Doce Ilusória escrita por RoBerTA


Capítulo 10
Adorável trabalho não remunerado


Notas iniciais do capítulo

Ooooolá! (quem é vivo sempre aparece, e aposto que vocês já devem estar acostumadas com as minhas demoras SHUAHSAHUSHUAU)
Então, espero que gostem :3 Recomendações e reviews são bem-vindos ^^



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— Então, você vai me deixar ver? — Pisco os olhos de forma inocente, abusando das minhas longas pestanas, enquanto tento fazer minha voz parecer sedutora.

Pela forma que ele me olha, parece funcionar.

— O quê? — Exibe uma expressão confusa, e percebo que os seus braços ainda estão ao meu redor. Hummm, ok.

— O caderno. — Tento não demonstrar impaciência.

— Ah. — Pisca uma, duas vezes. — Não.

Aí está aquela palavra nojenta novamente.

— Por favorzinho... — E assim, eu, a fodástica Samara, faço um biquinho. Isso sem mencionar a minha voz enjoativamente doce que poderia deixar uma nação inteira com diabetes.

— Hum, eu realmente acho que não é uma boa ideia.

— Ah, qual é. O que pode haver de tão terrível assim?

Pedro pisca os olhos e parece um pouco perdido. Sinto os seus braços afrouxarem ao meu redor, até que caem na cama.

A oportunidade perfeita.

Jogo o meu corpo para frente até alcançar o caderno. Quando o sinto entre os meus dedos, solto uma gargalhada diabólica. Corro para longe de Pedro enquanto o abro no último desenho que ele fez.

Meu sorriso morre no mesmo instante.

Sinto o frágil papel ser arrancado das minhas mãos.

— Eu realmente acho que é melhor você ir para o seu quarto.

Sua mandíbula está travada, e nada na sua postura pode ser considerado amigável.

Pisco algumas vezes, tentando me recompor.

Dou alguns passos em sua direção, o que o faz enrijecer ainda mais. Ergo uma sobrancelha.

— O que foi, Pedro? Não precisa ficar com vergonha não. — Agora estou ainda mais perto dele, tão perto que poderia beijá-lo. — Dá próxima vez que quiser me desenhar, basta pedir.

E então saio correndo, me controlando para não rir.

Fecho a porta do seu quarto atrás de mim, e deslizo pela mesma. Tapo a minha boca com as mãos, tentando abafar qualquer tipo de som e esconder o sorriso que lentamente vai se formando.

Talvez o Grande Motivo não venha a ser tão penoso assim.

Levanto-me do chão mais silenciosa o possível. Quando estou prestes a chegar no meu quarto, nas pontas dos pés, um voz me congela no lugar.

— Filha, onde você estava?

— No banheiro. — A mentira flui de mim, enquanto me viro para encará-la. Sua face parece ter sido entalhada em mármore. Hnm, acho que estou um pouco encrencada.

— Precisamos conversar.

— Mas nós já tivemos a nossa conversinha, lembra?

Apoio-me na porta, já me sentindo cansada de toda essa ladainha.

— Olha aqui, Samara, eu estou ficando farta de essa atitude tua. Eu até entendo que você esteja passando por um mau momento, mas isso não é motivo para agir feito uma criancinha mimada e mal educada.

Aperto meus lábios em uma linha fina, tentando me segurar para não dizer exatamente o que estou pensando nesse momento. Com certeza alguém iria ficar muito magoado com as minhas palavras, e não seria eu.

Mamãe suspira e coloca a mão na testa.

— Querida, eu realmente não quero brigar contigo. Mas para o seu próprio bem não posso permitir que continue agindo assim. Você provavelmente vai me agradecer depois de tudo.

Sinto um frio na espinha, com certeza aquela porcaria de sexto sentido agindo.

— Depois de tudo? Depois de tudo o quê?

Ela me olha no fundo dos olhos quando diz.

— Você vai trabalhar com Antônio e Pedro nas férias. Começando amanhã, portanto sugiro que vá dormir logo, pois terá que acordar cedo.

— Acordar cedo? — Repito escandalizada.

Mamãe assente com a cabeça.

— Sete horas tem que estar saindo de casa.

Cruzo os braços, simplesmente fula demais para conseguir fazer qualquer outra coisa além de mover os braços e respirar.

— E se eu não quiser ir?

— Você não tem escolha. Já falei com o teu pai, e ele me apoiou totalmente. Está na hora de crescer, Sam.

E ela sai, simples assim. Deixando-me com a boca escancarada e completamente irada.

Eu. Não. Creio. Nisso.

Bato com a cabeça na porta, tentando me acalmar. E o meu pai, aquele traíra!

Certo, apenas respire, Sam, apenas respire...

Abro os olhos de súbito.

Ah, mas isso não ia ficar assim.

***

Antes que o ponteiro do relógio anuncie sete horas já estou pronta, esperando na entrada. Fiz questão de vestir a roupa mais séria que possuo, constituída de um jeans preto e uma camisa de botões branca, e não podemos esquecer o All Star preto surrado.

Não posso descrever a minha felicidade quando descobri que todas as minhas roupas e pertences haviam sido trazidos na noite passada. Quero dizer, havia bolinhas cor de infelicidade presentes também, afinal, ter todos os meus pertences aqui é sinal que não vou voltar tão cedo para a nossa casa. Mas posso me lamentar vestida de um jeito não vergonhoso.

Passo a mão pelos meus cabelos, que já faz um bom tempo que não os corto. Estão em um comprimento agradável, me atrevo a dizer. Em breve chegarão a minha cintura, e eu precisarei retocar o roxo ou pintar de alguma outra cor.

Embora não admita em voz alta, às vezes sinto falta do meu ruivo natural.

— Sam? — A voz da minha mãe carrega um pouco de surpresa, e não deixo de notar a expressão maravilhada em seu rosto.

— Sim, a própria, em carne e osso.

Ela se apoia contra a parede, me analisando dos pés a cabeça, fazendo uma careta quando passa pelos meus tênis, mas não diz nada.

— Você está maravilhosa, querida.

— Conte-me uma novidade.

E me foco em minhas unhas. O esmalte descascando não é tão interessante assim, mas não quero que ela veja minhas bochechas coradas. Não sou fresca para elogios, eu juro, mas o jeito que ela falou que estou maravilhosa, bem, mamãe nunca me elogiou de forma tão sincera antes.

— Vejam só, se não são as minhas garotas!

Aposto que Antônio foi amaldiçoado com a inconveniência. Que cara chato.

— Meu amor! — Argh, acho que vou vomitar. Quando alguém te perguntar até que nível uma pessoa pode decair, simplesmente olhe para a minha mãe. Não existe outra resposta à altura.

Após um abraço ou dois, eles se separam e me encaram sorridentes. Vejo uma terceira pessoa surgir atrás deles, o perfeitinho Pedro. Parece que o garoto faz questão de não olhar para mim. Tadinho.

— Então essa linda garota nos fará companhia hoje, não é maravilhoso, meu filho?

Pedro resmunga qualquer coisa. Seu pai franze o cenho e olha para mim, adquirindo a expressão de paizão feliz novamente.

— Bom, acho melhor irmos, não queremos nos atrasar, certo?

Abro um super mega sorriso.

— Claro que não. Quem iria querer uma coisa dessas?

Disfarço o meu sarcasmo o máximo que consigo, mas Pedro parece captá-lo, me olhando pela primeira vez no dia com os olhos se estreitando.

Após mais alguns beijinhos de despedida — eca! — nós três, os super trabalhadores, vamos para um carro mega caro.

Já disse, serei poeta.

— Meu filho, por que você não se senta atrás com a Samara e explica um pouco sobre a empresa?

Pedro assente de forma distraída enquanto abre a porta para mim em um jeito automático.

— Oh, o cavalheirismo ainda vive.

Minha frase pode ter sido qualquer coisa menos um elogio, o que ele parece perceber, pois cora de forma violenta.

Entro no carro enquanto ele gagueja qualquer coisa, dando a volta no veículo para entrar do outro lado.

— Então, é uma empresa de shampoo...

— Espera, — o interrompo — shampoo? Isso é sério?

Ele não pisca enquanto me encara.

— Por que não seria sério?

Dou de ombros, enquanto olho pela janela. Estamos saindo da enorme garagem, e mal posso crer que o sol já esteja de pé. Abro um pouco a janela, sentindo o ar entrar e mexer com os meus cabelos. Quando volto a olhar para Pedro, seguro a respiração.

Me encara como na noite anterior, quando eu estava por cima dele em sua cama. Nenhum de nós pisca, e eu sinto uma necessidade pungente de fazer algo, qualquer coisa, para quebrar o encanto.

Da última vez que um garoto me olhou assim e eu retribuí o olhar, as coisas não acabaram nada bem.

— Fale-me sobre shampoo, querido irmão postiço.

Vejo Antônio sorrir do banco do motorista enquanto seu amado filho pisca algumas vezes, parecendo ter acordado recentemente.

Não demora muito para que ele comece a falar sobre a empresa e sua linha de produtos. Fico o escutando e tentando prestar atenção durante todo o trajeto. Por mais entediante que o assunte seja, lembrem-se: conhecimento é poder, e em uma guerra como essa, quanto mais informação sobre o inimigo, melhor.

— Chegamos!

Tento não gemer diante de tanto entusiasmo.

— Ótimo. — Resmungo. Eis que uma ideia surge em minha mente perversa. — Senhor Parker, então, como fica a remuneração?

Dois pares de olhos aturdidos me encaram sem piscar. Será que falei algo muito incômodo? Hum, eu deveria praticar minha risada maléfica da Disney para momentos como esse.

— B-bom, — Antônio gagueja — eu e sua mãe não discutimos isso. Mas como você estará apenas aprendendo, bem, acho que não terá um salário.

Ergo as sobrancelhas.

— Na minha terra isso se chama trabalho escravo. E dá cadeia.

Novamente outra onda de silêncio.

Pedro intervém a favor de seu pai, que simplesmente parece não saber o que me dizer ou fazer comigo.

— Pai, acho melhor nos apressarmos, você tem uma reunião importante, lembra? Não se preocupe, eu tomo conta da Samara.

Antônio concorda aliviado, procurando uma vaga na enorme garagem do edifício para estacionar.

Uma sobrancelha minha se eleva de forma perversa para um Pedro que me fita exasperado.

— Vai tomar conta de mim, é? — Falo em um tom baixo o suficiente para que o papai dele não ouça. — Pode me chamar de Sammy, docinho.

Pisco de forma sugestiva, enquanto sinto uma onda de prazer ao ver suas bochechas serem tingidas por um tom violento de vermelho.

Que gracinha.

Saímos do carro, e Pedro continua corado, evitando meu olhar a todo custo.

Hum, esse provavelmente será um dia interessante.


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