A Prisioneira escrita por L L Anjos


Capítulo 5
A chave, o cata-sonhos e o banco velho - Cap. 5


Notas iniciais do capítulo

Mágica?



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Acabei trocando o dia pela noite, já que esse lugar me deixa confuso e preocupado. Cada dia que passa, tenho mais vontade de ir embora e me aposentar, deixar de lado essas histórias de mistério e construir uma família, ter filhos quem sabe. Seria bom se fossem feitos com a jovem do meu sonho. Não sei se isso é possível, mas acho que me apaixonei por uma mulher imaginaria.

Ouvi dizer que os sonhos são as imagens, emoções e ate desejos que temos ou capitamos no decorrer do dia, reproduzidos durante o sono. Não sei se é verdade, mas devo ter assistido a algum filme de terror para ver um bicho tão estranho como aquele.

A manhã estava ensolarada, o que me assustou já que estávamos nos primeiros dias do inverno, deve ter sido por causa da tempestade de ontem. Procurei pelo vizinho de quarto ao lado, Icelos, imaginei que ele teria outra previsão do tempo pra mim.

Bati na porta do quarto, mas vi que estava aberta, não pude resistir ou enorme desejo de conhecer e desvendar o mistério que rodeava, meu estranho vizinho. A primeira coisa que avistei por todo quarto foram, quadros fascinantes. Moças lindas pareciam saltar das pinturas e seus olhos penetrantes, pareciam ter um incrível poder de persuasão.

Por um instante parei para pensar onde já tinha visto quadros como aqueles, mas nada me veio no momento.

De repente algo muito estranho aconteceu. Pela janela do quarto pude ver um vulto azul, o que me deixou ainda mais assustado. Estava no primeiro andar, para alguém chegar àquela altura teria que voar o que era impossível.

Logo esqueci o que tinha visto, pois o chão do quarto estava repleto de cata-sonhos partidos com suas penas arrancadas, mas pude perceber que os arcos estavam intactos. Um barulho me fez olhar para a porta, quando voltei a olhar para o quarto, tudo havia sumido. Minha surpresa foi tão grande que tropecei num baú velho e cair no corredor.

Embora eu ainda não soubesse, aquela queda me trouxe sorte. Icelos chegou e me encontrou sentado no chão, felizmente a porta do quarto fechou-se com o vento. Poucos segundos antes que ele chegasse, avistei uma tabua solta no piso. Dentro do buraco havia uma chave, que parecia estar ali há séculos, mesmo assim seu brilho era encantador. Tive que esconder o mais rápido que pude no bolso, esperando que Icelos não percebesse.

–Jonathan. O que esta fazendo ai, perdeu alguma coisa?- Ele indagou com um ar de deboche.

Ainda estava colocando a tabua no lugar quando respondi: - Olá Sr. Icelos. Estava tentando encontrar meu lápis quando escorreguei.

– Vou pedir a Sra. Anastácia para verificar. - Ele me olhou como se soubesse a verdade, então estendeu a mão para que eu levantasse.

Desci para o café, imaginando o que aquela chave abriria, estava determinado a descobrir. Para minha surpresa o filho lenhador que Sra. Anastácia sempre fazia questão de contar seus feitos, estava sentado à mesa, acho que por isso estava tão farta.

– Bom dia Jonathan! Esse é meu filho Robert, que lhe falei. Venha sente-se conosco, fiz um bolo que você vai adorar. – Os olhos dela brilhavam de alegria e orgulho.

E lá estava sentado um homem de aparência rustica e grosseira, que parecia estar mais feliz sozinho rodeado de madeira, do que com pessoas da cidade.

– Bom dia! – comprimente me sentando.

– Bom dia! – ele respondeu com a boca cheia de torta.

Como a mãe dele já tinha nos apresentado não perdi tempo e comecei logo o interrogatório.

– Tem visto algum animal estranho na floresta ultimamente? - Desejei que ele tivesse encontrado e matado aquele lobo.

– Não Escritor! E se tivesse visto ele estaria morto. –Enfiou a faca na mesa e continuou. – Minha mãe andou te enchendo com historias para criança?

Sra. Anastácia nos olhou e disse:

– Não seja malcriado menino! – Ela o tratava como uma criança de dez anos. - Seja gentil com nosso hospede. – Disse depois de puxar a faca da mesa. – Você podia leva-lo para conhecer o resto da cidade.

Por um instante imaginei o que poderia encontrar nessa parte da cidade que não visitei.

– Vamos logo escritor, não tenho todo tempo do mundo. – Ele falou me acordando de um breve cochilo. Eu já mencionei que esse lugar me dá sono?

Quando saímos da POUSADA, ele me parou e fez um comunicado.

– Antes de qualquer coisa vou visitar Tiara. – Por incrível que pareça seu olhar ganhou brilho. – Minha futura esposa. – E então sorriu.

– Fico feliz por você, Tiara é uma ótima moça. – Tentei ser educado.

– Ela só precisa saber. – Ele falou indo em direção ao roseiral.

Comecei a caminhar imaginando qual seria a reação de Tiara, quando descobrisse que Robert, um lenhador estava apaixonado por ela. Não sei se daria certo, já que os índios costumam proteger a floresta, em quanto os lenhadores a destrói, mas o amor é cego, e no caso de Robert, tem quase dois metros de altura.

Passei pelo roseiral e o banco velho não estava lá, aquele cheiro incrível que senti das outras vezes também não era o mesmo. Robert percebeu minha procura pelo banco e disse:

– Ele não esta ai Escritor, construí aquele banco velho quando tinha uns treze anos. Eu o chamo de Primo, mas ate hoje não faço ideia de como encontra-lo, ha não ser chamando por ele!

– O que você fala pra que ele apareça. – Fiquei curioso, afinal se ele estivesse dizendo a verdade, estávamos falando de um banco magico.

Então ele disse que suas palavras teriam que ser repetidas de olhos fechados no mesmo lugar onde o banco havia sido criado:

“Primo, tu que és primeiro, Venha e realize um desejo, Pare de ser teimoso e me traga um sono gostoso, mas dessa vez não seja travesso, pois, quero sonhos e não pesadelos”

– Serio? – Perguntei segurando o riso.

Ele fez uma cara feia e disse:

– O que você esperava? Eu só tinha treze anos.

– E como seria possível um banco velho ter poderes mágicos? – Falei me afastando dele. Imaginei com que tipo de louco estava conversando.

– Lembra-se da arvore que fica no centro da praça principal?! A madeira que usei para o banco veio dela. Eu tinha uns dez anos quando tentaram corta-la, alguns diziam que era uma arvore enfeitiçada, mas nunca acreditei nisso. Depois de vários dias tentando, conseguiram cortar um galho. Então do nada surgiu uma tempestade. – Ele se calou parecendo ter ouvido um barulho, vindo da floresta. – Ouviu isso, Escritor?

Mas eu estava tão empolgado com sua historia que não prestei atenção no barulho.

– Vamos deixar essa historia pra outra hora. – Ele estufou o peito, consertou as calças e voltou a andar. – Já perdi tempo demais com você!

Admito que por um instante acreditei em toda aquela conversa de arvore enfeitiçada, mas tinha outras prioridades no momento, como por exemplo a chave escondida no meu bolço.

Quando chegamos Julia estava na janela, como se soubesse que veríamos. Então ela sorriu pra mim e gritou:

– Mamãe, mamãe ele voltou. Eu disse que não estava morto!

Robert lançou um olhar furioso. E a única coisa que consegui pensar foi ”Agora sou um homem morto”.


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