Como nos foi dada a instrução as sete estávamos no castelo, ele tinha razão dentro do monumento nós podíamos ver os quadros daqueles que foram importantes. Haviam coronéis, sargentos, capitães, estrategistas. Minha irmã estava na parede.

Podia ver Carolyn devidamente uniformizada com seu macacão branco, como os dos meus líderes. Seus cabelos ruivos estavam presos em um coque perfeito e ela sorria. Seus olhos verdes brilhavam, nós duas sempre fomos parecidas e muito próximas. Abaixo do seu quadro estava às inscrições em uma paquinha dourada “A liberdade começa dentro de nós mesmos” logo após o nome dela inteiro. Ela sempre dizia isso, que a liberdade começa dentro de nós e só podemos oferecê-la aos outros se a temos dentro de nós.

Theo chegou entrando graciosamente pela porta, todos paramos em fila e ficamos esperando que ele falasse conosco. Eu simplesmente odiava essas formalidades.

–É bom que todos tenham chegado na hora – afirmou ele – Trouxe vocês aqui porque quero que vejam o que os que antecederam vocês fizeram, se quiserem um dia ter seus rostos aqui e bom que se esforcem.

Ele começou a falar sobre a importância com que deveríamos levar as missões que recebêssemos. Logo ele começou a dizer sobre as pessoas que estavam nos quadros e porque estavam lá. Theo falou da minha irmã, era bom ouvir coisas como aquelas de alguém que se ama.

Theo parou de falar e olhou para mim e depois para o quadro da minha irmã. Pelos céus, que ele não associe nós duas.

–Gatwik – chamou ele fazendo eu levantar a cabeça – Carolyn foi sua irmã, certo?

–Sim, senhor – respondi.

–Espero que seja tão útil quanto ela foi – disse rude.

Não sabia de onde ele tinha tirado conclusões precipitadas de mim, eu nem se quer havia aberto a boca. Talvez, o que o Theo tivesse de bonito tinha de mal educado.

–Esse cara é um mala – sussurrou Aylin vendo que ele tinha pegado no pé.

–Sem rodinhas e sem alça – sussurrei de volta.

–Uma daquelas bem pesadas e gordas – continuou dizendo.

Nós duas ficamos vermelhas segurando a risada, Aylin conseguia esconder mais do que eu. Eu estava prestes a desmaiar sufocada. Theo olhou para Aylin, mas foi para mim o olhar fuzilador.

–Estou falando algo engraçado Gatwik? – perguntou.

Apenas neguei com a cabeça, se eu abrisse a boca começaria a rir.

Theo se aproximou de mim, logo todos estavam me olhando. Achei que ele me bateria.

–Perguntei – falou calmo – Se eu estou falando algo engraçado?

–N-Não senhor – soltei um risinho.

–Ótimo – concordou – Quer saber de algo engraçado? Enquanto todos nós fomos jantar, você vai voltar para o seu quarto e esperar o café da manhã.

Ele era mesmo um mala. Uma gorda e pesada mala.

–O que? – perguntei ponderando a voz – Eu não fiz nada!

–Isso que você ouviu – sorriu cínico – Espero que tenha uma boa noite.

–Seu...

Parei a frase no meio, talvez fosse melhor eu apenas acatar a ordem. Contudo, teimosa como eu sempre fui não conseguia aceitar que ele me deixaria sem jantar, ainda mais que eu estava com fome.

–Vai mesmo me desafiar? – perguntou Theo

–Acha que eu tenho medo de você? – a pergunta saiu antes que eu pudesse me controlar.

–Deveria, se fosse inteligente – respondeu.

Ele voltou a olhar para os outros me deixando de lado.

–O café é servido as seis – falou – E nosso treino começa as 7:30h, não se atrasem.

Theo deu as costas e levou o resto do grupo consigo, eu sabia que tinha que voltar para o meu dormitório mesmo que o meu estomago estivesse roncando.

[...]

Não voltei para o quarto, apenas me sentei em um canto qualquer onde fiquei encostada na parede. Meus pais sempre acharam que eu não tinha disciplina o suficiente para servir o governo e talvez, eu não tivesse mesmo. Eu gosto de ser livre.

Com comida ou sem ainda era melhor do que ficar trancada. Começava a ficar cansada e por isso fui me deitar, as meninas ainda estavam jantando por isso o silencio dominava o lugar.

–Theo idiota – murmurei – Espero que morra engasgado com a janta.

[...]

Era óbvio que eu estava morrendo de fome. Fui a primeira a me levantar, já estava arrumada e pronta para ir. Olhe-me no espelho, sinceramente eu ficava muito bonita naquele macacão.

–Está com fome Tessa? – perguntou Aylin irônica.

–Não, arrumei uma técnica que me alimento de vento – disse cínica.

–Não quero fazer inveja mas, a janta estava muito boa – disse Rachel.

Abri um sorrisinho. Nós fomos para o refeitório. Era como um lugar qualquer, cheio de mesas com cadeiras e um lugar onde nós podíamos nos servir. Observei que os líderes estavam sentados em outra mesa, todos menos Theo.

Me servi de alguns pães, suco e fruta. Aylin nos guiou para a mesa onde tinham sentado ontem. A mesa ficava estrategicamente próxima a porta, James já estava sentado junto de um garoto moreno.

Aylin e Rachel já tinham chegado a mesa, eu estava terminando de pegar um pão de queijo.

–Espero que tenha tido uma boa noite Gatwik – falou uma voz cínica atrás de mim.

Era apenas Theo rindo, sua cara começava a me irritar.

–Foi ótima na verdade – murmurei.

Ele saiu rindo e eu fui para minha mesa. Bufei ao me sentar.

–Está irritada? – perguntou James – E só o primeiro dia.

–Theo deixa ela irritada – explicou Aylin – Ele deixou ela sem jantar.

–Porque a Aylin fez uma piada – constatei.

Ela deu de ombros.

–Você quem não sabe controlar o riso.

–A claro que a culpa foi minha – disse bem humorada.

–Como foi a sua noite, James? – perguntou Rachel mordiscando um pedaço de pão.

–Normal, nós conhecemos alguns metamorfos que tiveram destaque e hoje vamos aprender a nos camuflar com mais facilidade – explicou ele – Cris,e eu temos que ir.

–Temos uma aula pratica de camuflagem – explicou Cris.

Ambos se levantaram. Logo percebi que outros metamorfos também tinham se levantado, Adam olhou para mim e abriu um sorriso gostoso que eu apenas retribui com ternura. Ele fez um sinal com a cabeça e os outros metamorfos saíram do refeitório.

–Esse Cris é uma gracinha – disse Rachel animadinha.

–Come logo isso Rachel – disse Aylin – Nós vamos ter nosso primeiro treino hoje.

–E porque diabos você está animadinha? – perguntei – Aquele mala é o nosso treinador.

Aylin sorriu.

–Ele é um mala, mas um gato – afirmou.

–Como quiser – sorriu Rachel.

Eu iria dizer alguma coisa, mas Theo passou por nós e parou na nossa mesa. Como se tivéssemos permitido isso.

–Espero que estejam todas prontas para o treino – disse ele animado – Tenho a impressão de que será um longo dia. Você não acha, Gatwik?

–Que seja – resmunguei.