Black Hole escrita por juliananv


Capítulo 11
Capítulo 11 Imprudência




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             Cento e cinquenta e oito dias sem Bella.


 


            Jasper não poderia ter me ajudado mais. O carro que ele me deu era bem veloz e foi bem útil, pois precisava chegar logo ao Texas. Necessitava me concentrar em alguma coisa, estava enlouquecendo, era intolerável passar mais um dia sem poder ver a Bella.


 


            Segui direto para Dallas; só parava na hora de abastecer, isso porque era obrigado. Podia muito bem ligar para Alice e pedir a localização exata da Victoria, mas sabia que Alice ainda estava muito chateada comigo. E eu precisava ocupar o meu tempo com alguma coisa que realmente valesse a pena.


 


            Os momentos mais difíceis para mim eram à noite; estava tão habituado a passar minhas noites velando os sonhos da Bella que não conseguia deixar de cantarolar a sua canção de ninar em minha mente. Antes dela, minhas noites eram completamente vazias, mas isso nunca havia me incomodado; quando a conheci, tudo mudou. Eu adorava escutá-la falando enquanto dormia; muitas vezes, o que ela dizia não fazia o menor sentido, eram palavras soltas, mas era exatamente isso que me fascinava. Passava as noites tentando imaginar o que ela estava sonhando. E as muitas vezes que ela falava o meu nome, ou chamava por mim, era como estar no céu.


 


            Tudo isso já era extremamente difícil, conviver com a dor, a saudade, e eu ainda era obrigado a arranjar forças para também administrar as visões que Alice insistia em me fazer ver com ela. Doía demais ver que a Bella também estava sofrendo; eu não fazia a mínima ideia de quanto tempo era normal para uma garota humana sofrer pelo namorado e, muito menos, se o sofrimento pelo qual ela estava passando também era natural. Queria voltar para consolá-la. Mas e se eu esperasse só mais alguns dias e ela finalmente se recuperasse? Não podia me dar ao luxo de falhar com a Bella; qualquer erro que cometesse neste sentido poderia significar o fim da vida dela e isso era algo precioso demais.


 


            Decidi que primeiramente iria caçar Victoria, depois Alice acabaria me mostrando como Bella estava, sem que eu tivesse que perguntar; resolveria, então, o que fazer. Se eu achasse que Bella ainda estivesse sofrendo muito, acabaria voltando de qualquer maneira; por hora, matar Victoria tinha que ser a minha prioridade número um.


 


            Assim que cheguei a Dallas, fui direto para um hotel, um daqueles bem fuleiros, de beira de estrada. Ali o sol era meu maior inimigo, então era obrigado a passar o dia trancado no quarto e procurar por Victoria somente durante a noite. Sabia exatamente o tipo de lugar em que minha espécie costumava caçar; eu mesmo já fora aquele tipo de caçador, acreditava que não seria muito difícil encontrar alguns nômades espalhados pelo lugar e assim buscar por informações a respeito do rastro dela.


 


            Quando começava a anoitecer, obrigava-me a sair do meu buraco negro e ir atrás de vampiros que pudessem me dar qualquer informação sobre o paradeiro da Victoria. Mantinha-me sempre nas ruas principais, assim era mais fácil ouvir as mentes ao redor.


 


            Demorou três noites até que finalmente eu encontrasse alguma pista interessante. Andava de carro pelo lado sul da cidade e ouvi um vampiro que se preparava para caçar. Não me agradava ter de assistir a isso e também não era aconselhável, pois podia perder o controle e acabar atacando algum humano inocente. Já havia muito tempo que eu não caçava e minha garganta queimava bastante. Entretanto, não me importava com aquele desconforto; a dor que a ausência de Bella me causava era muito pior do que qualquer queimação idiota por causa da sede. Decidi tentar falar com o vampiro, antes que encontrasse algum humano sem sorte.


 


            Estacionei o meu carro na rua principal, desci e entrei no beco escuro; pude ouvir a euforia na mente do vampiro. Assim que ele me viu, ficou bastante irritado. Ao que parecia, ele não gostava de companhia, estava acostumado a viajar sozinho já havia muito tempo. Resolvi me apresentar:


 


            - Olá, meu nome é Edward. – Ele saiu de trás de uma coluna, bem no fundo do beco. Aparentava ter uns quarenta anos quando foi transformado, bonito como todos da minha espécie, pele pálida como a minha, cabelos muito pretos e curtos, olhos vermelho-escuros, estatura mediana. Mas, o pior: cheirava a esgoto.


 


            - Allan. – Ele havia notado a cor diferente em meus olhos, ficou intrigado.


 


            - Estou de passagem pela cidade, procuro por uma velha amiga que não vejo há muito tempo. Se você puder me ajudar, eu te deixo em paz logo. – Lia a mente dele com atenção.


 


            - Não costumo encontrar muitos da nossa espécie, prefiro ficar só.


 


            - Entendo. Contudo, quem sabe não ouviu falar dela? Seu nome é Victoria, ela costumava andar na companhia de dois dos nossos, Laurent e James.


 


            - Não a conheço. Como disse: sou solitário. Se for só por isso que você resolveu me atrapalhar, vou embora, prefiro continuar com a minha caçada. – Como eu não disse nada, ele se virou e partiu. Podia ver que ele não mentiu para mim: nunca havia ouvido falar em Victoria.


 


            Voltei para o carro meio decepcionado. Sabia que seria difícil encontrá-la, afinal, eu nunca fui muito bom em rastrear; na verdade, era péssimo. Andei com meu carro o resto da noite, não só por Dallas, mas também pelas cidades vizinhas, e não encontrei nada. Voltei para o hotel antes de o sol nascer.


 


            Quando não estava rastreando, voltava a ficar imprestável, não caçava havia muitos dias. Além de não sentir a menor disposição para isso, também estava me punindo por tudo. Primeiro, e principalmente, pela dor que estava obrigando Bella a sentir; mentir para ela dizendo que não a queria era um absurdo tão grande que chegava a ser inacreditavelmente ridículo Bella ter se convencido. No entanto, isso a fazia sofrer e me sentia péssimo por ser obrigado a mentir assim para ela. Segundo, também tinha o sofrimento pelo qual a minha família estava passando, tudo graças aos meus erros. Se não tivesse tentado ficar perto da Bella antes, nada disso seria necessário. E, terceiro, tinha a minha dor; ter de obrigar a mim mesmo a passar por isso era insuportavelmente doloroso.


 


            Escutei o celular tocar; ainda não havia aberto a mochila desde o dia em que saí da casa dos meus pais. Provavelmente seria a Alice: só ela tinha o péssimo hábito de me ligar a toda hora, para me atormentar sobre qualquer coisa relacionada à Bella. Parecia que ela estava adorando me torturar; atormentar-me era o novo hobbie da minha irmã.


 


            Para minha total surpresa, não era ela:


 


            - Emmett?


 


            - Estou com saudades, Edward, já faz tempo. – Adorava a companhia do meu irmão Emmett.


 


            - Eu também, Emmett, mas agora não é um bom momento para ficar ao meu lado. Confie em mim, é muito melhor assim.


 


            - Queria poder te ajudar, Edward. Sei lá, fazer por você um pouco do que fez por mim durante tantos anos...


 


            - Agradeço a força, mano, mas ninguém pode me ajudar.


 


            - Onde você está?


 


            - Em Dallas. Ainda não encontrei nenhuma pista da fêmea. – Se Emmett não sabia onde eu estava, provavelmente Alice não estava com eles, o que era preocupante. – E vocês, ainda em lua-de-mel?


 


            - Não, agora estamos em Ithaca, voltamos na semana passada. Esme andava muito sozinha. – Eu me senti culpado. Quando eles viajam, era eu que sempre acabava ficando com a minha mãe, pois Carlisle não conseguia largar o hospital. Além disso, antes de Bella entrar na minha existência, eu nunca havia tido ninguém, sempre fui o mais solitário da família.


 


            - Certo. Assim que terminar o assunto que tenho de resolver por aqui, encontro com vocês em Ithaca – prometi.


 


            - Pô, Edward! Tô ficando entediado, quero ir te ajudar. Pense bem, seria divertido, imagine nós dois atacando aquela fêmea!


 


            - Emmett, preciso fazer isso sozinho!


 


            - Tá legal! – Emmett suspirou, contrariado. – Não fique bravo, mas nossa existência ficou muito mais animada depois da Bella; sinto falta dela, principalmente das suas trapalhadas. – Sorri, lembrando-me de como Bella era desastrada e de como ela conseguiu em pouco tempo conquistar praticamente toda a minha família.


 


            - Eu também! – Sentia falta de tudo, do cheiro, do gosto, da pele, da Bella, minha Bella.


 


            - Edward, lembra aquela vez que fomos ao cinema em Port Angels? Bella conseguiu tropeçar três vezes seguidas antes de chegar até a poltrona, foi hilário... Pena que eu não vi quando ela caiu no banheiro! – Emmett dava gargalhadas. – Tivemos de ir embora depois disso: ela voltou para a sala de projeção com a roupa toda molhada e você pirou com medo de ela se resfriar! – Ele suspirou. - Se eu sinto falta dela, mano, nem posso imaginar pelo que você esta passando...


 


            - Não está sendo fácil... – Isso era minimizar muito a minha situação.


 


            - Sinto muito, Edward.


 


            - Obrigado, Emmett, te encontro em breve. Adeus.


 


            Quando fui guardar o celular na mochila, reparei que tinha um embrulho que eu não havia colocado ali. Estranhei: era o meu casaco cinza, enrolado em sacos de lixo e com fita adesiva.


 


            Lembrei-me que Bella o havia usado dias antes da sua desastrosa festa de aniversário. Ela tinha ido à minha casa, estávamos assistindo a um filme antigo, e Alice havia feito uma bacia gigante de pipoca para ela. Eu estava sentado no sofá abraçado a ela. Depois de um tempo, Bella começou a tremer, como sempre; quando fui me afastar, ela reclamou e me pediu uma blusa emprestada para que eu pudesse ficar junto dela novamente.


 


            Sem pesar, rasguei o saco; automaticamente, o cheiro dela tomou conta do ambiente. Enlouqueci.


 


            Após horas cheirando aquele casaco, finalmente comecei a raciocinar novamente. Era obvio que havia sido Alice que o colocou em minha mochila. Só que o fato que estava me intrigando era: eu havia sido o último a deixar a nossa casa em Forks e vi claramente que o casaco havia ficado na casa, isso porque eu cheguei a pensar em trazê-lo ele comigo e desisti, pois achei masoquista demais da minha parte trazer o cheiro dela comigo.


 


            Aquela trapaceira... Peguei o celular, estava furioso:


 


            - Alice, nem tente negar! Quando você esteve em Forks? – Gritava com ela.


 


            - Sabia que você ia perceber. Fique calmo...


 


            - Quando?


 


            - Um pouco antes do natal.


 


            - Por quê? Por que você fez isso, Alice? Você me prometeu!


 


            - Edward, eu não posso simplesmente ficar de braços cruzados vendo você fazer uma besteira atrás da outra. Precisava fazer alguma coisa!


 


            - Já não basta você ficar a todo o momento me mostrando o quanto a Bella está sofrendo?


 


            - Ao que parece, não! Você ainda insiste em continuar com essa besteira... Edward, admita: você precisa voltar para Forks, você tem que voltar para a Bella!


 


            - Eu não quero mais que você se intrometa em minha vida! – Falei todas as palavras de forma incisiva e pausada, como se estivesse dando uma ordem a uma criança teimosa. – Você me entendeu, Alice? Desta vez eu fui bem claro?


 


            Alice deu um profundo suspiro.


 


            - Não se trata só de você, Edward. Caso você tenha esquecido, vou te lembrar: Bella é minha única amiga, eu a amo, estou tentando salvar a vida dela.


 


            - Tentando salvar a vida dela? – Explodi; era exatamente o motivo pelo qual eu vinha sofrendo miseravelmente nos últimos meses. – Como você imagina isso, Alice?  Salvar Bella, devolver para Bella o seu tão “seguro” namorado vampiro, que a todo instante precisa se controlar para que ele mesmo não venha a matá-la, sugando até a ultima gota do seu doce sangue? Ou, melhor, quem sabe você não quer que o Jasper use a sua amiga como um lanchinho? Isso seria mesmo muito protetor da sua parte!


 


            - Como você se atreve a pensar isso de mim, Edward? Sabe que eu nunca permitiria que ninguém viesse a tocá-la! Não foi só você que perdeu alguém que ama, eu também perdi, e o pior é que não foi por escolha minha, foi por imposição sua! Se você acha que as minhas visões te mostram o quanto ela sofre, você não faz nem idéia do que é ver Bella de perto; é milhares de vezes pior! E ouvir os gritos dela de desespero, enquanto ela sonha com você... Edward, você não imagina como foi duro para mim não poder fazer nada!


 


            - Você chegou perto dela? – Sabia que todos nos quartos vizinhos ouviam os meus gritos; não me importava.


 


            - Não falei com ela, só a vi de longe.


 


            - Alice - tentava controlar o volume da minha voz –, escute bem, porque eu vou falar pela última vez: não quero ninguém perto dela! Se eu souber que algum de vocês, qualquer um, se aproximou de Forks, nunca mais irei perdoar ninguém. Não irei mais me considerar membro desta família! Eu fui claro?


 


            - Cristalino! – Desliguei o celular buscando por apoio. Se já não bastasse eu ter que me segurar longe dela, e sofrer como nunca por causa disso, ainda tinha de encontrar forças para manter minha família longe... Que droga!


 


            Sabia que Alice era impossível de ser parada quando resolvia interferir no futuro de alguém. Eu não fazia idéia de quem ela já havia conseguido convencer de que o seu futuro era muito melhor do que a minha escolha. Decidi ligar para Esme, sabia que ela era a única que poderia dar um jeito de controlar Alice.


 


            - Esme, sou eu.


 


            - Ah, Edward, sinto tanto a sua falta. Quando vai voltar para me ver?


 


            - Esme, se vocês não derem um jeito de controlarem a Alice, eu não volto mais.


 


            - Não diga isso nem de brincadeira, filho! O que ela aprontou desta vez?


 


            - Eu soube que ela esteve em Forks, já falei com ela. Não vou mais tolerar essa intromissão por parte de ninguém! Eu sempre respeitei cada um de vocês, fui discreto, nunca revelei a ninguém o que pensavam, e me esforçava ao máximo para bloquear a mente de todos na tentativa de dar um pouco de privacidade a vocês. E agora que eu preciso de apoio e de respeito, eu não estou tendo. Se não são capazes de respeitar as minhas escolhas como eu sempre respeitei a de vocês, não vou mais me considerar parte desta família!


 


            - Calma, Edward, eu vou cuidar disso. Não nos abandone! Esqueça Alice, ela agora é problema meu.


 


            - Sei que não é certo dizer estas coisas para você Esme, perdão. Mas estou farto disso, já está muito difícil... Alice não precisa complicar ainda mais minha existência.


 


            - Fique tranqüilo, Edward, ninguém vai se aproximar de Forks, você tem minha palavra. Só, por favor, volte quando puder, estou com saudades de você, filho.


 


            - Obrigado, Esme. – Não estava feliz comigo por fazer isso, mas estava acuado, não só pela minha dor, como também pelas insistentes interferências de Alice.


 


            Depois que desliguei o telefone, fui novamente sugado pelo enorme buraco negro que a cada dia crescia mais em meu peito. Ele estava sendo alimentado pela minha dor sem fim...


 


            Cento e sessenta e três dias sem Bella.


 


            Só consegui escapar do poder de sucção do buraco dias depois. Cada vez que eu era drenado por ele, sentia-me mais fraco em minha determinação. Aproveitei que estava anoitecendo e decidi que era hora de voltar à minha caçada. Fechei a conta do hotel, coloquei as minhas coisas no carro e fui procurar por Victoria. Ficou para trás o casaco com o cheiro dela, era torturante demais.


 


            Aproveitei que estava no inicio da noite e resolvi entrar nos cassinos da cidade. Entrei primeiro no Harrahs Casino. Ouvia a mente dos humanos, eles estavam agitados. Era impressionante o fascínio que o dinheiro exercia sobre a maioria deles.


 


            Ouvi de longe uma mulher que atendia pelo nome de Pamela. Ela estava em uma mesa de jogo. O homem que estava ao seu lado fazia de tudo para chamar a sua atenção, mas ela só conseguia pensar em como ele era nojento. No momento em que aquele mesmo homem começou a ganhar suas apostas, ela automaticamente se interessou por ele. Parei de ouvir, enojado.


 


            Pensei em como Bella realmente era especial. Eu tinha muito dinheiro, não que isso significasse alguma coisa para mim, mas seria normal para uma garota humana da idade dela se gabar de estar namorando o garoto mais rico da escola e ainda gostar de ganhar presentes. Bella era o oposto. Ela nunca falava sobre isso com ninguém, parecia até ficar constrangida por eu insistir em pagar por seu almoço; dar presentes para ela, então, era terminantemente proibido. Isso não fazia o menor sentido para mim, afinal, eu queria retribuir de alguma maneira tudo o que ela me dava. Bella, contudo, nunca deixou.


 


            Suspirei fundo e voltei minha atenção para a caçada. Procurava por qualquer vampiro que pudesse me dar alguma pista da fêmea. Busquei em três cassinos diferentes.


 


            Quando estava dando a noite por encerrada, farejei um rastro fresco que me levava em direção a dois vampiros. Segui o cheiro, ele me levou até um dos mais famosos cassinos em Dallas, o Red Courthouse. Entrei atento, sabia que havia dois vampiros lá dentro; procurei pela mente de todos até encontrá-los, um macho e uma fêmea. A fêmea se chamava Heidi e o macho, Santiago. Que droga, só percebi de quem se tratava quando era tarde demais: eles eram da guarda dos Volturi, estavam em missão de caça. Fiquei revoltado comigo mesmo por minha falta de cuidado; pensei em recuar, mas era tarde: eles já haviam me notado.


 


            - Ora, eu não conheço você. É sempre bom estar com machos novos... – Disse a fêmea. Ela era muito bonita, assim como Rosalie, mas se vestia de forma vulgar, o que me enojava.


 


            Apresentamo-nos. Ela foi se aproximando, deixava clara a sua intenção; mesmo que eu não pudesse ler mentes, era óbvio o que ela estava querendo de mim.


 


            - E então, Edward, encontrou o que estava procurando?


 


             Decidi que, já que ela havia me notado, eu iria tentar obter a informação que procurava e depois iria embora. Precisava ser cauteloso, não era prudente desagradar um Volturi naquele momento e não podia chamar muito a atenção deles.


 


            - Bem, em parte. Estava procurando por algum dos nossos, mas não estou encontrando.


 


            - Quem sabe eu não posso te ajudar com mais do que isso? – Heidi se agarrou em meu pescoço e começou a se esfregar em mim; não estava gostando nada disso, mas não podia ser imprudente em se tratando de uma Volturi; teria de ser muito cuidadoso em dispensá-la.


 


            - Heidi, não é hora para isso, estamos trabalhando. Os mestres não vão ficar nada satisfeitos se souberem que você se atrasou por isso. – Disse Santiago ao se aproximar de nós. Fiquei muito grato a ele, estava enojado com o corpo daquela fêmea tão perto do meu. Heidi se afastou um pouco.


 


            - Busco por uma velha amiga – falei para Santiago -, soube que ela anda pelo Texas. – Ele me olhou desconfiado.


 


            - Quem você procura? Talvez possamos te ajudar. Já estamos aqui em missão há alguns dias, caçamos para os Volturi. – Ele tentava me intimidar, estava intrigado pela cor dos meus olhos.


 


            - Ah, vocês são dos Volturi? – Fingi mudar minha postura em sinal de respeito, vi que eles estavam acostumados a isso. – Bem, se vocês não souberem onde posso encontrá-la, acho difícil que alguém possa.


 


            - Parece que você deu sorte, então - disse Heidi se insinuando novamente. – Agora, me conta: quem é que você busca?


 


            - Victoria, ela costumava andar em companhia de dois dos nossos, Laurent e James. – Heidi havia conhecido James.


 


            - Seus olhos - ela mudou de assunto propositalmente – têm uma cor diferente. Como consegue isso?


 


            - Mudei um pouco o meu paladar ultimamente, cansei de só caçar humanos. – dei de ombros, fingindo desmerecer o fato.


 


            - Como assim? Do que você se alimenta? – Sabia que os dois não haviam cruzado com a fêmea. Procurava por maneiras de sair desta situação sem chamar muita atenção.


 


            - Ando caçado animais, dá menos trabalho. – Os dois riam de mim, achando-me um idiota. Pelo menos serviu para afastar Heidi...


 


            - Se prefere assim, não vamos reclamar, sobra mais para nós. Vamos, Santiago. Pelas minhas contas, ainda faltam umas três cabeças.


 


            - Têm alguns dos nossos perto de Carrizo. Quem sabe eles não te ajudam com a fêmea? – Disse Santiago. Eles se viraram para um grupo de mulheres que nos encaravam, admiradas.


 


            Resolvi seguir a pista dada por ele. Como o dia estava clareando, acabei me hospedando em um hotel perto do cassino. Podia ter ficado no hotel do próprio cassino, mas os Volturi estavam lá e eu não queria ficar próximo a eles. Assim que anoiteceu, novamente peguei meu Shelby e corri rumo a Carrizo. Torcia pare ter sorte desta vez.


 


            Cento e setenta e sete dias sem Bella.


 


            Contava os dias, não tolerava mais a distância. Minha determinação ficava a cada dia mais e mais fraca, e a dor a cada dia se tornava mais e mais forte. Sentia-me completamente sem forças para continuar, caçar Victoria se tornara uma dura obrigação.


 


            Cheguei à cidade no meio da noite. Procurei por alguns becos, mas não encontrei nada. Decidi esperar pela noite seguinte. Eu me escondi em um depósito abandonado, para esperar pelo anoitecer. O local era deplorável. Peguei na minha mochila a foto da Bella, passei o restante do dia acompanhado pela dor que a sua ausência causava. Não conseguia nem mais respirar, tudo perdera o sentido. A cada dia que passava, a sensação que eu tinha era de meu corpo pesava toneladas; era muito difícil arrastar-me de um lugar para outro.


 


            Assim que anoiteceu, obriguei-me a sair daquele lugar repugnante. Vaguei pelas ruas centrais; geralmente eram nesses lugares que vampiros costumavam caçar. As ruas escuras, vazias e com pequenas vielas se transformavam em emboscadas perfeitas. Pude ouvir que havia um vampiro próximo. Comecei a me aproximar com cautela; o vento mudou de direção e alertou o desconhecido da minha presença. Ele veio ao meu encontro:


 


            - Olá, eu sou Garrett.


 


            - Edward. – Ele me olhava curioso; reparou nas minhas roupas, concluindo que eu não era um nômade.


 


            - Vago bastante pelo mundo, nunca encontrei você. – Suas palavras estavam coerentes com os seus pensamentos, isso era bom.


 


            - Com certeza não. Não costumo ficar mudando muito.


 


            - Solitário? – Vampiros eram sempre cautelosos ao se aproximarem de grupos maiores.


 


            - No momento, sim. Estou procurando por alguns amigos, soube que andam vagando pelo Texas.


 


            - Não posso te ajudar nisso, amigo, acabei de chegar. Estou vindo do Canadá, só estou de passagem.


 


            - Quem sabe você não os conhece? Busco por Victoria, ela costumava andar na companhia de Laurent e James.


 


            - Como disse, não posso te ajudar.


 


            - Agradeço, mesmo assim. – Ele era um aventureiro, mas tinha uma mente tranquila e coerente.


 


            - Se você quiser, posso te ajudar nisso. – Se não queria nem minha família perto de mim, imagine ter que compartilhar com um estranho o meu constante estado de mau humor; não queria ser desagradável com ele. Apesar de sua falta de informação, era raro encontrar um vampiro solícito.


 


            - Vou ser sincero, amigo: no momento, não sou boa companhia para você. – Todo vampiro que cruzava com algum membro da minha família ficava automaticamente curioso sobre a cor dos nossos olhos.


 


            - Você é diferente. – Ele tinha receio de me ofender, mas a sua curiosidade era mais forte. – Seus olhos... Por que estão desta cor?


 


            - Garrett, posso ver que está curioso a meu respeito. Não sou o único assim, vivo com um clã diferente. – Ele não entenderia se eu usasse o termo família; vampiros não tinham famílias. - Nossos hábitos de caça são peculiares, não caçamos humanos, vivemos apenas de sangue de animais.


 


            - Sério? – Como todos os outros, ele também não acreditou. Não sei por que, mas gostei dele, senti confiança em seus pensamentos.


 


            – Se estiver interessado em saber mais sobre isso, parte do meu clã está morando no momento em Ithaca. Passe por lá, diga que me conhece e garanto que será muito bem recebido. – Ele me olhava com desconfiança; na nossa espécie era difícil confiar em vampiros estranhos, ainda mais em um que tinha um clã tão grande como o meu. Sentia que ele estava realmente intrigado.


 


            Parte do que Carlisle sonhava era que conseguisse fazer com que mais vampiros se juntassem ao nosso modo de viver. Quando encontrávamos vampiros interessados, tentávamos fazer com que eles experimentassem o nosso modo de vida, preservando, assim, talvez, alguns milhares de seres humanos. Quem sabe se ele não se juntasse a nós, poderíamos preservar algumas “Bellas”?


 


            - Se estiver passando por lá, procuro por eles. – Ele não tinha muita certeza se deveria fazer isso.


 


            - Fale com Carlisle. Bem, preciso ir. Obrigado.


 


            - Adeus. – Antes de partir ele se virou. – Passei por Cristal City, encontrei alguns dos nossos lá. Cuidado, eles não são muito receptivos por lá, não gostam de concorrência. Mas se o que diz é verdade, você não terá problemas com isso. – Assenti. Ele partiu bem intrigado com a idéia.


 


            Decidi seguir a pista dada por Garrett e a noite estava só começando. Peguei o meu carro e segui para Cristal City. Não demorei muito a chegar, ainda dava tempo de aproveitar o restante da noite procurando.


 


            Estacionei o carro, resolvi rastrear a pé. Comecei a vagar pela cidade, ouvia os pensamentos dos humanos dentro das casas, nas ruas, bares, até que um pensamento chamou a minha atenção. Era de uma garota. A preocupação exagerada com a mãe fez com que eu a comparasse com a Bella. Fiquei curioso e fui até a garota. Ela era absolutamente comum, cabelos castanhos presos em um coque, olhos verdes, rosto oval, aparentava ter a mesma idade da Bella. Estava trabalhando de garçonete em uma lanchonete; o local era um lixo, não sei por que resolvi entrar.  


 


            Nossa... Uau! Bonito, mas parece meio mal humorado. Prefiro o meu David.


 


            - Boa noite. – Ela disse assim que eu me sentei. Gostei da garota, ela parecia boa, assim como Ângela e Bella.


 


            - Um café, por favor. – Tinha de pedir alguma coisa, não entendi o que eu estava fazendo ali.


 


            Tomara que a mamãe não resolva sair com aquele idiota do Paul novamente, ele não é bom para ela. Rezo para que ela encontre um bom namorado, depois de tudo pelo que passou com o meu pai, ela merece ser feliz...


 


            - Seu café. Coitado, acho que ele está na verdade triste. – Precisa de mais alguma coisa?


 


            - Não, obrigado. - Fiquei ali um tempo ouvindo as preocupações dela com a mãe; em alguns momentos ela me olhava com compaixão. Resolvi ir embora, deixei uma nota de vinte dólares sobre a mesa e saí.


 


            Voltei a andar pelas ruas, procurando por alguma pista. Pensava em Bella e em como ela me ensinou que existem humanos realmente bons, como Ângela e a garota da lanchonete; o engraçado era que eu sempre pude ouvir o que todos os humanos pensavam, mas nunca escutei com atenção. Bella, com a sua mente silenciosa, acabou me ensinando a realmente prestar atenção ao que os outros pensavam. Na maioria das vezes, os pensamentos humanos eram egoístas, mesquinhos, acabavam me dando repulsa. Contudo, algumas vezes eu me deparava com pessoas realmente boas. Bella me ensinou muito.


 


            Fiquei por um tempo nos arredores da lanchonete. Assim como ela, as ruas eram degradantes; essa com certeza era a parte mais pobre da cidade. Quando estava atravessando a rua para me dirigir a um pequeno beco escuro, ouvi um casal de namorados vindo.


 


            - Ah, David, é claro que eu quero ir com você, só que eu não posso.


 


            - Não sei por que você tem que trabalhar tanto, Erin! Nós nunca conseguimos aproveitar um sábado. – Era a garota da lanchonete novamente.


 


            - É claro que eu preferia ficar com você, mas não posso perder meu emprego. – Ela ajudava a mãe a sustentar a casa.


 


            Fui ao encontro do casal. Eles andavam de mãos dadas em direção ao carro. A imagem me deu inveja. Como minha existência seria simples se eu fosse um humano apaixonado pela Bella...


 


            - Falte só esse sábado, você nunca faltou em três anos. Aquele idiota do Andrey não vai mandar você embora por isso. Ele sabe muito bem que não vai encontrar outra funcionária tão boa para colocar no seu lugar.


 


            - Não posso! – Olhava o casal de longe, o garoto era um idiota, não se importava; no fundo, queria que ela perdesse o emprego. Ele não tinha as mesmas responsabilidades que ela.


 


            - Tudo bem, se vai me dar o bolo de novo, vou convidar outra para ir no seu lugar. Estou farto de ter que esperar toda noite para ter migalhas da sua atenção. – Ele a deixou sozinha, entrou no carro e foi embora.


 


            Olhava para Erin; ela chorava, fiquei com ódio do garoto. Estúpido! Não sabia o quanto aquela garota era boa. Estava muito tarde, não era seguro uma moça andar desacompanhada àquela hora. Comecei a segui-la, discretamente. Não pude deixar de compará-la a Bella, de lembrar-me daquela noite em que ela andava sozinha em Port Angeles e do que poderia facilmente ter acontecido com ela se eu não a tivesse salvado. Também me lembrava do que havia acontecido a Rosalie. Resolvi vigiá-la até que ela chegasse à sua casa.


 


            Andamos por três quarteirões, ouvia que ela estava sofrendo pelo idiota do garoto. O sofrimento dela não era nada comparado ao meu. Acabei encontrando algum consolo nisso: se Bella estivesse sofrendo da mesma maneira que Erin, em algum momento ela iria se recuperar.


 


            Erin se virou e entrou em um pequeno beco escuro. “Essa não!”: ela estava dando uma de “Bella”, procurando por perigo. Assim que virei para entrar no beco atrás dela, farejei um vampiro. “Mas que droga!” Podia ver claramente que a garota estava indo diretamente em sua direção.


 


            Essa cheira muito bem. Vem, belezinha, estou sedento!


 


            Erin parou; pelo menos ela conseguia pressentir o perigo, muito diferente da Bella. Eu não podia deixar que ele a matasse e também não podia me revelar para ela; pensei rápido:


 


            - Erin? Você é a Erin? – Ela se virou e me olhou assustada. Pensava em correr em direção ao fundo do beco, diretamente para o vampiro que agora estava muito irritado com a minha intromissão. Olhava para mim e para o escuro, dividida em qual direção tomar; ela não conseguia ver que o perigo estava lá.


 


            - Ela é minha! Eu a vi primeiro! – Disse o vampiro. Ele já havia me farejado também. Assim que ela ouviu a voz que vinha do escuro, ficou mais perdida e não sabia o que fazer.


 


            - Confie em mim, Erin, não vou te machucar. – Ela decidiu se arriscar comigo, lembrou que havia me servido café.


 


            Assim que ela deu o primeiro passo em minha direção, o vampiro se lançou sobre ela. Dei um salto e passei por cima dela tão rápido que Erin me procurava assustada com o meu súbito sumiço. Fui de encontro a ele; chocamos-nos no ar, fazendo um barulho ensurdecedor. Assim que caímos, eu rapidamente o agarrei pelas costas, travei os seus braços em volta do meu e o arrastei para o canto mais escuro do beco. Tinha que agir rápido; podia ouvir que havíamos chamado a atenção de humanos. A garota estava parada, olhando, enquanto eu segurava o vampiro que lutava ferozmente para se libertar de mim.


 


            - Erin, corra! – Ela pareceu se recuperar e correu em direção à rua.


 


            Agarrava o vampiro desconhecido com toda minha força; não podíamos brigar ali, ouvia que os humanos estavam chegando. Ele se debatia e rosnava, estava furioso, queria se libertar para lutar comigo.


 


            - Os humanos estão próximos. Cale a boca! Não queremos chamar mais atenção do que já chamamos. – Sussurrava para ele, não queria que ele cometesse um assassinato em massa.


 


            - A culpa é sua. Ela era minha!


 


            Ouvi que três homens se aproximavam do beco, segurei o vampiro bem forte, ficamos em silencio. Os homens olharam e desistiram de entrar, foram embora.


 


            Quando eles sumiram, eu o soltei; automaticamente ele se virou em minha direção para me atacar. Fui me esquivando; concentrei-me em sua mente, antecipando todas as suas tentativas de ataque. Não queria chamar a atenção de mais ninguém, então não podia atacá-lo.


 


            Ele é rápido, não consigo pegá-lo.


 


            Ficamos em uma espécie de dança, ele me circulando, tentado vários tipos de aproximação, eu me defendendo. Ele foi ficando a cada minuto mais irritado com suas tentativas sendo frustradas por mim. Decidi ariscar, afinal havia encontrado um da minha espécie e ia ter que ficar me esquivando dele mesmo:


 


            - Onde está Victoria? – Já que estava ali, valia a pena tentar.


 


            - Não sei do que você fala. – Ele rosnava de fúria. Podia ver em sua mente que ele conhecia Victoria; fiquei esperançoso.


 


            - Onde está Victoria? Sei que você a conhece! – Pude ver nitidamente onde a encontrar; a noite não foi um fracasso completo.


 


            - Foi esse o motivo de você interferir com a minha presa? Ela era minha, eu a vi primeiro! Ninguém te ensinou a respeitar a comida dos outros?


 


            - Os meus motivos não importam. O que me interessa é saber se Victoria ainda está em Piedras Negras. – Ele pensava que sim.


 


            - Já disse: eu não faço idéia do que está falando! – Ele não havia notado a minha habilidade. – Acho melhor você sumir do Texas, este território é meu! Se te pegar aqui novamente, não serei tão benevolente. – Ele queria vingança, pensava em seus aliados para ajudá-lo.


 


            Ele deu um salto e subiu em um prédio vizinho, fugiu. Sabia que não conseguiria me pegar sozinho. Não me importei mais com ele, pensava na garota, sabia onde ela morava, ela havia pensado nisso perto de mim. Resolvi ir até lá para checar; ela estava bem e segura.


 


            O sol iria nascer em breve. Procurei por abrigo, encontrei uma casa abandonada em uma rua vizinha, entrei e me escondi.


 


            Mais uma vez eu agi de forma imprudente para salvar uma humana. Não que a garota Erin não merecesse, mas era estranho; eu nunca havia feito esse tipo de coisa antes. Queria que alguém cuidasse da Bella por mim, sabia que ela sempre se meteria em encrencas. Comecei a recordar todas as vezes que tive de salvar Bella, em algumas ocasiões eu tinha que salvá-la dela mesma. Essas lembranças me deixavam apreensivo. Será que ela estaria precisando de mim? Não, eu era o seu maior perigo, eu a estava protegendo mantendo distancia entre a gente, protegia-a de mim. Mas por que eu às vezes tinha uma estranha sensação de que estava deixando alguma coisa passar...


 


            Pensei sobre isso por muito tempo, concluí que estava procurando por pretextos para voltar. “Só mais cinco dias, Edward. Só mais cinco, e quem sabe semana que vem você não volta para ela?”


 


            Voltei para a escuridão que tomava conta do meu peito...


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