que Alice viu? - Ela perguntava da maneira mais doce possível. Entretanto, não conseguia esconder a sua preocupação com Bella. Esme já a amava como a uma filha. Não era só eu e Alice que sofríamos pela sua ausência; todos estavam de algum modo em uma espécie de luto por Bella, menos Roseli.


 


            - Nada de grave, mãe. Bella estava tendo um pesadelo. - Era doloroso não poder correr para abraçá-la. Bella estava péssima, nunca me pareceu tão frágil quanto agora.


 


            - Não, Esme - Alice estava irritada -, o que eu vi foi que Bella está horrível. Nem parece que está viva, magra, pálida, nunca vi ninguém neste estado antes. Ela nem parece a mesma pessoa. Minha amiga está irreconhecível. Ela estava descontrolada, chorava e gritava. O pobre Charlie está sozinho tendo de cuidar do estrago que deixamos para trás. - Alice me olhava furiosamente.


 


            - Não vou começar essa discussão novamente, estou cansado disso. Vou caçar. - Sai correndo, precisava lidar com minha dor longe deles.


 


            Corri por horas, nem sabia onde estava quando parei. Gritava o nome dela sem parar.  Demorou dias para que eu conseguisse me recuperar. A todo o momento sentia-me seriamente tentado a voltar; depois de dias pensando, resolvi dar mais tempo a Bella.


 


            Voltei para o chalé. Assim que entrei pela porta da sala pude ouvir Alice.


 


            Sinto muito. Eu me descontrolei. Você sabe como a amo também, não gosto de vê-la sofrer. - Sabia da sinceridade de Alice, não podia ficar bravo com ela. Se Bella estava assim, a culpa era minha.


 


            - Tudo bem, Alice, é que foi muito duro vê-la assim. O tempo ainda é curto. Vamos dar mais alguns meses, Bella vai melhorar.


 


             Não vou insistir. Sei que você não vai aguentar isso por muito tempo mesmo... Só me avise quando desistir de ser tão idiota. Quero ver minha amiga também. - Alice me mostrou a língua e saiu correndo pela porta da sala.


 


            Minha parte menos nobre ficava feliz toda vez que Alice insistia que era só questão de tempo. No entanto, eu não tinha o direito de pensar assim. O futuro é baseado nas decisões que tomamos e eu estava decidido a manter Bella segura. Sabia que precisava de algo para me distrair só por mais um mês, caso contrário acabaria voltando para Forks. Pensava em minhas opções.


 


            Hoje o dia estava particularmente difícil, a noite foi longa. Se mesmo antes de Bella já era difícil ter de conviver na mesma casa com três casais apaixonados, agora era o inferno completo. Apesar de constrangido, não conseguia deixar de sentir inveja pelo que eles tinham. Tentava disfarçar este tipo de sentimento, sabia que não estava enganado ninguém. Eles tentavam ser mais discretos quando eu estava próximo. Essa falta de liberdade que minha presença causava me fazia sentir mais culpado. Precisava arranjar uma maneira de me afastar deles sem que isso magoasse tanto Esme.


 


            Alice entrou no meu quarto sem a menor cerimônia. Ela era a única que se sentia à vontade para isso.


 


            - Edward, estamos planejando deixar Denali em breve. Você já resolveu o que vai fazer?


 


            - Estou pensando em... algumas coisas... - Não tinha muita certeza se meus planos dariam certo.


 


            - Não decidiu ainda? – Ela me olhava de forma sarcástica - Se quiser, Jasper e eu podemos te acompanhar. - Alice com certeza já havia tido algumas visões do que eu queria fazer.


 


            - Vou pensar...


 


            - Bom, estou pensando em iniciar a investigação sobre a minha origem. Sei que foi chato James ter atacado Bella, mas não posso negar que gostei muito das informações que ele revelou a ela naquela noite. Por que não vem conosco para ajudar? Suas habilidades poderiam ser bem úteis.


 


            Fiquei tenso ao ouvir o nome de Bella. Desde que cheguei a Denali, dois meses atrás, raramente alguém tocava no seu nome. Todos que estavam no chalé esperavam para ver minha reação; Alice fingia ignorar a todos.


 


            - É uma opção. E o restante da família? Eles vão para onde? – Alice e eu assumimos como responsabilidade nossa a proteção de todos, embora ultimamente não estivesse cumprindo com o meu dever.


 


            - Bom, Rose e Emmett estão pensando em viajar pela Europa em uma nova lua de mel. – Ela revirou os olhos. - Carlisle cogitou a possibilidade de ir conosco, mas resolveu lecionar em Cornell, então ele e Esme vão ficar na casa de Ithaca. Eu posso começar minha investigação por lá e depois ir a Nova York.


 


            - Quando todos pretendem partir?


 


            - Após o Natal. Estamos pensando em fazer alguma coisa legal, aproveitar que estamos todos juntos. Quem sabe um amigo secreto? Ia ser divertido.


 


            - Tudo bem. - Não me interessavam as comemorações, só não queria estragar a festa deles. Cada dia que passava era pior.


 


            - Sei que você não quer nada disso - Alice sorria -, está se esforçando à toa. Poderíamos passar o Natal em Forks. - Alice me mostrava o que eu mais desejava: a janela da casa dela.


 


            - Não insista, Alice! – Ela saiu do quarto.


 


            Não queria ir com eles, precisava ficar sozinho. Estava protelando em seguir com meu plano, sabia que eu não era bom em rastrear. Entretanto, havia prometido a mim mesmo que não deixaria Victoria viva depois do que fez a Bella. Depois do Natal iria caçar Victoria, nem que tivesse de correr o mundo todo. Isso seria bom, consumiria muito meu tempo e me daria alguma razão para suportar um pouco a sua ausência. Mesmo que Bella nunca soubesse, daria mais essa prova do meu amor a ela.


           


            Noventa e nove dias sem Bella.


 


            Finalmente, chegou o Natal. Pretendia partir sozinho no dia seguinte. Ainda não tinha informado a todos que iria embora. Obviamente Alice já sabia.


 


            - Jasper, você e Alice podem ir caçar comigo hoje? - Peguei Jasper de surpresa, não falava havia tanto tempo que até eu estranhava ouvir o som da minha voz.


 


            - Claro! Quando quer partir?


 


            - Vamos já! - Disse Alice, entrando na sala. - Tenho muitas providências a tomar para a nossa comemoração. E já sei mesmo o que você quer.


 


            Tem certeza de que não será perigoso? Não posso perder você também. - Fingi olhar para a cozinha, Alice perceberia que estava respondendo que não. Alice e eu estávamos acostumados a ter essas conversas particulares. - Para de ser idiota! Se alguma coisa acontecer a você, Bella vai saber, vou contar a ela.


 


            - Não faça isso! - Jasper sentiu a súbita tensão em nossa volta; olhava para Alice, questionando o que estava acontecendo.


 


            Se você for idiota o bastante para isso, contarei a Bella. Afinal, como poderá me impedir? Vamos conversar longe daqui. - Pensando isso, Alice virou de costas e correu para as montanhas geladas, Jasper e eu a seguimos.


 


            - O que vocês dois andam discutindo? - Jasper exigia a verdade.


 


            - Aquela idiotice que ele anda falando desde que rompeu com a Bella, que vai se matar. – Ela se virou em minha direção. – Agora, preste muita atenção, Edward Cullen: com muito esforço, respeitei até agora todas as burradas que você anda cometendo, especialmente porque sei que podem ser desfeitas a qualquer momento. No entanto, se sua decisão ficar um pouco mais forte, volto para Forks e conto tudo para a Bella.


 


            - Você não se atreveria, Alice! - Podia ouvir o rosnado de fúria crescendo em meu peito.


 


            - Você sabe muito bem que eu sou a única que não tenho o menor problema em desafiar você. Então, comporte-se! Caso contrário, quebro a minha promessa e volto para Forks na mesma hora, entendido?


 


            - Parem já, vocês dois! - Jasper emanava ondas de tranquilidade. - Viemos aqui para discutir isso ou tem outra coisa para nos falar Edward?


 


            - Vou partir amanhã, na primeira hora. Tenho algo para fazer e preciso de um favor seu. – Voltei minha atenção para Jasper.


 


            - Certo, do que precisa?


 


            - Vou atrás de Victoria, não sei como encontrá-la. Preciso que me ajude a entrar em contato com Peter e Charlote.


 


            - Vamos com você - disse Alice.


 


            - Não, vou sozinho. – Não queria ninguém por perto, em especial Alice. - Isso é responsabilidade minha.


 


            - Acho que Alice tem razão, Edward. Não sabemos se ela viaja sozinha, pode ser perigoso.


 


            - Não se preocupem, vou ser cauteloso. Enquanto o coração de Bella bater, prometo que não colocarei meu plano em ação. - Falava isso principalmente para Alice, sabia que ela era bem capaz de cumprir suas promessas. Também era um pouco reconfortante saber que Bella e eu estávamos vivendo no mesmo mundo. Assim que Bella morresse, ela iria para o paraíso e eu nunca poderia acompanhá-la; estaríamos, então, definitivamente separados.


 


            - Por que acha que eles podem te ajudar? - Perguntou Jasper.


 


            - Eles vivem viajando, conhecem muitos de nossa espécie. Se não cruzaram com ela, podem conhecer alguém que o tenha feito. Claro, seria muito mais fácil se Alice tentasse ver para onde ela pretende ir. - Sabia que ela não estava muito disposta ajudar.


 


            - Se você me prometer que não será imprudente e que se sentir algum risco irá nos chamar na mesma hora, eu faço isso. – Prometeu Alice.


 


            - Posso te dar minha palavra de que a minha existência está ligada aos batimentos cardíacos de Bella. Isso é o máximo que posso prometer.


 


            - Tudo bem. Sei que logo você voltará para ela; então, mantenha-se vivo até lá. Vou me concentrar nisso. Pode demorar um pouco, não tive muito contato com aquela fêmea...


 


            - Quando você pretende contar a eles que vai partir? - Perguntou Jasper.


 


            - Hoje, depois das comemorações. Não quero estragar a festa de todos. Apesar de ser um bom presente para Roseli, que está bastante irritada com minha presença.


 


            - Obrigada por isso. Vejo que se contasse antes iria arruinar minha diversão. E, a propósito, comprei o seu presente de amigo secreto, está em cima do seu armário.


 


            - Valeu, Alice, havia me esquecido.


 


            Voltamos para o chalé. Carlisle me olhava, tinha sérias suspeitas de que eu partiria em breve; meu pai me conhecia muito bem, só não imaginava o que eu pretendia fazer.


 


            A noite demorou a chegar, acho que minha ansiedade por partir fazia com que o relógio andasse devagar. A festa seguiu, mantive-me afastado de todos. Cacei com eles, mas voltei antes de todos para o chalé; era difícil compartilhar a animação com eles. Pensava a todo o momento. “Só uma noite, Edward, e amanhã você poderá se entregar à tristeza.”


 


            Eles voltaram para começar a entrega de presentes, eu não estava interessado em nada disso. Esperava que acabasse logo para poder comunicar a todos que estava de partida.


 


            Eu havia tirado Esme. Alice comprou para ela uma coleção de livros especializados em restauração. Esme gostou muito do presente, agradeci a Alice.


 


            Edward, eu tirei você. - Pensava Alice - Quero que confie em mim e não tenha um ataque de fúria com o meu presente. Futuramente ele será bem útil. – Ela estava sorridente.


 


            - Bom, meu amigo é o Edward. - Falou Alice.


 


            - Assim não vale, Alice! Você nem deixou a gente tentar descobrir. - Emmett zombava dela.


 


            - Com o humor com que ele anda, seria bem provável que Edward acabaria por arrancar a cabeça dela. - Roseli não perdia a oportunidade de destilar um pouco do seu veneno.


 


            - Não vamos estragar a noite. Continue, Alice. - Esme sempre tentava contornar as alfinetadas de Roseli. Se ela imaginasse o que Roseli pensava para mim, teria um ataque.


 


            - Obrigada, Esme – disse Alice. - Edward, foi muito difícil encontrar o presente adequado para você. Tive que ir muito longe para achá-lo, então não seja grosseiro comigo. Posso ver que você não vai querer ficar com ele. Antes de me ofender com tamanha falta de educação, tenha em mente que eu sei o que será melhor a longo prazo.


 


            Alice jogou para mim uma pequena caixa preta de cetim, com uma piscada. No começo eu não entendi: quando abri, fiquei chocado.   


 


            Eu me lembrei, mesmo que minha memória fosse um pouco embaçada: era a aliança de casamento da minha mãe, Elizabeth Masen. Enquanto admirava a aliança, olhava a mente de Alice procurando por mais explicações. Ela se recordava de uma de suas visões do futuro que havia se fechado para mim: eu, deitado ao lado da Bella em nossa campina, uma fina chuva caia sobre nós dois. Ela estava linda, feliz, estendia a sua mão enquanto eu tirava do bolso da minha calça a aliança da minha mãe; coloquei a aliança em seu dedo delicado. Beijávamo-nos como da ultima vez em que a beijei, parecia que eu não tinha medo de tocá-la, fazia carinhos em Bella de maneirar que nunca havia me permitido fazer antes. Fiquei atônito, Alice nunca havia me mostrado isso. Estava dividido entre a esperança de saber que, se voltasse, isso poderia acontecer, e a angústia de saber que, se voltasse, poderia estar condenando-a à morte. Mas eu queria desesperadamente tudo isso, queria um dia poder me casar com ela... Bella minha para sempre...  Mas não era certo, se voltasse, eu a mataria.


 


            - Onde encontrou isso, Alice? – Sentia que Jasper estava controlando o meu humor, a falsa calma dele tomava conta de mim.


 


            - Na nossa casa de Chicago. Foi difícil. Esme e eu estivemos atrás desta aliança desde o dia em que você decidiu que não era forte o suficiente para evitá-la. Resolvi te dar, em primeiro lugar, para lembrá-lo de como é impossível vocês se manterem afastados e, segundo, porque sei que daqui a alguns meses você irá precisar dela. Bella vai amar essa aliança! – Alice abusava da sorte, sabia que Jasper estava me controlando.


 


            Suspirei profundamente antes de responder a Alice, não tinha forças para discutir com ela novamente hoje.


 


            - Agradeço a sua intenção, mas não vou precisar disso. - Coloquei a caixa com a aliança sobre a mesa de centro da sala. Alice fazia careta.


 


            - Já que meus problemas estragaram a comemoração da noite, tenho um comunicado a fazer: estou de partida.


 


            - Aonde pretende ir? - Carlisle receava que eu fosse para a Itália.


 


            - Ainda não sei, estou esperando que Alice possa me ajudar nisso.


 


            - Ajudar com o quê? - Esme estava preocupada.


 


            - Ele pretende caçar Victoria. - Alice respondeu, ela sabia que eu inventaria uma mentira. Olhei para ela muito bravo; hoje Alice estava particularmente mais irritante do que o normal.


 


            - Vou junto com você. - Disse Emmett.


 


            - De maneira nenhuma! Vou sozinho.


 


            - Não, Edward, fique conosco! - Esme tinha pavor de perder qualquer um de nós.


 


            - Por que isso agora, Edward? Ela nunca representou perigo algum. - Meu pai seria contra qualquer tipo de violência.


 


            - Não posso permitir que ela viva. Bella sempre correrá perigo e também me preocupo que Victoria resolva ir até os Volturi, ela poderia querer se vingar por James. Se isso acontecer, não seria só a Bella que estaria em perigo.


 


            - Desculpe-me intrometer, Edward - Irina parecia seriamente preocupada com alguma coisa, mas não dei importância. - Você pretende caçar todos do clã de James?


 


            - Não, só Victoria. Laurent nunca cogitou machucá-la. Mas depois de caçá-la planejo procurar por ele, só para ter certeza.


 


            - Filho, já se passaram meses. Ela nunca tentou nada. Por que faria alguma coisa agora? - Carlisle acreditava que todos mereciam uma segunda chance.


 


            - Eu não prestei muita atenção em sua mente, não sei a profundidade da ligação que ela tinha com James, então sempre haverá o risco de que Victoria volte. Não posso permitir que isso aconteça, ainda mais agora que Bella está totalmente desprotegida.


 


            - Edward, se você acha que existe esse risco... Não seria melhor que alguém ficasse vigiando Bella... de longe? – Suspirei profundamente antes de responder a Alice..


 


            - Não! Bella é muito intuitiva, pode perceber nossa presença e demoraria mais tempo para ela seguir adiante. - Eu já havia pensando nisso, entretanto, conhecia-me bem o suficiente para saber que eu não conseguiria ficar muito tempo escondido dela e que, se permitisse que Alice fizesse isso, Bella acabaria se tornando uma de nós.


 


            - Tudo bem. Se você acha que caçar Victoria é fundamental para que Bella sobreviva vá, mais leve Jasper e Emmett com você. - Carlisle contava com os dois para me refrear ou ajudar.


 


            - Agradeço à disposição de vocês em me acompanhar, mas prefiro ir sozinho.


 


            - Ah, qual é! Vai me deixar de fora da diversão? - Emmett estava louco para caçar Victoria comigo.


 


            - Sinto muito, Emmett, não sei quanto tempo isso pode levar. E estou farto de impor minha presença a vocês. Sei que não sou a melhor companhia neste momento. Estou cansado de tentar fingir que as coisas podem melhorar. - Esme atravessou a sala e veio me abraçar.


 


            Fique, queremos ajudar você. Diga-me do que precisa para que nossa companhia não seja tão desagradável. – Esme implorava para que eu ficasse, estava muito preocupada com o que poderia acontecer comigo.


 


            - Não são vocês, sou eu! Preciso de um tempo sozinho, voltarei para ver vocês. - Tinha que prometer algo a Esme, ela não merecia que eu abandonasse minha família para sempre.


 


            - Edward, pode ser perigoso. Você não deveria ir atrás dessa fêmea sozinho. - Eleazar estava preocupado.


 


            - Vou ser cauteloso, só vou me aproximar dela quando for seguro para mim. Prometi a Alice que, se notar alguma coisa errada, entro em contato com vocês.


 


            - E se não der tempo? Você não pode controlar tudo. - Sabia que ele tinha razão.


 


            - Estarei o tempo todo de olho nele. - Alice tentava reconfortar a todos, e alertar a mim.


 


            - Agradeço a preocupação. Mas estou decidido, vou sozinho. Nada do que digam vai me fazer mudar de idéia. Só preciso que Alice me diga qual rumo deverei seguir para começar minha caçada. - Vi que todos ainda queriam discutir opções comigo. Não queria discutir com ninguém e então subi para o meu quarto; precisava ficar sozinho com meu futuro perdido. Tinha novas lembranças de Bella.


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Notas finais do capítulo

Não esqueçam de deixar a opinião de vocês, ela é muito importante para mim.
bjos, até o próximo capítulo.



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