Black Hole escrita por juliananv


Capítulo 12
Capítulo 12 Família


Notas iniciais do capítulo

Considero este capítulo, um presente para Alice, eu a amo e com certeza Alice merece isso.
Sei que o capítulo está bem grande, pensei em dividir, entretanto, se eu fosse uma leitora, iria odiar isso. Então por respeito a vocês já postei tudo.
Divirtão-se.



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              Sabia que Jasper já havia contado para Esme e Carlisle tudo que havíamos descoberto sobre o meu misterioso passado; não precisaria, então, ficar me repetindo. Desci e encontrei Carlisle sentado em seu gabinete.


 


            - Carlisle, preciso de um favor.


 


            - Se eu puder ajudar.


 


            - Espere aqui, já volto. – Subi a escada como um raio, peguei minha ficha média que estava na minha mesinha de cabeceira e voltei para o gabinete em menos de meio segundo. – Essa é a minha ficha médica, peguei naquele lugar horrível. Queria que você desse uma olhada nela para ver se descobre alguma coisa. Enquanto isso, Jasper e eu vamos até Missouri. Sei que vou encontrar alguma coisa por lá, só não consigo ver ainda o que é.


 


            Carlisle estendeu a mão e pegou a ficha, seus olhos brilhavam com a curiosidade. Nada intrigava mais meu pai do que um bom desafio médico; ele ia se divertir enquanto me ajudava.


 


            - Fique tranquila, Alice, farei o que puder. – Dei um beijo nele e voltei correndo para encontrar Jasper em nosso quarto.


 


            - Jazz, vamos?


 


            - Vamos, estou pronto.


 


            Pegamos o Jaguar novo do Jazz e partimos rumo ao meu misterioso passado. No caminho, aproveitamos para caçar, já que provavelmente teríamos de manter contato com alguns humanos e a minha garganta já estava bem ressecada.


 


            No restante da viagem, olhava o futuro do Edward; podia ver que ele já havia começado a sua caçada. Resolvi que já era hora de quebrar minha promessa: procurava pelo futuro da Bella também. Até então, eu só havia visto o que aparecia sozinho. Tinha muita saudade da minha amiga. Estranhamente, não conseguia achá-la; Bella não tinha futuro como naquela primeira noite. Fiquei tensa.


 


            - O que foi, Alice?


 


            - Bella. Ela sumiu novamente, seu futuro se perdeu... – não entendia o que estava acontecendo, meu dom nunca havia falhado antes, eu sempre fui capaz de vê-la; imaginei se ela estava me bloqueando de alguma maneira, como fazia com Edward.


 


            - Alice! Você está procurando pelo futuro dela? Pare já com isso!


 


            - Jasper, eu não estou vendo nada - olhava para ele, preocupada –, Bella sumiu...


 


            - Isso já aconteceu antes, não há necessidade de pânico. Daqui a pouco ela aparece, fique calma.


 


            - Você não acha estranho? Eu sempre fui capaz de ver Bella e agora...


 


            - Alice, Bella é a estranha! Ela namorou um vampiro, esqueceu? E, além do mais, Edward nunca pode ouvir os seus pensamentos, isso também nunca havia acontecido com ele. Vai ver, Bella está conseguindo criar alguma resistência a você também. – Ele tentava me acalmar, mas não estava funcionando; sua suposição não parecia fazer sentido. E se eu não pudesse mais ver o futuro da Bella? As coisas iriam ficar mais complicadas do que já estavam. - Esqueça isso, Alice! Vamos nos concentrar em sua pesquisa.


 


            Fingi que concordei, é claro que não enganei Jasper. Passei o restante da viagem me concentrando em procurar pelo futuro da Bella, Edward estaria preso o dia todo naquele quarto horroroso mesmo. Suspirei aliviada quando pude vê-la novamente: Bella estava em sua cozinha, viva e aparentemente segura; parecia preparar o jantar do Charlie.


 


            Uma pergunta não saia da minha cabeça: o que estava acontecendo com a minha visão? Testei meu dom em todos que conhecia, podia ver claramente o futuro deles. Por que Bella às vezes não tinha futuro? Não conseguia encontrar uma resposta para isso. Quando finalmente estava cansada de quebrar a minha cabeça, deixei o assunto de lado.


 


            Chegamos a Saint Louis no começo da tarde e decidimos nos hospedar em um hotel. Claro que eu não ficaria em qualquer hotel xexelento como Edward andava fazendo, então nos hospedamos em um cinco estrelas. Não conseguia entendê-lo: além de estar sofrendo feito um cão, meu dramático irmão parecia que também estava se punindo; essa única explicação que eu encontrava para as coisas que Edward andava fazendo. Balançava a minha cabeça em reprovação.


 


            - O que foi, Alice?


 


            - Nada. – Ele me olhava desconfiado. - Jazz, vamos ter um pequeno problema. Vai fazer muito sol nos próximos dias, então vamos ter que invadir a biblioteca à noite. Não podemos ficar sentados esperando por um dia nublado. Edward está realmente caçando Victoria desta vez e pode vir a precisar da gente, temos que nos apressar.


 


            - Ele já chegou ao Texas?


 


            - Já.


 


            - Eu não gosto disso, Alice, Edward sozinho lá. Você sabe que no sul os vampiros são muito mais agressivos; eles não toleram a concorrência na hora da caçada.


           


            - Eu também não estou nada feliz, por isso estou muito atenta no futuro do Edward. Não vou olhar mais ninguém, estou concentrando toda minha energia nele. Edward ainda não encontrou nada, posso ver que ficará assim por pelo menos mais um dia. – Antes do Jasper sugerir, eu concordei. - Faça isso, ligue para Charlote e Peter; eles estão em Kansas, então podem chegar lá antes da gente, caso seja necessário.


 


            Enquanto Jasper ligava para eles, peguei o meu laptop; precisava pesquisar sobre o sistema de segurança da biblioteca pública de Saint Louis. Cautela nunca era demais, não seria legal chamar a atenção dos humanos enquanto invadíamos o lugar, principalmente porque tínhamos pressa.


 


            Facilmente encontrei as plantas do prédio e o sistema de segurança completo; não seria nada complicado, o único problema era que teríamos a companhia de dois seguranças. Bom, isso não era na verdade um problema, mas um pequeno incômodo; Jasper cuidaria disso facilmente.


 


            - Certo, Jazz, eu já sei exatamente como iremos entrar. Vamos esta noite, posso ver que vou encontrar alguma coisa importante.


 


            Começamos com os preparativos. Estava me divertindo bastante, apesar da ansiedade. Parecia que íamos assaltar um banco; Jasper ria da minha empolgação. Quando anoiteceu, saímos do hotel. Obviamente eu caprichei no modelito “invasora de biblioteca”, estava toda de preto e até coloquei uma touquinha na cabeça para dar um ar mais rebelde.


 


             A biblioteca que eu deveria ir ficava próxima a uma igreja, ocupava um quarteirão todo; havia duas avenidas movimentadas em sua volta. Nossa melhor opção de entrar sem sermos notados por nenhum humano era pelos fundos, ali as ruas costumavam ficar mais desertas durante a noite. Jasper e eu fomos até a praça que ficava em frente à biblioteca, ficamos namorando ali por um tempo enquanto aguardávamos que as ruas ficassem mais desertas. Quando vi que havia chegado a hora, fomos para os fundos. Precisávamos ser rápidos: na esquina oposta havia um prédio residencial, então corríamos o risco de sermos vistos por algum humano. Em menos de um segundo, escalamos o prédio e entramos por uma janela no andar superior; sabia que entrando por ali não encontraríamos detectores de movimento. Dirigi-me para o setor de microfilmes de jornais antigos; Jasper seguiu a direção contraria: foi encontrar os humanos para colocá-los para dormir um pouco.


 


            - Está tudo certo, Alice, eles vão ficar apagados por um tempo. Não se preocupe, fui cuidadoso, ninguém me viu; eles estão bem relaxados agora. – Sorri para ele.


 


            Como eu já sabia da minha data de nascimento, comecei a minha pesquisa daquele ano para trás. Procurei pelo sobrenome do meu pai e rapidamente comecei a encontrar documentos importantes.


 


            - Olha, Jazz, são meus pais! – Era bizarro falar isso. – Os proclamas do casamento deles: Paul Willian Brandon e Felicity Mary Brandon, tenho o mesmo nome que a minha mãe! – Jasper estava atrás de mim, com as mãos em meus ombros, ele estava me acalmando.


 


            Continuei a procurar, cheguei ao ano do meu nascimento, 1903; encontrei o anúncio do meu nascimento, Mary Alice Brandon. Olhei em colunas sociais e eventos importantes, mas não encontrei nenhuma foto dos meus pais. Segui com a minha busca até que, em 1906, um nome chamou minha atenção; Jasper apertou o meu ombro com mais força.


 


            - Alice! Cynthia Megan Brandon. Ela é sua irmã! – Olhei para Jasper assustada e emocionada. Eu tive uma irmã! – Você deveria sentir a falta dela, amor, por isso escreveu o seu nome tantas vezes naquele lugar.


 


            Jasper não gostava de pensar em como eu fui tratada pelos meus pais enquanto era humana, ele me amava demais para aceitar que qualquer coisa pudesse me fazer sofrer. Mesmo que eu não me lembrasse de nada, ele jamais iria perdoar os meus pais pelo que fizeram comigo.


 


            - Continue, Alice, vamos ver mais.


 


            Procurei por fotos, notícias, eventos sociais, proclamas de casamentos; então encontrei o anúncio da minha morte: a data era a mesma da internação no sanatório. Suspirei fundo e continuei. Em 1927, encontrei os proclamas do casamento da minha irmã; ela se casou com Phillippe York e em 1930 eles tiveram uma filha: Alice Mary York.


 


            - Jazz, ela está viva! – Falei enquanto me virava para olhá-lo. – Posso ver exatamente onde ela está.


 


            Jasper me levantou e me deu um forte abraço, ele também estava emocionado.


 


            - Cynthia também devia sentir a sua falta, Alice, ela deu o seu nome para a filha. – Ele me olhava sorrindo. Era um consolo para ambos saber que eu fui amada por pelo menos uma pessoa enquanto fui humana.


 


            - Vamos, não tem mais nada aqui e em menos de cinco minutos os guardas vão acordar. – Saímos pela mesma janela que entramos e voltamos rapidamente para o hotel; havia muitas coisas em que eu precisava pensar.


 


            Chegamos ao hotel ainda de madrugada. Assim que entramos em nosso quarto, vi que Edward encontraria um vampiro; fiquei atenta, podia ver que eles iriam conversar. Jasper me guiou até a cama e me sentou.


 


            - Alice?


 


            - Era o Edward. Tudo bem. Ele só encontrou com um dos nossos; não deu em nada. Jazz, quero ligar; tenho que contar as novidades para Esme e Rose. - Roseli e Emmett estavam em Ithaca, voltaram para fazer companhia a Esme.


 


             Enquanto falava com a Esme, via que Edward e Emmett conversavam.


 


            - Esme, eu encontrei! Tenho uma sobrinha viva! – Estava felicíssima.


 


            - Ah, que bom, Alice!


 


            - Quero muito conhecêla, mas estou apreensiva... não sei o que vou sentir. É tudo muito estranho.


 


            - Rose está te mandando um abraço, Alice. Também queremos conhecer a sua sobrinha. Podemos ir com você? – Pensei sobre isso, achei que seria bom ter o apoio da minha família; sim, eu queria dividir com todos a minha alegria.


 


            - Claro, Esme. Eu adoraria, ela está em Biloxe. – Balancei a cabeça, o lugar era degradante. – Amanhã vou para lá. Apressem-se, estou ansiosa.


 


            - Tudo bem, vamos pegar um avião amanhã bem cedo. Adeus.


 


            Quando desliguei o telefone, voltei a minha atenção para o Edward. Ele encontrou o casaco com o cheiro da Bella, não sabia qual seria a sua reação. Enquanto assistia ao sofrimento do meu irmão, não podia evitar me senti culpada; sabia que o que estava fazendo era para o bem dele, mas mesmo assim me dava um aperto no coração; não gostava de vê-lo sofrer daquela maneira. Minha vontade era de pegar Edward pela orelha e levar ele ate Forks, obrigá-lo a se desculpar com a Bella, iguais às mães humanas fazem com seus filhos quando eles brigam; seria muito fácil se pudesse ser assim.


 


            “Ops, isso não é nada bom!” Suspirei fundo. Edward estava furioso comigo, o casaco não foi uma boa idéia. Droga! Peguei o celular antes que ele começasse a tocar. Jasper imediatamente sentiu a minha tensão e veio ficar ao meu lado.


 


            Edward gritava tanto que eu não consegui evitar que Jasper ouvisse tudo o que ele estava falando. Tentei argumentar com ele, mas Edward estava irredutível; como sempre, balancei a minha cabeça. Sabia que havia me metido em uma enorme encrenca, Jasper me olhava, furioso. “Que saco”; podia ver que a ligação do Edward ia estragar tudo o que eu já havia conseguido que Carlisle e Jasper abrissem mão. O primeiro sermão veio do Jasper.


 


            - Chega, Alice! Você ouviu o que ele disse! Não vamos mais nos envolver neste assunto.


 


            - Ele não sabe o que esta falando, Jasper. Edward perdeu o senso há muito tempo, ele está completamente perdido sem a Bella.


 


            - Não importa, é a existência dele! Não quero mais que você se envolva, vamos respeitar a partir de agora. Está me entendendo, Alice?


 


            Vi que nada do que falasse ia fazer com que Jasper voltasse atrás, ele ainda se sentia terrivelmente culpado por tudo isso. Edward deixou bem claro no seu telefonema que não confiava em ninguém para ficar perto dela, nem nele mesmo e, para piorar ainda mais a minha situação, Edward ainda foi reclamar para a mamãe. Aquele bebê idiota! Esme também proibiria Carlisle de se meter. Suspirei profundamente antes de o telefone tocar novamente e eu receber a minha terceira bronca do dia.


 


            - Já sei Esme, não precisa gritar.


 


            - Alice, se Edward abandonar esta família a culpa será toda sua! Eu a proíbo de se meter nos assuntos dele e de ficar olhando o futuro da Bella. Agora passe o telefone para o Jasper. – Podia ouvir Esme implorando para Jasper me segurar.


 


            - Eu sei, Esme... não se preocupe, não vou desgrudar dela. – Ele me olhava, sério. - Alice não vai mais atormentá-lo. Você tem a minha palavra. Até mais, mãe.


 


            - Escutou, Alice? Basta! Não quero mais que você toque neste assunto com Edward, que tenha visões perto dele, voluntárias ou não. Também não vai mais olhar o futuro da Bella. Se você não fizer o que estou te pedindo, vou ficar realmente muito, muito furioso com você.


 


            Que droga! Deu mais do que errado, voltou tudo para a estaca zero. Não, pior do que a estaca zero, agora todos não me deixariam em paz. “Que saco!” Estava sozinha novamente e, o pior, podia ver que Jasper não ia desgrudar de mim nem um segundo agora. Suspirei profundamente: se já estava difícil antes, agora estava quase impossível.


           


            Podia ver claramente Esme brigando com Carlisle. A promessa que Carlisle havia feito para mim, de que eu poderia voltar a Forks caso visse que Bella iria se ferir novamente, não tinha mais validade. Tem hora que família só atrapalha...


 


            - Tudo bem, Jazz, vou me comportar.


 


            Virei de costas para ele e fui para o banheiro. Estava tão frustrada que não queria ficar com ninguém; passei o resto da madrugada trancada lá. Quando resolvi sair, já estava amanhecendo. Decidi que focaria toda a minha atenção em minhas descobertas e na vigilância de Edward; afinal, eu não podia deixar que nada acontecesse a ele, mesmo que eu ainda estivesse brava.


 


            - Jasper, eu sei que disse que iria para Biloxe hoje logo cedo, mas decidi antes ir ao cemitério. - Ele me olhava confuso.


 


            - O que está aprontando, Alice?


 


            - Só quero ver o meu túmulo. Você acha isso muito mórbido?


 


            - É no mínimo curioso – ele se divertia com as minhas expressões faciais –, espero que não achem que você é um fantasma. Se bem que, se eu tivesse encontrado com um fantasma como você quando eu ainda era humano, eu ia adorar...


 


            Fui para a cama e me deitei a seu lado, Jasper me puxou rapidamente para cima dele, eu ri.


 


            - Quer que eu te assombre?


 


            - Não imagina o quanto... – Jasper disse antes de me beijar.


 


            Depois disso esqueci todas as minhas irritações, Jasper tinha toda a minha atenção. Passamos o dia todo na cama, era ótimo ser um vampiro nesta hora, nós não nos cansávamos nunca; o difícil mesmo era ter de parar, ainda mais quando se está na companhia de quem você mais ama. Eu amava Jasper com todas as minhas forças, só de imaginá-lo bravo comigo me dava um aperto no coração. Parei de beijar meu Jazz, ele me olhou ofendido.


 


            - Não fique assim, é que Emmett está ligan... - antes que eu pudesse terminar, o celular tocou.


 


            - Mas que hora, hein? – Ele balançava a cabeça enquanto pegava o celular. – Fala, Emmett!        - Mudança de planos, vamos chegar ai só de madrugada. – Ele escutava o que Emmett dizia. - Alice quer ver umas coisas por aqui. Não ria: ela quer conhecer o seu túmulo no cemitério. Estamos só esperando o sol se por; passaremos no cemitério e seguiremos para Biloxe. Aproveite a cidade. Tchau. – Escutava as gargalhadas do Emmett.


 


            Eu me levantei, já que Emmett atrapalhara o clima. Estava entardecendo, logo poderíamos sair. Arrumamos as nossas coisas, fechamos a conta do hotel e fomos até o cemitério. Já estava escuro quando entramos, andamos em direção à parte mais antiga, fui direto em minha sepultura. Era muito estranho.


 


Mary Alice Brandon


 


1903 – 1915


 


“Para você, meu anjo, amor eterno.”


 


            - O que será que eles enterraram aí?


 


            - Provavelmente encheram o caixão com pedras ou algo do gênero. – Respondeu Jasper.


 


            Eu não fazia a menor idéia do por que estar ali, era tão surreal.


 


            - Alice, olha esta lápide.


             


            Era o tumulo dos meus pais. Meu pai morreu em 1928 e minha mãe, em 1934. “Pais amorosos.” Jasper, rosnava.


 


            - Vem, vamos, Jasper, não tem nada aqui que importe.


 


            Pegamos o carro e seguimos para Biloxe. No caminho, pude ver que Edward estava novamente em seu estado catatônico. Assim que chegamos, seguimos direto para o hotel em que todos estavam hospedados. Estava com saudades deles. Rose foi a primeira que eu vi:


 


            - Roseli! E aí, se divertiu? Vi que esteve em Paris. O que trouxe para mim?


 


            - Até parece que você não sabe, Alice! – Ela fazia caretas. – Sei que você já viu, mas Esme está uma fera com você. Também, Alice, só você para se meter com o “precioso” Edward. – Rose morria de ciúmes da relação da nossa mãe com o Edward; ela sempre foi acostumada a ser o centro das atenções quando ainda era humana; depois que se transformou em vampira isso piorou muito. Antes, Esme protegia Edward, pois sabia como ele era solitário e se preocupava muito com isso, e agora ele estava sofrendo como nunca, qualquer mãe faria o mesmo.


 


            - Eu sei, Rose, vou até ela. – Era melhor acabar com isso de uma vez; fui até o quarto da minha mãe, já preparada para os sermões. Bati na porta.


 


            - Entre, Alice.


 


            - Oi, Esme – dei um beijo nela -, sinto muito, não previ que Edward reagiria assim, só estava querendo apressar as coisas. Não gosto de ficar assistindo ao sofrimento dele sem fazer nada.


 


            - Alice, você precisa aprender a respeitar o tempo das pessoas. Você sabe que Edward vai voltar, então deixe que ele escolha quando e como, não fique usando de artimanhas para forçá-lo a agir. Respeite as escolhas dele, filha.


 


            - É muito difícil, Esme. Eu sei que você não está errada, só que... quero vê-los felizes logo – baixei o volume da minha voz. - E no fundo eu tenho medo de que se o Edward demorar muito para voltar... temo que ele encontre a Bella com aquele garoto, o Jacob, ela parece mesmo gostar dele.


 


            - Se isso acontecer, Edward terá que lidar com a situação do seu jeito, sem a interferência de ninguém. Ele sempre foi tão respeitoso com todos nós, Alice, mesmo com o seu dom ele nunca interferiu nas nossas escolhas. Edward sempre foi muito discreto com o que ouve. Se qualquer outro tivesse o mesmo dom que ele tem, não sei se conseguiríamos viver como temos vivido esse tempo todo.


 


            - Você está certa, Esme, vou dar privacidade a ele neste sentido. Será muito difícil para mim, você me conhece. Só vou ficar vigiando Edward de longe por precaução; você sabe que as coisas no sul não são tão pacificas. Não vou me intrometer mais na relação dele com a Bella.


 


            - Obrigada, filha, sei que você fez o que fez por amor, mas agora vamos cuidar dos seus problemas e deixar que Edward cuide dos dele. Conte-me sobre a sua sobrinha, e o que mais você descobriu.


 


            Contei para Esme tudo o que havia acontecido desde que saí de Ithaca, as minhas descobertas, o sumiço da Bella – ela me olhou feio nesta hora -, a briga com Edward, até a ida ao cemitério. Ela me abraçou:


 


            - Não fique chateada com seus pais, nós não sabemos ainda o que aconteceu realmente, o porquê deles terem que te colocar naquele lugar.


 


            No fundo eu não estava chateada. Como poderia me chatear se não lembrava nada? Eu nem me lembrava de como era ser uma humana. Algumas vezes até pensei que já havia nascido assim, vampira; afinal, todos eles se lembravam de alguma coisa de sua humanidade: Rose, de sonhar em ter filhos; Edward, da mãe; Esme, do filho que perdeu; Carlisle, da sua responsabilidade com os humanos; Emmett, do urso (até hoje não conseguia se controlar perto de um); Jasper, de ser um patriota; e eu, nada. E, principalmente, eles descreviam claramente a dor que sentiram enquanto estavam sendo transformados em vampiros e eu não me recordava nem disso. A primeira lembrança que eu tinha era a de ver o rosto do Jasper no meu futuro e saber que ele estava esperando por mim, mesmo que ele não soubesse disso.


 


            - Não se preocupe com isso, Esme, eu não estou chateada, só intrigada e curiosa. Quero falar com a minha sobrinha, só não sei como fazer isso ainda.


 


            - Vamos lá agora? – Ainda era madrugada - Só olhar o lugar. Se é assim tão ruim como você diz, quem sabe a gente não pode fazer alguma coisa para ajudar? Eu já tive algumas ideias...


 


            Fomos todos, Rose, Emmett e Esme em um carro, Jasper e eu em outro. Seguimos em direção à parte mais pobre da cidade. O asilo era degradante. Como os humanos permitiam que pessoas fossem tratas daquela maneira? Paramos os carros em frente ao lugar e descemos.


 


            - É, Alice, o lugar é mesmo péssimo. Vamos ver o que podemos fazer por ela. – Disse Esme enquanto me abraçava.


 


            - Certo, vamos voltar; temos coisas a resolver.


 


            Assim que chegamos ao hotel, começamos a planejar os nossos próximos passos. As primeiras providências teriam de ser tomadas de dentro do hotel mesmo, pois nos próximos dias iria fazer muito sol.


 


            Compramos um imóvel, muito mais adequado para ser a nova sede do asilo. Pedimos a orientação do Carlisle, ele sabia do que humanos daquela idade necessitavam. O passo seguinte foi mobiliar e tornar o lugar confortável, seguro e bem decorado, claro. Também contratamos novos profissionais especializados em cuidar de idosos. Assim que todos os preparativos práticos foram tomados, começamos a parte mais complicada do plano: o contato direto com os humanos. O sol não estava ajudando, mas vi que em dois dias, enfim, teríamos uma tarde nublada. Decidimos caçar para estarmos preparados para agir.


 


            Assim que o sol começou a se pôr, fomos caçar. Ali não havia muitas opções; as áreas verdes eram escassas. Emmett reclamava que seria praticamente impossível encontrar algum urso. Estávamos nos divertindo enquanto caçávamos, até que eu vi a besteira que o Edward ia fazer; não tive tempo de ligar para alertá-lo, Jasper logo sentiu a minha tensão.


 


            - Alice, quem você está vendo? – Fiquei em silêncio, precisava me concentrar.


 


            - Alice, você não está procurando pela Bella? – Perguntou Esme.


 


            - Esperem... é o Edward. – O que durou no máximo dois minutos pareceu horas para mim, tamanha era tensão; suspirei aliviada assim que acabou. - Edward acidentalmente encontrou alguns membros da guarda Volturi. – Mandei para Jasper o nosso conhecido olhar de “Cala já essa Boca”. - Fiquei nervosa, mas não foi nada.


 


            - Edward está bem? – Esme também não gostava da proximidade.


 


            - Está. Não se preocupe, Esme. Bem que a tal da Heidi deu em cima dele, mas Edward não quis saber. – Tentava descontrair o ambiente.


 


            - Esse é o meu irmão! Impressionante como as vampiras fazem fila atrás dele. Jasper, aposto que se Heidi fosse humana, Edward teria gostado. – Disse Emmett.


 


            - Cala a boca, Emmett! Uma humana já não é o suficiente?  – Disse Rose. – Mas bem que o Edward podia tentar... Quem sabe não acaba gostando de alguém da sua própria espécie? Seria muito mais fácil.


 


            - Cala a boca, Rose! É impressionante como você e o Emmett foram feitos um para o outro. Vamos parar de falar bobagens e voltar a caçar. - Voltamos a caçar rindo dos dois.


 


            Assim que o dia amanheceu, voltamos para o hotel. No final da tarde já estávamos todos preparados, então seguimos para o asilo. Esme seria a primeira que entraria em contato com eles. Quando ela entrou, nós ficamos nos carros, escutando.


 


            - Boa tarde, meu nome é Esme Cullen. Eu estou em busca de uma instituição que necessite da minha ajuda.


 


            - Bom, sempre precisamos de voluntários. Mas não sei se a senhora vai gostar, o trabalho aqui é muito pesado. – A mulher era muito antipática.


 


            - Não tenho medo de trabalho, mas também não quero ser só uma voluntária. Estou procurando por um lugar que mereça também o meu apoio financeiro. – É só falar em dinheiro que os humanos mudam rapidamente.


 


            - Ah, gostaríamos muito de sermos esta instituição. Muito prazer, meu nome é Lara.


 


            - Que ótimo, então você não se importaria se eu fosse conhecer o lugar.


 


            - De maneira alguma. Se a senhora puder aguardar um minuto, vou chamar a Sofi; ela trabalha aqui há muitos anos, conhece o asilo como ninguém.


 


            - Estou sem pressa, só vou até o carro chamar meus filhos. Eles estão me ajudando na escolha. – Esme saiu e veio até o carro. – Vamos, Alice, chegou a hora.


 


            - Esme, teremos de ser cuidadosos com essa mulher, não gosto dela.


 


            Fomos até a recepção do asilo, eu estava nervosa, Jasper segurava minha mão para me acalmar. Já havia visto a minha sobrinha, sabia que ela estava cega e muito debilitada, só não conseguia ver ainda a reação que ela teria ao me encontrar. Edward fazia uma falta tremenda nestas horas, seria muito mais fácil se ele estivesse aqui para nos guiar através dos pensamentos humanos.


 


            Quando Sofi entrou na sala e olhou aqueles cinco vampiros parados ali, ficou tensa. Não que ela soubesse que éramos vampiros, bem, esperava que ela não soubesse, sem Edward as coisas eram mais difíceis. Jasper apertou a minha mão, o cheiro dela queimava a garganta dele, decidi quebrar a tensão.


 


            - Boa tarde, eu sou... Isabella Cullen – todos me olharam intrigados. – Estamos acompanhando a nossa mãe, queremos ajudar também.


 


            - Alice, por que mentiu sobre o seu nome? – Rose sussurrou.


 


            - Depois explico...


 


            - Sofi. - Ela se apresentou, meio desconfiada. Olhei sugestivamente para Esme.


 


            - Muito prazer, eu sou a Esme. – Não estava gostando da cara dela, podia ver que ela falaria para a Lara que havia alguma coisa muito errada conosco. Decidi arriscar. Abracei Esme, antes de começar com o meu teatro.


 


            - Claro que Esme não é nossa mãe biológica – sorria inocentemente -, ela é muito nova para isso. Fomos adotados por ela, minha nova mãe é maravilhosa. Esme é a benfeitora de um orfanato no Canadá, nos conhecemos lá. Acabou se apegando muito a todos nós, afinal sofremos todos de uma rara doença no sangue. – Achei melhor inventar uma doença para explicar a nossa aparência estranha.


 


            - Perdoem-me, não queria ser indelicada. É que depois da passagem do furação Katrina, recebemos muitas pessoas interessadas em nos ajudar, só que nenhuma delas acabou voltando e a situação do asilo vem piorando a cada dia... Precisamos muito de apoio.


 


            - É por isso que estamos aqui – disse Jasper. Senti o clima na sala ficando mais calmo; Sofi sorriu enquanto nos guiava para entrarmos no lugar.


 


            Enquanto Sofi nos mostrava o lugar, ela foi ficando mais relaxada; havíamos aprendido muito com a Bella, agora era até fácil agir mais naturalmente perto de humanos. Primeiro Sofi nos mostrou as áreas sociais do lugar, antes de nos levar até onde ficavam os idosos. Tudo estava caindo aos pedaços. Podia ver o choque em minha família, eles não imaginavam que o lugar era tão ruim. Conversávamos aos sussurros, Sofi nem notava.


 


            - É horrível! – Disse Rose. – Como eles conseguem viver aqui?


 


            - Onde ela está, Alice? – Emmett estava impaciente.


 


            - Calma, Emmett, já estamos quase lá.


 


            Sofi e Esme andavam na nossa frente, ela explicava todos os detalhes do funcionamento do lugar. Eu não prestava muita atenção, estava ansiosa para ver minha sobrinha com meus próprios olhos. Antes de entrar no lado do prédio destinado ao dormitório, achei melhor falar com eles.


 


            - São 27 humanos espalhados em quartos. Serão nove quartos com três humanos em cada, minha sobrinha está no segundo quarto do lado direito do corredor. Acho bom não respirar muito.


 


            Sofi se virou para falar conosco; sorríamos cuidadosamente, escondendo os nossos dentes; precisávamos parecer simpáticos.


 


            - Estes são os dormitórios. Eles costumam dormir bem cedo, portanto não sei se vocês irão conseguirão conversar com alguém hoje. Mas fiquem à vontade. Só peço a gentileza de falarem baixo. Preciso ir até a enfermaria, está na hora dos remédios. Vou deixar vocês sozinhos, se não se importam.


 


            - Fique à vontade – Esme sorria -, não se preocupe com os meus filhos, eles sabem se comportar.


 


            Sofi saiu, sorrindo. Fomos todos até a porta do quarto da minha sobrinha Alice. Entramos em total silêncio, nem se ouvia o som dos sapatos no chão, como só vampiros podiam fazer. O quarto era extremamente pequeno e, com mais cinco vampiros dentro, estava meio claustrofóbico. Havia três idosas, cada uma em uma cama de ferro, daquelas que se usam em hospital. Olhei para eles e sussurrei.


 


            - Qual vocês acham que é ela? – Sorri; eles se aproximaram mais para olhar.


 


            Jasper rapidamente descobriu.


 


            - É a da cama perto da janela? – Balancei a cabeça concordando.


 


            Fomos todos para mais perto dela, eles me olhavam admirados: ela era muito parecida comigo, ou eu ficaria parecida com ela se pudesse envelhecer. Ela era pequena, muito magra, seus cabelos já eram bem brancos e curtos; o rosto tinha traços delicados, sua boca era pequena e enrugada; ela ficava o tempo todo com os olhos fechados. Era tão estranho... Depois de alguns minutos em total silêncio, ela falou:


 


            - Quem está ai? – Ela virou a cabeça em nossa direção; todos automaticamente me olhavam, questionando o que eu faria.


 


            - Desculpe se acordamos você, meu nome é Isabella... Isabella Cullen. Minha família e eu viemos conhecer o lugar.


 


            - Ah, não se preocupe, querida; eu tenho o sono muito leve. Sabe, coisa de velha... Você tem uma voz bonita, tão suave. Quem está aqui com você?


 


            - Meus irmãos: Roseli, Emmett e Jasper, e a minha mãe, Esme.


 


            - Nossa, quanta gente! – Ela sorria - É raro receber uma visita; cinco, então, acho que isso nunca aconteceu. – Sorri acompanhando a alegria dela.


 


            - Acho melhor vocês se espalharem um pouco, Sofi deve voltar logo. – Sussurrei, eles foram cada um para um quarto, só Jasper ficou comigo.


 


            - Faz tempo que a senhora está aqui?


 


            - Ah, que grosseria a minha, nem me apresentei. Sou Alice Mary York e estou aqui há alguns anos.


 


            - Que nome bonito – disse Jasper.


 


            - Também gosto do meu nome, era o nome da minha tia – olhei para Jasper admirada. - Eu não a conheci, morreu muito nova a coitadinha. Mas minha mãe falava nela às vezes, sempre gostei das histórias que ela contava sobre minha tia. – Jasper foi deixando o ambiente mais calmo, na esperança de deixá-la mais relaxada para que falasse mais.


 


            - Alice devia ser mesmo especial – ele dizia enquanto me olhava - para que sua mãe desse a você o nome dela. Sinto muito perguntar, mas fiquei curioso: o que aconteceu com ela para morrer tão jovem?


 


            - Minha mãe nunca soube, disse que era um assunto proibido na família. Ela não se lembrava de muita coisa, quando a tia Alice morreu minha mãe só tinha seis anos. Ela disse que Alice sempre foi doente, nasceu assim a pobrezinha; meu avô não deixava as duas ficarem muito tempo juntas.


 


            - Por quê?


 


            - Não sei, mas tia Alice às vezes fugia do seu quarto à noite para se encontrar com a minha mãe, elas se divertiam muito nessas horas. Minha mãe me contou certa vez que ela e Alice tinham um jogo secreto.


 


            - Que jogo? – Estava ficando muito curiosa, só conseguia ver o que ela contaria quando Jazz fazia as perguntas; rezava para que ele fizesse as perguntar certas. Alice Mary riu:


 


            - Minha mãe não tinha certeza se era coisa da imaginação dela ou se aquilo acontecia de verdade, afinal uma criança de seis anos tem uma imaginação muito fértil. Elas jogavam “O que vai acontecer amanhã?”, tia Alice era muito boa nisso... – Ficamos em silêncio um tempo. - Não sei por que estou falando sobre isso com vocês, há muitos anos não pensava nela. Acho que é saudosismo de velha; desculpem-me, estou chateando vocês. – Eu me aproximei da cama, não queria que ela parasse de falar sobe o meu passado.


 


            - Estou adorando a sua história! Por favor, não pare; conte-nos mais sobre Alice.


 


            - Não tem muita coisa para contar. Alice passava os dias trancada no quarto e elas tinham muito pouco contato. Naquela época, médico era para os ricos; minha família não era pobre, mas também não tinha condições de ter sempre um médico à disposição. Minha mãe se lembrava que uma noite antes da tia Alice morrer, ela foi até o seu quarto se despedir, ela se lembrava disso com muita clareza. Disse que foi o momento mais doloroso da sua vida. Tia Alice contou para ela que morreria logo e pediu para ela não se esquecesse de dizer à vovó que a culpa não era dela, que Alice a perdoava. Essa foi à única noite que minha mãe se lembra de ter dormido com a irmã. Mamãe conta que a tia Alice chorava muito, dizia que estava com medo do que iria acontecer. Na manhã seguinte, o vovô encontrou as duas juntas, minha mãe não entendeu porque ele ficou tão bravo, mas naquele mesmo dia ele a levou para um médico em outra cidade e Alice morreu no caminho.


 


            - Deve ter sido difícil para sua mãe, ela só tinha seis anos.


 


            - Foi, mas acho que para a minha avó foi muito pior. Minha mãe conta que ela nunca mais foi a mesma depois da morte da Alice. Vovó cuidava muito bem dela, era a única que tinha a permissão do meu avô para ficar com a titia por algumas horas do dia.


 


            - Seu avô parece ter sido uma pessoa bem rígida...


 


            - É, ele sempre foi assim... Vovô foi um homem muito religioso. Sempre que alguém mencionava a tia Alice, ele ficava muito bravo, dizia que a doença dela era um castigo de Deus. Sempre muito ignorante... – Minha sobrinha começou a franzir a testa, visivelmente dividida entre alguma coisa que eu não conseguia ver, ela ainda não havia se decidido... Resolvi arriscar novamente.


 


             - Fique aqui – sussurrei para o Jasper.


 


            Corri até o banheiro mais próximo; molhei a minha mão e o meu rosto, voltei para o quarto em menos de um segundo; nenhum humano me viu nem minha sobrinha Alice percebeu que eu havia deixado o quarto.


 


            - Alice?


 


            - Observe, Jazz...


 


            Segurei a mão da minha sobrinha, com um pouco de receio, sabia que seria impossível que ela não percebesse como eu era dura e fria.


 


            - Nossa, querida, como você está gelada...


 


            - Desculpe-me, acho que a sua história me deixou emocionada, fico gelada e minhas mãos transpiram quando isso acontece.


 


            - Ah, desculpe essa vó velha, minha história deve estar deixando você assustada.


 


            - Não, não é isso, só que...


 


            - O que, querida, não tenha medo, fale?


 


            - É que eu sinto que você quer me contar alguma coisa, mas está em dúvida – ela suspirou profundamente e balançou a cabeça.


 


            - Posso te pedir uma coisa?


 


            - Claro! – Eu sabia que a probabilidade disso acontecer era bem grande, mesmo assim a emoção que eu senti foi muito forte. - Se eu puder, ficarei feliz em ajudar.


 


            - Você já reparou que eu não posso mais enxergar. Eu queria te ver, conhecer o seu rosto. Não sei, mas tem alguma coisa em você que me é familiar... – Fiquei tensa; claro que não tinha como ela imaginar que eu era a tia “morta” dela.


 


            Gentilmente peguei a sua mão e coloquei em meu rosto, havia me acostumado com o toque da pela humana em mim, Bella às vezes me abraçava quando estava muito empolgada com alguma coisa. Mas desta vez foi diferente, ela estava “lendo” o meu rosto; com muito cuidado, ela sentiu todos os detalhes da minha face. Passou os dedos pela minha testa, nariz, bochechas; quando ela passou o dedo em meus lábios, quase pude sentir o gosto do sangue dela em minha boca e tive de conter os meus instintos com muita força; automaticamente pensei em como Edward era forte, como ele conseguia se controlar enquanto beijava Bella; isso seria um mistério para mim. Senti certo alívio quando ela afastou a sua mão do meu rosto.


 


            - Isabella, você é muito parecida com o que eu imaginei, só que mais bonita e miúda – ela sorriu e suspirou. – O eu que vou te contar nunca contei a ninguém, nem a meu falecido marido... – Esperei pacientemente até que ela estivesse pronta para falar. - Dias antes de a vovó Felicity morrer, avisei a minha mãe que isso ia acontecer. Eu era pequena, mas lembro claramente disso; na época eu não entendi a reação da minha mãe, achei que ela tinha ficado brava comigo, ela chorava muito. Depois mamãe se trancou no quarto com a minha vó por horas; após a conversa, minha avó entrou em coma e, dois dias depois, ela morreu; vovó já vinha lutando contra um câncer havia muito tempo. Alguns anos depois, quando minha mãe já estava ficando doente, ela teve Alzheimer, ela me chamou, dizia que não queria que a história da tia Alice fosse esquecida. Não sei se você vai acreditar em mim, querida, às vezes nem eu mesma acredito...


 


            - Confie em mim, não acho que você está mentindo para mim. – Segurei a mão dela, ela me aportou.


 


            - Já te falei que o meu avô acreditava que Alice era um castigo de Deus. Quando eu contei à minha mãe que sabia que a vovó iria morrer, ela se lembrou da última noite que havia passando em companhia da minha tia. Eu não sei se foi o meu aviso ou o choque de perder a mãe, mas minha mãe se lembrou. Acredito que ela tenha bloqueado aquela lembrança, era muito pequena e foi uma noite difícil, então ela resolveu cumprir a promessa que havia feito à minha tia e contou para a vovó tudo o que se lembrava. Naquela noite, a vovó Felicity encontrou finalmente a paz. Ela revelou para minha mãe que Alice nunca havia sido uma criança doente, que, na verdade, Alice era um anjo. Um anjo que Deus havia confiado a ela e de que ela não soube cuidar, não teve forças para proteger. – Ela sussurrou: – Minha tia Alice conseguia ver coisas... antes que acontecessem...


 


            - Ela via o futuro? – Fingi uma pergunta.


 


            - Sim, e isso assustava as pessoas. Alice era muito pequena, não entendia o que podia e o que não podia falar. Meu avô, no começo, sentia vergonha; com o passar do tempo, passou a encarar a filha como um castigo. Ele gostava de receber os amigos, a família, mas as pessoas ficaram com medo da pequena Alice e das coisas que ela falava. Achavam que Alice era uma bruxa, que tinha o poder de lançar maldições; com o tempo, pararam de ir à casa dos meus avós. Então, meu avô passou a esconder a filha; minha avó a protegia da maneira que conseguia, até que meu avô descobriu um médico que havia prometido curar Alice. Minha vó implorou para ir com eles até aquele médico, mas meu avô não deixou, disse que ela tinha outra filha para cuidar, que não era certo deixar a minha mãe sozinha. Então vovó foi obrigada a ficar. Quando meu avô voltou, disse que Alice não resistira ao tratamento. Minha vovó se sentiu culpada por não acompanhar a sua filha... Meus avós mal se falaram depois disso, eles tinham um casamento de fachada. A pobre vovó Felicity se culpou a vida toda por não estar perto da Alice no momento em que ela morreu...


 


            - A culpa não foi dela, sua avó fez o que pode. – Podia ver que nossa conversa estava no fim, Sofi logo entraria no quarto, Esme não conseguiria distraí-la por muito tempo mais.


 


            - Posso te perguntar uma coisa, Alice?


 


            - Claro, Isabella, me pergunte o que quiser.


 


            - Como, você sabia... que a sua avó Felicity ia morrer?


 


            - Acho que, como a minha tia, eu posso ver coisas... Mas não tenha medo de mim, não vou fazer nenhum mal a você.


 


            - Não se preocupe. – Eu ri: ela me fazer mal por ver alguma coisa... - Não tenho medo de você.


 


            - Não sou como minha tia Alice, mas sinto quando alguém que conheço vai morrer, sempre soube que não teria filhos e...


 


            - O quê?


 


            - Há algum tempo eu soube que você viria aqui, que eu te contaria estas coisas... Só que, como estou cega, eu não me via contando isto para você, eu me ouvia, consegue me entender? Assim que você se apresentou, eu reconheci a sua voz... Tem outro detalhe: eu não ouvia o seu nome como Isabella Cullen, você se apresentava como Alice Cullen... Por isso eu tive dúvida se te contaria ou não. Acho que a idade está me fazendo misturar as coisas... – Olhei para o Jasper em dúvida.


 


            - Não, eu me chamo mesmo Isabella, mas gostei muito de ouvir a sua história, a história da Alice.


 


            Esme entrou no quarto, seguida por Sofi; elas já pareciam as melhores amigas do mundo. Sofi se desculpava, mas não poderíamos ficar mais por ali; eles precisavam apagar as luzes para que os idosos pudessem descansar. Esme prometeu voltar no final da tarde do dia seguinte com uma resposta sobre a sua ajuda.


 


            Eu estava me sentida meio tonta; claro que eu não poderia estar tonta, pois vampiros não têm labirintite. Entretanto, era difícil lidar com tanta informação e tantas emoções diferentes. Estava acostumada a não saber sobre o meu passado e agora tudo mudou; apesar de não me lembrar de nada, eu finalmente sabia que um dia fui humana e que tive uma família.


 


            Jasper me guiou até o carro e me ajudou a entrar em nosso quarto no hotel; fisicamente eu não precisava de ajuda, mas emocionalmente eu tinha muito que administrar. Fiquei em silêncio por horas; pude ouvir Jasper contando à minha família tudo o que havia acontecido. Eles me respeitaram, deram privacidade enquanto eu tentava organizar a minha cabeça.


 


            Quando finalmente eu consegui encaixar todas as peças e lidar com essas novas emoções, senti-me um pouco constrangida por não ter respeitado meu irmão Edward; agora finalmente eu consegui compreender o que Esme havia me dito semanas antes, que as pessoas, ou vampiros, precisam de um tempo para organizar os sentimentos. E Edward estava passando por isso, ele tentava administrar o medo que sentia de matar Bella ou de transformá-la. Eu nunca soube o que havia perdido quando fui transformada em vampira; já Edward se lembrava, por isso relutava tanto. E ainda havia o tal problema com a alma, que também era incompreensível para mim antes. Entretanto, agora, comparando a maneira como a minha mãe me via e a maneira com que meu pai me tratava, ficou claro como isso era importante para os humanos e Edward ainda acreditava nisso. Eu iria deixá-lo seguir o seu curso; só me intrometeria se ele viesse a fazer a besteira de se matar, mas não ia mais tentar forçá-lo a voltar a Forks e também não procuraria pelo futuro da Bella. Já havia algum tempo que eu não fazia isso mesmo... Só que, antes, não o fazia por estar sendo vigiada por todos; agora, eu havia compreendido e me comprometido comigo mesma: ia respeitar o espaço e o tempo dos outros.


 


            No dia seguinte, voltamos ao asilo com as boas novas. Começamos os preparativos para a remoção de todos. Impressionante como é complicado tirar os humanos do lugar! Não fazíamos idéia de que alguns dele precisariam de ambulâncias, médicos e enfermeiros para simplesmente mudar de uma casa para outra dentro da mesma cidade. Isso ia demorar muito mais do que estávamos planejando. Vi que só conseguiríamos consumar a mudança em três dias. Não era para menos que Emmett perdia a sua paciência às vezes. Seria tão mais fácil pegá-los no colo e levá-los correndo até a nova sede do asilo... Aposto que se nos cinco pudéssemos fazer isso, tudo iria acabar em no máximo dez minutos.


 


            Durante a noite, Emmett ainda estava se divertindo com isso e era incoerente mesmo: a vida dos humanos é tão curta e eles se movem tão lentamente; conosco é totalmente o contrário. Enquanto me divertia com as tentativas de Emmett em convencer a Esme a deixar Jasper dar um apagão em todos no asilo para que, assim, ele pudesse levar todos em dez minutos para a nova casa, Edward começou a se enrolar.    


 


            - Isso não vai dar certo – balançava a cabeça.


 


            - Claro que vai, Alice...


 


            - Não tô falando de você, Emmett! – Olhei para o Jasper. - Edward vai se meter em uma baita encrenca. Vamos, temos que ir atrás dele agora! – Já estava de pé pegando as coisas de que iria precisar.


 


            - O que está acontecendo, Alice? – Esme ficou em pânico.


 


            - Emmett, Rose, vocês também, andem logo! Vamos para o Texas. Edward, sei lá Deus por quê, vai defender uma moça de um ataque; o vampiro não vai ficar nada feliz e vai querer se vingar. Ainda não pude ver se ele consegue, mas temos de ficar por perto.


 


            - Ligue para ele, impeça isso. – Implorava Esme.


 


            - Não dá! O idiota deixou o celular no carro! Jasper, ligue para Charlote e Peter. Eles estão mais próximos, podem chegar antes de nós. Hoje ele não terá problemas, Esme, mas amanhã eu não consigo ver, então acho prudente estarmos perto. Ele se meteu justo com o vampiro dono daquela área; dá para acreditar? Edward está até parecendo com a Bella... Quanto azar! – Balançava a cabeça. - Não fique tão preocupada, Esme, vai dar tudo certo.


 


            - Melhor ligar para o Carlisle, ele deve ir com vocês.


 


            - Não, Esme. Estaremos em quatro, mais o Edward, cinco, e com os nossos dons será mais fácil. Vai dar certo, fique calma.


 


            - Cinco não! Seis, eu vou com vocês!


 


            - Melhor não, você não é muito boa nisso, mãe. Alguém pode se machucar na tentativa de protegê-la. Além do mais, amanhã será a mudança no asilo e você tem que ficar. Não se preocupe, vamos levar Edward para Ithaca, nem que eu tenha que arrastá-lo. Assim que acabar com tudo aqui, você nos encontra lá.


 


            - Promete que qualquer coisa vai me ligar, Alice?


 


            - Prometo. Rose, Emmett, vamos!


 


            - Por favor, tenham cuidado. – Esme estava de coração partido em ver todos os seus filhos indo em direção ao perigo.


 


            Pegamos o carro do Jazz e voamos rumo à fronteira. Edward estaria seguro até a noite do dia seguinte; isso ao menos eu podia ver.


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Notas finais do capítulo

Por Favor, me digam o que estão achando, caso contrário eu vou enloquecer do lado de cá.
bjos, até o meio da semana.



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