Capítulo 23 - Quantas músicas isso vai durar ?

Continuei andando, mas ele logo me parou, me fez encarar os olhos dele, como se soubesse que eu iria ceder. Fiquei o encarando e fui o mais forte que pude mas tudo o que eu conseguia pensar ao olhar para ele era que ele não confiava em mim.

– Se eu chegar atrasada e perder alguma coisa, vou mandar a minha tarefa complementar pra você. – falei, e só o que ele fez foi continuar a sorrir. – Qual a graça ?

– Ver você nervosa é a graça. – ele falou ainda em meio a risadas.

– Como você consegue ser tão idiota ?

– Do mesmo jeito que você. –ele falou enquanto se aproximava cada vez mais, querendo quebrar o espaço entre nós, querendo acabar com o pouco ar que ainda me restava. Ele estava invadindo meu espaço.

– Será que eu posso respirar ? – perguntei, já quase sem fôlego.

– Fique á vontade. – ele falou, mas deu mais um passo em minha direção.

– Se quer mesmo conversar, vamos para a praça ou pro refeitório. – argumentei e ele simplesmente concordou.

– Não podemos ir ao seu quarto ? Ou aquele seu companheiro de quarto ainda está por lá ?

– Não, ele não está, só não sei se quero você lá. Vamos até os jardins. – o respondi, o mais grossa que consegui ser naquele momento e fui andando até os jardins e ele foi logo atrás.

Assim que chegamos perto da praça, que estava vazia por motivos óbvios, ele foi indo até uma das mesinhas que tinha ali e se sentou, me sentei na sua frente e continuei a comer meu bolinho e tomar meu café.

– Senhorita, não deveria estar em sala ? – perguntou uma monitora, loira, com cara de pedófila.

– Na verdade, eu deveria sim. – falei, ia continuar mas Tyler me interrompeu

– O diretor me deu permissão para vir falar com ela, a senhora sabe, assuntos de família. – ele disse e ela assentiu sorrindo largamente. E logo foi embora.

– Por que é que você não me disse isso antes ?

– Porque você não perguntou. – simplesmente revirei os olhos e continuei comendo meu bolinho enquanto esperava ele começar a falar. – Queria tentar resolver as coisas, viria antes, mas o Andy disse para te dar um tempo sozinha, pra pensar.

– Fez bem.

– Quero me desculpar, de novo, não devia e nem podia ter agido daquele jeito com você, eu não tinha esse direito, nunca tive.

– Você devia ter confiado em mim.

– Devia. Desconfiar de você foi meu maior erro. Queria tanto poder voltar atrás e não fazer a burrada que eu fiz, mas veja pelo meu lado Hanna, se você me visse com outra garota o que você faria ?

– Tyler, eu já te vi com outra garota, já te peguei aos gemidos com minha melhor amiga, e o que foi que eu fiz ? Simplesmente chorei, porque perder você parecia ser pior do que qualquer coisa pra mim, mas então eu notei que não era, ter você era ótimo, mas não ter também, foi como se você tivesse sido parte de mim, uma parte arrancada, como se nunca tivesse sido realmente minha, você quis assim. Nem viagens no tempo me fariam mudar de ideia.

– Hanna, quer dizer que você já pensava em me deixar ?

– Claro que não. Eu amava você, pode-se dizer que ainda amo, não vou mentir, é só que chega um tempo que temos de escolher, entre o que é certo e o que é fácil. – falei e ele abaixou a cabeça, sabia que eu estava certa e estava reconhecendo seus erros. - Queria que fosse mais fácil, mas na tem como, queria que fossemos amigos, mas não dá pra ser, você me magoou e eu não sei quando vou conseguir conversar normalmente com você de novo, ou ao menos desculpar você por não ter confiado em mim, a pessoa que mais confiou em você.

– Sabe que tudo o que fiz com a Ashley foi apenas para ...

– Sim, eu sei, e entendi isso, tanto que te perdoei, hoje em dia eu penso que não deveria tê-lo feito. Por mais que suas razões tenham sido quais foram, eu não devia ter perdoado você. O que você fez não tinha que ter sido perdoado, mas eu não usei a razão e sim o coração, o que foi uma péssima decisão.

– Lembra da nossa viagem ? Tudo estava tão bem, nós estávamos tão felizes. Porque agora nada mais parece igual ?

– Na verdade, tudo está igual. Nós estamos felizes, só que separados, assim como estávamos lá, ficávamos brigando o tempo todo e mal passávamos tempo juntos, se você não percebeu, está pior do que pensava. – me levantei de onde estava e ele se levantou em seguida, como se nada tivesse acontecido ali.

– Onde vai ?

– Preciso ir, viver a minha vida, ser feliz, como sempre fui. Sem você. – falei e sai andando, e finalmente ele não veio atrás de mim.

Falar daquele jeito com ele foi muito mais difícil do que pareceu, eu ainda tinha uns 20 minutos até a minha próxima aula, então decidi que ir pra sala agora não fazia sentido, já tinha perdido metade da aula, eu nem ao menos aguentaria ficar em sala, não estava e nem parecia bem. Se eu fosse até o quarto, não ia conseguir chegar a tempo pra aula, eu estava perto da torre de dormitórios número 3, onde era o quarto de Drake. Ele não estaria por lá, e eu sabia onde estava a chave. Fui subindo, estava tudo vazio, todos estavam em aula, assim que cheguei no 4º , e último andar, fui andando até o final do corredor, revirei a planta que tinha ali ao lado da porta, peguei a chave e entrei.

– Hanna ? – ele perguntou e eu arregalei os olhos.

– Drake ? O que faz aqui ?

– Eu é que pergunto, o que você faz no meu quarto ? – ele perguntou e eu comecei a rir.

– Estava aqui perto e não queria voltar pro quarto, não deveria estar na aula ?

– Eu fui dispensado mais cedo e você ?

– Porque foi dispensado mais cedo ?

– Ei, sou eu quem faz as perguntas aqui.

– O Tyler veio me ver, conversar comigo e o diretor me dispensou da primeira aula pra falar com ele, sabe, assuntos familiares. – falei e me seguei pra não voltar a chorar.

– Isso explica a sua cara de choro, o que vocês conversaram ? O que ele queria ? Ele ainda está ai ?

– Calma grandão. Ele veio me pedir desculpas, veio falar tudo o que eu já sabia. Só veio aqui porque não queria que o “clima ficasse ruim” no ensaio.

– Então quer dizer que o garotão só veio até aqui pra dizer coisas pra não piorar a situação dele. – Drake falou, já com cara de quem estava irritado.

– Calma, não se preocupa que eu já cuidei dele, ele só pensa nele, sempre foi assim, estou acostumada, é só que falar com ele não foi muito fácil, é complicado olhar pra cara de quem você ama e lhe dizer o quanto ele foi imbecil e o quanto te magoou.

– Vem cá vem. – ele me puxou para um abraço, e ali eu chorei. – Sabe, se quiser um namorado novo. – ele falou brincando, me fazendo rir.

– Fala sério, Drake. – falei lhe dando um tapinha, que lhe fez rir.

– Você ficou ... hum... linda com esse uniforme.

– Ei, para de me zoar. – respirei fundo, pensei comigo mesma e falei. – Sabe, se prometer ficar calmo e não ter um troço nem nada assim, quero que vá comigo ao ensaio hoje.

– Ficarei calmo, afinal, nem o conheço.

– Mas não é só por ele, Josh e Matheus também vão.

– Ah, Hanna, mas porque eles...

– Drake...

– Tudo bem, tudo bem, se você me quer por perto quem sou eu pra negar isso ?

– Engraçadinho.

– Vamos logo pequena, que nós temos aula agora.

– Ei, você ainda não me disse o porque não foi a aula.

Falei e ele riu, continuou andando e eu corri atrás dele, ele rindo e eu curiosa, fomos andando até a sala, nós tínhamos aula de teatro, e o auditório não era tão perto, então tentamos andar mais rápido, os corredores já estavam cheios de gente, alguns nos olhavam como se estivéssemos com papel higiênico grudado no sapato.

– Por que é que estão todos nos encarando assim ?

– Você acabou de sair do meu quarto, logo cedo, devem estar achando que passamos a noite juntos, depois daquele beijo de ontem e com a minha reputação, eu também acharia.

– Drake, isso não tem nada a ver, faz alguma coisa.

– O que quer que eu faça ?

– Alguma coisa. – falei com cara de brava.

– EI ! TÃO OLHANDO O QUE ? CUIDEM DAS SUAS VIDAS. Ninguém merece vocês em. – ele gritou e todos nos corredores pararam de nos encarar.

– Obrigada. – agradeci e ele só acenou com a cabeça.

Continuamos andando pelo corredor do prédio até a saída, fomos juntos até o auditório, assim que passamos pela praça, ele pegou na minha mão, eu deixei, não fazia sentido recusar. Eu tinha certeza que todos já estavam comentando sobre o nosso suposto namoro ou suposta pegação, eu não ligava, sabia que a vaca ruiva iria ficar irritada e isso me deixava animada com a situação, cada vez eu gostava menos daquela garota.

Passamos pelos portões do auditório e todos nos encararam, começaram a cochichar e dar risadinhas, como se soubessem de alguma coisa.

– ALGUÉM AI QUER DIZER ALGO ? SE QUISER, É SÓ FALAR. – Drake gritou e eu o olhei sem entender nada. Porque ele estava ligando pro que as pessoas estavam falando ?

– Eai Han. – Josh veio me cumprimentar e Drake ficou só olhado, Josh olhou pra baixo e reparou nas mãos e tossiu, muito falsamente pro meu gosto. – Que horas nós vamos amanhã ?

– Logo depois que aulas acabarem. Tenho que estar lá as 16:00. Não quero me atrasar, acho que vamos ver umas coisas da gravação do CD.

– Uau, finalmente. – Matheus falou e eu e Josh rimos. – Apareceu, está um pouco atrasada, mas a professora também está.

– Sorte. – Drake respondeu. – Vou ali falar com os garotos, te vejo depois. – ele falou e se despediu com um beijo no rosto.

Saiu andando até o outro lado do auditório e os garotos começaram a me encarar irritados.

– Tem certeza que ele entendeu o que você quis dizer com não querer compromissos ? – Josh perguntou e eu dei risada.

– Tenho sim, só acho que estamos meio que ... hum... sendo amigos. – falei e os dois me olharam como se não tivessem acreditado.

– Hum... sei. – Math falou e Josh e ele ficaram rindo feito crianças.

A aula de teatro passou bem rápido, tivemos mais umas quatro aulas antes da hora do almoço, o dia demorou um pouco a passar, até mesmo as aulas legais. Quanto mais o dia passava, mais ansiosa e assustada eu ficava, por mais que tivesse passado um tempo com ele, eu não sabia como ele reagiria quando eu aparecesse lá com mais três caras.

Fomos todos almoçar e Luli e Taylor se juntaram a nós, assim como Luiz, Bruno e Victor. O almoço foi incrível, nós rimos muito e conversamos sobre quase tudo.

Mas as horas passaram tão rápido que quando chegou a hora de irmos eu comecei a suar frio e quase inventei que estava passando mal pra não ter que ir a lugar algum.

– Está pronta ? – Josh perguntou, estávamos no quarto e ele estava esperando eu terminar de me arrumar para irmos, íamos encontrar Drake e Math no portão para irmos.

– Estou, só estou meio...

– Assustada ?

– Pode ser. Sei lá, acho que receosa é uma palavra melhor.

– Mas vocês já se viram hoje, do que tem tanto receio ? – ele perguntou e deu uma risadinha, como se já soubesse a resposta.

– Ver ele de novo, ter que cantar com ele musicas que nós compomos juntos, olhar aqueles olhos e saber que um dia eles já foram “meus”, eu não quero passar por isso de novo, mas tenho que passar e quero que vocês estejam lá para me ajudar.

– E estaremos. Fica calma gatinha, vai ficar tudo bem. – ele falou e eu dei risada. – Só acho que não devia estar tão bonita assim.

– Nunca ouviu falar do plano, quero que ele veja o que perdeu ? – perguntei e nós dois começamos a rir.

– Achei que isso só valia pra quando o cara terminava.

– Claro que não, vale pra quando a garota termina, mas está muito afim de ver o cara idiota babando por ela, por motivos desconhecidos mas muito prováveis e reconhecíveis pela sociedade.

– Para de falar como se fosse algum tipo de cientista ou pior, uma psicopata.

– Sou da erudição. – falei rindo e nós nos encaramos mais alguns segundos.

– Posso perguntar uma coisa ?

– Claro.

– Porque é que você aceitou esse lance de ficar com o Drake e não comigo ? – ele perguntou enquanto saiamos do quarto, eu comecei a rir feito criança, como se tivessem me contado a melhor piada do mundo.

– Ele é menos galinha que você.

– Ah, você não sabe... – ele falou com voz de criança, como se fosse um bebezão.

– E outra, ele me beijou primeiro. – falei brincando, mas ele começou a “discutir”.

– Então quer dizer que se eu tivesse te beijado primeiro você ficaria comigo e não com ele ? – perguntou e eu voltei a rir.

Chegamos nos portões, e fomos de táxi até a casa do Tyler, que não era tão perto, mas também não muito longe, uns 18 minutos depois, já tínhamos chegado. O porteiro me viu e deu uma piscadinha, como se achasse que eu ia fazer um tipo de orgia com quatro garotos ou sei lá o que. Subimos e eu toquei a campainha. Tyler veio abrir e arregalou os olhos quando viu os garotos.

– O que eles fazem aqui ? – perguntou e eles começaram a rir.

– Vieram me ver cantar, algum problema com isso ? Sabe... porque se tiver, eu posso ir embora e você arca com as consequências de ficarmos sem ensaio. – ele revirou os olhos e nos deixou entrar. Liam era o único ali além do Tyler.

Entramos e fomos direto pra sala de ensaio, os garotos ficaram fuçando nas coisas e logo todos começaram a chegar, se cumprimentaram e os três foram se sentar enquanto nós tocávamos.

– O que acham de um cover pra aquecer e depois começamos com a música nova ? – Tyler falou e todos assentiram.

– Que música ? – Chris perguntou e todos encaramos o Tyler.

– Que tal uma do onze:20 ? Pra você ? – ele falou e eu o encarei sem acreditar que ele tinha proposto isso.

– Se quiser, eu canto. – falei e ele sorriu.

– Nós cantamos.

– Se quer assim. – ele falou e olhei para os garotos que riam, enquanto Drake encarava o Tyler cheio de raiva, arregalei os olhos lhe pedindo calma e o Josh começou a rir, apontando para o Tyler.

Olhei para trás e me deparei com um par de olhos azuis com o foco direcionado para as minhas pernas, ou melhor, para o meu corpo todo, eles se mexiam freneticamente.

– Gostando do que vê Ty-Ty ? – perguntei e todos riram, Tyler encarou Liam e o mesmo olhou pra baixo e tapou a boca, mas continuou rindo.

– Vamos logo com isso. – falei e logo começaram a tocar a musica, rápido o suficiente para fazer todos se calarem, logo Tyler começou a cantar e eu só observava, ele me puxou para mais perto, como se fosse um tipo de deixa para começar a cantar.

Cheguei mais perto e cantei minha parte, a música era linda e os garotos incríveis para conseguir tocá-la. Assim que acabamos, eu e Tyler paramos um na frente do outro e nos encaramos por o que pareceu uma eternidade.

Olhos azuis gelo, boca rosada e cabelos quase loiros naturalmente bagunçados, jeito largado de bad boy, ele não forçava, era realmente assim, e isso me irritava profundamente, porque ele tinha que ser tão lindo ?

– Qual a próxima ? – falou Drake, alto o suficiente para me fazer recuperar os pensamentos.

Quantas músicas será que essa guerra vai durar ?