As Criações escrita por Sky Salvatore


Capítulo 27
Capítulo 26 - Rato de Laboratório


Notas iniciais do capítulo

Hooy !

Alguns ficaram bravos comigo outros não quiseram falar nada e outros ficaram felizes. Acontece que eu disse a vocês, não confiem em mim. Eu disse a vocês. E outra coisa para realmente matar uma criação do governo é preciso de muito.

Conheçam a Tessa.

Boa Leitura



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–Tessa, pare de correr com esse arco na mão – disse meu pai correndo atrás de mim.

–Eu estou bem papai – gritei sorrindo.

Eu usava uma jardineira amarela sem graça, tinha pouco mais de 12 anos. Corria pelo quintal da minha pequena casa no centro da Cúpula. Mamãe ajudava Carolyn a amarrar os cabelos ruivos em uma trança e papai corria trás de mim pedindo que eu parasse de correr com o arco na mão. Aquilo era tão divertido.

Nossa casa era a mais bonita da rua Y. Tínhamos dois quartos, a maioria era um para todos, em um dormia os nossos pais e no outro eu e Carolyn. Éramos os únicos na rua Y que tinha uma televisão que funcionava com cores.

Papai tinha conseguido trabalhar transportando comida do governo para a cidade, isso nos dava um pouco mais de agraciações. Mamãe era enfermeira, o governo convocou ela semana passada e por isso ganharíamos mais coisas. Desde que houve as divisões nós não recebíamos dinheiro, apenas recebíamos “agraciações” que era como chamávamos o que o governo nos dava.

Tudo tinha uma agraciação diferente, ser enfermeira era o que mais recebia. Ganhávamos roupas, móveis, sapatos e matérias que nós poderíamos fazer mais coisas.

Hoje mamãe tinha trazido um pão doce como agraciação. Depois que mamãe arrumou Carolyn e tirou minha flecha ela mandou que nós todos fossemos para a mesa.

–Hoje nós temos pão doce – comemorou mamãe.

Era a única coisa que tínhamos além de pão da semana passada. Papai e mamãe tinham trocado algumas comidas por livros para dar aulas em casa para mim e Carolyn.

Dividimos o pão em quatro, como sempre eles nos deram o pedaço maior. Mamãe trouxe um bolo nos fazendo uma surpresa.

–Bolooooooo – comemorei.

Nós comemos até quase acabar. Quando faltava só um pedaço eu e Carolyn começamos a brigar. Caímos no cão rolando e puxando os cabelos por um pedaço de bolo.

–É meu Tessalha Paspalha – disse ela.

–Não me chama assim, sua idiota – xinguei.

Papai me pegou no colo me tirando de cima de Carolyn. Logo nós estávamos separadas e ouvimos uma longa bronca. Por reclamar e brigar enquanto outras famílias nem comeram.

Nós duas quase não brigávamos. Era raro mas acontecia. Eles mandaram nós duas ir para o quarto. Estava atrás da porta ouvindo meus pais conversarem, não estava com sono queria brincar.

–A Tess, é como o Theo – falou papai – Ele ainda tão novo e com um cérebro fascinante.

–Elas são como ele, Damon – disse mamãe – Eu tenho orgulho das minhas meninas.

Carolyn apareceu do nada.

–Que coisa feia, ouvindo conversa atrás da porta.

–Quem é Theo?

–Um garoto obviamente – sorriu – Venha Tess, quero passar o tempo com você antes de eu ir.

A tristeza me invadiu novamente, estava na hora da Carolyn se tornar uma recrutada.

–Eu não quero que você vá – choraminguei.

–Sabe que não posso não ir – riu ela – Eu vou ficar bem Tess.

–Promete voltar para casa?

–Prometo – beijou minha testa.

–Vamos lá Tess, abra a porra desses olhos. Nós não temos muito tempo, não podemos perder tempo – a voz era de Carolyn.

Abri meus olhos afobada. Meus pulmões quase não trabalhavam mais. Havia literalmente um furo no meu abdômen que começava a cicatrizar. Um cheio fétido me embrulhou o estomago. Eu estava completamente ensanguentada.

–Onde estou?

Antes que Carolyn pudesse responder minha mão apalpou algo gélido e morto. Olhei para o lado e um grito horrorizado saiu da minha boca. Havia corpos semi mutilados a minha volta, homens, mulheres, crianças.

Todos estavam de olhos abertos, mostrando que morreram com um medo desesperador. Alguns perderam os braços e pernas outros a própria cabeça. Eles eram experiências falidas e por um milésimo de segundo Amélia pensou que eu fosse como eles.

Eu quase conseguia escutar eles falando comigo com vozes aterrorizantes. Minhas pernas formigavam, não sabia ao certo o que tinha acontecido e nem por quantas horas estive aqui, mas minha roupa e eu por completo cheirávamos a coisa morta.

Arrastei meu corpo até encontrar parede e buscar apoio para erguer meu corpo.

–Estamos no incinerador, está desativado – respondeu Carolyn – Você tem que ir.

Mal conseguia ficar ereta. Tudo doía tanto. Era como estar viva com os ossos mortos.

Carolyn evitou falar, o que foi bom porque minha voz quase não saia. Ela não me tocava, era bem óbvio. Ela estava morta e eu viva. Matéria não toca coisas em que não há matéria.

Minha irmã gesticulou para a porta, ela era de ferro e pesada. Tinha uma trava enorme que me impedia de estar do outro lado. Estava sem forças o suficiente para abri-la. Minhas mãos tremiam, mas com muito esforço consegui empurrá-la. Era uma porta de correr e isso facilitou.

–Apenas me siga, estamos no subterrâneo. É fácil sair sem ser visto.

Um vento aterrador e gelado atingiu meu rosto quando coloquei meu corpo para fora daquele lugar. Era um longo e escuro corredor, as paredes eram feitas de piso e talvez por isso fosse um lugar frio.

Meus pés pisaram no gelado, eu estava descalça, segui Carolyn sem hesitar.

–Engatinhe – sugeriu – As câmeras não pegaram você.

Engatinhar era mais fácil que andar, fiz isso até que o corredor chegasse ao fim. Ele era mais comprido do que parecia, me arrastei e quando chegamos a saída Carolyn me fez entrar no caminhão que distribuía comida, a porta estava aberta só entrei.

Me acomodei no meio das frutas, ninguém me veria. Encostei minha cabeça na lataria e suspirei, porque a morte insistia em me deixar viva para ter esse tipo de vida?

[...]

Peguei no sono, a viagem foi comprida. O governo ficava longe do centro da Cúpula e o centro de treinamento ficava ainda mais distante, não fazia ideia de como eu chegaria lá.

Acordei quando a porta traseira se abriu. Um homem vestido com o macacão de funcionários assustou-se ao me ver.

–O que você faz aqui menina? – esbravejou.

–Eu...

O homem não deixou que eu terminasse de falar, ainda do lado de fora ele me puxou pelo braço puxando meu corpo para fora do caminhão.

–Não me leve de volta para o prédio, por favor – supliquei.

–Suma daqui garota, eu não quero problemas com pessoas como você

Ele me jogou no chão e eu tratei de apressadamente me levantar. Corri para longe dele, quando estava longe o suficiente meu corpo cedeu atrás de um beco.

Arqueei meu corpo e vomitei sangue. Ele era escuro e gosmento, não parecia ser sangue. Olhei meu reflexo em uma poça de água, fazia tanto tempo que não chovia. Eu estava deplorável.

Havia buracos abaixo dos meus olhos resultado das noites mal dormidas, meu nariz também sangrava. Havia um corte médio na minha testa. Sem contar minha roupa ensanguentada.

–Porque eu não morri? – perguntei com lágrimas de dor nos olhos. Parecia que havia um nó no meu estomago que me impedia de respirar direito.

–É impossível matar alguém como você Tess, seu corpo funciona de um jeito diferente de um corpo completamente humano. Seu corpo precisa de muito para realmente morrer, você ficou sem respirar por um dia naquele lugar e mesmo assim aqui está você – disse ela.

–Como assim um corpo completamente humano? E se você é uma criação como eu, porque está morta?

–Tess você precisa saber a verdade – suspirou – Precisa saber sobre você. Você é realmente uma criação.

Carolyn me olhou com pena e começou a falar.

–Depois que eu nasci, mamãe não podia mais ter filhos. Eu já tinha nascido com um DNA especial e aquilo esgotou ela. O governo se interessou pelo modo como eu aprendia rápido e me desenvolvia diferente dos outros. Theo era mais novo, mas também era especial. Eu fui estudada e eles descobriram que o meu dom estava no sangue de alguma forma e não no meu cérebro – explicou ela – Então eles nos chamaram, Amélia contou aos nossos pais o quão maravilhosa eu era. Mamãe sempre foi emotiva, queria outro filho. Amélia disse que poderia criar um feto.

“Mamãe e papai ficaram preocupados com a ideia de criarem um bebê que seria feito em laboratório mas, Amélia era persuasiva e conseguiu convencê-los. Eles doaram material genético e claro o meu sangue, só que ele sofreu modificações ficando duas vezes mais forte. Seu corpo é praticamente de aço por conta disso.

Então você nasceu, foi literalmente criada dentro de um laboratório. Amélia a criou com perfeição. Você ficou em uma câmara que tinha o mesmo propósito do útero e lá se desenvolveu. Ficou com Amélia até os três anos, aprendeu a se comportar como humana. E então tinha nascido a criação perfeita.

Você se chamava criação 001, aí eu queria muito lhe chamar de Tess. Papai disse que isso não era nome, então nós colocamos Tessalha. Conforme você crescia todos os anos nós levávamos você para uma consulta anual, até que você começou a mudar rapidamente e Amélia perdeu o controle.

Seu corpo funciona como uma máquina, ela encheu você de remédios e só assim ele funciona de vagar como agora. Para matar você precisa de muito”

Palavras não seriam o suficiente naquele momento para dizer o que eu queria, na minha cabeça apenas uma linha fina como batimentos cardíacos passavam.

–Não sou humana?

–Você é uma super humana, porque foi criada em laboratório.

–Esses dons...essas coisas?

–Seu cérebro, o meu, o do Theo tem propriedades que a ciência ainda desconhece. Ele desenvolveu essas habilidades.

–Porque nunca me contaram?

–Nunca tivemos tempo, sempre imaginamos que você passaria despercebida como os outros.

Encostei minha cabeça na parede.

–Vamos Tess, você tem que chegar no centro de treinamento

–Não consigo – foi tudo o que eu disse.

–Vamos, levante – exigiu ela.

Carolyn podia achar que eu era uma super “sei lá o que” mas, eu estava doente. Mesmo que por hora eu apenas estivesse fraca enquanto não saísse aqueles remédios do meu corpo eu ficaria fraca daquele jeito.

–Eu não consigo, Carolyn é difícil entender? – grito.

Ela gritava algo comigo, mas tudo que eu consegui foi voltar a vomitar sangue. Minha cabeça doía como se eu tivesse levado um tiro, coloquei minhas mãos nas temporãs. E caí gemendo de dor até que tudo escureceu.


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Notas finais do capítulo

Gostaram ?

Vocês querem continuação me digam:

—Querem que se passe depois do final da história ou antes ?

Até



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