Black Hole escrita por juliananv


Capítulo 20
Capítulo 20 Corrida




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            A corrida de carro ate Seattle foi rápida. Inacreditavelmente Bella se manteve calada o tempo todo. Ela tinha muita coisa a processar, seu cérebro era limitado. Bella nem se incomodou em reclamar da velocidade com que estava dirigindo.


 


            Quando chegamos ao aeroporto, Bella pareceu despertar. Andava de um lado para o outro enquanto eu fazia o check-in. Peguei a mão dela e a levei para dentro do avião. Ela tremia. Sentamos e Bella parecia que a qualquer minuto entraria em colapso. Achei por bem intervir:


 


            - É mais rápido do que correr.


 


            Depois que o avião já havia ganhado o ar e Bella parecia estar mais controlada, liguei para Jasper, que parecia impaciente esperando pela minha ligação, atendendo ao primeiro toque:


 


            - Alice – Jasper suspirou aliviado.


 


            - Já estamos a caminho.


 


            - Edward, o que ele pretende?


 


            - Não tenho certeza, eu continuo vendo-o fazer coisas diferentes, ele fica mudando de idéia... Uma matança pela cidade, atacando a guarda. Levantando um carro no alto da praça principal... Principalmente atitudes que os exporiam... Ele conhece a forma mais rápida de forçar uma reação...


 


            - Vocês precisam de nós!


 


            - Não, você não pode – sussurrei mais baixo.


 


            A comissária de bordo estava prestando atenção à nossa conversa.


 


            - Emmett está impaciente, você sabe como ele é ligado ao Edward...


 


            - Diga a Emmett que não...


 


            - Ele e Rose estão a caminho do aeroporto, só fiquei para esperar por Carlisle.


 


            - Bom, vá atrás de Emmett e Rosalie e traga-os de volta... Pense nisso, Jasper. Se ele vir qualquer um de nós, o que você acha que ele vai fazer?


 


            - Ele vai forçar uma reação mais rápida da guarda, sabe que tentaremos impedi-lo. Bella é a única que pode se aproximar de Edward sem que ele perceba.


 


            Jasper estava infeliz, todos estávamos. Entretanto, era difícil para ele me ver indo para um perigo tão grande e não fazer nada.


 


            - Exatamente. Acho que Bella é a única chance... Se houver uma chance... Vou fazer tudo o que puder, mas prepare Carlisle; as probabilidades não são boas.


 


            - Alice, eu não posso perder você. Como acha que eu vou conseguir ficar sentado aqui sem saber o que vai acontecer? Você pode morrer!


 


            - Pensei nisso...


 


            - Eu sei... conheço você! Não minta. Você nunca esteve em tamanho perigo como está agora. Não é certo eu ficar aqui sentando enquanto o amor da minha existência provavelmente não voltará para casa. Alice, prometa-me: se for tarde demais para Edward, você volta sem nem mesmo entrar por Volterra? Volte para mim!


 


            - Sim, prometo. Não venha atrás de mim. Eu prometo, Jasper. De uma forma ou de outra, vou sair. Essa é a única chance que temos. Se algum de vocês aparecer por lá, todos morreremos. E eu te amo.


 


            Fechei os olhos, sentindo-me péssima; odiava separar-me de Jasper. Sabia que a possibilidade de todos morrermos era muito grande. E imaginar que as coisas fossem diferentes, que Jasper estaria em meu lugar e que eu poderia estar impotente enquanto ele voava ao encontro do fim, era insuportável.


 


            - Odeio mentir para ele.


 


            Arrependi-me assim que disse essas palavras. Bella estava atenta e começaria a me questionar. Contudo, ela precisava saber aonde estávamos indo; Bella ainda podia mudar de ideia. E se não mudasse, era mais seguro que tivesse informações suficientes para poder se proteger. Se bem que ela era só humana, algo que eu seriamente estava cogitando em mudar.


 


            - Me diga uma coisa, Alice. Eu não entendi. Por que você disse a Jasper para impedir Emmett, por que eles não podem nos ajudar?


 


            - Por dois motivos – falei com ela sem quer encará-la. - O primeiro eu disse a ele. Nós poderíamos impedir Edward sozinhos... Se Emmett conseguisse pôr as mãos nele, poderíamos detê-lo por tempo suficiente para convencê-lo de que você está viva. Mas não podemos nos aproximar sorrateiramente de Edward. Se eles pressentir nossa aproximação, vai agir muito mais rápido. Vai atirar um Buick num muro ou coisa assim, e os Volturi o pegarão. E, então, vem o segundo motivo, o motivo que não pude dizer a Jasper. Porque, se eles estiverem lá, e os Volturi matarem Edward, eles vão lutar, Bella – olhei para ela, suplicando o seu perdão. - Se houvesse alguma possibilidade de vencermos... Se houvesse um modo de um de nós quatro salvar o meu irmão lutando junto com ele, talvez fosse diferente. Mas não podemos, e, Bella, eu não posso perder Jasper desse jeito.


 


            Bella olhou profundamente em meus olhos, compreendendo que se estivesse em meu lugar faria a mesma coisa. Éramos duas mulheres que amávamos tão profundamente que estávamos entregando as nossas vidas em nome deste amor. Eu estava envergonhada. Deliberadamente eu usava a minha vida, a de Edward e a da Bella para proteger Jasper. Não havia maneira de agir diferente, Jasper era a minha prioridade. Admirei mais a minha amiga, ele me olhava entendendo plenamente as minhas razões. Bella assentiu.


           


            - Mas Edward não poderia ouvir você? Ele não saberia, assim que ouvisse seus pensamentos, que eu estava viva, que não havia sentido nenhum nisso?


 


            Bella nunca soube mentir. Imaginava que ela nem conseguisse pensar em mentir. Ela realmente era tão ingênua como Edward falava, ele se deliciava com a pureza das palavras dela. Bella não tinha idéia de quanto o meu irmão era louco por ela. Quanta coisa idiota ele fez na tentativa de mantê-la assim, pura, humana. Agora, muito mais do que antes, eu tinha vontade de dizer à minha amiga toda a verdade. Ela não conseguia entender o que levava meu irmão a agir daquela forma. Mas, se não tivéssemos êxito, seria mais frustrante e doloroso para ela saber de toda a verdade. Era melhor esperar e lutar, para que Edward mesmo falasse com ela.


 


            - Se ele estivesse ouvindo. Mas, você pode não acreditar, é possível mentir com os pensamentos. Se você tivesse morrido, eu ainda tentaria detê-lo. E estaria pensando: “Ela está viva, ela está viva” com a maior intensidade que pudesse. Ele sabe disso.


 


            Bella tremia violentamente. Coloquei a minha mão sobre a dela, ela nem parecia notar. Podia ver que ela estava entrando em pânico, enfim entendendo no que estávamos nos metendo.


 


            - Se houvesse alguma maneira de fazer isso sem você, Bella, eu não a colocaria assim em perigo. É muito errado da minha parte.


 


            - Não seja idiota. Sou a última coisa com que deve se preocupar. Explique-me o que você quis dizer quando falou que odiava mentir para Jasper.


 


            Optei pela verdade.


 


            - Eu prometi a ele que sairia de lá antes que eles me matassem também. Não é algo que eu posso garantir... de maneira nenhuma.


 


            - Quem são esses Volturi? O que os torna muito mais perigosos do que Emmett, Jasper, Rosalie e você?


 


            Bella conhecia poucas coisas a respeito do nosso mundo. Edward proibira qualquer um de dar informações a ela, na fraca tentativa de mantê-la afastada. Ele imaginava que, se conseguisse mantê-la afastada das informações, seria mais fácil fazer com que ela desistisse de se tornar uma de nós. Ele tinha medo de condená-la à mesma maldição que ele. Não conseguia ver que ela não enxergava assim; na verdade, ele sabia, só estava tentando se enganar. Bella o queria e ponto.


 


            Podia ver, com a minha visão periférica, que o humano que estava sentado ao nosso lado escutava tudo o que estávamos falando, apesar de nos duas estarmos falando muito baixo. Dei uma encarada para assustá-lo e mantê-lo afastado da nossa conversa. Bella percebeu o que eu estava fazendo e colou o seu ouvido a minha boca. Suspirei fundo, não era fácil estar a centimetos da sua jugular. Ela parecia nem notar o que fazia. Edward era hercúleo. Deixei isso de lado e, enquanto falava com ela, via que Edward estava se aproximando da Itália; os dados estavam sendo lançados.


 


            - Fiquei surpresa de você reconhecer o nome. Que você entendesse tão de imediato o que eu quis dizer... Quando eu falei que ele estava indo para a Itália. Pensei que eu tivesse de explicar. Até que ponto Edward contou a você?


 


            - Ele só disse que era uma família antiga e poderosa... Como a realeza. Que não se criariam problemas com eles a não ser que se quisesse... morrer.


 


            - Você precisa entender - Edward escondia tantas coisas dela, e agora eu teria de revelar a parte mais pesada da história, teria de agradecer a meu irmãozinho por isso. - Nós, os Cullen, somos singulares de muitas maneiras, além das que você conhece. É... anormal que tantos de nós vivam juntos em paz. O mesmo acontece com a família de Tanya, no norte, e Carlisle especula que a abstinência torna mais fácil sermos civilizados, formar vínculos baseados no amor e não na sobrevivência ou na conveniência. Até o pequeno bando de James, com apenas três, era incomumente grande... E você viu com que facilidade Laurent os deixou. Nossa espécie viaja sozinha, ou em duplas, em geral. A família de Carlisle é a maior que existe, pelo que sei, com uma exceção. Os Volturi. Eles eram originalmente três: Aro, Caius, e Marcus.


 


            - Eu os vi. No quadro no estúdio do Carlisle.


 


            Já que tinha que contar, despejaria tudo, não pouparia a Bella de detalhes sórdidos a respeito deles. Só não revelaria que havia anos que evitávamos este confronto. Ela não precisava se preocupar com isso, por ora.


 


            - Duas mulheres se juntaram a eles com o passar do tempo, e os cinco formam uma família. Não sei bem, mas desconfio de que é a idade deles que lhes permite a vida em paz. Eles têm bem mais de 3.000. Ou talvez seus dons confiram uma tolerância a mais. Como Edward e eu, Aro e Marcus são... talentosos. Ou talvez eles sejam unidos pelo amor que têm pelo poder. A realeza é uma descrição adequada.


 


            - Mas se eles são só cinco...


 


            - Cinco que formam uma família. Isso não inclui a guarda deles.


 


            Bella me olhou chocada; depois, respirou fundo e comentou:


 


            - Isso parece... importante.


 


            -Ah, e é mesmo. Havia nove membros permanentes da guarda, da última vez que eu soube. Outros são mais... transitórios. Muda muito. E muitos também são dotados... de poderes formidáveis, perto dos quais o que fazemos parece truque de mágicos. Os Volturi os escolhem por suas habilidades, físicas ou outras.


 


            Bella pensou em falar alguma coisa, mas mudou de idéia; precisava matar logo toda a curiosidade dela antes de poder me concentrar exclusivamente em meu irmão. Minha amiga merecia isso, ela estava arriscando tudo o que tinha. Bella já fazia parte da nossa família, mesmo que ela não soubesse disso. Nestes últimos quase oito meses, ela foi mencionada pelo menos uma dúzia de vezes diariamente por todos os membros da nossa família, todo girou em torno dela e de Edward. Bella era o centro da preocupação de todos, reflexo dos medos do meu irmão.


 


            - Eles não são confrontados muitas vezes. Ninguém é idiota para criar caso com eles. Ficam em sua cidade, saindo só para o chamado do dever.


 


            - Dever?


 


            - Edward não lhe contou o que eles fazem?


 


            Não sabia o quanto meu irmão havia revelado a ela, na verdade era chocante que ele tivesse mencionado o nome deles.


 


            - Não.


 


            Fingi olhar o homem, minha garganta queimava pela proximidade.


           


            - Há um motivo para que ele os tenha chamado de realeza... A classe governante. Com o passar dos milênios, eles assumiram o encargo do cumprimento de nossas regras... O que pode ser traduzido como castigar os transgressores. E eles cumprem esse dever até o fim.


 


            - Existem regras? – Bella levantou a voz enquanto me olhava acusatoriamente. Não compreendi a reação dela.


 


            - Shhh!


 


            - Não deveriam ter falado disso comigo antes? Quer dizer, eu queria ser uma... uma de vocês! Não deveriam ter me explicado as regras?


 


            Com essa eu tive que rir. O que ela imaginava? Uma lista enorme? Era tão óbvio que ninguém imaginou que ela não soubesse. Bella mesmo nunca havia quebrado as regras; diferentemente de todos nós, uma humana sabia do segredo e mesmo assim a mantivemos viva. Pior, eu estava prestes a entrar por Volterra conduzido esta mesma humana pela mão. Acho que eu realmente não estava em meu juízo perfeito. Enfim, isso agora não era o problema.


 


            - Não é assim tão complicado, Bella. Só há uma restrição essencial... E se você pensar bem, pode deduzir sozinha.


 


            - Não, não faço idéia.


 


            - Talvez seja óbvia demais. Temos que manter a nossa existência em segredo.


 


            - Ah.


 


            - Faz sentido, e a maioria de nós não precisa ser policiada. Mas, depois de alguns séculos, às vezes alguém fica entediado. Ou louco. Não sei. E então os Volturi interferem antes que isso possa comprometê-los ou o resto de nós.


 


            - Então Edward...


 


            Ela estava começando a compreender tudo o que estávamos a caminho de fazer. Entendia o risco que Edward estava correndo, era praticamente impossível ele sair desta vivo. E nós duas também.


 


            - Pretende desconsiderar isso na cidade deles... A cidade que eles mantêm secretamente há três mil anos, desde á época dos etruscos. Eles protegem tanto sua cidade que não permitem que cacem dentro dos seus muros. Volterra deve ser a cidade mais segura do mundo... Pelo menos de ataques de vampiros.


 


            - Mas você disse que eles não saem. Como eles comem?


 


            - Eles não saem. Buscam a comida deles de fora, às vezes muito longe. Isso dá a sua guarda algo para fazer, quando não estão aniquilando dissidentes. Ou protegendo Volterra da exposição...


 


            - De situações como essa, como Edward...


 


            - Duvido de que eles tenham visto uma situação dessas - murmurei enojada. - Não se conhecem muitos vampiros suicidas.


 


            Ela não aguentou saber o quanto estava perto de perdê-lo, começou a choramingar, era baixo mais tão intenso e carregado de dor que cortou o meu coração. Mesmo acreditando que ele não a queria mais, Bella nem por um minuto deixou de amar meu irmão idiota. Eles precisam ter uma chance de se entender novamente, não era justo perder algo tão puro. Abracei-a, sabendo que não eram os meus braços que ela queria em volta do seu ombro.


 


            - Vou lutar por vocês, prometo. Farei de tudo para que ele posse te abraçar novamente – falei baixo o suficiente para que ela não ouvisse. - Vamos fazer o que for possível, Bella. Ainda não acabou.


 


            - Ainda não. E os Volturi vão nos pegar se fizermos besteira.


 


            Algo na voz dela chamou a minha atenção.


 


            - Você diz isso como se fosse algo bom.


 


            Bella levantou os ombros confirmando o que eu já sabia. Ela não pretendia sair de lá viva sem o meu irmão. Isso eu não podia permitir, já era minha a culpa de Edward entender tudo errado e agir assim. Se não pudesse salvá-lo, não iria permitir que ela também viesse a morrer por isso.


 


            - Pare com isso, Bella, ou vamos descer em Nova York e voltar para Forks.


 


            - O quê?


 


            - Você sabe. Se chegarmos atrasadas a Edward, eu vou fazer o máximo possível para levá-la de volta para Charlie, não quero nenhum problema vindo de você. Entendeu isso?


 


            - Claro, Alice.


 


            Olhei para Bella, sabendo que ela não sabia mentir; se desconfiasse que ela estivesse ocultando algo, eu a deixaria amarrada em Nova York, enquanto correria para Volterra.


 


            - Sem problemas.


 


            - Palavra de escoteiro.


 


            Não acreditei muito, teria mais uma para vigiar. Estes dois exigiam muito de mim, era como fazer hora extra em pleno reveillon.


 


            - Agora preciso me concentrar. Estou tentando ver o que ele está planejando.


 


            Fechei os olhos e me afastei da Bella. Precisava de toda a minha atenção nisso. Jasper já havia encontrado Emmett e naquele momento eles estavam indo atrás do meu pai. Então, eles iam me ouvir e se manter afastados. Edward estava roubando um carro; chegaria bem antes de nós, teríamos muita sorte de encontrá-lo vivo.


 


            Ele mudava de planos a todo segundo, provavelmente para me manter afastada do seu futuro. Ou ele estava mesmo tão desesperado que não conseguia tomar nenhuma decisão por tempo suficiente para se manter nela. Tentava pensar positivamente, mas estava difícil. Edward estava decidido que não viveria nem mais um dia sem ela. Era frustrante sentir o coração de Bella bater forte ao meu lado sem nada poder fazer para que Edward o sentisse também antes de cometer a grande besteira que planejava. De que adiantava ver o futuro se eu estava aqui de mão atadas? Se havia uma coisa que eu odiava era isso: estar um passo atrás de quem quer que fosse, e hoje eu estava a quilômetros de distancia. “Que saco!”


 


            A cada metro que Edward se aproximava de Volterra, eu ia ficando mais tensa. Via que Bella às vezes estava a segundos de me chamar, depois mudava de idéia. Se ela precisasse me falar algo importante, sabia que me chamaria; não dava atenção a ela, mantinha-me totalmente ligada a Edward.


 


            Quando senti a mão quente da Bella em mim, abri os olhos. E foi chocante: estava tão concentrada no futuro do Edward que tive de me ambientar de novo ao avião e ao forte odor de sangue que exalava por ele.


 


            - Alice. Alice, temos que ir – Bella esperou. - Alguma novidade?


 


            Ela sussurrou enquanto olhava para o homem que estava sentado ao nosso lado.


 


            - Não exatamente – era difícil ter de respirar. - Ele está se aproximando. Está decidindo como vai pedir.


 


            Sussurrei para ela o que Edward havia feito até aquele momento, poupei Bella das decisões que meu irmão andava tomando. Não podia dizer para ela que Edward não planejava pedir nada a ninguém, que naquele momento ele queria arrumar confusão com o primeiro vampiro que encontrasse, para assim morrer de uma vez.


 


            Corremos pelo aeroporto e embarcamos. Voltei a vigiar Edward.


 


            Fechei os olhos e vi que ele estava sendo conduzido por um dos vampiros grandalhões para uma sala. Edward estava parecendo um louco; os olhos desesperados, em contraste com as gargalhada que dava. O que meu irmão estava fazendo? Os dentes do vampiro mais magro trincavam. Era isso! Edward os estava irritando. Sabendo o que ia acontecer, senti-me enrijecer. Abri os olhos, Bella estava dormindo. Pensei em acordá-la, mas para quê, o que ela poderia fazer? Nada! Não consegui mais ficar sentada; eles planejam matar Edward. Isso não podia acontecer, eu precisava de mais tempo. Fui até o banheiro, olhava para o espelho, desesperada por minha impotência. Edward apanhava muito e quanto mais eles batiam, mais ele ria.


 


            - Cala a boca, Edward! Dá para ajudar só um pouquinho? Bella está viva!


           


            Sentia-me meio claustrofóbica naquele cubículo, precisava de espaço para andar. Mas fiquei parada, desesperada vendo que meu irmão estava a segundos de ser aniquilado. Uma vampira entrou e meu corpo automaticamente foi tomado por uma onda de alívio; ela levaria Edward até Aro e eu contava com isso para retardá-lo um pouco mais.


 


            Voltei a respirar e saí do banheiro rumo à minha poltrona. Bella não parecia ter notado a minha ausência. Foi bom não tê-la acordado, quem sabe ela pelo menos não estivesse tendo bons sonhos...


 


            Vi o que a vampira podia fazer. Ela torturava Edward mentalmente. Jane, esse era o nome da sádica.


 


            Edward finalmente estava na presença de Aro e foi obrigado a deixá-lo tocar a sua mão. Minhas esperanças cresceram. Sempre soubemos o que iria acontecer: Aro começou a imaginar que Edward, Jasper e eu ao seu lado, como parte do seu clã. Eles conversavam enquanto eu assistia a tudo. Quando a possibilidade se confirmou, acordei a Bella; estava muito feliz, precisava dividir isso com ela.


 


            - Bella.


 


            Não precisei chamar de novo, Bella rapidamente abriu os olhos e endireitou o corpo na poltrona.


 


            - Qual o problema?


 


            - Não é problema - sorri. – É bom. Eles estão deliberando, mas decidiram lhe dizer “não”.


 


            - Os Volturi?


 


            Ela balançava a cabeça, fazendo-me duvidar se estava realmente acordada.


 


            - Claro, Bella, acorde. Posso Ver o que eles vão dizer.


 


            Sabia que estávamos chamando atenção, mas não me importava. Estava feliz, a possibilidade de encontramos Edward ainda vivo estava só um pouquinho maior; agarrava-me a isso.


 


            - Me conte.


 


            - Posso trazer um travesseiro para as senhoritas? – perguntou o comissário.


 


            - Não, obrigada.


 


            Eu coloquei novamente a minha boca próxima à orelha dela, ignorava o seu delicioso sangue que pulsava a centímetros dos meus dentes.


 


            - Eles estão interessados nele... Acham que seu talento pode ser útil. Vão oferecer um lugar com eles.


 


            - O que ele vai dizer?


 


            - Ainda não posso ver, mas aposto que vai ser em cores – Edward nunca aceitaria isso, queria estar lá para poder ver o choque no rosto deles pessoalmente, seria divertido. – Esta é a primeira notícia boa... A primeira pausa. Eles estão intrigados; na verdade, não querem destruí-lo... “Desperdício” foi a palavra que Aro usou... E isso pode ser o bastante para obrigá-lo a ser criativo. Quanto mais tempo ele passar com os seus planos, melhor para nós.


 


            Ela não me pareceu nada animada com isso. Será que não conseguia compreender a importância? Olhava para Bella intrigada. Edward sempre afirmou que a cabeça dela devia funcionar muito diferente do resto do mundo; agora eu estava começando a acreditar nisso.


 


            - Alice?


 


            - Sim?


 


            - Estou confusa. Como você vê isso com tanta clareza? E nas outras vezes, você viu coisas distantes... Coisas que não aconteceram.


 


            Bella não confiava mais em minhas visões, eu sabia muito bem o porquê.


 


            - Está claro porque é imediato e próximo, e eu estou me concentrando. As coisas distantes que chegam sozinhas... estas são só vislumbres, possibilidades fracas. Além disso, vejo a minha espécie com mais facilidade do que a sua. Edward é ainda mais fácil porque estou sintonizada com ele.


 


            - Às vezes você me vê.  


 


            - Não com tanta clareza.


 


            Os ombros dela caíram, a imagem perfeita da derrota. A tristeza tomou conta dos olhos dela com uma intensidade enorme. Bella parecia respirar fundo para se controlar, abraçava o corpo de uma forma estranha.


 


            - Queria muito que você pudesse estar certa a meu respeito. No começo, quando você viu coisas sobre mim, antes até de nos conhecermos...


 


            - O que quer dizer?


 


            - Você me viu como uma de vocês – suspirei.


 


            Se meu irmão não tivesse sido tão teimoso, neste momento provavelmente ele estaria com a Bella e todos estaríamos felizes e seguros em algum lugar do mundo.


 


            -Na época era uma possibilidade.


 


            -Na época – Bella sussurrou.


 


            -Na verdade, Bella...


 


            Eu já havia pensado nisso e inclusive falado para Edward antes. Naquele momento, então, eu me resolvi. Até podia ver o meu futuro e o da Bella mudando.


 


            - Sinceramente, acho que tudo isso está além do ridículo. Estou considerando se eu mesma transformo você.


 


            Pegando-me completamente desprevenida, e isso não era uma coisa fácil de fazer, Bella ficou pálida, mais pálida do que como andava; seus lábios estavam praticamente da mesma cor que seu rosto.


 


            - Assustei você? Pensei que fosse o que você queria.


 


            - Eu quero! Ah, Alice, faça isso agora! Posso ajudar tanto você... E eu não seria mais tão lenta. Me morda! – ela aumentou a voz.


 


            - Shhh! Não temos tempo para isso. Temos de chegar a Volterra amanhã. Você vai ficar se contorcendo de dor durante dias. E não acho que os outros passageiros vão reagir bem.


 


            - Se você não fizer isso agora, você vai mudar de idéia.


 


            - Não. Não acho que vá. Ele vai ficar furioso, mas o que poderá fazer?


 


            Provavelmente nunca mais falar comigo, ou até arrancar a minha cabeça, se conseguisse me pegar. Entretanto, não acrescentei estes pequenos detalhes a Bella.


 


            - Absolutamente nada.


 


            Sorri. Com certeza ela tinha razão. O cérebro dela era mesmo torto.


 


            - Você tem muita confiança em mim, Bella. Não sei bem o que eu posso fazer. É provável que eu acabe matando você.


 


            - Eu arrisco – disse ela, com um brilho de esperança nos olhos.


 


            - Você é muito estranha, até para uma humana.


 


            - Obrigada.


 


            - Ah, mas a essa altura é puramente hipotético, de qualquer modo. Primeiro temos que sobreviver ao dia de amanhã.


 


            - Bom argumento.


 


            Bella sorria. Tive vontade de perguntar a ela se isso era mesmo motivo para estar tão feliz. Depois me coloquei no seu lugar; se fosse comigo, imaginar que poderia ficar com o meu amor pelo resto da eternidade, provavelmente agiria como ela. Não, eu estaria pior: provavelmente tentaria fazer uma festa em pleno vôo, ignorando completamente os outros passageiros.


 


            - Volte a dormir.  Vou acordá-la quando houver alguma novidade.


 


            Fechei os olhos e vi que Edward estava na rua. “Droga”, ele nem me deixava tempo para comemorar. Edward estava novamente fazendo merda. Não conseguia controlar a tensão do momento. Edward estava caçando, isso realmente era um choque para mim. Nunca pensei que ele seria realmente capaz de fazer isso, principalmente depois da Bella e da garota que ele havia salvado. Edward estava cercado, havia quatro vampiros bem próximos dele e mais três distantes. “Não, Edward, não faça isso. Dê-me mais algumas horas.”


 


            Quando ele chegou perto o bastante para atacar, parou. Suspirei aliviada. Edward recuava, prestei atenção à sua fisionomia. Meu irmão estava acabado, os olhos negros como carvão; não caçava havia tanto tempo, estava fraco, com olheiras profundas. A tristeza e a dor que eu vi ali me atingiram com força; nunca, nem quando ele a abandou, Edward ficou assim. Abri os olhos, vendo que Bella estava dormindo novamente. Ele precisava vê-la, não podia morrer com aquela dor. Enquanto fechava a janela, Bella despertou.


 


            - O que está acontecendo? - Bella perguntou.


 


            - Eles disseram “Não”.


 


            - O que ele vai fazer?


 


            - No começo, foi caótico. Só peguei vislumbres, ele estava mudando de planos com muita rapidez.


 


            - Que tipo de planos?


 


            - Houve uma hora ruim. Ele decidiu sair para caçar.


 


            Não queria contar para ela, mas Bella precisava ter uma noção de como Edward estava mudado. Ela ainda não acreditava que Edward fazia isso por amor, achava que era por culpa.


 


            - Na cidade. Chegou muito perto. Mudou de idéia no último minuto.


 


            - Ele não ia querer desapontar Carlisle. Não no fim.


 


            - É provável – fingi concordar, pois ela era a razão de todas as atitudes do Edward. Bella era muito cega. Como não conseguia ver isso?


 


            - Haverá tempo?


 


            - Espero que sim... Se ele se prender à última decisão que tomou, talvez.


 


            - Qual foi?


 


            - Ele vai agir da forma mais simples. Apenas vai andar para o sol. Só isso.


 


            Bella olhou através a cortina do avião e disse, em pânico:


 


            -Vamos chegar tarde demais.


 


            - Neste momento, ele tende ao melodramático. Ele quer a maior platéia possível, então vai se escolher a praça principal, sob o relógio da torre. Os muros são altos ali. Ele espera que o sol esteja a pino.


 


            - Então temos até o meio dia?


 


            - Se tivermos sorte. Se ele se prender a essa decisão.


 


            Estava aliviada. O avião pousaria em alguns poucos minutos; depois disso, precisaria roubar o melhor e mais rápido carro que encontrasse. Se ia fazer um resgate, tinha de ser em grande estilo.


 


            - A que distância Volterra fica de Florença?


 


            - Depende da velocidade que você dirige... Bella?


 


            - Sim?


 


            - Até que ponto você se opõe a um roubo de carro?


 


            Ela franziu o nariz enquanto falava:


 


            - Tudo bem, Alice.


 


            Obviamente ela não gostou muito, mas aceitava se isso fosse para salvar Edward.


 


            Deixei Bella esperando e corri para o estacionamento. Se cavalos fossem rápidos, seriam apropriados: imagine Bella chegando montada em um cavalo branco? Parei de devanear; era muito provável ela cair do cavalo e estragar com tudo.


 


            Deixei a felicidade do momento me tomar. Lindo, deslumbrante e reluzente, ali estava ele: um maravilhoso porche amarelo. Ele era a minha cara! Resgataria o meu irmão em grande estilo... Edward adoraria isso.


 


            “Você é muito melhor que cavalos, belezinha.” Disse enquanto arrombava a porta e corria para apanhar a Bella. Ao me ver, seus olhos pareciam prestes a cair da face.


 


            - Rápido, Bella!


 


            Gritei para tirá-la do transe. Bella era devagar pra caramba. Haja paciência!


 


            - Meu Deus, Alice. Não podia ter roubado um carro mais discreto?


 


            - O que importa é se eu podia ter roubado um carro mais rápido, e acho que não. Eu tive sorte.


 


            - Tenho certeza de que isso será muito reconfortante num bloqueio da polícia.


 


            Eu ri; ninguém conseguiria me pegar naquela maravilha.


 


            - Confie em mim, Bella. Se alguém montar um bloqueio, será atrás de nós.


 


            Acelerei mais. Bella segurava com força na maçaneta. Ela respeitava o fato de que eu, além de estar dirigindo, tinha que vigiar o futuro do Edward. Carlisle e Esme já estavam com os outros. Minha mãe estava inconsolável. Eles pareciam estátuas, todos sentados na sala sem se mover; isso incluía a família de Tanya.


 


            - Você vê algo mais? – ela me tirou do futuro.


 


            - Algo está acontecendo. Uma espécie de festival. As ruas estão cheias de gente e bandeiras vermelhas. Que dia é hoje?


 


            - Dezenove, talvez?


 


            - Ora, que ironia. É dia de São Marcos.


 


            Dei uma gargalhada para esconder o nervoso que estava sentindo. A todo o momento era acrescentado algo que dificultava mais a situação do meu irmão.


 


            - O que isso significa?


 


            - A cidade promove uma comemoração todo ano. Segundo a lenda, um missionário cristão, um padre Marcos... na verdade, Marcus dos Volturi... expulsou  todo os vampiros de Volterra há mil anos. A história diz que ele foi martirizado na Romênia, ainda tentando eliminar a praga de vampiros. É claro que isso é absurdo... Ele jamais deixou a cidade. Mas é daí que vêm algumas superstições sobre coisas como crucifixos e alho. O padre Marcus as usava com sucesso. E os vampiros não perturbam Volterra, então elas devem ter funcionado. Passou a ser uma celebração da cidade, o reconhecimento pela força policial... Afinal, Volterra é uma cidade incrivelmente segura. A polícia leva o crédito.


 


            - Não vão ficar muito felizes se Edward criar confusão no dia deles, não é?


 


            Balancei a cabeça:


 


            - Não. Vão agir com muita rapidez.


 


            Bella desviou o olhar, mas, pelo cheiro, eu sabia que ela estava chorando novamente. Sentia-me impotente. Bella tremia violentamente. Quando estava para quebrar o silencio, ela se virou e disse:


 


            - Ele ainda pretende fazer ao meio-dia?


 


            - Sim. Está decidido a esperar. E eles estão esperando por ele.


 


            Edward estava cercado, mas eles precisavam manter distância e ser cautelosos. A praça estava cheia de humanos. Edward teria tempo para agir se quisesse, ele era rápido o bastante para isso. Os Volturi se escondiam nas sombras da cidade, todos estavam de capas escuras. Contrastavam com os humanos vestidos de vermelho.


 


            - Me diga o que tenho de fazer.


 


            - Não tem de fazer nada. Ele só precisa ver você antes de ir para a luz. E precisa ver você antes de me ver.


 


            - Como vamos fazer isso?


 


            O trânsito estava parando à frente, não conseguia ver até que ponto poderíamos ir de carro, faria o máximo que conseguisse.


 


            - Vou colocar você o mais próximo possível, e depois você vai correr na direção que eu apontar. – Tive um pequeno vislumbre da Bella caindo. - Procure não tropeçar. Hoje não temos tempo para uma concussão.


 


            Bella corou, ela sabia muito bem que isso era possível.


 


            -Lá. Volterra – apontei friamente para ela.


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Notas finais do capítulo

Agradeço muito os Reviews, é claro que eu sempre quero mais.

E muito prazeroso ter o retorno do que estou escrevendo, um beijo e até no máximo quarta eu posto mais um.

obrigada



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