POV Tessa

Aylin recebeu uma cerimônia simples e sem palavras, nós a cremamos e a enterramos próximo ao túmulo de Jordan. Seus pais se pareciam muito com ela, sua mão chorava abraçada ao pai. Eu e Rachel não conseguíamos dizer nada, choramos pela morte da nossa amiga.

Naquela semana a tristeza pareceu abraçar todos na Cúpula. Fiquei afastada até sexta feira das minhas atividades, Rafaela achou que era melhor eu ficar longe de atividades que sobrecarregariam meu cérebro.

Eu e Theo não nos tínhamos falado muito, passei os dias fazendo exames e tomando doses cavalares dos meus remédios na veia. Ele passava a maior parte do tempo com os cientistas descobrindo como andaria novamente.

Hoje tínhamos um pouco de sossego, desci tomar café com ele no local que era permitido apenas para líderes, no topo do Castelo. Naquele belo jardim onde eu tive quase certeza de que o queria para mim.

Empurrava o Theo pelo corredor até chegarmos ao elevador, claro que ele estava relutante e não queria que eu o levasse. Sua cadeira fora desenhada exclusivamente para ele, não era para ser levada por ninguém a não ser ele. Por isso tinha que ficar curvada para levá-lo.

Havia acordado mais cedo e preparado nossa mesa de café, tirei a cadeira para que o Theo encaixasse a sua na mesa. Sentei na sua frente sorrindo. Fazia tempo que não passávamos um momento juntos sem tantas preocupações.

–Sabe Tess, foi aqui que eu tive a certeza de todas as coisas que seus pais me falavam, sobre uma garota ainda mais fantástica do que eu ou Carolyn – contou ele sorrindo – Como eu queria que o rumo das coisas não fosse esse. As vezes desejo viver no mundo velho, só para ter sossego com você.

–Nós dois não nos encaixaríamos no mundo velho, meu amor. Somos como a fogo e fumaça, vivemos para lutar Theo – disse – Lá seriamos quem sabe adolescentes rebeldes.

–E o que há de mau nisso? Ser apenas adolescentes?

–Bem, primeiro você não é classificado como adolescente mais afinal 22 anos é outra fase – brinquei – Não sei, acho que não seria mau. Seria bom, só eu e você.

Ele ficou quieto por um tempo.

–Porque insiste em nós?

–Por que não fiquei presa, torturada, abusada, surrada para desistir só porque você está me pedindo – disse – Só porque você acha que as suas pernas são mais importantes do que sinto por você.

–Não acho isso.

–Acha sim Theo, você sabe que não ligo para isso.

–O problema Tessa, é que você continua sendo minha garotinha incrível e eu....

–Por favor, não vim aqui para brigarmos e para mim socar gentilmente sua cara – murmurei – Vim aqui porque queria ficar com você. Ah Theo só eu sei como me sinto culpada com as coisa de ruins que acontecem com você.

–A culpa não é sua.

–É sim, eu sou essa coisa criada em laboratório. E eles escolhem machucar o que mais amo – sussurro – Escolhem machucar você.

–Corria esses riscos mesmo sem você, sabe disso – sorriu.

–Eu sei, só que as vezes que quero pôr a culpa em alguém sabe? Dizer porra fui eu quem matou Jordan, quem matou milhares de criações aqui, quem matou Aylin e quem colocou meu namorado em uma cadeira de rodas – gritei desesperada.

Theo saiu de onde estava e com um ato rápido me puxou para sentar em seu colo, deitei minha cabeça em seu colo e deixei que algumas lágrimas rolassem.

–Agh que droga – choraminguei – Vim aqui tentar fazer algo legal por você e eu é quem acabo chorando.

Ele passou as mãos nos meus cabelos.

–Não precisa fazer nada para me ver sorrir, você é a única capaz disso. Estou fazendo testes todos os dias Tess, tenho pouco mais de 20% de sensibilidade agora.

–Isso é bom – comemorei.

–É bom, mas não é tudo

–Parede de ser apressado homem, tudo se requer tempo e eu vou esperar o que for preciso.

Ele beijou meus lábios e um fogo invisível subiu pelo meu corpo.

–Ai, ai como é bom ser amada – sorri beijando-o novamente.

–Você é muito autoconfiante mocinha – sorriu.

–Me ame menos – disse – Mentira, não faça isso.

–Não seria capaz de tamanha façanha.

Nós ficamos ali abraçados por um longo tempo.

POV Theo

Queria que Tessa imaginasse como tem sido difícil apenas beijá-la, meus pensamentos sórdidos imaginavam milhares de coisas que eu poderia fazer com ela. Milhares.

Depois do café ela foi para sua aula e eu fui para mais um dos meus testes. Novamente estava na máquina de tomografia, eles haviam me injetado uma grande quantidade de contraste para ver meus ossos melhor.

–Seu progresso tem sido ótimo na última semana – disse Suzy – Talvez mais três meses e a sensibilidade volte.

–Três meses? Tessa...

–Ela irá esperar, esperou até agora – sorriu – Você talvez não veja com os mesmos olhos que eu, mas isso é muito bom Theo.

Três horas depois fui liberado, passei na sala de treino de Tessa e ao invés de encontrá-la dando aula encontrei Rachel gritando com Katrina e os outros alunos prontos para baterem nela.

–O que houve? – perguntei.

–Ela irrita a Tessa de propósito – gritou Rachel – Isso que aconteceu. Eu vou matar ela, por irritar minha amiga.

–Rachel – peguei nos pulsos dela – Calma, por favor.

–Ela irrita a Tessa o tempo todo, será que ela já não tem problemas demais para precisar se preocupar com uma barata com essa Katrina? Ela literalmente deixa a Tessa louca, Theo – disse – Minha amiga não precisa de mais motivos para se sentir horrível, porque tenho certeza de que são muitos.

–O que ela disse?

Vinte Minutos Atrás – Por Rachel

Tessa nos deu um minuto de descanso enquanto ela arrumava os alvos, ela e Adam conversaram por alguns minutos e depois ele se foi. Ela realizou pequenas maratonas onde tínhamos que correr, atirar e acertar o alvo e uma luta no final.

Até que Katrina começou a perturbá-la.

–Porque temos que fazer essa idiotice, você nem tem ideia do que está fazendo.

–Eu mando em você, então faça o que eu mando porque sinceramente eu não estou nem aí de lhe quebrar os ossos – sorriu Tessa.

–Você é como sua irmã, uma impostora que se passava por líder. Aposto que não sabe que Carolyn era a maior vadia que existiu. Ela mandou milhares de soldados para a morte só porque queria se casar.

–Ninguém está falando na minha irmã, vamos voltar ao treino – gritou.

–Diga para você mesma querida, você não sabe o que está fazendo e nem quer saber. Você odeia tudo isso só se importar em transar com o Theo e só não está fazendo isso porque você deixou ele na cadeira de rodas.

Tessa deu um passo à frente para socá-la, mas eu puxei seu pulso.

–Não vale apena, Tess – sussurrei.

–Todos sempre protegem a Tessa linda, mas ninguém assume que essa droga toda está acontecendo por causa dela.

–Você nem é daqui Katrina, fizemos o favor de abrigar você e seus fugitivos. Poderíamos tê-la entregado, então vá para o puta que pariu e me obedeça e se não gosta fale em um dia em que eu estiver me importando com as coisas que você diz.

–Você não se sente culpada? Como dorme a noite? Sabendo que seu namorado e sua melhor amiga morreram por sua causa.

–Theo não está morto.

–E a mesma coisa querida, você o matou e nem consegue admitir isso. Acha mesmo que ele quer ficar daquele jeito, ele odeia aquilo.

–Para de falar da minha vida – gritou Tessa.

–Já pensou que talvez ele só a suporte? Quando na verdade sente nojo ao olhar para o seu rosto todos os dias e lembrar que foi você quem fez isso com ele.

Tessa mordeu o lábio, vi seus olhos marejados e prontos para chorar.

–Quem será a sua próxima vítima Lize? Rachel? Adam? – perguntou rindo – Você é a própria morte Tessa, se quer deveria existir. Porque fica com eles se só os machuca? Vai embora Tesa, deixe eles vivos.

Os olhos de Tessa já estavam cheios de lágrimas.

–Eu não vou te bater hoje Tessa, porque tudo que você tem vivido já é surra o suficiente. Nada que eu faça vai ser melhor do que essa dor que você está sentido, essa culpa toda sob seus ombros.

Tessa não disse mais nada apenas saiu da sala correndo.

–Porque você diz isso a ela? – gritei

–Ela precisa ouvir a verdade de alguém.

–Sabe você nunca vai entender, a Tessa pode não ser feita da mesma coisa que nós mas, é tão humana quanto – gritei – Ela está aqui porque a amamos, não porque somos obrigados.

Vinte Minutos Depois – Por Theo

–Para onde ela foi? – perguntei.

–Não sei – murmurou Rachel.

Procurei Tessa em todos os lugares, não a encontrei em nenhum deles. Até que fui encontra-la deitada na minha cama esparramada e chorando. Porque a vida fazia isso com ela?

–Tess – chamei enquanto fechava a porta.

–Por favor, me deixa sozinha – pediu.

–Vim falar uma boa notícia.

–Aylin está viva, você está andando e Carolyn não era corrupta como todo mundo diz? – perguntou.

–Não, não e não – sorri.

Ela afundou o rosto no travesseiro.

–Minha sensibilidade está voltando, a médica me dá mais três meses apenas.

–É sério? – sorriu.

–É – concordei.

Ela levantou da cama e correu para me abraçar, puxei-a para sentar no meu colo.

–Sinto você sentada – sussurrei.

–Ah meu Deus, Theo pare de sussurrar – pediu – Já tenho sonhos eróticos demais com você.