Maré De Sentimentos escrita por R_Che


Capítulo 5
Casa de campo


Notas iniciais do capítulo

E chegamos ao capitulo 5!Este é maiorzinho.Aqui já se começa a notar o desenvolvimento. No entanto, quero muito que compreendam a minha Rachel. Porque no fundo ela é um coração mole. :)



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R: Maria, as minhas malas já estão no carro?

M: Sim minha senhora, está tudo pronto.

R: Bom, não te esqueças que só volto na terça. Fico o fim de semana e a segunda feira na casa de campo.

M: Com certeza minha senhora.

R: A Quinn?

M: A Dra. Quinn já foi.

R: Foi onde?

M: Ela disse que ia de fim de semana também, mas não me disse onde.

R: Típico. Não importa. Então pronto. Até terça.

M: Adeus minha senhora, bom fim de semana.

R: De trabalho! Mas enfim. Obrigada.

Rachel saiu rumo à casa de campo da familia. A morena ia muitas vezes pasar fins de semana quando precisava de começar algum projecto novo desde o inicio. Aquele lugar desbloqueava-lhe todos os bloqueios artísticos que de vez enquando ela tinha. Conduziu durante 4 horas para chegar ao local, e quando chegou e abriu a porta, deparou-se com uma surpresa, nada agradável.

R: O que é que tu estás aqui a fazer?

Q: Ah, Rachel, olá! Chegaste tarde, achei que vinhas mais cedo.

R: Quinn? Podes me explicar o que estás a fazer aqui?

Q: Vim de fim de semana.

R: E por alma de quem é que vieste para aqui?

Q: Digamos que me apeteceu.

R: Quinn? Eu não acredito. Tu sabias que eu vinha para aqui, porque é que vieste?

Q: Isso já é uma pergunta retórica, certo? Porque das vezes que já perguntaste e das vezes que eu já te respondi, não faz sentido estares a perguntar de novo.

R: Vais mesmo ficar aqui?

Q: Vou, e tu também. Acho que precisamos de momentos de calma as duas, e precisamos de conversar acerca do novo nome que vamos dar à empresa. Sozinhas de preferência.

R: Desculpa?

Q: Sim, para ver se baixa a poeira e se chegamos a alguma conclusão.

R: Eu vim para aquí para trabalhar, e preciso de concentração.

Q: Eu não tenho intenção de te desconcentrar. Aliás, no que depender de mim até te ajudo a concentrar-se te quiseres.

R: Eu não te vou pedir para explicar, porque na realidade não me interessa. Vou-me embora.

Q: Vais embora para onde?

R: Não me parece que tenhas alguma coisa a ver com isso.

Q: Rachel, não sejas assim, podemos bem, estar aqui as duas.

R: Qual foi a parte que não percebeste de que eu vim para aqui para estar sossegada e para desenhar, não vim para aqui para passar o fim de semana a discutir e a ouvir parvoíces.

Q: Podemos fazer umas tréguas de fim de semana, eu não te provoco e tu não me respondes.

R: Eu não faço nada contigo, nem tréguas nem acordos. Vou-me embora.

Q: Deixa estar. Sendo assim vou eu.

R: Perdi a vontade de estar aquí.

Q: Ou podemos ficar as duas.

R: Estás-te a tornar um bocadinho repetitiva, sabias?

Q: Vamos tentar. Se até amanhã eu não conseguir cumprir a minha parte, eu saio. Se tu não conseguires, sais tu. Parece-te bem?

R: Tu não percebes que eu não quero passar o fim de semana contigo?!

Q: Não sabes como é o fim de semana comigo, nunca experimentaste. Acredita que eu posso te surpreender.

R: Acabaste de perder a aposta.

Q: Ou perdeste tu, porque eu não estava a provocar-te, estava a falar muito a serio.

R: Pronto! Resolvido! Perdi. Vou-me embora!

Q: Eu perdoo-te. Foi a primeira e tu percebeste-me mal.

R: Quinn, desculpa lá, mas qual é o interesse em que eu fique aqui contigo?

Q: Sinceramente?

R: Por favor.

Q: Acho que é uma boa oportunidade para termos conversas de jeito. E volto a repetir que temos de escolher o nome da empresa.

R: Isso podemos fazer em Nova York. Isto não me parece boa ideia.

Q: É como te digo, se não for boa ideia, a qualquer hora podemos ir embora.

R: Tenho uma condição. – disse a morena já cansada de discutir.- E como não a cumpras, eu saio porta fora.

Q: Diz.

R: Quando eu quiser desenhar, deixas-me desenhar em paz, silêncio e tranquilidade.

Q: Aceito e também tenho uma.

R: Tinha de ser.

Q: Estás proibida de passar mais de 5 horas seguidas a desenhar. –Rachel revirou os olhos mas não respondeu.- Ah, e mais uma…

R: Era o que faltava!

Q: Não, acho que esta, tu vais até concordar comigo.

R: Se não concordar, não é posta em prática.

Q: São proibidos telamóveis, internet ou qualquer outro meio de comunicação com o exterior.

R: Isso já era para mim. Deixei-os lá.

Q: Pronto. Está feito!- Quinn sorriu e Rachel esboçou um sorriso leve.

Não havia qualquer razão para não tentar manter uma relação agradável com Quinn durante aqueles dias, nem havia nada que a proibisse de ir embora quando quisesse. Ia tentar.

Quinn, por seu lado, estava nervosa com a situação, estava tão habituada a implicar com Rachel que o pavor de não conseguir manter a postura prometida se apoderou dela. Estava frio, e a casa de campo como não era habitada durante o ano, tinha um ambiente que congelava.

R: Há mantas no quarto de hóspedes. – disse Rachel ao aperceber-se do arrepio de frio de Quinn.

Q: Tens frio?

R: Ainda não, mas está a arrefecer, daqui a nada não me admira que tenha.

Q: Isso é porque estamos paradas.

R: E o que é que querias estar a fazer? Eu vim para aqui para descansar.

Q: Não sei. Podíamos fazer qualquer coisa. Isto assim é uma seca.

R: Tens bom remédio.

Q: Já sei, posso sempre ir-me embora.

R: Exacto.

Q: Vai chover. Vi nas noticias.

R: Dentro do carro não te molhas.

Q: Eu prefiro ficar. – Foi inevitável o sorriso de superioridade.

R: Então faz o favor de não passares o tempo a queixar-te.

Q: Podíamos fazer um jogo.

R: Um jogo? Contigo?

Q: Sim, vês aqui mais alguém? Fazemos perguntas uma à outra, e temos de responder sinceramente a todas. Quando mentirmos, a outra escolhe uma música, dos cds que temos cá, e faz a outra dançar.

R: E como é que descobres se eu estou a mentir? – Rachel perguntou com autoridade.

Q: Pois, é bem pensado. Não sei, então em vez de mentirmos, se não quisermos responder escolhemos dançar a música.

R: Eu não vou fazer figuras tristes. Pareces uma criancinha com essas ideias.

Q: E tu uma velha chata.

R: Bem… começamos?

Q: Aceita lá! Vai ser divertido.

R: E depois calas-te de uma vez?

Q: Prometo!

R: Enfim. Ok.

Q: Boa! Quem começa? – disse Quinn com ar muito apressado e muito entusiasmado.

R: Não te entusiasmes, e nada de conversas porcas.

Q: Começas tu.

R: Porquê eu? Começas tu.

Q: Ok! Então cá vai: “Quem levarias para uma ilha paradisíaca?”

R: Ui, deixa-me pensar. O Brad Pitt em versão Troia.

Q: Fútil.

R: Pedi-te opinião? Quem levavas tu?

Q: Levava-te a ti! Achas que perdia uma oportunidade de tornar a ilha ainda mais paradisíaca?! – o tom de voz dela era sarcástico, mas no fundo, tudo o que ela tentava dizer, era aquilo que realmente sentia mas de uma maneira…camuflada.

R: Ainda que não o seja, vou levá-lo como elogio, só para não dizeres que eu implico.

Q: Vá, pregunta.

R: Já perguntei, fiz-te a mesma.

Q: Que original. Então sou eu, não é?

R: Sim.

Q: Ok, então: “se pudesses mandar alguém à merda, quem mandarias?” Ah, eu não estou incluída nas hipóteses.

R: Uma pena, porque seria uma resposta muito óbvia.

Q: Já sei.

R: O teu pai. Sim, porque isso é um mal de família.

Q: Compreensível, eu às vezes também tenho vontade de o fazer.

R: Estás de acordo comigo?! – esboçou um sorriso cínico e fez ar de surpreendida.

Q: És tu a perguntar.

R: Muito bem: “Alguma vez sonhaste ter outra profissão? Ou seja, se alguma vez quiseste ser outra coisa além de empresária?”

Q: Sempre quis ser bombeira.

As duas soltaram uma sonora gargalhada.

Q: Ok, acho que não. Acho que sempre quis ser empresária. Na realidade nunca pude sonhar muito, então nunca sonhei. O meu pai sempre me educou com a ideia de eu seguir os passos dele.

R: Mas nunca gostaste de nada mais?

Q: Talvez alguma coisa no ramo das ciências. Eu quando era miúda achava muita graça aos médicos, os meus amigos entravam em pânico quando iam ao hospital, mas eu adorava ir só para ver os médicos. Não sei.

R: Vai na volta a tua vocação é ser médica.

Q: Porquê? Sou assim tão má empresária?

R: Ok, eu reformulo, vai na volta o teu sonho era ser médica.

Q: Eu gosto do meu trabalho.

R: E gostas de não ter metas?

Quinn sorriu, ela estava a conseguir manter uma conversa razoável com Rachel, e por muito que não fosse a vez dela de perguntar, ela queria deixar a conversa fluir somente para ter o prazer de olhar para ela sem ter de dar uma justificação.

Q: Eu tenho metas. O que queres dizer com isso? Não entendi.

R: Tens o trabalho todo feito. Ou seja, tiraste o curso e tinhas uma empresa montada e destinada a ti, não tiveste de a criar. Percebes?

Q: Tinha a vida planeada, não é?

R: Exacto.

Q: Isso deixa-te frustrada e foi por isso que quiseste mudar tudo?

R: Isto estava a correr muito bem.

Q: Não, não. Eu pergunto se esta ideia do projecto é porque te sentes frustrada por não teres sido tu a construir de inicio. Não o disse com mais nenhuma intenção.

R: Ah. Pois se queres que seja sincera, deixa um bocadinho.

Q: Pois. Eu percebo. Eu penso nisso muitas vezes. Aliás, eu pensava muito nisso no inicio, agora já me tinha habituado.

R: Tens a sensação de estar a ser pobre e mal agradecida por o que a vida te deu?

Q: Não penses nisso assim. E agora tu vais renovar e melhorar o que está feito.

R: O ser humano nunca está satisfeito, essa é a grande verdade.

Quinn voltou a sorrir. Ela tinha uma beleza inigualável, era linda e muito bem tratada. Não havia nada que Quinn pudesse fazer quanto a esse facto, e ter de viver com isso era um tormento.

Q: É verdade.

R: É a tua vez.

Q: Pois é, deixa-me pensar…“qual é o teu maior sonho?”

R: Ser feliz.

Q: Isso não vale, isso todos queremos.

R: Ser feliz com a minha arte.

Q: Oh. Ok.

R: O que queres que te diga?

Q: Não tens um sonho?

R: Sonhos tenho muitos, o maior é ser feliz.

Q: Não és feliz?

R: A felicidade é relativa. E eu gostava que não fosse.

Q: Hum, ok. És tu.

R: “Qual é o teu?”

Q: O maior sonho?

R: Sim.

Q: Pois, o feitiço virou-se contra o feiticeiro.

R: És feliz?

Q: Sou quase. Sou em quase tudo.

R: Mas a pergunta era outra…

Q: Eu escolho a música.

R: Hã?

Q: Prefiro dançar a música a responder-te a isso.

R: Ah, ok. Mas não precisas de dançar. Se não queres responder, não respondes.

Q: Mas quero dançar!

Rachel soltou uma gargalhada.

R: Tu danças?

Q: Porquê? Tenho ar de quem não sabe dançar?

R: Para ser sincera, sim.

Q: Ah está bem. Muito bem, tens dezenas à escolha. Escolhe uma.

R: Ok! – e riu-se.

Havia uma pratelaira de cds na sala ao lado da aparelhagem, eram a maior parte de música clássica, mas bem procuradas, encontravam-se algumas raridades exclusivas ou cds com outro estilo de música que não fosse ópera ou jazz.

R: Este!

Q: O que é isso?

R: Michael Jackson! Não, por favor Quinn, se me dizes que não gostas eu vou-me embora.

Q: Tu tens gostos estranhos, eu a pensar que ia cantar e dançar, agora só vou dançar.

R: Gostos estranhos?

Q: Só danço se for o Thriller.

Rachel pôs a música a tocar, Quinn conseguiu surpreendê-la com a coreografia. Tinha alguns passos lendários, mas outros eram pura invenção. Ela não se ria daquela maneira há muito tempo, e quando Quinn viu que estava a divertir Rachel, não deixou passar ao lado a oportunidade de a puxar para dançar com ela. Ao inicio Rachel não estava convencida, mas depois cedeu.

O facto de Quinn ter escolhido dançar em vez de responder à pergunta de Rachel não tinha ficado esclarecido, mas Rachel rapidamente se esqueceu do assunto assumindo que era só porque ela queria palhaçada. Quinn por seu lado, escolheu dançar para não lhe mentir. Afinal, o seu maior sonho era ter Rachel de verdade, de corpo e alma.


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Notas finais do capítulo

Comentários?Tenho gostado de ver as teorias. DaniGarcez, obrigadaaaaa por voltares a ler-me! :) Tinha ponderado essa hipotese que puseste no teu último comentário, mas depois decidi-me por outra via. Espero que gostem!



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