─ P. O. V. Katie

No dia seguinte, Katie combinou com Travis que novamente ela iria observar o desempenho dele na hora da conquista. Ela alegou que precisava observar muito bem o que ele fazia certo e o que ele fazia errado.

Porém, no dia seguinte, a observação foi diferente do dia de Drew. Assim que bateu o sinal da Goode para os alunos irem embora, quase três horas da tarde, Katie saiu da sua sala acompanhada de Thalia. Elas conversavam sobre algumas músicas que Thalia andava compondo e queria que Katie pudesse tocar violão para ajuda-la a terminar as letras. Mas assim que Katie pôs os pés fora da sala, encontrou Travis encostado na parede ao lado da porta.

─ Podemos conversar, Gardner? ─ perguntou ele, dando uma piscada para ela.

Thalia revirou os olhos e deu uma risada curta, alegando que precisava passar em um lugar antes de ir embora e por isso estava com pressa. Se despediu de Katie e os deixou sozinhos.

─ Não precisava ter piscado, seu idiota ─ reclamou Katie, dando um tapa no braço do garoto. ─ Thalia agora vai começar a ficar pensando coisas.

─ Bem, assim ela presta atenção em mim, quem sabe. Ela é bem bonitinha... ─ comentou ele, dando um sorriso convencido.

─ Você é insensível ou o que, Stoll? Não sei se você sabe, mas ela é ex-melhor amiga do Luke e ele é seu meio irmão! ─ exclamou Katie, indignada. ─ Bem, essa com toda certeza pode ser a nossa lição número dois, nunca se insinue, pegue ou nutra pensamentos indevidos para com a garota que tenha uma história com seu amigo e/ou familiar. Combinado?

Travis se desencostou da parede e assentiu, com um sorriso brincalhão no rosto.

─ Hm, entendi, não contar mentiras, não pegar a garota proibida. Duas lições em dois dias ─ contou ele, triunfante. ─ Você está se saindo bem, hein, Katherine.

Katie se surpreendeu quando notou que o que ele falou era verdade. Não tinha se dado conta de que já tinha dado duas lições, mas é que elas não eram planejadas, realmente vinham naturalmente conforme a situação.

Era bom ver que estava fazendo tudo certo.

─ Ok, eu estava pensando em dar uma passada no Painel, aquele café maneiro perto do Central Park. Eu meio que to afim da garçonete que trabalha lá. Então, vamos? ─ perguntou ele, estendendo a mão para ela.

Katie deu de ombros e pegou a mão dele.

─ Claro. Além disso, vai ser bem mais fácil observar enquanto tomamos um café ─ murmurou ela.

E Katie nem seu de conta de que em todo o trajeto até o carro ela ficou de mãos dadas com Travis Stoll.

─ P. O. V. Travis

O Painel, pensava ele, era o café mais maneiro de Manhattan. Era uma sala um pouco espaçosa com várias mesas pretas quadradas e estofados vermelho chamativo que ficavam aos pares de dois cada por mesa, um de frente para o outro. Sempre estava lotado, pois além de ter uma boa localização e atendimento, o café era delicioso e em conta.

Travis optou por uma mesa que ficava bem próximo ao balcão, onde a bela garçonete estava secando alguns copos.

─ É a morena? ─ indagou baixinho Katie, sentando de frente para ele.

─ É. O nome dela é Bianca di Angelo, e ela tem vinte anos. Uma beleza ─ respondeu ele, lançando um olhar malicioso para a garota.

Bianca secou mais um copo, colocou-o no balcão e quando ela olhou em volta Travis ergueu a mão um pouco e fez sinal para ela se aproximar. Em menos de um minuto, ela já estava ao lado dele com o cardápio em mãos.

─ O que vão querer? ─ indagou ela, sorridente.

─ Hm, quero olhar o cardápio antes, por favor ─ pediu Katie, esticando a mão.

Bianca entregou a ela o cardápio e Travis viu Katie lançar a ele um olhar sugestivo antes de deixar seu rosto oculto por trás do cardápio. Era a sua deixa.

─ Seu nome é Bianca, não é? ─ indagou ele, lançando um olhar sedutor a ela.

Ele sorriu por dentro ao notar ela ficar um pouco corada com o gesto.

─ É sim ─ respondeu, analisando-o. ─ Por que a pergunta?

─ Que horas você saí do trabalho, querida? ─ perguntou ele.

─ Perto da seis e vinte. Por que quer saber?

─ Estava pensando aqui, que tal se você me acompanhar em uma festinha que vai ter na casa do meu amigo? É depois de amanhã, oito da noite ─ explicou ele, dando uma piscada. ─ Posso te buscar.

Bianca franziu os lábios e o encarou, parecendo indignada. Travis não sabia o que tinha feito de errado, mas esperava que ela fosse aceitar.

─ Desculpe garoto, mas eu não tenho tempo para festinhas de adolescentes ─ respondeu, com um tom desconfortável ─ O que você e sua amiga vão querer?

Naquele momento, Katie abaixou o cardápio e o devolveu para Bianca.

─ Dois expressos, por favor, para levar ─ pediu ela.

Bianca pegou os cardápios e os levou consigo enquanto Travis a observava desanimado.

─ O que foi que eu fiz de errado agora? ─ indagou ele, colocando os cotovelos sobre a mesa e apoiando a cabeça nas mãos.

Katie suspirou cansadamente, como se a resposta fosse óbvia até mesmo para uma criança pequena.

─ A única coisa que você fez de errado foi convidar uma mulher para ir a uma festa de adolescentes, nada demais ─ respondeu a garota em um tom coberto de ironia. ─ Travis, realmente, você não percebeu que ela apesar de ter vinte e um anos não curte festinhas de colegial?

─ Não.

E ele não sabia mesmo. Achou que Bianca ia ficar feliz de receber um convite para uma festa, ainda mais uma festa de jovens, onde sempre acontecia algo maneiro. E sempre tinha drogas e bebidas à vontade, e sem contar as oportunidades de sexo a hora que quisesse.

Travis olhou para Katie e percebeu que a garota estava um pouco atenta demais. Os olhos verdes dela estavam fixos nele de uma forma avaliadora.

─ O que foi? ─ perguntou ele. ─ Quer um pedaço? Pode pegar.

─ É isso, Travis ─ murmurou ela ─ É isso.

─ Isso o que? ─ ele indagou, dando um sorriso torto. ─ Você quer realmente um pedaço? Katherine, achei que você ia conseguir resistir por mais tempo, mas se você quer, eu...

Mas ele foi interrompido por uma dor aguda em seu pulso esquerdo, que ficou vermelho. Katie tinha jogado nele o porta-guardanapos, com uma força surpreendente por sinal.

─ Não, eu não quero, seu idiota ─ resmungou ela, colocando o porta-guardanapos no lugar. ─ Só fiquei pensando aqui comigo, por algum motivo, tem algo em você que costumava atrair as garotas. A beleza, um pouco, o seu dinheiro, também, sua personalidade, sem chance. Mas, então, eu percebi que tem uma coisa que faz você atrair as garotas, todas elas, menos eu. O seu charme.

Travis, primeiramente, deu uma risada, porque parecia certo para ele ter essa reação, afinal, aquilo só podia ser uma piada. Logo após, ele olhou para Katie e viu que ela parecia confusa com a reação dele.

─ Por que, diabos, você está rindo, Stoll? ─ perguntou ela, cruzando os braços.

─ Porque essa sua ideia mirabolante tem dois furos ─ respondeu ele, automaticamente. ─ Dois furos óbvios, na verdade.

─ Ah, é? Quais são, por acaso? ─ desafiou Katie, com um sorriso confiante, como se estivesse completamente certa.

Travis observou que ela parecia muito cheia de si, levando-se em conta como estava. Qualquer garota se sentiria envergonhada se estivesse como Katie estava: com um manto, aqueles indianos, roxo berrante com uns desenhos em dourado, o cabelo estava em uma trança lateral e ela estava usando uma bracelete esquisito. E o sotaque texano dela estava mais acentuado, o que a deixava meio ridícula.

─ Olha só ─ começou ele, contendo sua risada. ─ Primeiro furo, eu sou muito legal e as garotas gostavam da minha personalidade, adoravam quando eu conversava com elas. E o segundo furo é que você está atraída por mim, por mais que tente esconder.

Dessa vez foi a vez de Katie dar uma boa gargalhada, até lágrimas escorrerem de seus olhos.

─ Ah, meu Deus, você não conhece as mulheres direito, não é? ─ indagou a garota, aparentemente controlando seu acesso de riso. ─ Se eu estivesse realmente afim de você eu ficaria toda sem jeito toda vez que visse você, não ia conseguir olhar diretamente nos seus olhos, gaguejaria e riria a maior parte do tempo. Por acaso estou fazendo isso?

Travis olhou para ela com os olhos semicerrados, mas logo abriu um sorriso. Katie não estava mentindo, ela estava realmente normal. Ele provavelmente deveria ficar magoado por ela não sentir nada por ele, mas tudo o que menos iria querer naquele momento era que sua ajudante/cupido fosse apaixonada por ele.

─ Ok, por enquanto, eu acredito em você, Katherine ─ admitiu ele, fazendo uma espécie de reverência.

Eles pegaram seus cafés para a viagem e foram rumo a casa de Travis, onde planejariam o próximo passo, para ser posto em prática naquela noite ainda.