Doce Ilusória escrita por RoBerTA


Capítulo 11
Vamos brincar de médico?


Notas iniciais do capítulo

Então, primeiramente, bem-vindas novas leitoras! Em segundo lugar, super amei os reviews *---*
E por terceiro, boa leitura!!



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— Então, você vai ser a minha assistente.

Faço a melhor expressão de tédio que consigo, enquanto masco chiclete de uma forma desagradável. Pedro limpa a garganta, tentando chamar a minha atenção.

— Estamos de acordo?

Giro a cadeira sob o meu corpo. Legal.

— Samara? Você me escutou?

Faço a cadeira parar de modo que eu fique de frente para ele, com apenas uma mesa nos separando. Encaro seus olhos até o garoto se obrigar a desviar o olhar.

— Escutei sim, chefinho. O que eu faço agora?

Seu suspiro é sonoro.

— Você pode começar tirando os pés de cima da minha mesa.

Sorrio inocentemente enquanto faço o que ele me pede.

— Mas você é chato, hein.

Sua careta é memorável. Apoia os cotovelos sobre a sua mesa, enquanto descansa o queixo nas mãos unidas e passa a me analisar.

— Você vai precisar falar o mínimo possível.

— Isso faz parte do trabalho ou você simplesmente não gosta da minha voz? — Pergunto enquanto volto a colocar os pés sobre a mesa. Pedro geme enquanto afunda o rosto nas mãos.

— Deus, o que eu fiz para merecer isso?

Quase sinto pena dele. Quase.

— Ei, fica assim não. — Chego mais perto dele, cruzando os braços sobre a mesa e apoiando a minha cabeça sobre eles, de modo que precise erguer meus olhos para vê-lo. — Se você quiser, eu posso te consolar.

Por um momento juro que ele parece tentado, mas então em um pulo sai de sua cadeira, se dirigindo para a porta. Praticamente preciso correr para alcançá-lo. Agarro o seu braço antes que ele possa abrir a porta.

— O que foi, Pedro? Não vai me dizer que está com medo de mim.

Engole em seco, e olha para os seus pés.

— Vamos, vou te apresentar para o resto do pessoal. — Então me atira um olhar de advertência. — Comporte-se.

— Por favor, eu sou a pessoa mais educada que conheço.

— Isso só mostra quão isolada do resto do mundo você é.

— Ei!

Mas Pedro abre a porta antes que eu possa dar uma resposta à altura. Até que esse boyzinho é interessante.

Sigo-o.

O interior do edifício é moderno e sofisticado, mas de uma forma simples. Até que lembra um pouco de hospital, devido à calmaria e ausência de ruídos. Pelo que me disseram, esse prédio era dos Parker, e havia também um local onde eram produzidos os shampoos. Aqui basicamente ficava a parte burocrática.

O que Pedro fazia ainda era um total mistério, sendo que ele estava começando a cursar a faculdade de Medicina.

— Ei, o que você faz aqui, afinal? — Dou voz aos meus pensamentos.

— Basicamente ajudo papai com os grandes clientes. Sou bom em uma conversa.

— Disso eu discordo.

Ele ergue a sobrancelha para mim, parecendo surpreso.

— E baseado no que você discorda?

Sorrio de orelha a orelha.

— Baseado no fato de que você não consegue ter uma conversa comigo sem corar ou desviar os olhos.

Para provar o que eu disse ele cora e desvia os olhos. Percebendo o que acaba de fazer, volta a me olhar, e noto um leve toque de irritação em sua expressão.

— Você é uma pessoa má, Samara. Muita má.

— Mas querido, — me aproximo dele — você sequer provou da minha maldade ainda.

Preciso controlar o riso quando o vejo praticamente fugir correndo de mim. Certo, talvez eu realmente seja uma pessoa má.

Novamente vou atrás dele. Dessa vez permaneço em silêncio pelo resto do trajeto. Viramos um corredor e então vejo mesas alinhadas de forma precisa, quase todas ocupadas por pessoas. É, ainda bem que são pessoas. Enfim, preciso parar com a cafeína para bloquear esses pensamentos idiotas.

— Aqui ficam aqueles que cuidam do marketing, por assim dizer. — Ele limpa a garganta. — Pessoal, essa é a Samara, filha da Amélia. Ela irá trabalhar com a gente por algum tempo.

Todos me olham, e alguns acenam. Tem um garoto, um pouco mais velho que eu, que pisca para mim. Talvez eu faça alguns amigos por aqui.

Pedro fica de frente para mim.

— Por enquanto você só precisa conhecer eles. Eventualmente será apresentada ao resto do pessoal. Agora vamos, temos trabalho a fazer.

Claro, trabalho. Maravilha, afinal, quem não adora trabalhar?

Eu.

***

— Certo, aguardaremos o seu retorno. Um bom fim de semana para o senhor!

Vejo um certo alguém colocar o telefone no gancho.

Só tem uma palavra decente para descrever esse trabalho.

Entediante.

Faz meia hora que simplesmente fico vendo o pequeno Parker fazer ligações enquanto eu imito uma estátua.

Sério, isso é extremamente chato. Talvez eu deva tentar animar as coisas.

— E aí, chefinho, não vai me mandar fazer nada?

Sua boca forma uma linha fina.

— Continue fazendo o que você estava fazendo.

— Mas eu não estava fazendo nada!

— Exatamente.

Credo, que garoto mais odioso.

— Eu tenho uma ideia muito, mas muito melhor.

— Duvido muito.

— Já que você vai fazer medicina, podíamos brincar de médico. Eu posso ser uma paciente muito dedicada.

Pedro abre a boca chocado.

— Samara, você ficou louca? Pare de falar asneiras.

Faço um muxoxo.

— Doutor, desse jeito você me magoa.

— Samara, por favor, pare com isso.

Levanto da minha cadeira e dou a volta na mesa, indo parar ao seu lado.

— Mas doutor! Está doendo muito! Aqui — pego a sua mão e a coloco na minha cintura — e aqui — coloco a outra mão no outro lado da cintura.

Pedro tenta puxar as suas mãos, mas seguro-as com força enquanto aproximo o meu rosto do seu.

— O que foi, doutor, você não vai tentar aliviar a minha dor? Por que eu tenho muitas sugestões...

Colo os meus lábios nos seus, que, surpresos, permanecem fechados. Mas não por muito tempo. Não posso deixar de notar que essa é a primeira vez que sou eu a começar um beijo. E retribuir de forma entusiasmada.

Sinto as suas mãos no dito lugar dolorido, fazendo a minha camisa subir enquanto exploram a minha pele nua. Inclino-me sobre ele, quase subindo na cadeira também. Mas então Pedro se levanta subitamente, me empurrando contra a parede.

— Mas você curte uma parede, hein. — Balbucio baixinho contra a sua boca.

— E você nunca cala a boca.

Sorrio contra ele.

— Nunquinha.

Agarro seus cabelos o puxando contra mim, enquanto aprofundo o beijo. Suas mãos tateiam pelas minhas costas, até que voltam para a minha cintura e permanecem ali. Mordo o canto de sua boca e o sinto gemer. Faço uma trilha de beijos da sua boca até o seu pescoço.

De repente, alguém bate na porta.

Pedro praticamente me empurra. Dá alguns passos trôpegos para trás, e tenho uma vontade estúpida de rir por conta de seus cabelos desarrumados e roupa amassada. Ele me fita de olhos arregalados.

— Nem uma palavra.

Dou de ombros enquanto o vejo ir atender a quem quer que esteja esperando do lado de fora.

— Ah, é você. Então, Arthur, fez o que eu pedi?

— Sim senhor, chefinho. Do jeito que pediu. Ei, isso por acaso é uma marca de chupão no teu pescoço?

Pedro atinge tons elevados e alarmantes de vermelho enquanto vira lentamente a cabeça na minha direção e me fuzila com os olhos. Sorrio docemente para ele.

— Combina muito com você, maninho. Quem é a sortuda? — Pisco para o Parker que parece prestes a matar alguém. Imagino que seja eu.

Pedro se volta novamente para o garoto cujo sorriso causa ondas de inveja no coringa.

— Arthur, muito obrigado. Quando eu precisar novamente dos teus serviços eu te aviso. Agora pode ir.

— Ao seu dispor, chefe. — Então o garoto olha na minha direção. — Samara, certo?

Assinto com a cabeça.

— Quer sair comigo qualquer dia desses?

Suspiro tristemente.

— Infelizmente estou tendo um lance aí com um cara muito chato.

— Amizade colorida então?

Arthur sorri de forma sapeca.

— Vou pensar no teu caso.

Mas estou sorrindo para ele. Percebo pelo canto do olho a carranca de Pedro, que trata logo de se juntar à conversa.

— Arthur, você já pode ir. — Soou como uma ordem.

— Tudo bem chefinho. — Quando ele está passando pela porta faz um gesto de me ligue com a mão. Rolo os olhos.

— Gostei dele. — Digo. — Parece ser uma boa pessoa.

Pedro me atira um olhar fulminante.

— Claro que gostou dele. Você dá em cima de qualquer um que tenha um... — Então ele para de falar enquanto fica absurdamente vermelho.

— Um o quê, Pedrinho? — Ergo as sobrancelhas de forma sugestiva. — Espera... AimeuDeus! Você está com ciúmes de mim, é isso?

Ele me dá as costas enquanto volta a se sentar.

— Samara, você está fora de si. A simples ideia de eu sentir ciúmes de você é ridícula.

Finjo que vou chorar, mas ele não cai nessa. Suspiro de forma dramática.

— Ok. Você é definitivamente o cara mais chato que eu já conheci.

Tão chato a ponto de fingir não me escutar enquanto olha alguns papéis em cima de sua mesa.

Praticamente me jogo sobre a minha cadeira.

— A propósito, a dor passou. Adorei o método que você usa, doutor.

Ele permanece me ignorando, mas dessa vez sou capaz de ver pequenos pontos de vermelho em sua bochecha. Ponto pra Sam.

Coloco os pés em cima de sua mesa, coisa que ele parece odiar.

— Samara, tire os pés.

— Oh, ele fala! — Finjo surpresa.

— Tudo bem, eu desisto. O que você quer pra ficar quietinha pelo resto do dia?

— Você, quero você. — Sorrio de forma sugestiva.

Pedro olha para o teto, como se ele possuísse todas as respostas do universo.

— Tudo bem, vamos para casa.

— O quê? — Olho para ele confusa. — Mas a gente chegou faz pouco tempo!

— Não importa, vamos para casa. Lá eu não vou precisar te aturar.

Você que pensa, meu querido.

Mas não digo isso para não apavorá-lo.

— Certo, vamos para casa então. — Levanto da cadeira e alongo meus braços. Vejo Pedro olhando fixamente para a minha barriga depois que o tecido da camisa subiu.

Esse garoto já está no papo.

Saímos da sua sala enquanto observo-o ligar para o seu pai avisando que iríamos voltar antes, e que era para não se preocupar.

Entramos no elevador.

Pedro me deixa entrar primeiro, só para depois ir em direção oposta, ficando o mais longe possível de mim.

Encosto-me contra o metal frio.

— Sabe, sempre tive um fetiche com elevadores. Essa fantasia geralmente consiste em mim sem roupas, um gato sem roupas, e um garoto sem roupas.

Pedro franze o cenho.

— Um gato sem roupas?

Os cantos da minha boca se erguem em um pequeno sorriso.

— Era só pra ver se você estava prestando atenção.

Ele suspira.

— É difícil não prestar atenção em você. — Diz baixinho.

Sorrio de lado.

— Sabe o que seria ótimo agora? O elevador emperrar. Isso também faz parte do meu fetiche, se você quer saber.

O universo realmente é um lugar terrível, e parece que ele adora me ver em desgraça.

As luzes do elevador começam a tremeluzir, e o elevador dá um solavanco, do tipo que quase te faz cuspir o coração pela boca enquanto alguém rouba todo o teu ar. Você simplesmente entra em fuso.

E pensa: puta que pariu, eu vou morrer e nem fiz meu testamento.

Mas você não morre, só se joga na pessoa mais próxima de ti e se pendura nela.

— Pedro? — Sussurro na escuridão.

— Estou aqui, calma, vai ficar tudo bem.

Engulo em seco. Aperto os olhos com força.

— Eu não estou conseguindo respirar...

Essa é a parte que eu digo que a escuridão vai consumindo a minha visão pelas bordinhas, mas já estamos no breu completo, então serei direta.

Eu desmaio, por que simplesmente tenho pânico de elevadores que emperram.


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Notas finais do capítulo

Qual livro vocês estão lendo? Eu comecei Cidade do Fogo Celestial :D (Jace gatooooo)



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