Black Hole escrita por juliananv


Capítulo 23
Capítulo 23 Vôo




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            Bella chorava e tremia compulsivamente. Estava em pânico, ela nunca havia estado assim em minha presença antes. Aquele não foi um dia comum, mas ela foi forte, embora tivesse passado por coisas demais. Por muito menos, qualquer outro humano teria entrado em colapso antes. Demetri nos deixou sozinhos na recepção, bem contrariado. A humana nos olhava intrigada, não estava interessado nos pensamentos dela. Estava preocupado com o meu amor.


 


            Falava com a Bella, tentava acalmá-la; ela não parecia conseguir me ouvir. Comecei a me preocupar, seu choro estava alto demais. Ela estava chamando muita atenção.


 


            -Você está bem?


 


            Perguntei a ela novamente. Estava estressado, Bella mal se aguentava de pé.


 


            - É melhor fazê-la sentar antes que caia. Ela vai desmoronar.


 


            Alice mostrava Bella caindo, eu segurei a sua cintura com mais força. Ela tremia violentamente. Comecei a guiá-la para o sofá mais distante da humana. Precisava conversar com Alice, tínhamos muitas coisas para planejar.


 


            - Shhh, Bella, shhh!


 


            Tentava acalmá-la, enquanto a colocava ao lado de Alice. Sentei-me a seu lado, segurei a sua mão e a abracei. Bella parecia incapaz de se recuperar.


 


            - Acho que ela está com uma crise histérica. Talvez você deva dar lhe um tapa.


 


            Olhei bravo para Alice e sussurrei:


 


            - Eu, bater nela? Que idéia.


 


            - Faça alguma coisa então, antes que algum deles apareça por aqui. Dê um beijo nela, aposto que isso a faria voltar a si e vocês ficariam felizes – eu ri.


 


             Gostaria de seguir o conselho da Alice, mas não era hora para isso. Ao invés disso, peguei a Bella no colo e a aqueci com o manto que Aro havia me dado.


 


            - Boa idéia. Ela vai se sentir mais segura, posso ver que estará calma em cinco minutos – relaxei.


 


            -Está tudo bem, você está segura, está tudo bem.


 


            Bella foi se acalmando, como Alice havia previsto. Em alguns momentos ela me olhava e voltava a chorar. Mas o seu coração estava num ritmo mais constante.


 


            - Fique tranqüilo, Edward, ela está bem.


 


            Alice e eu conversávamos tão baixo que Bella era incapaz de ouvir.


 


            - Obrigado, Alice.


 


            - Só me agradeça quando estivermos em casa.


 


            Bella levantou a cabeça enquanto olhava em meus olhos:


 


            - Toda aquelas gente – ela se esforçava para falar entre um soluço e outro.


 


            - Eu sei.


 


            - É tão horrível.


 


            - Sim, é. Queria que não tivesse precisado ver isso.


 


            Tanto que eu a protegi de informações e hoje ela praticamente presenciou o pior da minha espécie. Agora pelo menos ela conhecia realmente a minha natureza, mas, mesmo assim, permitia que eu a segurasse tão próxima a mim. Bella deitou a cabeça em meu peito, podia sentir o calor do seu corpo através do manto, seu coração estava quase regular.


 


            - Posso lhes trazer alguma coisa? - perguntou a humana.


 


            - Não – eu não gostava da mente dela.


 


            - Pobre, ela não tem noção do futuro que a aguarda – disse Alice.


 


            Bella levantou a cabeça e falou o mais baixo que conseguia:


 


            - Ela sabe o que está acontecendo aqui?


 


            - Sim. Ela sabe de tudo – disse.


 


            - Ela sabe que um dia eles vão matá-la?


 


            - Sabe que há essa possibilidade – pensei bem antes de continuar, entretanto Bella estava mergulhada demais no meu mundo, eu precisava aprender a dividir as coisas com ela, só assim poderíamos ter um futuro. - Espera que eles decidam ficar com ela.


 


            Ela ficou pálida.


 


            - Ela quer ser um deles?


 


            Concordei.


 


            - Como é que ela pode querer isso? Como pode ver as pessoas fazendo fila para entrar naquela sala horrenda e querer participar daquilo?


 


            Era exatamente isso que Bella havia me pedido meses atrás e que Alice havia prometido a ela. Bella queria ser um monstro, ela queria ser uma de nós, ser uma vampira.


 


            Ela não nos vê assim, Edward. Nós não somos assim. Ela quer ser como nós, ela quer você.


 


            - Não sei, Alice, sinto que Bella está distante.


 


            Bella me olhou interrompendo a nossa conversa silenciosa.


 


            - Ah, Edward!


 


            Ela voltou a chorar, entrei em pânico. Não suportava vê-la chorar daquela maneira.


 


            - Qual é o problema?


 


            Bella jogou os seus braços em volta do meu pescoço. Meu coração parecia que havia dobrado de tamanho, ela parecia me querer.


 


            Eu disse, ela precisa de você. – olhei para Alice, franzindo o nariz.


 


            - É muito doentio da minha parte estar feliz agora? – perguntou Bella.


 


            Puxei-a para mais perto de mim. Precisava senti-la; depois de muito tempo de tanta dor, ela estava aqui. Inacreditavelmente, ela parecia me querer. Nada mais no mundo importava. Sentia o seu cheiro, as batidas do seu coração frenético contra o meu peito frio. Bella estava viva, não cansava de repetir isso para mim.


 


            - Sei exatamente o que quer dizer – sussurrei em seu ouvido. – Mas temos muitos motivos para ficar felizes. Primeiro, estamos vivos.


 


            - Sim. Esse é um bom motivo.


 


            - E juntos.


 


            Senti que o seu corpo enrijeceu, os receios voltaram para a minha mente. Tinha medo de que ela não me quisesse, que me trocasse pelo lobo. Coloquei os meus medos de lado, pois ela estava ali comigo. Aceitava o meu abraço, nada podia estragar o momento.


 


            - E, com alguma sorte, ainda estaremos vivos amanhã.


 


            - Espero que sim – disse Bella.


 


            - A perspectiva é muito boa. Vou ver Jasper em menos de vinte e quatro horas – disse Alice.


 


            - Então, para onde vamos? – perguntei para Alice.


 


            - Temos de levar a Bella de volta para Forks. Charlie está muito preocupado. Pegamos um vôo até Roma e de lá para Atlanta.


 


            - Temos um carro?


 


            Enquanto uma parte do meu cérebro era reservada para conversara e planejar com Alice, a maior parte se concentrava na Bella. Ela estava diferente, não conseguia explicar. Muito menos parar de olhar para ela, de sentir o seu cheiro.


 


            Edward, você devia ver a maravilha que eu roubei no caminho: um Porche amarelo! Pena que já o encontraram; queria poder dirigi-lo mais uma vez antes de devolvê-lo...


 


            Sorri para Alice. Bella estava me preocupando, muito quieta. Tinha certeza de que, assim que ela tivesse a oportunidade, me encheria de um milhão de perguntas como costumava fazer. Mas ela parecia cansada.


 


            - Você parece muito cansada.


           


            Passava as pontas dos meus dedos sobre as olheiras dela. Não cansava de passar a mão sobre o seu delicado rosto quente.


 


            - E você parece estar com sede – disse Bella.


 


            Eu realmente estava sedento. Meses atrás, se estivesse me sentido assim, seria impossível ficar perto dela. Mas eu era outro. Bella nunca mais correria o risco de ser atacada por mim.


 


            - Não é nada.


 


            - Tem certeza? Posso me sentar com a Alice.


 


            - Não seja ridícula. Nunca tive mais controle desse aspecto da minha natureza do que agora.


 


            Preferia voltar e enfrentar toda a guarda Volturi sozinho do que permitir que ela se afastasse de mim. Com ela ao meu lado eu me sentia forte o suficiente para enfrentar o mundo. Pela primeira vez em messes me sentia vivo novamente.


 


            O antigo buraco que drenava as minhas forças desapareceu. A simples presença dela o baniu para longe de mim. Agora, sentado ali, no local mais improvável do mundo para nós, eu não conseguia entender como eu pude ser capaz de abandoná-la. De onde eu havia tirado forças para fazer isso? Eu nunca mais conseguiria ser capaz de me afastar dela, não espontaneamente. Só se ela não me quisesse mais; a vontade dela era mais importante que a minha.


 


            - Alice...


 


            Eu sei... você quer saber como era a relação da Bella com o cachorro.


 


            - Eles...


 


            Não sei. Acho que os dois não estavam namorando. Não posso ver nada a respeito dos lobos, isso é muito irritante. Mas quando cheguei, ela estava com ele. Pelo que percebi dos relatos dela, Bella passou praticamente todos os dias com eles nos últimos meses. Não adianta bancar o ciumento agora.


 


            - Eu sei, a culpa é minha.


 


            Uma coisa não se pode negar, eles conseguiram mantê-la viva. Não mataram a Victoria, mas pelo menos ela não se aproximou da Bella. Se eles não estivessem lá...


 


            - Nem fale. Vou dever isso a eles eternamente.


 


            É. Ela gosta bastante dele. Eles estavam quase se beijando, eu vi.


 


            - E se...


 


            Não! Não seja estúpido, ela está aqui. Olhe para ela – como se fosse preciso Alice me pedir isso, eu era incapaz de parar de olhá-la. - É você que Bella ama. Edward, cuidado com ela; Bella não vai suportar se você se afastar dela novamente.


 


            - Não se preocupe com isso. Eu nunca mais farei nada tão idiota novamente.


 


            Rimos. Alice, durante todo esse tempo, não me deu outro adjetivo que não fosse este: idiota.


 


            - Quando sairmos, vamos ter de roubar outro carro – disse.


 


            Eu cuido disso, sei que durante algum tempo você não será capaz de se afastar dela.


 


            - Obrigado.


 


            Era verdade; achava que nunca mais conseguiria fazer isso. Meu medo era de ficar tão insuportavelmente pegajoso que ela se encheria de mim e preferiria ficar com o lobo. E eu não poderia fazer nada, tinha de ser grato a eles. A ele principalmente. O lobisomem a manteve viva, enquanto eu não fui capaz de fazer isso.


 


             - O que foi toda aquela conversa sobre cantoras?


 


            - “La tua cantante”?


 


            - Sim, isso.


 


            - Eles têm um nome para quem tem o cheiro que Bella tem para mim. Chamam de minha cantora... Porque o sangue dela canta para mim.


 


            Não estava mais conseguindo me controlar; beijava-a a todo instante, não da maneira que eu queria, mas sim do jeito que podia no momento. Sua testa, cabelos, rosto. Cada vez que eu fazia isso, o coração dela batia descompassado. Alice ria. Em alguns momentos ela se tornava hesitante, contraía-se, evitava me olhar; isso me deixava mais tenso. Era impossível refrear o receio que tinha, Bella poderia não me querer mais, poderia preferir o cachorro.


 


             Minha vontade de sair correndo com ela daquele lugar horrível era grande. Não podia. Sabia que só poderia conversar com ela direito quando estivéssemos em Forks, precisava ser paciente. Mas enquanto ela permitisse que eu ficasse assim, tão próximo, eu não teria problemas em ser paciente, era dela que eu precisava. Com Bella próxima a mim, eu era melhor, minha humanidade voltava mais facilmente. Bella era humana demais, ela me contagiava com isso.


 


            - Quanto tempo ainda?


 


            Mais uma hora.


 


            - Quero ir para casa, estou ficando impaciente – olhei sugestivamente para a humana.


 


            Eu também. Quero poder falar logo com eles.


 


            - Jasper deve estar nervoso.


 


            Está. Não gosto de deixá-lo assim, tão preocupado.


 


            - Desculpe, a culpa foi toda minha.


 


            Acho que na verdade não passou de um grande mal entendido. Mas, por favor, da próxima vez, pode falar comigo antes de tomar uma atitude tão radical? – Alice me olhava seriamente enquanto levantava a sobrancelha.


 


            - Prometo. E os outros, como estão?


 


            Tensos. Esme é a pior, você acabou com a nossa mãe; desculpe, mas é verdade.


 


            Sabia muito bem que Alice tinha razão. Esme não tolerava passar novamente pela dor de perder um filho. Eu teria muitas culpas para carregar por este episódio. O pior era saber que, por minha culpa, os Volturi iriam ficar de olho em minha família. Eles fariam tudo que estivesse ao seu alcance para nos dividir, aumentando assim as chances de ter a mim, Alice, Jasper e até a Bella. Tudo dependia de quão especial ela ficasse depois de transformada.


 


            Não! Eu ainda iria lutar para mantê-la humana, independentemente das promessas que Alice fez a Aro.


 


            Prepare-se, Alec esta vindo nos liberar.


 


            Antes que Alec aparecesse, eu abracei a Bella mais apertado. Queria que ela se sentisse segura, protegida. Nunca nada aconteceria a ela comigo por perto.


 


            - Estão livres para partir agora. Pedimos que não se demorem na cidade.


 


            - Isso não será problema.


 


            Estávamos loucos para voltamos para casa. Só me sentiria completamente tranquilo quando Bella estivesse em sua casa, deita na sua cama. Mesmo sabendo que eles haviam nos liberado, não gostava de ficar ali, sabia que não era seguro, especialmente para Bella. Ela tinha aquele cheiro tão delicioso... E pensar que eu tinha pavor da proximidade de Charlote e Peter, que eram nossos amigos, agora tudo isso parecia uma bobagem, perto de todos os riscos que ela correu.


 


            - Sigam o corredor à direita até o primeiro grupo de elevadores. Dois andares abaixo ficam o saguão e a saída para a rua. Então, adeus – disse a humana.


 


            Pobre, não tem idéia de como a sua morte será dolorosa...


 


            Alice olhava o futuro dela; não foi uma visão agradável a nenhum de nós dois. Abandonamos a nossa natureza exatamente porque não tolerávamos mais matar, mesmo que fosse para sobreviver. Já ali era diferente; matar era a parte preferida de todos, principalmente de Caius e Aro. Esses dois eram sádicos, para eles não bastava só matar; a tortura também fazia parte do ritual. Parei de olhar o futuro dela, foi desagradável.


 


            Segurava a Bella, apoiando a maior parte do seu corpo; ela estava exausta. Em breve, ela poderia dormir em meus braços novamente. Estava ansioso por isso, amava vê-la dormir, principalmente quando ela falava.


 


            Ganhamos as ruas de Volterra. Estava tão cheia assim antes? Eu não me lembrava de estar assim; suspirei ao recordar a minha dor. Todos estavam fantasiados de vampiros. Grotesco. Se imaginassem o que acontecia nos subterrâneos de Volterra, nenhum humano entraria por aqueles portões.


 


            - Ridículo – murmurei.


 


            Também acho. A propósito, já que o futuro está tranquilo, vou buscar a minha bolsa e a da Bella. Encontro vocês nos portões. Não se preocupe, estarei de carro. Ela está exausta, cuide disso.


 


            Franzi a testa para Alice; ela não precisava ficar o tempo todo me dizendo o que fazer, era irritante.


 


            - Onde está Alice? – Bella me olhava em pânico.


 


            - Foi buscar as bolsas de vocês onde as escondeu hoje de manhã.


 


            Ela relaxou e disse, meio contrariada e meio que se divertindo com a situação:


 


            - Ela está roubando um carro também, não é?


 


            Não consegui deixar de rir: imagine o que o chefe Swan acharia se soubesse que em menos de vinte e quatro horas a sua filha foi cúmplice em dois furtos de veículos!


 


            - Só quando estivermos lá fora.


 


            Os paços da Bella estavam muito vacilantes; segurei a sua cintura com firmeza, mas consciente de sua fragilidade; todos os meus movimentos perto dela eram planejados. Qualquer descuido da minha parte significaria um machucado ou coisa pior para ela e isso era uma coisa que eu não suportava sequer pensar.


 


            Ouvia que em nosso encalço estavam alguns membros da guarda Volturi. Eles nos escoltavam, para ter certeza de que estávamos partindo. Entre todos, o mais contrariado era Felix; ele desejava muito o sangue da Bella. Eu tinha vontade de voltar e acabar com ele. Não conseguia tolerar as imagens que ele mandava para mim; Bella desfalecida, enquanto ele a saboreava. Não podia dar o que ele queria: um pretexto para nos matar; fingi que ninguém estava conosco. Não havia necessidade de assustar a Bella.


 


            A caminhada demorou tempo demais; andar no ritmo dela às vezes era difícil, principalmente porque não via a hora de ter certeza de que ela estava segura. Enquanto estivéssemos ali, eu não conseguiria relaxar.


 


            Finalmente conseguimos sair; eles ficaram para trás dos muros. Segui os pensamentos da Alice até o carro que ela roubou e fiquei mais calmo. Poderia, enfim, desfrutar da felicidade de tê-la em meus braços. Entrei com a Bella na parte de trás.


 


            Deixe-me desfrutar deste momento! Em cinquenta anos, esta é a primeira vez que te vejo sentado aí. Que pena que não tenho uma máquina, Emmett adoraria! - Sorri.


 


            Agora que com certeza os perigos ficaram temporariamente para trás, podíamos ser frívolos.


 


            - Sinto muito. Não havia muitas opções – Alice apontou para o carro.


 


            - Está tudo bem, Alice. Não dava para todos serem turbo 911.


 


            - Talvez eu possa adquirir um daqueles legalmente. Era fabuloso.


 


            - Vou lhe dar um de presente de natal - prometi.


 


            Ela merecia muito mais que isso; devia a Alice minha existência e a vida da Bella. Nunca conseguiria recompensá-la por isso, eu tinha a melhor irmã do mundo. Alice se via entrando em um lindo Porche preto.


 


            - Amarelo – ela corrigiu a visão.


 


            Obrigada, agora está perfeito. Vai, aproveita o momento, sei que não conseguiu relaxar nem por um segundo. Ela está segura agora. Não posso dizer o mesmo para você: chefe Swan está furioso. Prepare-se.


 


            Ignorei completamente Alice, queria finalmente poder olhar direito para Bella.


 


            - Pode dormir agora, Bella. Acabou.


 


            - Não quero dormir. Não estou cansada.


 


            - Tente – sussurrei em seu ouvido, enquanto sentia o delicioso cheiro dela tomando conta de mim, desta vez do jeito bom.


 


            Bella balançou a cabeça, contrariada.


 


            - Você ainda é a mesma teimosa.


 


            Ela me olhava, parecia que, como eu, ela não acreditava que estávamos ali, vivos, juntos. Durante a viagem até Florença o tempo pareceu voar. Antes, quando não estávamos juntos, os segundos pareciam eternos; agora, o tempo começou novamente a correr contra nós. Não tolerava sequer cogitar em transformá-la, ela estava perfeita assim; nunca destruiria a sua alma. Agora que eu sabia exatamente o que era perdê-la, não queria ter de passar por tudo aquilo novamente.


 


            Chegamos ao aeroporto, não tínhamos muito tempo. Alice comprou roupas para mim, estava ansioso para me livrar daqueles trapos. Ela pegou a mão da Bella e começou a afastá-la, entrei em pânico.


 


            - Aonde você vai levá-la?


 


            Calma, Edward. Cuido dela. Só vamos ao banheiro feminino, não vai querer ir junto, vai?


 


            Na verdade eu queria. Como já havíamos comprado as passagens, não havia nada a fazer senão esperá-las. Fiquei ansioso, andando de um lado para o outro na porta do banheiro. Alice se divertia, vendo a minha impaciência. Eu escutava as duas falando e me mantinha concentrado nas batidas do coração dela. Precisava me controlar; caso contrário, eu me tornaria um daqueles namorados insuportavelmente grudentos. Contudo, naquele primeiro momento eu não conseguia, foram muitos meses de agonia, muito tempo sem vê-la.


 


            Quando pude ver o rosto dela novamente, voltei a respirar, sorri aliviado. Bella me olhou e deu um sorriso tímido, eu a abracei, ela parou de falar. O silêncio estava me deixando inquieto, ela sempre falou muito em minha presença antes.


 


            Embarcamos e ela continuou sem falar uma única palavra. Respeitava, não falei também. Entretanto, era incapaz de sair de perto. Estava decidido a fazê-la dormir no próximo voo, queria falar com Alice, entender o porquê de a Bella estar tão diferente, tão quieta. Como tinha medo do que Alice poderia ver em meu futuro, não perguntei.


 


            Alice se encarregou de dar as boas notícias para todos em Denali.


 


            Teremos uma ótima recepção quando chegarmos em Atlanta. Todos estarão lá.


 


            Assim que embarcamos no segundo avião, Bella pediu à comissária uma Coca. Ficou claro que ela não pretendia dormir; a cafeína atrapalhava o seu sono, sabíamos disso. Fiquei preocupado, via o quando estava esgotada.


 


            - Bella! – repreendi.


 


            - Não quero dormir. Se fechar os olhos agora, vou ver coisas que não quero. Terei pesadelos.


 


            Abracei-a, na tentativa de fazer com que relaxasse e se sentisse segura. Esqueci de que estávamos em um avião lotado, que Alice estava conosco, de tudo o que havíamos passado. O pesadelo ficou para trás. Olhava para ela, que por muitas vezes desviava os seus olhos dos meus. Quando eu começava a beijar o seu rosto, mãos, cabeça, ela se contraía; eu me afastava um pouco, magoado com sua reação. Então ela me puxava para perto novamente. Não conseguia entendê-la, mas não falei nada. Tinha medo.


 


            Na verdade, estava com receio de que, quando chegássemos a Forks, ela me mandasse embora, por não me querer mais. Eu a feri de morte, sabia disso. Já o outro, o lobisomem, não fazia idéia do tipo de relação que ela tinha com ele, havia uma mistura de pânico e ciúme. Às vezes, entrava na cabeça da Alice, esperançoso de que ela tivesse alguma visão do meu futuro. Nada. Ela só conseguia se concentrar no futuro do Jasper, claro.


 


            Quando o avião pousou, pensei seriamente em pegar Bella no colo; embora estivesse de olhos abertos, não parecia estar acordada. Ela já era péssima andando com atenção, no estado que estava ela parecia incapaz disso.


 


            Não. Vamos chamar atenção demais com ela no seu colo, segure-a somente pela cintura e não a solte por nada. Bella vai desmoronar se não tiver apoio.


 


            Alice não precisou falar novamente, eu não era capaz de sair do lado dela mesmo. Como esperado, estavam todos lá, aguardando a nossa chegada. Parecia uma recepção para soldados que retornavam de uma batalha; na verdade, era isso mesmo. Não houve luta corporal, mesmo assim corremos um grande risco. Graças a isso, agora Aro conhecia o campo inimigo; não éramos inimigos, mas ele nos via assim. Sabia que, como reflexo daquele encontro, minha família nunca mais gozaria da mesma tranquilidade de antes.


 


            Alice correu para o Jasper. Olhei para os meus pais; quando ouvi a dor na mente de Esme, fiquei constrangido. Esme abraçou a Bella, enquanto eu a mantinha firme ao meu lado:


 


            - Muito obrigada – ela sussurrou. - Nunca mais me faça passar por isso de novo – Esme estava brava.


 


            - Desculpa, mãe – mais tarde conversaria com ela.


 


            - Obrigado, Bella. Devemos uma a você.


 


            - De jeito nenhum.


 


            Bella relaxou completamente a meu lado, finalmente ela se rendeu.


 


            - Ela está morta de cansaço.


 


            Esme veio para o outro lado da Bella e juntos fomos andando em direção ao estacionamento. Bella não conseguia nem mesmo manter os olhos abertos por muito tempo.


 


            - Eu sei, tentei fazê-la dormir. Bella não quis.


 


            - Fala a verdade - disse Jasper, que estava atrás de nós. – Vocês vieram namorando o caminho todo – balancei a cabeça, sorrindo.


 


            - Na verdade, não muito. Foi estranho... Bella não falou comigo desde que saímos de Volterra. Estou com medo.


 


            - Do quê? – perguntou Esme.


 


            - Ela pode não me querer mais – sussurrei.


 


            Todos riram de mim.


 


            - Edward, ela acaba de enfrentar toda a guarda Volturi por você, e você teme que ela não te queira mais? – indagou Alice.


 


            Fiquei em silêncio, ela podia muito bem ter ido lá só para que eu não me matasse. Isso não significava que ela me queria de volta. Bella era completamente capaz de fazer isso, ela não conseguia guardar rancor. Querer-me vivo era completamente diferente de me querer vivo e com ela.


 


            Quando chegamos ao carro, com todos falando animadamente às minhas costas, parei tenso e irritado. Sabia que precisaria enfrentar a Rosalie, mas não queria que fosse já. Muito menos na frente da Bella.


 


            - Não - Esme sussurrou. - Ela está se sentindo péssima.


 


            - Deveria mesmo.


 


            Tudo o que aconteceu, o meu sofrimento, o risco que a Bella correu em Volterra, era tudo culpa dela. Se Rosalie tivesse seguido as instruções de Alice, eu não teria ido até lá. Na verdade, teria ido para Forks agora, embora nem mesmo Alice parecesse saber disso. Tínhamos que lidar com as consequências de tudo agora. Na realidade, a maior culpa era a minha, fui eu o irresponsável.


 


            - Não é culpa dela – sussurrou Bella.


 


            - Deixe-a se desculpar - Esme implorou. - Nós vamos com Alice e Jasper.


 


            Perdoe-me, Edward.


 


            - Por favor, Edward. – Bella implorou por Rosalie.


 


            Se não fosse por Bella, eu jamais seria capaz de entrar agora no mesmo carro que ela. Sabia quanta inveja Rosalie nutria por Bella, era isso que eu não conseguia suportar. Se Rose tivesse cometido aquele erro e eu estivesse convencido de que ela pelo menos a tolerasse, podia suportar perdoá-la facilmente. Durante todos aqueles meses, Rose se sentia aliviada por não ter de dividir a atenção da família com a Bella.  


           


            Quando o carro começou a andar, Rose se virou para mim:


 


            - Edward...


 


            - Eu sei!


 


            Não estava com paciência para ouvir as falsas desculpas dela. Rosalie, então, me surpreendeu totalmente: voltou a sua atenção para Bella, coisa que nunca fizera antes.


 


            - Bella?


           


            Estava a ponto de interrompê-la, dizer que agora não era o momento, que a Bella precisava dormir; Bella, no entanto, falou muito suavemente:


 


            - Sim?


 


            - Me desculpe, Bella. Eu me senti péssima com relação a cada parte disso, e muito grata por você ter tido a coragem de ir salvar o meu irmão depois do que fiz. Por favor, diga que me perdoa.


 


            - Claro, Rosalie. Não foi sua culpa. Fui eu que pulei da droga do penhasco. É claro que perdoo você – ela mal conseguia falar.


 


            - Não vale enquanto ela não estiver consciente, Rose - Emmett gargalhou.


 


            - Estou consciente.


 


            - Deixem que ela durma.


 


            Diminuímos as vozes e Bella relaxou no meu colo, com a respiração profunda.


 


            - Edward, me perdoa. Juro que não imaginei que você pudesse agir dessa forma; se Emmett tivesse me dito, não ligaria para você.


 


            - Olha, Rose, o fato de você ter me ligado eu até posso perdoar. O problema mesmo é a maneira como você trata a Bella, como se ela fosse uma pária. Isso eu não consigo suportar. Se eu tratasse o Emmett assim, você também não suportaria.


 


            - Eu sei, na verdade nunca acreditei antes que você a amasse dessa maneira. Não via como isso era possível, mas te dou a minha palavra de que vou ser mais educada com ela. Não posso prometer que eu vá gostar dela como a Alice gosta, mas vou me esforçar para isso.


 


            - Agora que vocês já se entenderam, é a minha vez de falar. Pô, Edward, como é que você faz isso, vai para o agito e deixa o seu irmão de fora? – ri.


 


            - Emmett, ainda bem que você não estava lá, seria impossível evitar uma luta.


 


            - Vocês não bateram em ninguém? Nada, nem um soquinho?


 


            - Nada, juro.


 


            - Pelo menos não perdi nada. E agora, vamos morar onde? – ele me olhava pelo retrovisor, levantando a sobrancelha.


 


            - Vou ficar em Forks o tempo que ela permitir – falava enquanto passava os dedos pela bochecha da Bella; ela sorriu.


 


            - Mudar de novo? Tá bom... eu prometi que não reclamaria mais – disse Rose.


 


            Fomos conversando banalidades até chegarmos em Forks. A viagem foi rápida. Quando entramos na rua dela e ouvi a mente do Charlie, vi o quão desagradável seria o nosso encontro. Alice estava certa, como sempre.


 


            - Emmett, Rose, fiquem no carro, não vai ser agradável - disse enquanto saía com a Bella adormecida em meus braços.


 


            - Bella! – Charlie gritou em pânico ao vê-la comigo.


 


            - Charlie – Bella tentava abrir os olhos.


 


            - Shhh. Está tudo bem; você está em casa e segura. Durma.


 


            Por mais que estivesse preparado para isso, o ódio com que Charlie me encarava fez-me recuar.


 


            - Não posso acreditar que tenha coragem de mostrar a sua cara aqui.


 


            - Para com isso, pai – ela mal abria os lábios para falar.


 


            - O que ela tem? – ele conseguiu finalmente notar o quão esgotada a Bella estava.


 


            - Ela só está muito cansada, Charlie. Por favor, deixe que ela descanse – falei baixo para não despertá-la novamente.


 


            - Não me diga o que fazer! Me dê minha filha, tire as mãos dela!


 


            Bella se agarrou em mim, Charlie não foi capaz de afastá-la. Eu tentei dá-la ao pai, mas Bella não queria. Finalmente ela abriu os olhos.


 


            - Pare com isso, pai. Fique chateado comigo.


 


            - Pode apostar que ficarei. Trate de entrar.


 


            - Tá bom. Me ponha no chão.


 


            Contrariado, eu obedeci. Sabendo que ela não conseguiria dar um passo sequer no estado em que estava, fiquei atento. Como previsto, ela caiu; eu a peguei.


 


            - Só me deixe colocá-la lá em cima. Depois vou embora – disse para o Charlie.


 


            A contra-gosto, ele permitiu a minha passagem e me seguiu até o quarto dela. Quando deitei-a na cama, ela começou a gritar, apavorada:


 


            -Não! Não me abandone de novo. Por favor, fique comigo, eu preciso de você. Não vá.


 


            Ela chorava em pânico, mesmo parecendo estar dormindo. Gentilmente eu fui falando em seu ouvido tão baixo que Charlie não ouvia.


 


            - Bella eu te amo, não vou sumir, prometo. Deixe-me lidar com Charlie. Eu voltarei. Vou estar com você quando acordar. Não estarei longe.


 


            Ela pareceu compreender e foi se acalmando. Charlie estava cansado de ver a cena e desceu para me esperar. Depois de um tempo, consegui gentilmente fazê-la soltar a minha camisa. Bella parou de chorar e voltou a dormir; suavemente, beijei os seus lábios.


 


            - Volto logo, amor. Não consigo mais suportar estar sem você.


 


            Suspirei enquanto descia, preparando-me para o confronto e sabendo que merecia coisa muito pior.


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Notas finais do capítulo

Indicação: leiam A hospedeira da Stephenie Meyer, o livro é lindo.
Precisa ter um pouco de persistência o começo é meio massante e complicado. Mas vale muito a pena.
Não tem nada a ver com a serie Twiligh, mesmo assim vale a pena. Ela é um gênio.
bjos e não esqueçam meus reviwes, adoro!!!!



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