Black Hole escrita por juliananv


Capítulo 4
Capítulo 4 O fim




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            Segui para a escola sozinho; minha família já estava partindo para Denali.


 


            Enquanto esperava que Bella chegasse, lutava para melhorar a minha expressão. Precisava mudar os nossos destinos novamente. Devia isso a Bella, desta vez eu não iria falhar.


 


            Quando ela chegou, caminhei até o seu carro e abri a porta para ela. Sua fisionomia estava horrível; tinha olheiras ainda mais profundas do que a do dia anterior. Estava com aquela a ruga entre os olhos que indicava preocupação. Meu primeiro impulso foi de abraçá-la, fugir com ela dali, roubá-la para mim. Isso não era o correto, precisava me afastar de sua vida para sempre; não podia ficar arrumando pretextos para tocar em seu corpo.


 


            - Como você está? – Perguntei da forma mais indiferente que pude.


 


            - Perfeita. – Bella sempre foi uma péssima mentirosa.


 


            Durante esses meses em que passei a seu lado aprendi a ler o rosto dela. Podia ver que estava com dor. Não discuti.


 


            Andei ao seu lado em silêncio, minha cabeça estava a mil. Repassava constantemente as razões certas para abandoná-la. Eu me mantinha distante, não segurei suas mãos suaves entre as minhas mãos de pedra; um imenso buraco crescia em meu peito.


 


            Algumas vezes, quando a olhava, seu semblante era de dor. Então perguntava a ela se o braço doía. Ela sempre negava.


 


            Bella aceitava o silêncio que comecei a impor entre nós.


 


            Sentamos em nossa mesa habitual. Puxei a minha cadeira o mais distante possível da dela. Bella não reclamou.


 


            - Onde está Alice? – Bella perguntou.


 


            Teria de começar com minhas mentiras, não gostava disso, mas era imprescindível.


 


            - Está com Jasper.


            - Ele está bem? – Típico de Bella: preocupar-se com o vampiro que na noite anterior estava disposto a matá-la.


 


            - Ele se afastou por um tempo.


 


            - O quê? Para onde?


 


            - Nenhum lugar especifico – não poderia revelar o verdadeiro destino que minha família tomou.


 


            - E Alice também? – Bella a amava muito e seria a primeira pessoa que ela perderia naquela semana.


 


            - Sim, ela vai ficar fora por um tempo. Estava tentando convencê-lo a ir a Denali.


 


            O semblante dela despencou, seus ombros se arcaram. Sabia que podia mudar isso, acabar com o sofrimento dela, agradá-la de alguma forma; então, lembrava-me a todo momento que aquilo era para o seu bem, que se eu não fosse logo embora a coisa poderia ficar ainda pior.


 


            - Seu braço está incomodando? – Perguntei.


 


            - Quem liga para o meu braço idiota? – “Eu ligo”, pensei! Ligo para tudo que envolve você, ligo para cada parte do seu corpo, para cada coisa insignificante que ocupa um lugar em sua vida. Tudo o que diz respeito a você é essencial para mim. Eu amo você. Sempre vou amar você. Quando você não mais existir, eu também não existirei.


 


            O dia passou de forma horrível, Bella a cada minuto mais triste e silenciosa, e eu a cada minuto mais desesperado, querendo colocar um fim em tudo e ao mesmo tempo relutando em fazê-lo. Aqueles seriam os últimos minutos da paz que sentiria na minha existência. Quando Bella não pudesse mais estar comigo, iria ganhar outra companhia: a agonia. A troca em nada me agradava.


 


            Acompanhei-a até o seu carro no estacionamento da escola.


 


            - Vai aparecer esta noite? – Será que ela não me queria por perto? Talvez fosse fácil para ela terminar tudo. A noite anterior poderia ter feito com que Bella enfim se desse conta do tamanho perigo que corria em minha companhia. Se ela concordasse comigo ao menos neste aspecto, quem sabe a coisa não fosse tão difícil para ela como eu temia. Onde estava com a cabeça? Bella nunca concordava comigo, nunca fazia o que eu dizia.


 


            - Mais tarde? – não entendi o por quê do “mais tarde”. Queria dar um fim em tudo agora, mesmo que ainda não tivesse coragem.


 


            - Tenho que trabalhar. Preciso compensar com a Sra. Newton por ontem.


 


            - Ah!


            - Então, você vai quando eu estiver em casa, não vai? – Ela falava de um jeito tão doce, com tanto medo de que eu negasse a ela minha monstruosa presença. Como negar qualquer coisa a ela? Isso realmente era um grande problema.


 


            - Se quiser – falei com a voz seca, não podia transmitir nenhuma emoção, o teatro deveria ser perfeito.


 


            - Eu sempre quero. – A intensidade do amor em sua voz fez com que me sentisse atordoado. Como eu posso lutar para ficar longe dela quando nos dois queremos a mesma coisa? Eu tenho necessidade de Bella, da mesma forma que tenho necessidade de sangue.


 


            - Tudo bem, então. - Fui frio com ela, pude ver em seus olhos como a estava magoando.


 


             Não resisti: mesmo sabendo que era errado, dei um beijo em sua testa. Sentindo o cheiro de morango em seus cabelos, vire-me e fui para o carro. Ela ligou a picape e foi para o trabalho. Peguei o Volvo e voltei para a casa branca, sabia que não encontraria ninguém lá; fiquei feliz com isso, queria poder entregar-me à tristeza sem que ninguém ficasse sentindo pena de mim. Eu não merecia a piedade de ninguém.


 


            Quando cheguei, fiquei surpreso por encontrar Carlisle, pude ouvi-lo em seu gabinete.


 


            Aqui em cima, filho, ele pensou. Voei pela escada para o segundo andar.


 


            - Sim? – eu disse quando o encontrei.


 


            Sinto muito ter ficado, mas precisava resolver algumas coisas do hospital antes de partir. Não se preocupe: à noite estarei indo me encontrar com os outros. Aguardaremos por você.


 


            - Eu é que tenho de me desculpar, Carlisle. Sei o quanto você gosta do hospital,  sinto que tenha que abrir mão disso em função dos meus erros.


 


            Não acho que você tenha errado, filho. Amar nunca pode ser considerado um erro. Principalmente o amor que você sente por ela, a maneira como está sendo generoso com Bella; mesmo que isso lhe cause tanta dor, é admirável. Nunca senti tanto orgulho e respeito por ninguém como sinto por você.


 


            - Obrigado pela sua generosidade, não sei o que faria sem o seu apoio. É muito importante ter você ao meu lado. Mas não sou digno de sua admiração, só estou corrigindo os meus erros.


 


            Quero que você conte comigo, sempre. Mas preciso lhe pedir algo.


 


            - Se eu puder, farei.


 


            Só me prometa que, se isso for duro demais para você, que não seja orgulhoso e volte atrás. E, principalmente, que não cometa nenhuma loucura, pois nos magoaria demais perder você também.


 


            - Eu farei tudo que estiver ao meu alcance para me manter afastado de Bella. Mas só posso prometer viver enquanto Bella for viva; nunca pretendi viver depois que ela partir, independentemente de estar com ela ou não. Bella sempre será meu motivo para existir. Só não me mato hoje por ter medo de que ela, de alguma maneira, venha a precisar de mim e eu não esteja aqui para ajudá-la.


 


            Pense em nossa família, em sua mãe. Não cometa um ato tão violento contra você e contra todos nós. Edward, se não pode viver sem ela, talvez partir seja um erro, filho. Fique com ela, leve-a para longe de nós. Aproveite os anos de felicidade ao seu lado. Você merece isso e Bella também.


 


            - Obrigá-la a viver escondida do resto do mundo? Não posso fazer isso a ela. Bella tem suas necessidades, tem os pais vivos, sei que ela nunca conseguiria viver longe deles. E, com o tempo, ela poderia me odiar por obrigá-la a viver assim. Prefiro partir com as lembranças boas que tenho dela. Sei que irei magoar vocês, principalmente Esme, mas não tenho escolha. Por favor, não conte para eles, não quero ser vigiado, e também não quero que sofram antes do tempo; Bella ainda vai viver alguns anos.


 


            Perdoe-me, Edward, acho que errei em transformar você, fui egoísta. Não podia imaginar que esta vida seria tão dura para você. Não existem palavras que possam expressar o quanto sinto por isso.


 


            - Não, você nunca errou comigo. Eu devo a você ter conhecido Bella, os meses que passei com ela valem uma eternidade de agonia. Só tenho que te agradecer.


 


            Abracei Carlisle e fui para o meu quarto na esperança de arranjar alguma coisa para fazer. Esme já havia passado por lá e deu um jeito na bagunça que eu havia feito. Arrumei minhas coisas para partir, levei tudo para o carro. Sabia que assim que terminasse com Bella teria de entrar no Volvo e sumir, para que não voltasse atrás.


 


            Não queria ficar à toa em casa. Despedi-me de Carlisle e fui caçar; nada muito complicado, apenas alguns alces.


 


            Não resisti e fui dar uma olhada em Bella na loja. Sua expressão não tinha mudado muito, ela estava preocupada. Observei-a por alguns minutos, corri de volta para casa, peguei o carro e fui para a casa da Bella. Tinha que dar um fim nisso.


 


            Cheguei antes de Bella. Charlie estava lá, então bati na porta, ele veio abrir.


 


            - Boa noite, Edward. Bella ainda não chegou, mas entre e veja um jogo comigo.


 


            - Tudo bem.


 


            Charlie estava se preparando para comer pizza amanhecida. Convidou-me para comer com ele, achei melhor fazer esse sacrifício hoje, já que Bella não estava aqui para fazer-lhe companhia; comíamos em silêncio assistindo ao jogo. Era repugnante.


 


            Nossa, que cara... aconteceu alguma... Bella... não sofra... acabo... ele...


 


            Fiquei ouvindo os pensamentos de Charlie enquanto fingia ver TV. Menos de três minutos depois, ouvi a picape chegando. Era como se meu estômago pudesse embrulhar, como se de alguma forma eu pudesse estar enjoado; sentia medo.


 


            Bella entrou andando mais rápido do que o habitual, seu coração estava acelerado.


 


            - Pai? Edward? – Parecia que estava aliviada, esperava que eu não aparecesse.


 


            - Aqui! – Gritou Charlie.


 


            Ela entrou na sala e me olhou preocupada e esperançosa. Eu estava sentado na pequena poltrona, fiz de propósito, não poderia dar espaço para que ela sentasse ao meu lado, precisava manter distância. Charlie ocupava o sofá maior.


 


            - Oi – ela sussurrou. Apenas acenei com a cabeça.


 


            - Ei, Bella. Acabamos de comer pizza fria. Acho que ainda está na mesa.


 


            - Tudo bem – disse Bella. Ela ficou parada na porta da sala, esperando que eu me levantasse e que fosse com ela para a cozinha, como sempre fazíamos. Hoje não, tenho que me distanciar dela; matava-me fazê-la sofrer dessa maneira, fazer com que esperasse por mim. Mas era melhor assim, eu precisava ser convincente de que não estava mais interessado nela. Que absurdo, ela nunca acreditaria nisso.


 


            - Vou logo depois de você.


 


            Bella foi para a cozinha, pude ouvir que ela não estava comendo; aquilo era preocupante, não gostava quando ela não se alimentava direito. Ela estava muito quieta, senti curiosidade de ir ver o que ela estava fazendo. Não pude fazer isso, era contra as minhas novas regras. Eu tinha que aparentar indiferença.


 


            Doía demais deixar Bella esperando por mim, mais não sabia o que dizer para ela, quais palavras seriam as certas para colocar um ponto final em tudo. O coração dela batia descompassado.


 


            Será que ela acreditaria nisso? 24 horas atrás eu estava neste mesmo sofá dizendo a ela que minha vida sem ela não existia, que me mataria se algo acontecesse a ela; agora, ali estava eu tentando por um fim nisso, fazendo um teatro para que ela acreditasse que tudo o que eu havia dito era mentira.


 


            Escutei que ela se levantou e subiu a escada, foi para o seu quarto. Desistiu de esperar por mim. Após alguns minutos, ela desceu tentando não fazer barulho, seu doce cheiro ficava mais forte, anunciando a sua entrada na sala. Ela chegou e bateu uma foto. Tentava descontrair o ambiente, quebrar a tensão.


 


            - O que esta fazendo, Bella? – Charlie estava sem graça.


 


            - Ah, sem essa. Você sabe que mamãe vai ligar logo para saber se estou usando os meus presentes. Tenho que fazer alguma coisa antes que ela fique magoada.


 


            - Mas por que você esta tirando fotos de mim?


 


            - Porque você é lindo. E porque, como comprou a câmera, tem a obrigação de ser um de meus modelos. – Ela se virou para mim, sem me olhar nos olhos, seu rosto estava pálido, sem vida.


 


            - Ei, Edward. Tire uma de mim e do meu pai.


 


            - Você tem de sorrir Bella – disse para ela. Quando ela se esforçou e sorriu, eu bati a foto. Os olhos dela estavam tristes.


 


            - Deixe que eu tire uma de vocês, crianças.


 


            Bella aproximou-se de mim meio sem jeito, passou o braço por minha cintura; podia sentir que ela tentava usar toda a sua força. Controlei-me para não a abraçar como era de meu desejo; coloquei o braço em seu ombro da forma mais indiferente possível. Por fora estava frio, por dentro me debatia com a intensidade das emoções que não podia demonstrar. Parecia que éramos dois estranhos. Sentia a tensão que emanava de nós.


 


            - Sorria, Bella – disse Charlie - Chega de fotos por hoje. Não precisa usar o filme todo agora.


 


            Soltei Bella, ela continuou me abraçando, sentia-me feliz com isso. Entretanto, devagar fui me afastando dela, sentei-me na poltrona novamente. Ela ficou de pé, olhando-me por um tempo; depois, sentou-se ao lado do pai no sofá maior. Estava desesperado, querendo saber o que ela estava pensando. Por que ela não insistia em falar comigo e aceitava passivamente a minha falsa indiferença? Pela milionésima vez, pensei em como seria útil ler o que ela pensava de tudo isso... Se conseguisse, talvez pudesse me afastar de uma maneira que não a magoasse tanto.


 


             Fingia ver o jogo, assim como ela. Ambos sabíamos que aquilo era um teatro, achava muito estranho que Bella em nenhum momento me perguntasse qual era o problema. Sei que ela nunca foi boba; muito pelo contrário, ela podia ler os meus olhos como ninguém. Mesmo assim, permitia que eu criasse aquele falso abismo entre nós, sem lutar. Desde o primeiro momento Bella lutou por mim. O que tinha mudado? Será que ela também concordava que era hora de nos afastarmos?


 


            Acho... brigaram... Bella... triste... preocupado.


 


            Os pensamentos de Charlie chamaram minha atenção, achei que era hora de acabar de uma vez com tudo. Ia sair e falar com ela de uma vez, acabar com aquela agonia sem sentido.


 


            - É melhor eu ir para casa – disse.


 


            - Tchau – disse Charlie. Amanhã... melhor...


 


            Bella se levantou e foi comigo até a porta. Quando estávamos do lado de fora da casa, acovardei-me. Fazer aquilo ia contra tudo o que eu queria. Então, continuei andando em direção ao carro.


 


            - Vai ficar? – ela perguntou, sem esperança na voz.


 


            - Esta noite não - falei sem olhar para trás; tinha medo de falhar se a olhasse.


 


            Entrei no carro e disparei para o mais longe possível de Bella, antes que colocasse tudo a perder.


 


            A noite foi longa. Andei de carro sem nem sequer reparar aonde havia ido; não sei por quanto tempo fiquei vagando pelas estradas, só me dei conta de que estava na frente da casa dela quando desliguei o carro. Era automático, como se o corpo dela me atraísse; eu não conseguia me desviar de tal magnetismo.


 


            Contrariando tudo o que era certo, entrei pela sua janela, sentei-me no chão ao lado da sua cama; memorizava cada pedaçinho do seu rosto. Ela estava inquieta demais, começou a falar o meu nome. Implorava para que eu voltasse, para que ficasse com ela.


 


            - Edward, eu amo você, não vá...


 


            Não podia suportar ouvir isso, então fugi do seu quarto. Peguei o carro e voltei para casa.


 


            Não tinha vontade de fazer nada, então fiquei olhando pela parede de vidro para os fundos da casa. O celular tocou, nem precisava atender para saber quem era; deixei tocar por algum tempo, até que perdi a paciência e atendi.


 


            - Alice.


 


            - Só queria ouvir sua voz. Estou com saudade de você.


 


            - Tudo bem. Também sinto sua falta.


 


            - Tem certeza de que vai fazer isso amanhã? Vi que não vai ser fácil para ambos.


 


            - Ainda não consegui decidir. Mas vai ser logo, não posso prorrogar este sofrimento por muito tempo. Acredito que quanto antes fizer isso será melhor para Bella. Mas temo que ela não me deixe partir. Queria fazer de uma maneira que ela não sofresse tanto.


 


            - Independentemente do jeito que faça, ela vai sofrer. Lamento muito te dizer isso, mas é a verdade.


 


            - Eu sei, por isso dói duplamente.


 


            - Por que não pede a Carlisle...


 


            - Não insista, você já viu que não vou mudar de idéia! Aposto que o nosso futuro está bem diferente agora. Isso deve deixar você bem irritada.


 


            - Não brinque com isso, eu estou com medo do que vejo.


 


            - Consegue ver como será a reação dela?


 


            - Não, ainda não... Bella se vê indo embora com você.


 


            - Então ela já imagina que vou partir.


           


            - Sim.


 


            - Avise a todos que, assim que puder, me encontro com vocês. Decidiremos juntos para onde ir, não quero ficar muito tempo em Denali. Tenho medo de que ela desconfie que estarei aí e vá me procurar. Bella é muito criativa.


 


            - Certo. Faça-me um favor: dê um beijo nela por mim. Sinto falta dela, nunca tive uma amiga como ela, foi bom.


 


            - Lamento que tenha de afastar vocês duas. Eu sei que se amam, só faço isso por acreditar que será mais fácil. Não quero nenhum vampiro perto dela. Perdoe-me. Adeus.


 


            Fiquei pensando em como essa decisão afetava a vida de todos. Tinha verdadeiro amor por Alice, ela sempre seria a minha irmã preferida. Éramos muito ligados, nós nos entendíamos e, de certa forma, nos completávamos: eu ouvindo o presente e ela vendo o futuro. Ajudávamos um ao outro, pois ambos tínhamos de ser discretos para não desrespeitar as outras pessoas. Bem que Alice sempre tentava dar um jeito de manipular as coisas e as pessoas para que o futuro fosse o melhor possível... Só não me zangava com ela porque sabia perfeitamente que Alice fazia isso para evitar que as pessoas sofressem; algumas vezes era inevitável e daquela vez seria assim. Alice também sofria por se afastar de Bella, por ver como eu ficaria depois disso e por não conseguir impor um futuro a mim.


 


            Arrumei-me para ir para a escola. Não sabia se iria conseguir ir embora tão logo... Talvez, se eu me afastasse aos poucos, quando fosse embora de vez Bella sofresse menos.


 


            Foi uma manhã longa e difícil. Tentava não olhar para ela: sabia que em certos momentos estava à beira de voltar atrás, mas não podia fazer isso. Se voltasse atrás e, dali a alguns meses, Jasper ou qualquer outro a atacasse e a matasse, o que eu faria? Eu acabaria matando quem fizesse isso e, assim, não só estaria culpado por não ter partido quando tive chance como também seria responsável pelo fim da nossa família. Pelo bem de todos, tinha de me manter forte.


 


             Quando estávamos no refeitório, comecei a vagar pela cabeça das pessoas que estavam próximas, na tentativa de me distrair um pouco.


 


            Acho que o namoro deles está acabando. Bella está com uma cara... Bom, eu também estaria assim se perdesse o gostosão do Edward Cullen. Quem sabe agora eu não tenho uma chance? Jéssica sempre me irritava.


 


            Idiota! Eu sempre soube que ele não era bom para ela. Se ele é burro o suficiente para terminar com a mais gata da escola, melhor para mim. Dessa vez Mike não estava de todo errado: era um completo idiota ao dar as costas para ela. Mas só faria isso por ela; nada no mundo, a não ser a segurança de Bella, me daria força para cometer tamanha burrice.


 


            Pobre Bella. Edward também me parece bastante triste. Será que eles precisam de ajuda? Não gosto de me intrometer, mas eles se amam tanto, não deveriam brigar. Ângela, gentil como sempre.


 


            - Ei, Jess! – Bella falou e desviou minha atenção; já fazia horas que não ouvia a sua doce voz. Agarrei-me a esse som com todas as minhas forças. Sentia falta da sua voz, do som de suas risadas.


 


            - Que foi, Bella? – “O que será que ela quer?”, pensava Jéssica, meio irritada.


 


            - Pode me fazer um favor? – “Que saco! O que ela quer?” – Minha mãe quer que eu tire umas fotos de meus amigos para um álbum. Então, tire umas fotos de todo mundo, está bem?


 


            - Claro – até que vai ser divertido.


 


            Distrai-me um pouco com a agitação deles com as fotos. Recordei-me de que Alice havia dito que Bella pretendia ir embora comigo. Entendi o que ela estava fazendo, queria levar recordações de seus amigos. Pobre Bella, seu lugar não era junto de mim.


 


            Levei-a até o carro e disse tchau sem a beijar. Ela também não tentou se aproximar de mim em momento algum. Não perguntou se eu ia aparecer à noite. Sentia que Bella estava se afastando de mim também. Fui paro o meu carro, não tinha para onde ir. Minha família estava longe, não podia ficar com Bella, nunca estive tão só assim.


 


            Cacei a noite toda. Entreguei-me aos meus instintos na esperança de aliviar um pouco a dor. Era a primeira noite que passaria sem ela, tinha de me acostumar.


 


            Pensei em simplesmente ir embora sem falar nada a ela, sem despedidas, essa idéia era tentadora. Mas eu nunca fui covarde, ela merecia que eu a libertasse. Ela merecia que eu rompesse da maneira certa, mesmo que isso a magoasse. Seria pior sumir e deixar a esperança de que algum dia eu voltaria, tinha que dar a ela a chance de continuar sua vida após minha partida.


 


            Fui para a escola decidido que não protelaria mais a situação. Não estava sendo honesto com ela a enrolando daquela maneira. Já havia resolvido o que fazer, estava passando da hora de dar um basta na situação. “Amanhã eu não a verei mais, nunca mais.” Queria poder morrer.


 


            A aula pareceu passar rápido demais. Apesar de exteriormente demonstrar total indiferença por ela, por dentro meu coração queimava de amor. Olhei Bella de todos os ângulos possíveis durante a manhã toda; queria guardar tudo que pudesse dela em minha memória. Seu semblante estava muito triste, sua tristeza ecoava na minha própria tristeza.


 


            Fomos para o seu carro juntos. Estava resolvido: havia chegado à hora.


 


            - Importasse se eu aparecer hoje? – perguntei.


 


            - É claro que não. – Ela parecia chocada com a minha pergunta.


 


            - Agora?


 


            - Claro. No caminho, vou colocar uma carta no correio para Renée. Encontro você lá.


 


            Tinha medo de perder a coragem. Se fosse certo, terminaria com ela ali, naquele exato momento. Mas não podia fazer isso na frente das pessoas, precisávamos de privacidade.


 


            Em pânico, sem pensar, estiquei meu braço e peguei o envelope que estava no banco do carona. Não havia me aproximado tanto dela assim desde a noite das fotos; seu calor era maravilhoso, derretia a dor que estava se acomodando em mim.


 


            - Eu faço isso. E ainda vou chegar em sua casa antes de você.


 


            - Tudo bem.


 


            Dirigia de forma alucinada. Precisava ser forte, não sabia quanto tempo isso poderia durar. Provavelmente teria de mentir para ela por horas. Tinha de ser convincente, Bella era muito intuitiva e, se desconfiasse da verdade, nunca me deixaria partir. Uma grande parte minha queria que isso acontecesse, eu queria que ela me segurasse, que nunca me deixasse partir. Afastar-me dela era tão impossivelmente errado que não sabia como fazer. Entretanto, não era certo ficar perto dela. Estava revoltado com Deus. Como ele podia permitir que isso acontecesse conosco, nos fazer sentir um amor que era impossível de se realizar? Se Deus agisse desta forma apenas comigo tudo bem, eu era um monstro, mas Bella nunca mereceu passar por isso. Bella sempre foi boa, nunca mereceria sofrer; isso era o que doía mais.


 


            Cheguei antes dela, tentava me acalmar. Minha respiração estava acelerada. Fechei meus olhos e me concentrei no som de sua picape se aproximando. Depois, nas batidas do seu coração. Tinha de me apegar a isto: o coração da Bella deveria bater. Só assim o mundo teria sentido.


 


            Desci do carro e fui encontrá-la descendo de sua picape, peguei sua mochila e coloquei de volta no carro.


 


            - Vamos dar uma caminhada. – Não esperei por sua resposta. Segurei a mão dela e a guiei pela floresta; não caminhamos muito, só não queria ser surpreendido por ninguém; depois que começasse não poderíamos ser interrompidos.


 


            Afastei-me dela, lutando com minha mão; encostei-me na arvore procurando por apoio, olhei-a nos olhos de maneira dura. Tinha de fazer com que ela me odiasse.


 


            - Tudo bem, vamos conversar.


 


            Ela tinha a voz firme, decidida e corajosa. Queria ter a mesma coragem que ela. Respirei fundo. Repassei em minha cabeça tudo o que havia acontecido naquela noite, o pior, tudo o que poderia ter acontecido. Precisava de estímulo para começar a por um fim em minha existência.


 


            - Bella, nós vamos embora.


 


            - Por que agora? Mais um ano...


 


            - Bella, está na hora. Afinal, quanto tempo mais podemos ficar em Forks? Carlisle não pode passar dos 30, e agora diz ter 33. Logo teremos de recomeçar, de qualquer forma – ela estava em silêncio tentando entender o que eu falava. Começou a morder o lábio inferior enquanto se concentrava. De repente, ela foi ficando mais pálida, fui tomado pelo pânico, meu mundo estava desabando sobre a minha cabeça.


 


            - Quando você diz nós....


 


            - Quero dizer minha família e eu


 


            - Tudo bem – disse Bella. – Vou com você – queria tanto poder fazer isso, pegar Bella e sumir no mundo... Poderia levá-la para alguma floresta longe de todo o resto, o meu mundo girava em torno dessa garota, minha garota, que não podia ser minha. Sentia nojo de minha natureza, aprisionado neste corpo de pedra.


 


            - Não pode, Bella. Aonde vamos... Não é o lugar certo para você. – “Fuja de mim, corra Bella, mantenha-se viva!”


 


            - Aonde você está é o lugar certo para mim.


 


            - Não sou bom para você, Bella. – Era a absoluta verdade, um monstro se apaixonar por um anjo tão puro. Ela era tudo o que eu mais queria.


 


            - Não seja ridículo. Você é a melhor parte de minha vida.


 


            - Meu mundo não é para você. – Era a absoluta verdade, alguém como ela nunca deveria ficar perto de mim. Mas tinha de mudar o rumo desta conversa, pois sabia que, indo por esse lado, Bella não me daria ouvidos. Tinha de magoá-la para que ela aceitasse ficar longe de mim. Sabia que ela não ia acreditar num absurdo completo: eu não a querer mais.


 


            - O que aconteceu com Jasper... Não foi nada, Edward! Nada!


 


            - Tem razão. Foi exatamente o esperado.


 


            - Você prometeu! Em Phoenix, você prometeu que ficaria... – Eu não estava ali para fazer promessas, mas para quebrá-las.


 


            - Desde que fosse o melhor para você.


 


            - Não! Tem a ver com minha alma, não é? Carlisle me falou disso, e eu não me importo Edward. Não me importo! Você pode ter minha alma. Não a quero sem você... Ela já é sua! – Não suportava ver Bella implorando por algo que era dela, eu era dela. Seria eternamente assim, nunca imaginei que conseguiria sentir uma dor tão profunda quanto à dor da transformação. No entanto, o que sentia era milhares de vezes pior, preferia ter queimado eternamente a ter de passar por isso.


 


            - Bella, não quero que você venha comigo.


 


            - Você... não... me quer? – Via o quanto minhas palavras calavam fundo em Bella. Podia ouvir o seu coração batendo descontrolado. Queria retirar tudo o que disse, queria amar Bella da forma mais intensa que conseguisse. Queria poder voltar a ser humano novamente.


 


            - Não.


 


            - Bom, isso muda tudo. – “O quê? Ela acreditou em mim?” Fiquei em estado de choque; podia ver nos olhos dela que ela sinceramente acreditava naquele absurdo.


 


            - É claro que sempre a amarei... de certa forma – quase caí de joelhos, implorando perdão por fazê-la passar por isso, queria voltar atrás. Não podia! O que importava aqui era a vida da Bella! Ela sempre seria minha prioridade absoluta. - Mas o que aconteceu na outra noite me fez perceber que está na hora de mudar. Porque... Estou cansado de fingir ser uma coisa que não sou, Bella. Não sou humano.


 


            - Permiti que isso durasse tempo demais, e lamento.


 


            - Não lamente. Não faça isso. - Sua voz estava tão fraca que se eu fosse humano não conseguiria ouvir. O que eu estava fazendo com ela era imperdoável. Sabia que tinha de dar a última cartada e que, ao fazer isso, a perderia para sempre.


 


            - Você não é boa para mim Bella.


 


            - Se... é isso o que você quer...


 


            - Mas gostaria de lhe pedir um favor, se não for demais. – Lembrei-me do alerta de Alice e usei toda potência que pude em meu olhar. Deixei que meu amor por ela escapasse através dos meus olhos, para que assim a pudesse convencer de fazer a coisa certa.


 


            - O que quiser. – Nunca tinha visto ela assim, parecia um robô, sem nenhuma chama de vida em seus olhos. O olhar de chocolate quente de Bella sempre foi profundo, agora estava irreconhecível; senti-me gelado, tive medo.


 


            - Não cometa nenhuma imprudência, nenhuma idiotice. Entende o que estou dizendo?


 


            - Estou pensando em Charlie, é claro. Cuide-se... por ele.


 


            - Vou me cuidar.


 


            - Em troca, vou-lhe fazer uma promessa. Prometo que esta será a última vez que vai me ver. Não voltarei. Não a farei passar por nada como isso novamente. Você poderá seguir com a sua vida sem qualquer influência minha. Será como se eu nunca tivesse existido.


 


            Bella parecia que ia desmaiar, estava meio verde, tremia. Precisava reconfortá-la, dar esperança a ela. Essa dor que estava sentindo ia passar, talvez demorasse alguns dias... Não acreditava que ela estava me deixando com tanta facilidade, talvez seu amor por mim não fosse tão forte quanto imaginava...


 


            - Não se preocupe, você é humana... Sua memória não passa de uma peneira. O tempo cura todas as feridas para a sua espécie.


 


            - E suas lembranças? – Ela se preocupava comigo.


 


            - Não vou esquecer. Mas minha espécie... Nós nos distraímos com muita facilidade. – Não havia distração no mundo que me fizesse esquecê-la. - Acho que isso é tudo. Não vamos incomodá-la de novo.


 


            Comecei a me afastar dela, levava o meu corpo no sentido contrário do que ele queria.


 


            - Alice não vai voltar. – Ela não emitiu som nenhum, consegui ler o que ela dizia.


           


            - Não. Todos já foram. Fiquei para trás para lhe dizer adeus.


 


            - Alice foi embora?


 


            - Ela queria se despedir, mas a convenci que uma ruptura sem traumas era o melhor para você.


 


            - Adeus, Bella. - Precisava me afastar dela. Sabia que, se não corresse dali o mais rápido possível, a beijaria e nunca conseguiria partir.


 


            - Espere! – Ela veio em minha direção com as mãos estendidas. Era o momento que eu estava esperando. Ela iria me segurar, dizer que não acreditava em nada que eu havia dito, me beijaria e não me deixaria partir. Mas ela só estendeu a mão e não falou nada, deixou que eu segurasse seu pulso e colocasse seus braços estendidos ao lado do seu corpo. Não resisti à proximidade e dei um ultimo beijo em sua testa, sentido o seu corpo próximo ao meu pela ultima vez. Eu gritava por dentro para que ela me abraçasse, não me deixasse ir. Ela era a única que podia evitar isso.


 


            - Cuide-se – sussurrei em sua testa. Ela não reagiu, fechou os olhos.


 


            Então eu parti. Melhor dizendo, eu morri.


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