Theo não estava nada bem. O tiro atingiu em cheio sua coluna vertebral, havia chances de que ele nunca mais voltasse a andar. Por enquanto eram apenas especulações, se ele já acordasse estaríamos no lucro.

Ele estava em coma, mas assim como eu e qualquer outra criação Theo aparentava estar apenas em um sono gostoso e relaxante. Alguns dos seus machucados já estavam melhores, ele cicatrizava rápido mas não como eu.

Seu corpo estava reagindo bem aos medicamentos mas, se recusava em despertar de uma única vez. Estava desde ontem sentada ao seu lado. Muitos vieram vê-lo contudo, apenas eu e Lize permanecíamos aqui. No momento era apenas eu Lize tinha saído.

Rachel bate na porta do quarto da enfermaria que estava entreaberta e me despertou do transe.

–Não vai comer? – perguntou ela – Nós conseguimos limpar o sangue e os vidros quebrados. A entrada está destruída e os corpos foram queimados. Ainda temos o governo na nossa cola. E comer seria uma boa agora.

–Estou sem fome – respondi serena.

–Posso trazer algo aqui se preferir...

–Não estou mesmo com fome

Rachel suspira.

–Como ele está?

–A situação é a mesma – disse – Eu só quero que ele abra os olhos.

–Ele é uma criação...

–Nenhum de nós foi atingido por um arma química – esbravejei.

Rachel ficou quieta. Eu soube pela manhã, a bala que atingiu Theo não era feita de pólvora como todas as outras era feita de medicamentos fortes o suficiente para parar uma criação. Provavelmente a bala continha os mesmos remédios que eles me davam, só que em quantidade concentrada o que era pior.

–Meu corpo funciona de um jeito diferente do de vocês. Eu ainda tenho remédio nas minhas veias, Theo é uma criação mais fraca e esses remédios concentrados são piores – reclamei – E se ele não andar mais...

–Tess, ele é o Theo seu namorado. Tenho certeza de que vai lutar ao máximo, só para não deixar você para outro garoto – disse com humor me abraçando.

Sorri com lágrimas nos olhos. Eu precisava do Theo comigo. Parecia tão simples, mas era uma ideia tão distante agora.

–Obrigado, Rachel – sorri.

–Pelo que?

–Por ser você, por ser a única que teve coragem de vir fazer uma piada nesse momento e não ter medo de levar um soco – sorri novamente – É sério Rach, obrigado.

–Ah, Tess não tenho medo de você – constatou.

Rachel saiu tranquilamente do quarto e foi embora. Voltei a me sentar na cadeira olhando para Theo que parecia dormir, como alguém podia ser tão bonito?

Mesmo com seus olhos fechados seu rosto ainda era magnificamente desenhado, o queixo bem delineado e as bochechas saltadas sempre tão charmosas. Sua sobrancelha era grossa e bem definida. E seus lábios eram grossos e avermelhados.

Era estranha a situação de que menos de 24 horas atrás quem estava naquela cama era eu e não ele, tudo que eu mais desejava naquele momento era que a situação se invertesse novamente. Eu não me importaria de morrer, estive tantas vezes cara a cara com a morte esse ano. Ninguém dependia de mim, mas Lize dependia do Theo e ele tinha que ficar bem.

–Se pudesse, trocaria de lugar com você – sussurrei mesmo sabendo que ele não podia me ouvir.

Uma Semana Depois

Theo permanecia no mesmo estado, seus batimentos cardíacos e exames estavam melhores que da última vez, ele tinha grandes chances e todos trabalhavam para encontrar a raiz da arma química.

Rafaela ordenou que eu ocupasse o lugar do Theo. Todos por hora decidimos voltar a vida de antes, tínhamos que mostrar para Amélia que iriamos fazer as coisas do jeito dela. Por isso todo dia enviamos relatório sobre como nós temos nos saído.

Oficialmente sou a nova treinadora dos intrépidos. Como descobri a pouco que outros adolescentes de outras divisões estão aqui escondidos nós fizemos testes parecidos como os feitos no governo, assim eles ficariam divididos como nós.

Mesmo não querendo sair do lado do Theo eu tinha um dever contra o governo. Por isso estava no meu antigo dormitório terminando de me arrumar, coloquei meu macacão e arrumei meus cabelos novamente compridos em uma trança.

–Vejo vocês na sala de treinamento – disse a Aylin e a Rachel.

Sai com as mãos nos bolsos, andava de cabeça baixa e tranquilamente quando alguém esbarrou em mim. Levantei a cabeça para olhar, era um garoto de mesma idade do Theo.

Ele tinha os cabelos dourados e olhos tão azuis quanto uma pedra preciosa. Seu corpo era esguio e seu rosto era afinado no queixo. E por tudo que respira, ele era muito bonito.

–Sinto muito – disse ele – Eu estou procurando a área de treinamento dos intrépidos, acho que sou um deles agora.

–Não foi nada – disse educada – E você é... ?

–Noah Singer – sorriu estendendo-me a mão que eu aceitei com fervor.

–Eu sou Tessa Gatwik – sorri.

–Meu Deus sinto muito, você é minha treinadora – disse ficando vermelho.

–Sim, sou eu – concordei - Vamos? Você está atrasado e está me atrasando – brinquei.

Nós caminhos me silencio até a sala de treinamento. Era estranho ver todos aqueles alunos esperando algo de mim, eu não sabia como iria treiná-los e nem o porquê de eu ter aceito essa maluquice mas, daria o meu melhor.

Iniciei aquela aula com o arco e flecha. Todos eram bons naquilo, alguns menos que outros mas de um jeito torto todos conseguiram.

–Fiquem em duplas, vamos treinar contato físico. É importante saber se defender sem armas, as vezes ou quase sempre nunca vamos ter uma arma ao nosso alcance – disse séria.

–Você não vai lutar, treinadora? – perguntou uma garota de cabelos pretos e olhos verdes – Pensei que você fosse a garota das lutas.

–Você é a... ?

Embora eu tenha perguntado sabia quem a garota era. Aylin me disse que ela vinha dando em cima do Theo, Katrina. Esse nome não sairia tão fácil da minha cabeça.

–Katrina – respondeu.

–É melhor eu não lutar – disse sorrindo e bem humorada.

–Porque?

Aylin e Rachel olharam para mim e deram risada.

–Ela acabou com o Theo e com um garoto na luta final, se ela bater em você certamente precisaremos de outra maca na enfermaria – disse Rachel.

Ela ficou vermelha de raiva. Essa garota estava mesmo querendo arrumar confusão comigo, só podia ser uma desequilibrada.

–Mas, isso... quero dizer lutar com você não seria experiência?

–Posso saber porque lutar comigo é importante?

–Sou boa em luta, queria ver se é tão boa quanto todo mundo diz.

–Eu não sou boa porque todo mundo diz, eu sou boa porque sou geneticamente modificada diferente de você – sorri.

–Não é preciso ser geneticamente modificada para bater em alguém.

Olhei para minhas amigas cínica.

–Pois bem, Katrina venha para o centro.

[...]

10 minutos depois e ela estava com o lábio sangrando. Bati nela mais com vontade de dizer “fique longe do meu namorado’’ do que com a intenção de lhe passar uma lição.

Não sou ciumenta apenas tenho o bom senso de cuidar do que é meu. E Theo é meu. É bem simples na verdade, se Katrina não aprenderia comigo falando seria apanhando.

–É importante nunca baixar a guarda – disse limpando meu nariz que sangrava.

–Vou me lembrar disso... vaca – murmurou baixo a última palavra.

Minha audição era ótima por isso escutei o que ela disse, dei uma cotovelada em seu nariz.

–Escuto melhor que todo mundo, vaca – sorri saindo da sala.

Fui para onde Theo estava, aproveitei para limpar o sangue do meu nariz previa que eu e aquela garota teríamos muitas brigas pela frente. Eu podia estar presa e definhando no governo mas, Theo era meu. Meu namorado e não dela. Meu.

Entrei no quarto e Lize estava sentada na cadeira que eu passava horas largada, Theo ainda dormia hoje ele estava mais corado e quase vivo.

–Como ele está? – perguntei a ela.

–Na mesma, a chances de que eles consigam acordar ele. Mas, é difícil porque o corpo dele funciona diferente – disse ela limpando o rosto – Acha que ele vai ficar bem?

–Não sei – digo a verdade – Acho que ele tem muito pelo que viver.

–Será que ele sabe disso?

–Theo não desistiria – sorrio, sabendo que aquela é a verdade mas, e se o seu corpo não aguentasse? Não deveria alimentar as esperanças de Lize.

Lize sorri com os olhos marejados e sai do quarto. Eu não podia desabar na frente dela, eu tinha que parecer forte porque se eu não estivesse opor Lize ninguém mais estaria.

Passei minhas mãos pelos cabelos bronze de Theo. Uma semana se passou diante dos meus olhos e parece que fazem anos, eu não estou preparada para assumir o lugar dele, não sei mandar como ele faz.

–Tessa – chamou Adam da porta.

–Ah...Oi – indaguei me levantando – Pode entrar.

Ele entrou e voltou a fechar a porta.

–Como ele está?

Não disse nada. Não queria repetir aquela afirmação quase fajuta de que ele “ficaria bem”, porque a esperança grita tão baixo dentro de mim que eu não acredito que algo bom vá acontecer.

Como uma criança comecei a chorar, eu só queria que parassem de me perguntar se ele ficaria bem porque assim eu não precisaria mentir.

Adam franziu o cenho com pena, seus braços logo estavam envolvendo meu corpo em um abraço. Sua mão se afundou no meu cabelo e eu encostei minha cabeça em seu ombro.

–Me desculpe – disse soluçando – Eu só não aguento mais dizer a mentira de que ele vai ficar bem.

–Você tem que manter as esperanças Tessa, ele é o Theo.

–Eu perdi minhas esperanças na vida a muito tempo atrás, eu sei depois de tudo que aconteceu comigo por obrigação devo acreditar na vida, mas é difícil saber que ele vai voltar.

–Ele é a criação perfeita – disse – Vamos dar tempo ao tempo, Tessa.

Nós nos soltamos e ele sorriu amigável, tentei sorrir de volta mas não consegui.

–Eu não posso ficar no lugar dele Adam, eu não sei ser uma líder. Eu não posso substituí-lo.

–Você é quase o Theo de saia, não há outra pessoa mais indicada senão você – sorriu – Ainda me lembro da primeira luta de vocês, nunca vi ninguém batendo nele antes de você.

Coloquei as mãos no meu rosto.

–Mantenha-se forte por ele, por Lize, por todos nós Tessa.

–Eu não consigo...

–Ah qual é ruivinha, você passou um ano sendo torturada, se arrastou até aqui e quase morreu. Então sim, você aguenta.