Às vezes imaginava que Theo estava olhando por mim como um fantasma enquanto o seu corpo ficava inerte naquela cama. Carolyn aparecia hora ou outra, ela me dizia que morto Theo não estava caso estivesse ela saberia.

Havia exatas duas semanas que ele não acordava ou dava sinais de melhora. Era sempre a mesma coisa. O mesmo diagnostico terrível. Nada mudou, situação estável.

Eu e Katrina não nos dávamos bem, ela era líder do buraco demoníaco de onde tinha saindo contudo aqui ela tinha que me obedecer. Obviamente ela detestava. Por isso minhas aulas eram infinitas.

Quase coloquei fogo nos cabelos da Aylin durante uma simulação por causa dela. Aquela garota era um demônio e por mais que eu batesse nela, parecia nunca surtir efeito em sua pessoa.

Algumas vezes peguei ela indo e vendo ele, aquela garota me deixava extremamente irritada.

–Ensine a eles que atrás do pescoço é um ponto para desmaiar, faça pressão dos dois lados e o alvo desmaia – instruiu Adam.

Adam a pedido da Rafaela tinha que me ensinar em algumas aulas depois dos treinos. Os instrutores passavam por algumas aulas com soldados profissionais de outras divisões, eles treinavam em bases abandonadas em lugares do velho mundo.

Não daria para mim completar esses estudos. Cassandra era mais na dela e não gostava muito de mim, então por isso Adam me ensinava a maioria das vezes e outras Rafaela.

Apliquei o que ele disse no boneco.

–Não Tessa, com menos força e mais habilidade – disse ele.

–Eu não consigo colocar “menos força” – disse irritada.

–Se acalme minha filha, você é mesmo parecida com o Theo. Apenas pressione levemente – sorriu – Eu poderia lhe mostrar mas, você cairia e aí não teria efeito algum.

–Você é um péssimo professor – digo brincando.

–Você que é uma péssima aluna – sorri ele – Péssima ouvinte.

–Então vamos comer porque eu estou morrendo de fome – disse.

Vamos para o refeitório, há poucas pessoas. Pegamos dois pedaços de torta e nos sentamos afastados de todos, ultimamente ele tem sito a única pessoa que falo abertamente. Ele e Rachel, não há como não me abrir para ela. Aylin e eu tínhamos brigado por conta de toda essa situação. Eu pretendia não chatear Lize.

Katrina entrou no refeitório. Como eu odiava aquela garota. Poderia matá-la sem hesitar.

–Quanto tempo fico presa? – pergunto – Se eu assassinar?

–Não gosta mesmo dela – sorriu

–Ela se acha dona do Theo, ela acha que pode ser melhor do que eu, acha que pode me substituir – disse – Poderia matá-la, seria tão fácil.

–Você não faria isso – sorriu Adam – Não, você faria sim. Ela tentou ser amiga dele assim que chegou, Theo não quis muito amizade. Estava tentando descobrir como tirar você daquele lugar.

–Ele é um homem sábio, ele sabe que eu o mataria e depois picaria aquela vaca em milhares de pedaços desiguais.

Nós dois caímos na gargalhada. Adam é diferente de Theo, enquanto meu namorado é aberto só comigo e faz piadinhas que só nós dois entendemos, Adam é assim com todo mundo. Deixa qualquer situação alegre.

–Tessa, você sabe o que eles vão sugerir. Não sabe? – perguntou.

Sim, eu sabia. Se Theo não melhorasse não faltariam oportunidades dos médicos pedirem minha autorização para dar um “remedinho eterno” para que ele morresse.

–Não vou aceitar – digo.

–E nem deve, eles não podem controlar você, não podem decidir por você. Seja a Tessa.

Sorri, embora o momento não pedisse um sorriso.

–Como tem tanta certeza de que não quero apenas desistir de tudo?

–Porque eu vi meu melhor amigo chorar por causa de uma garota, sei que não era qualquer garota. Era uma que valia sem dúvida todas as suas lágrimas – disse Adam – Vocês dois tem mais provações do que qualquer casal tem, a vida de vocês é um inferno. Mas, eu vejo nos seus olhos selvagens que você poderia estar no lugar dele. Você o ama e irá até o fim.

Fiquei quieta. Apenas olhando para ele. Eu parecia ser uma pessoa tão forte para os outros mas, por dentro era apenas uma garota triste e destruída que perde as coisas com a mesma rapidez que o vento passa sob meus cabelos.

–As penso que vou quebrar – murmuro.

–Até seu Theo voltar, estarei aqui para colar os seus remendos se preciso – sorriu – Não desista Tessa, tantos já desistiram e eu vejo em você a nossa liberdade.

Adam se levantou e fiz o mesmo, ambos tínhamos aula agora.

–Sabe, se Theo não tivesse me proibido de ser legal com você talvez tivéssemos sido mais significante um para o outro – diz ele.

–Theo proibiu?

–Ah sim me lembro muito bem da sua sutil ameaça quando eu disse, “nossa Theo, aquela garota é linda você não acha?” seu namorado sempre muito educado me respondeu “fiquei amigo dela e eu castro você, Adam” ele ainda sorriu você acredita? – disse rindo – Eu disse que não iria lhe obedecer, porque né. Ele disse “acho que ela não vai se interessar por alguém que esteja morto” Sério, ele é possessivo.

–É porque eu sou dele e ele é meu – sorri – Parece que vivemos a vida inteira juntos.

[...]

–Já lhes disse como o arco é importante – disse andando de um lado para o outro da sala com as mãos na cintura.

A sala me escutava com atenção. Gosto disso de todos me respeitando. Todos menos aquela vaca, vadia, filha da puta, idiota, vadia de novo da Katrina.

–Se a vaca no fundo da sala já parou de lixar as unhas eu gostaria de continuar – disse acertando uma flecha na parede atrás dela.

–A vadia da tutora não deveria chamar suas alunas de vacas – diz ela.

–Não posso ir contra a verdade – falo e todos riem.

Acabou que aquela aula se tornou um ring. Quando menos espero Katrina está em cima de mim lutando como uma garota e puxando meus cabelos, acho que quebrei sua costela e seu pulso. Porque ela grita de dor. Antes ela consegue me socar no nariz.

Logo Adam e Rafaela aparecem para socorrer a donzela.

–O que você fez? – grita Rafaela.

–Ela veio para cima de mim – passo a mão no meu nariz, ele está sangrando e possivelmente fora do lugar.

–Sua puta – gritou Katrina gemendo de dor.

–Quer que eu quebre suas pernas agora? – rosno.

Adam me leva para o outro lado rindo, vamos para enfermaria e depois de eu chutar muito ele para me soltar a enfermeira consegue colocar meu nariz no lugar. Grito tão alto que tudo que Adam faz é rir.

–Isso dói – digo batendo nele.

–Eu sei – disse segurando minhas mãos – Mas, me bater não vai melhorar.

A enfermeira me deu um remédio para dor, como estou agitada e agredindo Adam ele pede algo mais forte e a enfermeira concorda.

–Por que fez isso? – pergunto quase caindo de sono.

–Você precisa descansar de verdade – disse.

Não sustento mais meu corpo, os remédios calmantes são fortes. Sinto os braços de Adam me pegando e levando meu corpo, tento bater nele mas estou longe de conseguir mover meus braços.

–Estou descansada – digo – Isso é contra minha vontade.

–Tessa você quebrou o braço e a costela de uma garota, está mais que estressada.

–Acha que ela aprendeu a lição?

–Claro que acho, eu teria aprendido.

Então caio no sono, como há dias não consigo pregar os olhos. Talvez soníferos fossem bom para alguma coisa.

Duas Semanas Depois

Sempre o mesmo diagnostico. Sempre a mesma resposta.

Não sou de chorar. Mas não consigo parar desde que entrei no quarto do Theo. Aqui ninguém me acharia. Não precisaria ver Katrina e nem ninguém. Escutei os médicos dizendo que ele ficaria para sempre daquele jeito e que se voltasse não andaria, eles disseram que tinham pena de mim.

Eu sabia que ele tinha piorado.

Estou largada na cama de barriga para baixo chorando, abraço forte o travesseiro branco que tem seu cheiro. A cama está bagunçada. Não sei a quantas horas estou aqui, só sei que não quero ir embora. Estou tão atordoada que não sei bem como cheguei aqui.

Alguém bate na porta, finjo não ouvir.

–Sou eu Tess – diz a voz de Rachel.

–Vai embora – gritei.

–Vou porra nenhuma – disse do outro lado.

Um baque atinge a porta e ela quase caí, Rachel entra com as mãos na cintura.

–Eu disse para você ir embora – gritei.

–Não vou embora, eu me importo com você – gritou de volta – Não vou deixar que você fiquei trancada nesse quarto sem comer ou respirar por mais um dia.

–Dia?

–Tess, por quanto tempo você acha está aqui?

–Algumas horas?

Rachel sentou na cama em choque.

–Tess você está aqui por dois dias.

Quem ficou petrificada naquele momento fui eu. Meu cérebro estava começando a falhar, talvez Adam tivesse razão. Eu estava perdendo a noção das coisas, estava descontrolada.

–Só quero ficar sozinha – disse limpando o rosto.

–Você não pode desistir...

Então eu explodi.

–E se eu quiser desistir? Já pensaram que talvez eu não aguente mais? Eu aguento me machucarem, me torturarem, abusarem de mim. Eles pegaram ele, você entende isso? Pegaram o que me restou de valioso, Rachel. E eles sabem disso, sabem que ele é tudo o que tenho.

–Todos nós perdemos alguém que amamos Tessa. Você não é a única.

–Eu sei, mas eu sou a única que só tem a ele – digo com lágrimas nos olhos – Só ele, somos o Theo e Tessa a combinação perfeita, se ele se for seremos apenas eu e...

–Tess, eu não mentira para você dizendo que ele vai voltar, porque isso pode não ser sincero. Mas, eu sei que você pode superar isso, isso é sincero. Você não percebe? Theo é tão assunto do governo quanto você, mas é somente você que pode criar outro mundo. Você é melhor que todos nós juntos.

–Eu...

–Tessalha, desde quando você virou a mocinha que chora por amor e eu te dou conselhos?

Solto uma risada doída.

–Se Theo pudesse nos ver, pairando fora do corpo viajando por aí. Ele bateria em você até precisar mesmo de um médico, ele sabe que você e capaz e todos nós sabemos. Não seja a donzela, por favor.

As pessoas não entendem a tristeza e a perda, acham que ela é superável. Mas, para mim parece não ser. Escuto o nome de Theo, escuto ele saindo de boca de pessoas que já consideram ele morto. Eu o amo, se ele morrer parte minha terá ido junto. Ao invés de gritar isso para Rachel, deixo que ela pense que tem razão e sorrio.