Bem, o dia passou rápido e sem muito proveito, pois não descobri nada sobre aquele lobo maligno. As pessoas pareciam nunca ter visto ou ouvido falar numa criatura como aquela que me atacou.

Icelos falou que uma nova tempestade estava se aproximando da cidade para que eu não saísse novamente tão tarde. Ele pareceu irônico. Olhei pela janela esperando que o tempo fechasse ou que algum raio caísse, mas nada de chuva.

Quando coloquei o pé pra fora da pousada achando que era meu dia de sorte, pra minha surpresa choveu. Realmente o morador estranho do quarto ao lado estava certo, só não sei como ele adivinhou já que não tínhamos televisão nos quartos. Então me lembrei do Sr. Heloisio (o noveleiro), tinha uma TV pequena na recepção. Mesmo assim me pareceu estranho a precisão de Icelos.

Minha única opção foi voltar para o quarto decepcionado. Pensei em como minha Emily fazia falta em viagens como aquela, ela sempre estava por perto e de alguma forma me ajudava a desvendar os mistérios. Tentei não ficar triste, mas era difícil suportar a solidão desde que ela se foi.

Comecei a reler minhas anotações pra ver se tinha deixado passar alguma coisa, então vi o cata-sonhos ainda dentro da minha pasta.

Durante algum tempo pensei se deveria acreditar nas historias sobre Tiara e sua filha. Decidi colocar o cata-sonhos na cabeceira da cama independente dos comentários. Afinal naquele momento precisava de qualquer tipo de proteção.

Queria pesquisar na internet algo sobre o presente que Tiara me deu (na verdade queria saber sobre os lobos selvagens), mas internet era um privilegio que eu não tinha desde quando sai do mundo real e fui parar em um lugar estagnado no tempo como aquele. Acabei me envolvendo num estudo tão profundo que adormece encima dos livros.

Nem imaginava o que me esperava no mundo dos sonhos. Acho que tive o melhor e o pior sonho da minha vida na mesma noite. Geralmente o melhor dos sonhos é que não são reais, pois em alguns deles você ate morre. Nesse eu não morri mais cheguei bem perto.

Mais uma vez estava sentado naquele banco velho do Caminho das Rosas, parecia primavera, pois as rosas estavam mais lindas que nunca e aquele cheiro inconfundível me trazia paz. Avistei entre as arvores a sombra de uma moça que corria pela floresta, por impulso ou curiosidade não sei, corri atrás dela o mais depressa que pude. Quando ela entrou na casa do lago parei assustado. Lembrei-me da jovem que disseram morar ali a muito tempo, então bati na porta ansioso por respostas.

Estava ali na minha frente à mulher mais linda que já tinha visto em toda minha vida. Seus olhos verdes pareciam refletir a luz do sol batendo nas árvores, seus cabelos ruivos pareciam o entardecer de um dia de verão. Usava um vestido com babados como as moças do século XVII, mas estava tão encantado que não me pareceu estranho.

Ela não me disse nada mais seu olhar solitário me convidava a entrar. Então ela me abraçou forte parecia feliz em me ver, senti como se estivesse flutuando, mas nesse momento a lareira acedeu. Quando me virei novamente para perguntar seu nome ela havia desaparecido, eu já não estava dentro da casa, algo me arrastava para a floresta. Ouvi um uivo; e lá estava ele, o lobo maldito outra vez, então ele falou:

“Eu disse que você não me escaparia novamente”.

Tudo que consegui fazer foi correr e correr. Finalmente cheguei ao Caminho das Rosas, achando que estava salvo, que o lobo não conseguiria passar, mas pra minha surpresa ele se transformou num homem alto como o rosto perfeito, mas uma expressão maligna no olhar. Ele me olhou e sorriu:

“Acha mesmo que o encanto dessas rosas ridículas vai te salvar”? - Aqui no meu mundo ninguém tem mais poder que eu. – Nunca ouvi uma gargalhada tão tenebrosa como aquela que quase me ensurdeceu.

Estava completamente sem saída, por mais que eu quisesse não conseguia acordar, aquele monstro parecia controlar ate meu próprio corpo.

No momento em que ele dizia umas palavras estranhas que eu não pude entender, (traduzindo: acho que para me matar mesmo) ouvir uma segunda voz que parecia me proteger. Não sei quem, nem como conseguiu, mas me fez acordar assustado e suando como nunca.

"Dei graças a Deus por ter sido um sonho(pesadelo)."