Pov. Ally

Isso era com certeza mais frio do que Miami.

Não era dezembro,não estava nevando e eu já tinha passado por temperaturas piores. Mesmo assim, Nova York parecia incrivelmente mais fria do que Miami.

E essas foram as coisas quais eu gostaria de pensar assim que saísse do avião. E por um lado,até foram. Obviamente tive que colocar pelo menos um casaquinho meia estação enquanto ainda estava no aeroporto. Eu odiava embarcar num avião,e odiava mais ainda o desembarque.

Tudo demorado demais,pra mim.

Mas é claro que passava pela minha cabeça toda essa coisa de ir para uma faculdade e tal,bom,não vou começar a estudar lá necessariamente,é apenas um preparo. Algumas semanas para mim ter certeza de que era mesmo o que eu queria - embora eu já soubesse - ,essa não era a única questão a ser resolvida.

Se você for olhar em um mapa,veria que Miami e Nova York,não assim tão distantes. Claro que na prática,são realmente muitos quilômetros. Mas me contento pensando que talvez, - apenas talvez - , poderia ser bem pior.
Mesmo assim, nesse momento, Miami e Nova York pareciam ter uma distância infinita para o meu coração.

Algumas pessoas podem gostar de chegar de viagem e simplesmente ir dormir. Descansar, afinal o voo nos deixa cansativos. Mas eu não.

A primeira coisa quando cheguei na casa dos meus tios em Nova York, foi querer dar uma volta pela cidade. É claro que eu os cumprimentei,deixei minhas coisas no antigo quarto que costumava ser meu ,falei poucas palavras com meus primos e até mesmo tive uma conversa de aproximadamente 20 minutos (sei disso porque contei) com a tia Mary.

Mas eu queria rever a cidade, caminhar um pouco,tentar organizar meus pensamentos e relaxar a ansiedade de saber que amanhã mesmo, já começo meu "Preparo Especial" ou simplesmente um curso lá.

Fiz isso quando cheguei em Miami, caminhei pela praia tentando afastar pensamentos ruins. Me lembro perfeitamente desse dia,foi quando conheci Austin Moon. E mesmo me parecendo uma péssima ideia voltar para aquela cidade na época, eu ganhei muitas coisas com isso. E agora percebo que foi a melhor coisa que eu poderia ter feito. Mesmo que não tenha sido exatamente minha escolha. Eu fui mais obrigada a ir.

– Ah, eu nunca vou entender essa necessidade de ter que caminhar de manhã - Jason reclamou ao meu lado.

Minha mãe tinha ficado em Miami. Com seu novo trabalho, e seu namorado. Mas ela fez meu irmão me acompanhar. E mesmo depois de eu ter reclamado tanto,ela não havia mudado de ideia.

" - Mãe, isso é algum castigo ? - Perguntei enquanto praticamente me arrastava no chão ao seu lado. - Você quer me ver sofrer ? Ou será que não mereço nem um pouquinho da sua piedade ?

Ela enfim,se virou pra mim com os olhos estreitados.

– Não entendo por que todo esse fiasco, Ally. Só quero que tenha alguém maior de idade com você.

– E quantos anos você acha que a Tia Mary tem ? - Perguntei enquanto erguia meus braços.

– Mas sua guarda não está mais com ela,digo,legalmente falando. E é claro que, se você realmente for fazer faculdade lá, não poderia ficar morando com eles pra sempre. Você sabe disso.

– Mas eu morei com eles três anos ...

– Ally - ela me interrompeu - Isso foi quando ela estava com a sua guarda, e mesmo faltando alguns meses para seu aniversário de 18 anos, eu ainda sou a responsável por você,legalmente,e passei anos sem essa responsabilidade de mãe,e também me senti muito culpada. - Fechei a boca e cruzei os braços. Por um lado,eu entendia perfeitamente o que Penny queria dizer, mas meu lado criança insistia em fazer birra. - E por isso Jason vai com você. Porque não quero que sua tia seja mais responsável por você. Não acha que ela já fez muito ?

Assenti,devagar.

– E eu só vou estar lá caso você arranje um problema com a polícia - Jason se pronunciou pela primeira vez,deitado no sofá com a metade da cabeça virada para nós e parecia realmente não se importar de ter que ir junto.

– E também para cuidar de você. - Mamãe completou.

– Cuidar de mim ? - Perguntei tentando não rir - Do jeito que as coisas são, o certo seria eu cuidar dele. - Jason me mostrou a língua. - Viu ? Eu sou muito mais responsável e madura do que ele.

– De um jeito ou de outro,ele vai junto. Assunto encerrado.

Jason sorriu,triunfante. E me perguntei o por que ele parecia tão animado para ir. Dessa vez,eu acabei mostrando a língua pra ele."

– E eu não sei por que você está aqui - falei - Poderia ter ficado na casa,dormindo.

– Na verdade, tinha que fazer umas coisas por aqui mesmo. Mas seria só na hora do almoço,então, estou te acompanhando,como a mamãe pediu.

– Umas coisas ? - Perguntei. - Que tipo de coisas ? E aliás, por que você estava tão interessado em vir pra Nova York ?

– Sabe,as vezes você pergunta demais.

Me sentei em um banco, no que parecia ser uma praça,enquanto o observava ainda de pé. Passei os olhos rapidamente pelo lugar e percebi logo que era o Central Park. Também me surpreendi por parecer exatamente igual como sempre foi,embora a essa hora,estivesse quase vazio. Poucas pessoas passeando com seus cachorros.

– Você está aprontando alguma - o acusei - Está escrito na sua testa. O que você fez ?

Ele me olhou,praticamente ofendido.

– Por que você sempre tem que pensar essas coisas de mim, maninha ?

– Não me chame de maninha. E rídiculo. E pare de tentar esconder sei lá o que,só fala.

Jason se sentou no banco,ao meu lado, as mãos nos bolsos dos seus jeans e olhava com um sorriso torto para o chão.

– Bom,hã ... Jullie está na cidade para dar uma olhada em umas faculdades também ...

– Rá ! - Exclamei. - Eu sabia que tinha alguma coisa. E sério ? Ela está em Nova York ? Pensei que estivesse viajando pela Europa,pelo menos foi o que ela disse. Já faz mais de duas semanas que ela não vai na aula.

– Sim, eu sei. Mas sem querer, Penny acabou dizendo que ela estava vindo para Nova York ... E bem,ela queria conhecer a Columbia. Pretendia fazer faculdade lá.

– E ?

– E o que ?

– Vejo na sua cara,que tem mais alguma coisa.

– É que eu sou um idiota e sempre estrago tudo. E agora,eu estou tentando consertar,por isso vim pra cá,preciso falar com ela. - Ele suspirou.

– É,eu sei que você é um idiota. - Falei,mas nem mesmo uma cara feia,ele fez. - Olha, não sei o que você fez pra ela,mas se foi tão grave assim que você teve que pegar um avião e tentar encontra-lá em Nova York ... Espero que dê tudo certo.

– É,eu consegui falar com ela ontem. Eu até a convenci de se encontrar comigo num restaurante aqui perto. - Ele murmurou,enquanto ainda fitava o chão.

– Espero que dê tudo certo - repeti.

( ... )

No dia seguinte, quanto mais me aproximava do terreno que pertencia á Universidade Julliard, ficava mais nervosa. Como em qualquer primeiro dia,eu acho. Todo aquele curso de preparação decidiria se eu ficaria mesmo naquela universidade. E por mais que ainda parecesse um pouco distante pra mim, logo eu estaria mesmo frequentando uma faculdade, não como um preparo,mas sim, de verdade, no meu primeiro ano, e que - provavelmente - faria todo o meu futuro.

Isso me fez roer as unhas antes de dormir.

Ontem de noite, liguei para Penny e falei sobre a viagem,e de como me senti estranhamente bem voltando pra cá,por mais que já se sentisse falta do calor aterrorizante de Miami. Depois, também liguei para Austin. Seu celular estava desligado e ninguém atendia no telefone de casa. Acabei não deixando uma mensagem na caixa postal.

( ... )

– E então, como foi ? - Tia Mary me perguntou assim que entrei pela porta da enorme casa.

– Hã,foi bom. Eu acho. - Falei.

As aulas do curso de preparação tinham sido engraçadas. Digo, a maneira como os professores trabalhavam, era divertida. E em certas coisas, me deixaram fascinada. Tudo bem,não vou mentir : Foi tudo absolutamente incrível e eu não esperava a hora de realmente começar a estudar lá de verdade.

– Você não parece animada - ela comentou enquanto me segurava pelos ombros e me levava até o sofá.

Estranhei o fato da casa parecia quase vazia.

– Cade todo mundo ? - Perguntei.

– Jake e Sarah estão na escola. Charlie e seu tio estão trabalhando. Melanie está lá em cima. E os gêmeos estão no pré-escolar. Ah, e eu não faço a menor ideia da onde seu irmão se meteu.

Ri da expressão de "quase-desespero" que estava no rosto dela.

– Não ria. - Ela falou. - Isso é preocupante,eu nem sei se ele conhece direito a cidade ...

– Tia Mary - a interrompi - Tenho certeza que está tudo bem. Ele deve estar com a Jullie. Ela franziu a testa,confusa.

Tentei resumir em poucas palavras sobre o relacionamento meio complicado do meu irmão com a filha do namorado da minha mãe. E que também era minha colega na escola.

– Jason ? Namorando ? - Melanie perguntou enquanto descia as escadas. Parecia estar parada ali no topo a um longo tempo, mas eu ainda não tinha me dado conta da sua presença.

Ela passou as mãos no cabelo loiro e perfeito, como se tivesse que arrumá-lo.

– É meio complicado - respondi.

– Entendo. - Ela falou enquanto se sentava ao meu lado no sofá. - E você ? Como anda seu namoro ?

Ela deu um sorriso malicioso enquanto começava a brincar com os poucos cachos das pontas do meu cabelo.

– Ótimo. - Respondi tentando dar um fim naquele assunto. Se parece idiota, eu não sei, mas eu sempre acabo ficando constrangida.

– Você parece tensa - ela comentou. - Talvez precise de uma ida ao shopping,precisa relaxar um pouco,prima.

E essa é a Melanie. Sua ideia para descansar e relaxar é andar por horas dentro de um shopping comprando roupas e sapatos que sabe que não precisa. E com certeza esse também é seu hobbie preferido.

Mesmo que essa não seja a minha ideia de diversão,aceitei de qualquer jeito. E parecia que em menos de 30 minutos já estávamos no shopping. Ou "paraíso" - como a Melanie chama.

O primeiro lugar em que fomos,foi uma loja de calçados. Tia Mary emprestou seu carro para nós, Melanie dirigio, já que tinha acabado de ganhar sua carteira de abilitação. Minha prima veio quase todo o caminho reclamando que não tinha mais o que calçar. Sendo que na vinda pra cá, eu tive que ajudá-la a escolher um par de sandálias do seu enorme closet.

– O que você acha desse ? - Ela perguntou enquanto segurava um dos pares de uma sapatilha branca e baixa. Sem nenhum salto.

– Pensei que gostasse de calçados mais altos. - Falei.

– Não são pra mim, esses são pra você. Pense como um presente de boas-vindas! - Ela exclamou enquanto exibia seu largo sorriso com seus dentes brancos e batia palminhas mesmo com uma das sapatilhas nas mãos.

– Não precisa comprar nada pra mim, Melanie.

– Eu sinceramente acho que se eu não escolher,você não vai levar nada. - Pensei,por um instante, e ela tinha mesmo toda a razão. - E acho que você merece um presente.

Sorri para ela e agradeci. Ela me perguntou se gostei mesmo daquela sapatilha ou se queria ver outra coisa,mas eu a garanti que tinha adorado.

Depois disso,fomos em uma loja de roupas aonde eu comprei uma nova jeans e uma blusa de outono. Melanie,como sempre,havia exagerado nas compras. E quando fomos comer um lanche no McDonald's , quase não tinha espaço nas cadeiras para por as sacolas.

– Você está bem ? - Ela me perguntou enquanto terminávamos de comer nosso lanche.

Talvez eu tivesse ficado um pouco pálida demais ao ver quantas ligações perdidas tinham no meu celular. Todas do Austin.

Assenti para ela e tentei retornar as ligações. Meu celular acabou ficando fora de área e teria que esperar até chegar em casa para ligar pra ele.

– Precisamos ir pra casa - anunciei.

( ... )

Assim que chegamos,tentei ligar pra ele mais dessa vez, ele não atendia. Nossa,ótima comunicação. Mesmo assim,acabei ficando preocupada.

Jantei o mais depressa possível, e assim que acabei, liguei para ele de novo. E dessa vez, caiu na caixa postal.

Me sentei no sofá, ao lado de Jason enquanto passava algum episódio de uma série desconhecida por mim na televisão. Estava totalmente frustrada e com o celular na mão. Ansiava por uma simples ligação. E era como se eu precisasse urgente ouvir a voz dele.

Depois de alguns minutos,subi para meu quarto e tentei ligar mais uma vez.

– Ally ?– Sua voz soou do outro lado e eu suspirei de alívio.

– Austin - murmurei - Finalmente.

– É tão bom ouvir sua voz ... Você está bem ?

Ele parecia cansado. Sua voz estava um pouco rouca e tinha um tom de preocupação.

– Sim, eu estou bem. E você ? Tentei te ligar ontem e hoje ... O que aconteceu ?

– Hã, minha mãe inventou um passeio pra nós, ela parecia meio triste,então não me neguei de passar um tempo com ela. Só de noite percebi que tinha acabado a bateria do meu celular. - Ele deu uma curta pausa.– Também te liguei hoje mais cedo.

– Acho que o Universo não está colaborando com a gente - sorri,sem humor algum.

Ficamos horas no telefone conversando. Austin me perguntou sobre meu primeiro dia no preparo em Julliard,e é claro que contei tudo nos pequenos detalhes. Falei sobre como as aulas eram encantadoras e de como a faculdade era bonita por dentro. Eu estava realmente muito contente de estar ali.

E depois de algumas horas, já estava muito tarde, Austin tinha aula amanhã e eu também. Então depois de alguns minutos,desligamos o telefone.

Me aconcheguei em cima da cama com um edredom por cima. Vesti uma camiseta que Austin tinha me dado antes de eu voltar para Nova York. Era de alguma banda que ele gostava,e em algumas vezes,o vi usando. Ainda tinha um pouco do cheiro dele. E eu também tinha trazido a jaqueta que ele havia me emprestado meses atrás. Acho que já era oficialmente minha. A coloquei do meu lado na cama,e mesmo que não tivesse mais o seu cheiro,me trazia algum conforto. Fechei meus olhos,com força,esperando que o sono chegasse rápido.